I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 22
Capítulo 22 - Confronto


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, os reviews ainda não foram respondidos e eu entendo que vocês possam estar chateados com isso, mas essa situação realmente é temporária. Eu realmente tenho motivos para não estar respondendo os reviews, portanto, quem se interessar em saber, explicarei tudo nas notas finais.
Mias uma vez, obrigada por estarem sempre comigo, acompanhando essa história.
Boa leitura! ♥



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Capítulo 22 – Confronto



Alguns instantes depois de toda aquela discussão, eu e Mikey voltamos a subir, lavamos nossos rostos, escovamos os dentes e voltamos a descer: meu irmão decidido a fingir que não havia ouvido nada e eu muito decidido a conversar seriamente com a nossa mãe.


Achei realmente bom Mikey ficar neutro a essa situação. Ele estava se relacionando bem com os nossos pais agora e eu detestaria que isso mudasse, principalmente por algo que não tem nada a ver com ele. Aquele era um problema exclusivo meu e da nossa mãe. E eu estava disposto a conversar e até mesmo a discutir, se necessário fosse, para que ela conseguisse compreender alguns fatos importantes sobre mim e, principalmente, sobre Lindsey.


Quando entramos na cozinha – “pé ante pé”, como diria a minha avó. – encontramos nossa mãe virada de frente para a pia. A louça à sua frente, a torneira aberta, mas ela parecia perdida, a expressão um pouco perturbada. A mesa estava posta, então prontamente nos sentamos. Eu de olho na nossa mãe – ainda estática e aparentemente pensativa. – e Mikey de olho nas torradas com geléia.


Nossa mãe só nos notou quando Mikey, sem querer, derrubou uma faca no chão.


– Ah... Oi, meus amores. – ela se virou para nos olhar, um tanto assustada mas logo seus lábios exibiam um sorriso amarelo. – Dormiram bem?


Nenhum de nós respondeu. Eu a encarava sério, sem nem ter idéia de por onde começar, e notei que os olhos de Mikey corriam de mim para ela de forma rápida. Por mim eu já estaria tirando satisfações com ela, mas não queria envolver Mikey naquilo tudo. Como eu disse anteriormente, ele não tem nada a ver com isso, não quero prejudicá-lo. Se minha mãe quisesse ficar chateada com alguém, que esse alguém fosse eu.


– Un... Dormimos sim. – Mikey respondeu timidamente por nós dois.


O contato visual atualmente era feito apenas entre mim e nossa mãe. Ela parecia intrigada e apreensiva ao mesmo tempo com a intensidade do meu olhar sobre ela. E eu nem sequer me lembrava da última vez que tivera coragem o suficiente para confrontá-la pelo que quer que fosse.


– Bom... – Mikey começou, com um suspiro profundo. Nossos olhares se direcionaram a ele e observamos, em silêncio, ele pegar algumas torradas ligeiramente queimadas e se levantar de sua cadeira. – Eu estou meio atrasado, então acho que já vou.


Mikey mentia tão mal.


– Vai para onde, filho?


– Eu... Vou... Para a casa do Ray. Tenho um trabalho para fazer com ele. – observei-o coçar a nuca com força, suas unhas curtas deixando o pedaço de pele com marcas vermelhas. Ele sempre fazia aquilo quando estava nervoso ou desconfortável.


– Ok, mas volte antes do almoço! – ela advertiu. Devia estar tão nervosa quando Michael para não ter notado o quanto ele mentia descaradamente.


– Certo! – ele disse, já fora da cozinha. Pude ouvir seus passos ecoando até o piso superior da nossa casa e, algum tempo depois, os mesmos passos ecoando de volta, o barulho de chaves e, enfim, a porta da frente sendo a Berta e, em seguida, fechada.


Agora éramos só ela e eu naquela cozinha. E ela teria que me ouvir.


– Mãe. – disse, de forma firme. Ela já estava virada de frente para a pia novamente.


– Pode falar, meu bem.


– Eu acho que precisamos conversar. – ela virou o rosto em um movimento rápido para me olhar, talvez um tanto espantada. Ela sabia à que eu me referia. – O que foi aquilo que eu ouvi, mãe? – a melhor palavra para expressar o que eu sentia e tentava demonstrar para ela através de cada gesto meu naquele momento seria decepção.


– Não foi nada, Gerard. Eu e Lindsey apenas nos desentendemos. Apenas isso. – ela disse, aparentemente começando a ficar nervosa. Ela mentia tão mal quanto meu irmão.


– Como assim “não foi nada”?


E, nesse ponto, eu já estava de pé, os braços cruzados na altura do peito, provavelmente exibindo minha melhor expressão de indignação. Ela permaneceu de costas para mim, as mãos sob a água que ainda caia sem controle ou rumo da torneira aberta, como se aquele assunto fosse algo banal. Aquele desprezo e a falta de atenção ao que eu dizia só me deixavam mais nervoso. Prossegui.


– Eu ouvi toda a discussão, mãe. Assim como eu imagino que toda a vizinhança tenha ouvido também! Você insinuou que a Lindsey fingiu um estupro para dar um golpe! Será que você não tem noção da gravidade dessa acusação?


E agora foi a vez dela virar-se para mim, a face enfurecida. Eu já esperava por isso.


– Gerard, eu sou sua mãe! Meça suas palavras quando for falar comigo! – ela apontava o dedo em riste em direção ao meu rosto, mas eu não me abalei. E nem devia. Ainda não havia dito a ela nem metade do que eu queria.


– Então meça as suas palavras para falar com a Lindsey! Eu... – fiz uma pausa, uma mão posta na cintura e a outra passando por meus cabelos, puxando-os levemente. As palavras se embolavam na minha garganta. – Eu nunca me senti tão decepcionado com você, mãe. Nunca imaginei que você pudesse ser tão... tão... Olha, eu nem sei o que te dizer. O jeito como você tratou a Lindsey... Não foi só como se você duvidasse da história dela, foi como se você duvidasse de mim também! De tudo o que eu passei por ela!


– Em momento algum eu duvidei de você, meu filho! – e agora ela parecia decepcionada comigo, como que por eu não entender seu ponto de vista. – Eu acredito em tudo o que você disso ao seu pai e a mim, mas ela não...


– “Ela não” o quê, mãe? Ela não parece convincente o suficiente para você?


Olhei-a nos olhos sem medo algum de suas possíveis reações. Ela olhava para mim em espanto, e só então que eu percebi que havia elevado o tom de voz. Respirei fundo e tentei me controlar enquanto esperava que ela me dissesse algo. Ela não disse.


– Acho que você não tem argumentos contra isso... – disse, consideravelmente mais baixo, mas ela ainda me ouvia. – Mãe, eu apanhei pela Lindsey, menti por ela, eu a levei ao hospital no dia da festa, eu a vi caída no chão com a saia rasgada! Você acha mesmo que eu faria isso tudo por ela se eu não a tivesse visto naquela situação com os meus próprios olhos? E, o mais importante, você acha mesmo que a Lindsey seria tão fria a ponto de arquitetar um plano nessas proporções?


– A gente nunca sabe o que esperar das pessoas hoje em dia, Gerard! Não se pode sair por aí e confiar em qualquer um!


– Mãe, ela teve um filho! – eu disse, elevando ainda mais o tom de voz. – E você teve dois! Pensei que soubesse como as coisas mudam quando se tem um filho e a sua vida não é mais só sua!


Quando o som da minha voz cessou, o silêncio parecia muito mais palpável do que antes de eu ter começado a falar. Minha mãe olhava para mim em um misto de espanto e indignação, provavelmente pelo tom de voz que eu havia usado com ela, e por eu não ter “ficado do seu lado” naquela discussão sem fundamentos (da parte dela). Já eu tentava transmitir apenas pelo olhar toda a decepção ainda latente em todos os meus pensamentos. Eu sabia que aquela sensação ruim ainda prevaleceria por mais algum tempo, e me doía saber que aquele sentimento era gerado pela minha própria mãe, mas não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento que não fosse... esperar aquela raiva passar.


Caminhei sem pressa até a porta dos fundos, o olhar dela ainda preso no ponto que eu me encontrava segundos atrás. Coloquei a mão direita sobre a maçaneta, mas, antes de girá-la, me virei para minha mãe novamente.


– As pessoas não costumam brincar com coisas tão sérias, mãe. – eu disse simples. Meu tom de voz um pouco carregado com o bolo crescente em minha garganta. – Mas eu só lamento por você não conseguir confiar nem em mim nem na Lindsey.


E, dito isso, saí por aquela porta com um pouco de pressa. O ar fresco do quintal tocando meu rosto, e só naquele momento eu notei o quão rarefeito o ar da cozinha estava. Ou eu que não conseguia respirar direito com toda aquela pressão. Eu realmente odiava brigar com a minha mãe, mas o que eu podia fazer? Ela merecia ouvir tudo o que eu disse! Merecia ouvir até mais um pouco, mas eu realmente estava sem forças para estender aquela discussão. Todos os meus músculos doíam e minha mente estava mais cansada do que se eu tivesse feito uma prova com cem questões em dez minutos. E agora, andando pelo quintal vagarosamente e me dando ao luxo de não pensar em nada em especial, eu só conseguia sentir alívio. Na realidade, uma mistura de alívio com o velho sentimento de “missão cumprida”.


Eu a enfrentara, coisa que, em outros tempos, eu não faria. Independente das circunstâncias, aquilo me deixava um pouco feliz, de alguma forma.


E eu estava tão entretido pensando no que eu acabara de fazer que demorei a notar uma figura um tanto baixa parada atrás de mim. Na realidade, eu realmente não notei ninguém. Só percebi quando senti sua mão em meu ombro.


– Você sabe que não precisava fazer isso, não é? – Lindsey se pronunciou rapidamente antes que eu tivesse a oportunidade de dizer qualquer coisa. – Não precisava me defender. Sua mãe tem o direito de dizer o que quiser, partindo do ponto de que eu sou a intrusa nessa casa. – ela grifou o “eu” e virou-se, de braços cruzados, para olhar aquela construção pintada de branco e de aparência tão familiar e acolhedora.


“Acolhedora...”, pensei, e então imaginei o que Lindsey estaria pensando atrás daquele semblante cansado e talvez até um pouco triste. Através do seu olhar, imagino que minha casa não se parecesse nem um pouco acolhedora. Provavelmente bem longe disso


Me virei e comecei a olhar para o mesmo ponto que ela, como que tentando enxergar as coisas da mesma forma que ela enxergava naquele momento. Os braços igualmente cruzados.


– Para começar: você não é nenhuma intrusa e sabe disso! É minha convidada e convidada do meu pai, inclusive. – ela me olhou um pouco espantada. – Pois é, o velho te adora. – ela deu uma risada alta que a tanto tempo eu não ouvia, e com isso não pude reprimir um sorriso. – E eu precisava sim dizer aquelas coisas para a minha mãe. Ela não tem o direito de te ofender nem aqui, nem fora daqui, nem em lugar algum! E você sabe que eu não diria nada se soubesse que ela tem razão. O problema é que ela está enchendo a boca para te ofender sem saber o que diz. – acrescentei essa última parte rapidamente quando vi que ela ia abrir a boca para me interromper.


– Certo... Não posso discordar do que você disse. Mesmo assim, me desculpe pelo escândalo agora de manhã. Eu deveria ter mantido a calma. – e ela girou seu corpo em minha direção enquanto eu apenas virei a cabeça para encará-la. – Me desculpe por todos esses transtornos.


– Não precisa se desculpar, de verdade. Você só se defendeu. – e eu passei o braço sobre os seus ombros, puxando-a para perto e a ouvindo rir. – E eu estranharia bastante se agora você começasse a ouvir desaforos calada.


– Gerard? – ela murmurou, a voz abafada por estar com o rosto grudado no meu peito.


– Oi.


– Obrigada. De verdade. Você está fazendo mais por mim do que meus próprios pais fizeram. – e, ao ouvir isso, eu só pude apertá-la mais contra o meu próprio corpo e sorrir.


– Não precisa me agradecer. Talvez isso soe estranho... Mas ver o que aconteceu com você, me aproximar de você... Mas afastou de muitas coisas que iriam me matar por dentro se eu deixasse. Sou eu quem tem que te agradecer, Lindsey.


Eu terminei o que dizia bastante envergonhado, mas sendo sincero em cada palavra. Ainda era estranho me abrir com outras pessoas, mas com Lindsey as coisas se mostravam um pouco mais fáceis. Ela, durante muito tempo, foi a única pessoa que soube tudo o que realmente aconteceu entre mim e Max, e, quando ainda mantínhamos contato freqüentemente, eu costumava me abrir com ela, dizer à ela o que eu realmente estava pensando...


Ela é a melhor amiga que eu poderia ter.


– Vem, vamos entrar.


Eu disse a ela, que ainda estava agarrada à minha cintura e, ainda desta forma, caminhamos lentamente até a porta da frente. Eu não sabia se minha mãe ainda se encontrava na cozinha, mas cuidado nunca é demais. Queríamos – sim, os dois. – evitar mais confrontos.


Ficamos um pouco no meu quarto, conversando sobre assuntos tão aleatórios que era como se o processo e as brigas com a minha mãe nunca houvessem existido. Ela me perguntou sobre os pôsteres grudados nas paredes do meu quarto – rindo e debochando da minha evidente preferência por Smashing Pumpkins, devido à minha empolgação em lhe mostrar o CD que Frank me emprestara há alguns meses. – e se eu ainda desenhava. E eu perguntei a ela o que ela fizera com o baixo que ganhara de aniversário sete anos atrás e foi então que eu me lembrei.


– Onde está o Arthur?


– Seu pai me pediu para sair com ele e, depois do que você me falou lá embaixo, eu até entendo o porquê. – ela disse com um sorriso bonito no rosto. – Disse que estava com saudades de ter crianças em casa, e que você disse a ele que Arthur não costumava sair muito, então queria levá-lo a algum lugar. – ela direcionou seu olhar para os próprios sapatos, mais eu ainda conseguia ver o sorriso em seu rosto. – Seu pai é muito legal.


– É, é mesmo. – eu lhe respondi, um sorriso um tanto triste surgindo em meu rosto. Não era mentira alguma a que eu dissera, só era uma pena eu ter percebido isso tão tarde. Me aproximei dela e me sentei ao seu lado, na minha cama, o CD de Frank ainda nas mãos. – Ei. – eu a chamei, fazendo com que ela levantasse o rosto, os olhos marejados me encarando atentamente. – Quando esse processo todo acabar você vai ver, seus pais com certeza voltarão atrás no que disseram e...


– Eu não quero que eles voltem atrás, Gerard. – ela levou as mãos aos olhos, limpando as lágrimas com cuidado e de forma lenta. – Essas são feridas cicatrizadas. Eu só... não sei,acho que fiquei emocionada com essa atitude do seu pai. Foi muito legal da parte dele, ele realmente não tem obrigação alguma de se importar comigo, muito menos com o Arthur. E ele sempre me pergunta se está tudo bem, ou se eu preciso de algo...


E eu realmente não sabia o que dizer diante daquele relato, porquê eu mesmo não me lembrava de ter visto meu pai dessa maneira, com tanta gratidão ou admiração. Então me recordei da época em que eu saia de noite e voltava de manhã, não respeitava regras nem olhava na cara dos meus próprios pais ou do meu próprio irmão. Minha família! E eu ainda esperava algum tipo de compreensão ou o que quer que fosse.


O quão mal agradecido eu pude ser?


Ficamos conversando um pouco mais até o momento em que eu decidi dar uma espiada na cozinha – já que não tomara café e Lindsey já começava a rir dos roncos estranhos que a minha barriga dava. –. Perguntei à ela se queria descer comigo, mas, como ela preferiu ficar e descansar um pouco, desci sozinho, encontrando na cozinha um Mikey branco, quase transparente, sentando em uma cadeira olhando fixamente algum ponto da parede à sua frente sem, praticamente, nem piscar.


– Mikey? – eu me aproximei dele e toquei seu ombro, e, com isso, ele quase caiu no chão.


– Que susto! – ele gritou, me olhando horrorizado e levando rapidamente uma das mãos ao peito.


– Quem se assusta fácil é porque esta fazendo coisa errada. – disse zombeteiro, ainda rindo do susto exagerado que ele levara. Me afastei dele e me encaminhei diretamente para a geladeira, abrindo-a e tratando de caçar algo interessante e comestível que não fosse necessário cozinhar.


– Que foi? Andou conversando com a vovó, é? – rebateu, carrancudo.


– Ok, já entendi, ficou bravinho. – eu continuei, sem abandonar o tom de brincadeira, meus olhos e o meu cérebro ocupados demais em escanear o interior da geladeira. – Não brinco mais, ta bom?


– Para com isso, Gerard. – ele disse, sério, e então eu realmente parei e me virei para ele, analisando-o. Ele realmente estava falando sério.


Algo aconteceu.


– Tá certo, o que foi?


– Eu fui na casa do Ray agora pouco... – ele começou, a cor sumindo de seu rosto novamente. Ficou em silêncio.


– E? – incentivei-o a continuar falando, minha curiosidade e preocupação crescendo cada vez mais.


– Você não vai acreditar em quem eu encontrei lá...



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Notas finais do capítulo

Bom, galera, o motivo para eu não estar respondendo os reviews é o seguinte: recentemente fiz uma prova de bolsa para um cursinho, consegui uma percentagem legal e tudo, mas o problema, então, seria decidir em qual cidade eu faria o dito cursinho, já que, no meio do ano, eu vou me mudar e etc e tal. De qualquer forma, está uma correria ver isso, além do curso de inglês, aula de canto e de violão...
De qualquer forma, estou dizendo isso, porque realmente acho que vocês merece uma explicação pela falta de atualizações e pela falta de resposta aos reviews.
Mesmo assim, continuem mandando reviews! Eu amo lê-los eu eu irei respondê-los o mais breve possível.
Poxa, eu tenho vinte leitores e capítulo passado eu acho que recebi só sete reviews.
Quero mesmo saber o que estão achando da história, e os reviews são a oportunidade que vocês tem de criticar e/ou elogiar o que eu escrevo. E qualquer elogio/critica são sempre bem vindos!
De qualquer forma, muito obrigada pela paciência de todos vocês.
Espero ter o prazer de encontrá-los nos comentários!