I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 6
Capítulo 6 - Aproximação & (Des)Confiança


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá! Esse capítulo não é um dos meus favoritos. Achei até meio sem graça, maaaaas, o que eu espero, realmente, é que não tenha ficado forçado. Porque aproximar pessoas sem deixar forçado é algo difícil, ok?
Bom, vamos lá, é hora de ler! ♥
OBS.: Leiam as notas finais do capítulo, ok?



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Capítulo 6 – Aproximação & (Des)Confiança

- Sua... menina? – perguntei, o cenho franzido. Eu olhava para Frank e, sinceramente? Só o que eu via era um adolescente contente que se escondia atrás de uma pose rebelde simplesmente para parecer mau ou interessante. Porém ele só conseguia me passar a impressão de ser o tipo de pessoa rasa e ligeiramente infantil. Do tipo que não atrai garota alguma.

- É sim. – ele continuava a se balançar, olhando ansioso para o balcão onde antes estava o dono da loja. – Já, já você vai conhecê-la.

   Comecei a olhar então para o mesmo ponto que ele, até que avisto uma figura saindo dos fundos da loja, dando a volta no balcão e caminhando até nós com algo em mãos.

- Aqui está, Frankie! – o dono da loja entregou-lhe o estojo de couro preto que carregava. – Está novinha em folha! – ele sorria para Frank, e eu apenas assistia seus olhos brilharem fixos no grande objeto em suas mãos. – Vê se não deixa essa belezinha cair de novo, hein?

- Nunca mais! – ele respondeu com um sorriso bobo, ainda sem olhar o homem a sua frente. – Valeu mesmo, Joe!

- Por nada, moleque. – o homem sorriu novamente e voltou ao seu posto atrás do caixa.

   Frank demorou um pouco a notar que eu ainda estava lá. Quando acordou de seu transe – o que só aconteceu depois que ele alisou muito aquele estojo de couro. – começou a abrir a capa e de lá retirou uma bela guitarra branca, com adesivos de letras prateadas e brilhantes que formavam o nome “Pansy”. Então era aquela a garota dele?

   Reprimi uma gargalhada.

- Essa é a sua menina? – perguntei incrédulo, apontando a guitarra.

- Sim, se chama Pansy. – ele disse, orgulhoso. – Não é linda?

- É, é sim... – respondi, ainda lançando a ele e ao instrumento um olhar divertido.

- Comecei a tocar há alguns anos, quando meu interesse por música começou a aumentar. Tive outras guitarras, mas a Pansy é especial! – e a alegria dele parecia crescer a cada palavra, ao mesmo tempo em que ele olhava o instrumento ternamente e guardava-o de volta em seu estojo.

   Como eu disse, contente e ligeiramente infantil. Porém talvez não tão raso quanto eu imaginasse na ocasião. Só sei que quando me dei conta, aqueles olhinhos estreitados ostentando um estranho brilho impetuoso já me analisavam de cima a baixo, como se as imagens que eles captassem ajudassem seu cérebro a maquinar algo envolvendo a minha pessoa.

   E eu não estava nada errado quanto a isso.

   Ele notou que eu o encarava de volta, porém sustentou meu olhar de forma intensa até decidir se pronunciar:

- Sabe, sinto que não te agradeci como deveria pelo... favor... que você me fez ontem. – ele começou a falar, o tom de voz sério. E eu apenas analisava bem sua linguagem corporal. Ele não me parecia exatamente sincero.

- Não há por que me agradecer. – apressei-me em dizer, meio encabulado. Não era como se eu fosse algum tipo de herói, ou fizesse aquilo toda a vez. Apenas fiz, e não esperava reconhecimentos... e nem agradecimentos, para ser bem sincero.

- Mas eu sinto como se eu devesse algo a você. – ele continuou, emburrado. Então era isso? Não é possível que alguém tão pequeno tenha um orgulho tão grande!

- De verdade, você não me deve nada. – e foi a minha vez de insistir. Tentei demonstrar o quanto aquela situação me deixava incomodado e desconfortável, mas se ele notou, fui solenemente ignorado.

   Apesar de eu permitir sua aproximação, não era como se eu gostasse dele. E exatamente por eu não gostar dele ou não conhecê-lo bem que eu estava desconfiado de que, por trás de todo aquele papo furado de “te devo uma, amigão!” haviam segundas intenções.

- Devo sim. – ele rebateu, em tom de quem encerra a discussão. Ele e o Mikey poderiam se casar agora mesmo! As atitudes são as mesmas! – E não só por ontem... por hoje também.

   E aquelas palavras me fizeram relembrar o acontecido naquele mesmo dia. Estranhamente pareciam fatos tão distantes, como se tivessem acontecido há semanas. Minha cabeça deu voltas com a quantidade de pensamentos que voltou a se alojar nela com aquele simples comentário. Eu ainda não sabia direito como me sentir com relação àquilo, mas eu tinha certeza de que não queria ficar remoendo todos aqueles sentimentos ruins que haviam aflorado desde então.

   Eu devia estar com uma cara realmente estranha quando completei meu raciocínio, pois ao notar Frank novamente parado à minha frente, ele parecia preocupado.

- Ei, cara... Desculpa, acho que não devia ter dito isso. – ele tocou meu ombro e eu me afastei um passo. Ele logo recolheu a mão, sem graça. – É que eu fiquei sabendo que você tinha quebrado a cara daquele imbecil e, sei lá, fiquei feliz mesmo, queria só agradecer. – e dessa vez eu consegui captar algo próximo à sinceridade em sua voz.

- É... Tudo bem. – respondi, ainda meio desconcertado. – Eu só... não estou a fim de pensar nisso agora.

- Ah... Tudo bem então.

   Notei que ele forçou um sorriso, então se afastou um pouco de mim também, pegando o grande estojo pela alça lateral, fazendo-o parecer menor ainda perto do objeto. Ele estava se preparando para ir embora quando seu rosto se contorceu na mesma expressão de desconforto que eu havia visto quando estávamos na enfermaria.

– Ah, sério... – ele deu um suspiro longo e olhou para mim, como se eu fosse sua mãe e ele estivesse prestes a pedir algo que sabia que eu iria recusar. – eu posso ficar o resto da minha vida pensando que estou te devendo algo, e mesmo que você insista me dizendo que não estou devendo coisa alguma, não vou conseguir sossegar enquanto em não te “pagar”. Sei que pode parecer algo ridículo, mas para mim é... necessário. Você podia facilitar a situação para mim!

   Vou me corrigir: contente, ligeiramente infantil e extremamente objetivo. O que era uma característica interessante vinda dele.

   E apesar de eu achar que tudo aquilo que ele dizia era apenas o discurso ensaiado de alguém que tem o ego grande demais para admitir que façam algo por ele, eu simplesmente ponderei sobre e decidi que não faria mal algum se eu realmente “facilitasse sua situação”.

- Que tal um café? Eu pago. – ele disse, tirando a carteira do bolso e estendendo-a no ar.

   E ele não imaginava que aquela fosse a palavra mágica que me impulsionava a fazer qualquer coisa. Se ele tivesse dito isso desde o início, nossa conversa seria bem mais curta.

- Ok, eu não sei recusar café. – admiti e ele sorriu largamente. Parecia que aquele convite era uma forma dele de se retratar por ter mencionado minha briga com Gregory... O que sugestionava que, na cabeça dele, ainda tinham muitos favores a serem pagos a mim.

   Mas ele não podia ser uma má pessoa. Pelo menos não me pareceria uma má pessoa enquanto continuasse me pagando cafés.

   Sim, quanto a isso, admito ser facilmente subornável. Café para mim sempre teve muitos significados: união da família, remédio para curar a ressaca; mas, acima de tudo, hoje era mais do que um vício meu, que eu cultivava em substituição de muitos outros.

   E viva o café!

   Saímos da loja e caminhávamos lentamente, pelo caminho que Frank dizia que nos levaria à cafeteria que ele costumava freqüentar desde que chegara à cidade. Eu não tinha muita certeza se ele sabia exatamente para onde estava indo, sendo que vez ou outra o pegava olhando desconcertado para as placas nas esquinas que indicavam os nomes das ruas. Mas, bem, deixei que ele se virasse sozinho.

   Enquanto seguíamos, o silêncio veio nos acompanhar novamente. Aquela era uma situação pela qual eu nunca havia passado. Primeiramente, porque eu nunca cultivei o costume de aceitar convites de estranhos; e segundo porque, apesar de eu não saber muito dele, aquela estranha sensação de que ele era mais parecido comigo do que eu imaginava não me deixava em paz. Coloquei as mãos nos bolsos da calça e suspirei pesado: no fim éramos apenas dois garotos que as pessoas olhavam com estranheza, seja pela aparência ou pelas atitudes. Naquela altura aquela era a única semelhança que eu conseguia enxergar entre nós.

   Depois de mais ou menos meia hora de caminhada – sendo que eu senti que andamos em círculos durante vinte minutos daquele total. – chegamos a uma pequena, porém bonita, padaria. Coincidentemente era uma das que eu costumava freqüentar.

   Sentamos em uma mesa logo próxima à entrada, perto do balcão de vidro, onde podíamos apreciar bem todos os doces, pães e bolos lá expostos. Realmente era uma coisa bonita de se ver. Cumprimentei alguns atendentes que passaram por mim, e logo fizemos nossos pedidos. Continuávamos em silêncio, e eu na certeza de que nenhum de nós dois sabia exatamente o que falar.

   Até que Frank me surpreendeu e começou:

- Eu devia imaginar que você já tinha vindo aqui. – ele estava visivelmente sem graça. Pelo visto não se sentia confortável em silêncio. – Assim que vi a loja de fora eu tive que entrar... parece bem calmo por aqui.

- Eu freqüento essa loja desde que me entendo por gente. – comentei. – Mas só continuo vindo por causa do café. – e lá estava eu, pontuando minha frase com um sorriso idiota.

   Os minutos que se seguiram depois disso foram estranhos. Quando me dei conta, já estávamos dividindo gostos, manias e essas peculiaridades da vida de cada um. Notei que a sinceridade de Frank me impulsionava a ser sincero com ele também, mas de qualquer forma, eu continuava a me controlar para não acabar falando demais. Certas coisas relacionadas a mim eu não conto nem ao meu irmão! Que dirá a um garoto que eu não conhecia nem há dois dias.

- É, eu também era uma criança meio assim. – ele dizia entre risos, e eu o acompanhava nas risadas vez ou outra. – Eu costumava parar para ler enciclopédias com o meu pai. Toda manhã de domingo íamos para o escritório dele, pegávamos algum livro na estante e líamos até a hora do almoço. Quando eu cheguei no primário, acho que já sabia todo o conteúdo. – ele continuava a rir e eu o olhava meio descrente.

- Seu pai devia te forçar a ler, isso sim. – falei calmo, sem levá-lo a sério, fazendo uma pequena pausa para dar um gole em meu café. – Ele trabalha com o que?

- Ele era escritor e formado em literatura. Fazia alguns bicos em colunas de jornais e revistas de vez em quando, mas gostava mesmo era de escrever. – assisti-o tomar um pouco de seu café também. O olhar vago.

- Era? – perguntei, permitindo que a curiosidade falasse mais alto.

   E eu nunca imaginei que eu pudesse me odiar tanto.

- Sim, ele morreu. – ele disse, sério. Mas não parecia realmente chateado com o meu atrevimento. Até porque eu realmente não imaginava! – Foi por isso que eu e minha mãe nos mudamos para cá.

   Eu devo ter aberto e fechado a boca pelo menos cinco vezes antes que fizesse uma pequena pausa interna e tentasse formular alguma frase que fizesse sentido na minha cabeça.

- Eu... Eu sinto muito. Eu realmente não sabia e...

   Tchau, tchau, Gerard frio e impassível! Olá, Gerard idiota!

- Tudo bem, não tinha mesmo como saber. Eu não comentei isso com ninguém. – ele me lançou um sorriso que estranhamente transfigurou suas feições nas de alguém bem mais adulto.

   Eu ainda o olhava em estado de choque por ele falar algo tão grave com tanta naturalidade. Eu entendia o que ele estava passando, pois eu mesmo já havia passado por uma situação semelhante, mas eu sempre lidei muito mal com perdas, e sempre imaginei que todos fossem assim. Eu me sentia envergonhado e culpado e além disso tudo não sabia como me retratar. Eu poderia simplesmente ter ignorado todos esses sentimentos, mas além de ter perdido o pai recentemente, a vida escolar de Frank não estava muito melhor que a minha, e provavelmente não melhoraria com o decorrer do ano.

   Que bela dupla nós dois: dois fodidos.

- Vamos? – ele me chamou, e eu percebi que ele havia terminado seu café, e estranhamente eu também.

   Saímos da pequena padaria meio sem rumo, conversando algumas futilidades. Eu ainda estava com a cabeça no que Frank havia me dito um pouco antes, porém meu interesse no que ele falava logo se tornou máximo no momento em que ele mencionou o nome de Gregory.

- Eu sei que você disse que não quer falar sobre isso, mas eu estou realmente curioso. Como você fez aquilo com o tal de Gregory? – ele me encarava à espera de uma resposta que eu não sabia se conseguiria dar corretamente.

- Como assim?

- Sabe... ontem você mal conseguiu desviar do soco que ele te deu, hoje você quebrou o nariz dele. – ele tentou disfarçar um sorriso maldoso, mas foi em vão. – Eu assisti a briga. – ele confessou e eu senti meu sangue congelar.

- Nem eu sei como fiz aquilo. Eu só... fiz. – falei sincero, sem a intenção de dar mais detalhes.

- Você parecia um louco batendo nele. – comentou, enquanto ria novamente sob meu olhar sem graça. – Mas eu, no seu lugar, teria batido mais um pouco. – e ele me olhou novamente, o brilho no olhar tão semelhante ao meu.

   E exatamente como eu imaginava, Frank ainda era algo que eu não conhecia.

- Bom, eu moro aqui. – eu falei, quando paramos em frente à minha casa. Ele me olhou, meio surpreso, meio divertido, e começou a atravessar a rua.

- Então até amanhã, vizinho! – ele acenou para mim, andando de costas, logo se virando e abrindo a porta da casa em frente à minha.

   Aquilo devia ser uma brincadeira muito sem graça do destino. Algo do tipo “vou colocar esses dois miseráveis para conviverem um pouquinho, que tal?”. Sinceramente? Se existe mesmo alguém “lá em cima”, esse cara deve ser muito, muito sacana.

   Porque desgraça pouca é bobagem!


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Notas finais do capítulo

E aí, meninos e meninas e leitores lindos! Vim avisar que ainda não estou de férias, porém já estou "em ritmo de festa", já que este ano é meu último ano escolar! Sim, estou vivendo o sonho do Gerard!
De qualquer forma, essa semana será meio apertada, mas encontrarei meios de escrever e postar normalmente, ok?
No período de férias, não irei viajar, portanto, as atualizações continuarão normalmente (e espero que os comentários também).
Provavelmente só vou atrasar na semana do dia 17, pois tenho vestibular. Torçam por mim, valeu? ♥
E como haverão atualizações antes do natal, vou deixar para desejar boas festas depois, ok?
Obrigada por ler! E desculpem o tamanho disso aqui.
Aguardo reviews! ♥