I'm Not Ok escrita por Bones


Capítulo 11
Capítulo 11 - Por Mim E Por Você


Notas iniciais do capítulo

Oh, eu sou uma fraca! Não consegui resistir à tentação de postar! D:
Bom, este capítulo finalmente revela tudo o que a maioria de vocês sempre quis saber dessa história... eu só faço um único apelo: NÃO SE ESQUEÇAM DE QUE A HISTÓRIA NÃO ACABA AQUI!
Não é porque o mistério principal foi revelado que vocês vão me abandonar... não é? D:
Bom, boa leitura, espero que gostem de verdade.



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Capítulo 11 – Por Mim E Por Você

   Na manhã seguinte eu estava parado em frente à casa de Frank com o carro do meu pai. Ainda estava meio incerto sobre sair e tocar a campainha, pois eu sabia que depois que Frank me visse, não teria mais volta. Eu queria ir, estava ansioso, minhas mãos suavam enquanto apertavam o volante... Mas eu também estava inseguro, apesar de não me martirizar por isso. Já conseguia me sentir uma pessoa um pouco melhor, apenas por ter decidido ir, ainda mais com tanta rapidez. Aquela coragem toda estava fazendo falta.

   Analisei minha imagem pelo retrovisor e encarei aquela figura séria e cansada olhando de volta para mim. Meus olhos encontraram os do meu reflexo, e por um instante eu os achei tão parecidos com os de Frank... Queria ter ao menos a esperança de voltar a ser quem eu era, reconstruir a minha vida da forma que eu realmente sou. Aquela era uma chance e tanto de matar meus fantasmas. Não iria me esquecer deles, isso jamais... Mas pelo menos eu teria a certeza de que eu os havia superado.

   E antes que eu fizesse qualquer barulho, ouvi a porta da casa de Frank sendo destrancada e logo me sobressaltei. Olhei para o relógio. Eram oito e dez. Ele devia estar saindo para me esperar.

   Ele se aproximou do carro, meio desconfiado, e olhou para mim dentro dele, depois para o carro novamente. Arqueou as sobrancelhas e abaixou-se na altura da janela do lado do motorista, de modo que pudesse ver meu rosto. Minhas mãos permaneceram apertando o volante e eu tentava não olhar para o lado.

- Desde quando você tem idade para dirigir, Gerard? – ele ria despreocupado. Mesmo que eu dissesse a ele que não tinha habilitação, imagino que ele subiria a bordo da mesma forma.

- Desde que eu fiz dezoito. – respondi simples, tentando cortar logo o papo. Ele desfez o sorriso e me olhou intrigado.

   Era disso que eu tinha medo, das perguntas.

- Dezoito? Repetiu o ano? – ele perguntou e logo deu a volta no carro, entrando neste e me encarando do banco ao meu lado.

- Não. Eu... – eu não consegui mentir para ele. Já era um favor muito grande que ele estava me fazendo, indo comigo sem fazer tantas perguntas, então não me senti no direito de enganá-lo. – Eu deixei de freqüentar a escola durante um ano.

- Por quê?

- História longa...

   E dito isso, dei a partida no carro. Frank ainda me encarava meio incerto. Acho que, da mesma forma que em nossa última conversa eu havia percebido que não sabia nada sobre ele, provavelmente ele também havia notado que muito sobre mim ele desconhecia. E da mesma forma que eu queria saber mais dele, eu notava que ele queria saber mais de mim.

   Frank era uma pessoa curiosa por natureza, isso eu tinha certeza. Ele observava mais pela curiosidade de saber o que se escondia por trás de cada rosto do que pela prática da análise, como eu fazia. Eu analisava pessoas algumas vezes por não ter nada para fazer, outras apenas para me sentir superior ao resto do grupo que me cercava. Eu sempre considerei o ato de analisar o comportamento humano algo que apenas pessoas inteligentes faziam... Bom, por sorte essa visão só durou até eu ter que freqüentar um psiquiatra e ter que assisti-lo me analisar de perto durante dois longos anos me enchendo de remédios. Então eu passei a observar pessoas pela diversão de descobrir através de seus atos certos sentimentos que elas preferiam esconder, mas que sua linguagem corporal entregava.

   Bom, passatempo estranho, eu sei. Mas era mais estranho ainda notar que eu não era o único.

- Ainda falta muito? – Frank quebrou o silêncio entre nós, que já durava os trinta minutos iniciais de viagem. Eu havia me esquecido dele enquanto divagava.

- Talvez mais duas horas e meia. – disse, sem tirar os olhos da estrada. Nem eu sabia que era um motorista tão cauteloso.

- Bem que você disse que a viagem ia ser longa... – desviei os olhos rapidamente da estrada apenas para vê-lo se afundar no banco do passageiro, ficando ainda menor. Reprimi uma risada com isso. – Você não saiu de casa tão cedo para visitar uma simples... colega, não é mesmo?

   Meus dedos apertaram o volante com mais força após a mudança brusca de assunto. Frank tinha um certo dom para essas coisas. Por sorte meus pés não reagiram da mesma forma com o susto, do contrário já teríamos batido em algo.

- Bom, ela está passando por problemas. Precisa de ajuda. – tentava desesperadamente responder o mínimo possível. Mas eu sabia que ele continuaria a perguntar.

- Você me disse que passou por situações difíceis nessa cidade. Voltar por uma simples colega? – ele grifou a palavra colega e cruzou os braços. Mantinha no rosto um sorriso que eu não consegui desvendar. – E pela força que você está usando para segurar o volante, acho que posso sugerir que você está um pouco nervoso.

- Impressão sua. – dei a ele um sorriso amarelo que logo sumiu de meus lábios. Tentei afrouxar as mãos no volante, mas não conseguia. Eu estava realmente nervoso.

   Seus olhos se estreitaram em minha direção. Permaneceu naquela mesma posição por alguns minutos, talvez dois ou três, eu nunca soube ao certo, e foi então que Frank decidiu começar nossa verdadeira conversa.

- Sabe do que meu pai morreu? – ele olhava para frente, o mesmo sorriso indecifrável nos lábios, o que me fez encará-lo pelo canto dos olhos. Eu não respondi, pois não sabia o que ele pretendia. E ele continuou da mesma forma. – Drogas.

   Meus olhos se arregalaram na mesma hora, e eu comprimi com mais força o volante contra minhas mãos. Limitei minhas reações a isso, mas por dentro eu gritava.

- Ele dizia que eram remédios, e que o ajudavam a escrever melhor, trabalhar melhor... viver melhor. Como se eu e minha mãe não bastássemos para fazê-lo feliz.

   O sorriso em seu rosto se tronava triste aos poucos, e eu queria que ele chorasse, berrasse, gritasse ao mundo o quanto ele estava triste e o quanto a vida dele estava uma merda. Queria que ele agisse como eu imaginava que agiria no lugar dele. A reação que ele estava tendo ao me contar tudo aquilo, na minha cabeça, não era a de uma pessoa normal.

- Depois disso ele começou a se afastar de nós cada vez mais. Ficava trancado no escritório o dia todo. Ele, os papéis dele e as drogas. Foi aí que minha mãe começou a trabalhar o tempo todo, e eu acabei ficando sozinho nesse meio. – ele deu de ombros e soltou um longo suspiro antes de continuar, seus olhos agora encarando seus sapatos. – Eu sempre soube que meu pai não era exatamente o que se pode chamar de normal. Ele era carinhoso, mas talvez fosse profundo demais, encarasse tudo com muita seriedade. Era muito pessimista... Parece alguém que você conhece?

   Ele soltou um riso amargo enquanto me lançava um rápido olhar e eu engoli em seco. No fim ele se aproximou de mim pelo mesmo motivo que eu havia me aproximado dele: identificação. Eu me identifiquei com ele pela força que ele tinha para revidar, lutar contra coisas maiores que ele, algo que eu possuía, mas que eu havia perdido dentro de mim mesmo. Ele se identificara comigo porque, de alguma forma, ele já havia visto minha história, minha expressão. Aquilo tudo era tão estranho...

- Um dia... – ele continuou, agora olhando para suas mãos, que brincavam uma com a outra contornando as tatuagens que ele tinha nos dedos. – eu cheguei em casa e encontrei ele morto no escritório com uma garrafa de bebida aberta e um vidro de comprimidos do lado. Não foi a coisa mais linda de se ver, nem de longe. Mas as coisas já estavam tão ruins que eu já sabia que isso ia acontecer, e estava feliz por ter acontecido. – as palavras dele fizeram um arrepio estranho passar pela minha espinha. E o fato de ele continuar sem demonstrar grandes reações a toda aquela história apenas me deixava mais inquieto. Incomodado. – Eu o entendia, no fim das contas.

- Como “entendia”? – perguntei, sem me preocupar em esconder minha surpresa.

- Ele nunca enxergou que no mundo pode haver coisas boas. Ele era um ótimo pai, porém era egoísta demais para dividir seus sentimentos com outras pessoas. – e agora ele olhava diretamente para mim, buscando meus olhos que se mantiveram fixos na estrada, mesmo com a tentação de olhar para o lado e analisar sua expressão, assim como ele fazia com a minha. – Ele acabou sendo fraco, e na impossibilidade de falar com alguém sobre o que quer que fosse, acabou achando que a melhor solução era se matar por dentro, esperando levar seus problemas junto.

   Eu permaneci sem saber o que lhe dizer. A figura que ele me descrevia era eu. E eu já podia até imaginar aquela história como sendo minha se eu não falasse. Parecia algo tão simples: falar algo para alguém. Mas para mim era tão difícil! Eu podia contar nos dedos de uma mão quantas vezes eu havia dito “eu te amo” para alguém. Tudo o que eu sentia eu encarava como sendo algo íntimo e vergonhoso. Quando eu era pequeno, sempre imaginei pessoas rindo de mim quando eu ia falar algo, ser verdadeiro com alguém. Por isso nunca fui de demonstrar sentimentos, assim como Mikey, mas eu nunca estive tão mal nesse sentido quanto eu estou agora.

- Gerard, você não é o único que tem problemas, ou um passado cheio de fantasmas para lembrar. – ele continuou falando, seus olhos ainda em mim. – Minha história também não é muito contente, como você pode ver. Mas tudo o que aconteceu com o meu pai eu tomei como lição para não acontecer comigo. Não seja fraco e egoísta a ponto de pensar que seus problemas são só seus, ou que os fantasmas que te perseguem um dia vão sumir se você esperar. Eles não vão. Ou você supera todos eles, ou morre com eles como vi acontecer com o meu próprio pai.

- O que você pretende me contando isso tudo? Quer me ajudar também? – eu comecei, tentando esconder atrás de um muro de sarcasmo o quanto sua história havia conseguido mexer comigo. – Por que eu não preciso desse tipo de ajuda.

- Você ainda não entendeu? – e ele ria do meu sarcasmo com ironia. – Eu não quero te ajudar. Eu só vim porque queria ver se você tem força o suficiente para se ajudar sozinho! Nunca pensei em resolver seus problemas, como eu já vi Mikey tentando fazer várias vezes. – agora ele olhava, talvez um pouco irritado, pela janela ao seu lado, a estrada passando rápida sob o carro.

- Você não sabe nem um terço do que eu passei. – dei um forte soco no volante, que produziu um som alto que ressoou por todo o carro. Frank não pareceu se abalar.

- Nunca vou saber se você não falar. – ele continuava a encarar a janela.

   E eu não vi outra escolha.

- Você tem razão, eu não estou vindo visitar só uma colega... – eu comecei, dando um longo suspiro resignado. Tentava me manter impassível, mas estava ficando cada vez mais difícil. – Ela... Lindsey... Ela é igual a mim.

   Por fim consegui captar sua atenção. Seus olhos me encaravam cautelosos. Eu sabia que ele podia imaginar o quanto estava sendo difícil para mim contar algo a alguém que eu conhecia a tão pouco tempo... ainda mais sendo um assunto tão particular, que eu vinha escondendo inclusive da minha família há anos. Ele esperou que eu continuasse, e eu juntei toda a minha coragem, engoli o orgulho, e prossegui.

- Tudo aconteceu quando eu tinha uns quatorze, quase quinze anos. Se eu precisasse me descrever usando alguém como exemplo, eu acho que eu seria como o Ray.

   Sorri satisfeito em meio a um discurso tão doloroso, apenas em pensar que Ray estava finalmente se endireitando e se livrando das armadilhas nas quais eu caí.

- Mas, ao contrário de Ray, eu era um verdadeiro idiota. Eu era um moleque que se achava adulto, dono do mundo. O típico adolescente sem nada na cabeça. Eu me sentia tão superior com relação aos outros da minha idade que eu os ignorava e vivia correndo atrás de um grupo de caras do terceiro ano. Eles eram mais velhos e, na minha cabeça, mais divertidos e interessantes.

   Foi a minha vez de sorrir tristemente. Era a primeira vez que eu discursava sobre aquilo em voz alta, ainda mais com alguém ouvindo. A única pessoa que conhecia minha verdadeira história era Lindsey, e mesmo assim ela só sabia por que ela havia presenciado cada cena. Frank me olhava tentando controlar a curiosidade. Ele não queria me pressionar, mas ao mesmo tempo queria que eu dissesse tudo de uma vez.

- Eu comecei a freqüentar as festas que eles davam, mesmo sabendo que eles não gostavam de mim e que não eram, nem de longe, meus amigos de verdade. Exatamente como Ray... – fiz uma pausa para tentar organizar a linha cronológica dos fatos, mas logo prossegui, dividindo a atenção entre a estrada e meu relato. – De qualquer forma, eles se divertiam às minhas custas, por isso não me repeliam tanto. Aos poucos, apesar de me enxergarem como um simples capacho, eu comecei a ser mais aceito por eles, o que me fazia sentir apenas mais legal. Na época, eu imaginava que tudo o que eu estava fazendo estava certo.

   Não sabia mais se devia continuar. Tudo o que eu havia dito a Frank até o momento, Mikey, Ray e qualquer outro que achasse que soubesse algo sobre o que aconteceu comigo, já sabia. Tudo o que eu diria depois eu nunca havia dividido com ninguém.

   Mas Frank havia me contado coisas tão íntimas de sua vida que, talvez, como ele mesmo costumava dizer, eu estivesse devendo isto a ele.

   À contra gosto, o peito já dolorido, prossegui.

- Eu comecei a comprar drogas para eles, para que não precisassem ir direto aos traficantes. Eu nunca usei nada, não tinha tanta coragem assim. Mas bebia com eles para manter a imagem. – Frank me encarava da mesma forma de antes, acho que ele nem se atrevia a se mexer. Mas eu vislumbrava a perplexidade em seu olhar. Por um instante, fiquei com medo que ele me enxergasse da mesma forma que Mikey me via... então não tive outra escolha a não ser continuar e continuar. – Em troca desses favores, eles começaram a me levar em umas festinhas mais... particulares. E foi em uma dessas que eu conheci Lindsey.

- A garota que te ligou? – sua voz tinha um tom incerto, mas ele já aparentava se sentir mais a vontade, talvez vendo que eu não pretendia parar pela metade.

   Eu apenas assenti, confirmando.

- Nessas festas eles costumavam ir com seus carros em lugares desertos da cidade. O ponto preferido era próximo à linha do trem. Nunca passava ninguém por lá. Nem de dia nem de noite. Então era perfeito. – os nós dos meus dedos começavam a doer com a força que eu apertava o volante. Uma raiva repentina começou a tomar conta de mim quando as lembranças começaram a aflorar mais claramente. – Eu costumava ir e beber, ficar com garotas, às vezes com caras também... – e notei Frank me olhar surpreso, como se não esperasse isso de mim. – Eles costumavam transar por lá também, dentro dos carros ou ao ar livre, pouco importava. Todos drogados e bêbados. Era um lugar horrível, mas na época eu estava convencido de que aquela era a minha casa.

   Mordi o lábio inferior até sentir o gosto de sangue em minha boca. Queria me impedir de expressar reações, queria me manter impassível para Frank, mas meus olhos já ardiam, e estava começando a ficar difícil esconder a dor que aquelas lembranças me traziam.

- E em uma festa dessas eu conheci a Lindsey. Uma garota muito bonita, com certeza... mas o que me chamou a atenção nela dentre os outros foi que, apesar da roupa curta, ela não era vulgar. Apenas sexy e bonita. Então eu comecei a conversar com ela. – fiz uma pausa ao pensar em Lindsey. Meus olhos começaram a lacrimejar, mas eu tentei não me importar. – Ela era muito esperta e engraçada. Eu não queria ficar com ela, queria só ficar mais tempo conversando... nós aparentemente tínhamos muito em comum. Ela tinha dezesseis anos na época... acho que nenhum de nós imaginava o que aconteceria depois.

   Vi Frank ajeitar-se melhor no banco ao meu lado, seu corpo, apesar do cinto de segurança, completamente virado para mim. As lágrimas escorriam por todo meu rosto e pingavam em minha calça. Me controlava cada vez mais para não parar o carro e sair correndo de lá simplesmente para não ter que contar à Frank o quão covarde eu fui... Mas aquela história já não me pertencia mais.

- Max era meio que o “líder” do pequeno grupo com o qual eu andava, e ele queria Lindsey. Eu sabia o quanto ele era bruto com as meninas que pegava nessas festas, mas não fiz nada para impedir que ele a levasse para o carro. De repente começamos a ouvir gemidos estranhos, e depois gritos. Eu já estava meio alto a essa altura, mas me lembrei de Lindsey e fui ver o que tinha acontecido com ela... E só deu tempo de eu ver Max fechando o zíper da calça e Lindsey no chão... a saia rasgada e um corte na boca... Eu quis me matar depois disso.

- Gerard...

- Me deixa terminar... – eu estacionei o carro no acostamento. Não me sentia mais em condições de dirigir. Frank apenas me observava, cada vez mais surpreso. – Eu a levei para o hospital, apesar de todos eles terem me ameaçado e dito que se eu ou ela denunciássemos alguém, eles iriam nos matar. Na época, eu não acreditei... Cortei relações com eles e passei a evitá-los na escola. Costumava andar com Lindsey depois disso, e volta e meia eles nos ameaçavam novamente nos corredores, na saída do colégio... Infelizmente nada disso foi o pior...

   Frank me olhava, dividido entre a compaixão, a curiosidade e o espanto. Se a história dele não era nada bonita, o que dizer da minha? A que eu tinha escolhido para mim? Tentei enxugar algumas lágrimas antes de continuar.

- Depois de uns meses, Lindsey começou a faltar muito às aulas, e como eu estava sozinho, comecei a apanhar dos caras que antes eu seguia como deuses. Demorei para entender porque não me batiam no rosto, mas depois de quatro ou cinco dias de surras seguidas, percebi que era para não deixarem marcas visíveis em mim, para ninguém desconfiar. Fui visitar Lindsey depois de algum tempo, e ela me contou que estava grávida...

- Eu imaginei que diria isso... – Frank murmurou, sem conseguir manter o contato visual por muito tempo. Ele provavelmente estava desconfortável me vendo desmoronar desse jeito na frente dele.

- Eu disse a ela que assumiria o bebê, porque os pais dela eram muito rígidos, e nunca aceitariam aquela gravidez. Eu lembro até hoje o que ela me respondeu... “Não é porque estragaram a minha vida que você precisa estragar a sua também.”. – sorri triste novamente ao me lembrar da força que Lindsey demonstrou ao tratar dessa situação tão delicada. – Quando os pais dela descobriram, assim como eu previa, ela foi expulsa de casa. Não terminou o colégio por isso. E, como noticia ruim se espalha logo, não demorou quase nada para Max ficar sabendo que Lindsey estava grávida, e que ela teria eternamente uma prova do estupro que havia sofrido... Foi então que aconteceu.

   Eu comecei a soluçar fortemente, quase sem conseguir respirar. Deixei que a minha cabeça caísse sobre o volante com um baque e não tive mais forças para levantá-la de lá. Logo senti um toque em minha nuca.

- Se não quiser continuar...

- Não... eu preciso... – permaneci na mesma posição, e prossegui. – Eles começaram a ameaçar Lindsey com mais freqüência, dizendo a ela para abortar, ou matariam ela, o bebê, e eu. Então eu decidi enfrentá-los. Fui até uma das festas deles, tentei conversar com Max. Ele me disse que a deixaria em paz se ela sumisse da cidade, e eu, feliz, acreditei. Ele me ofereceu uma bebida... eu, talvez inocentemente, caí na mesma armadilha pela segunda vez. A última coisa que me lembro antes de perder os sentidos foi de Max me prensando contra um muro, e mais dois ou três caras atrás dele rindo. Inclusive, foi disso que eu lembrei quando briguei com Gregory pela última vez... talvez por isso eu tenha reagido daquela forma. Depois só lembro de alguns flashes, como a ambulância, e minha mãe em um quarto de hospital me implorando perdão, aos prantos, dizendo que não havia tido tempo o suficiente para cuidar de mim e me educar.

   Eu me levantei devagar, agora encarando Frank nos olhos, tentando penetrar em sua mente para saber o que ele pensava de mim depois daquilo tudo. Ele continuou a me encarar, e eu, mais uma vez, prossegui, para o final da história.

- O médico depois disse à minha mãe que eu havia tomado ecstasy, e que por isso eu tinha tido uma parada cardíaca, por causa dos efeitos adversos da droga com a bebida. E, pelos hematomas, todos concluíram que eu havia brigado em algum bar ou festa. Me encararam como um adolescente raso, que não precisava de cuidados, e sim de uma boa educação. Minha mãe vendeu nossa casa e em menos de uma semana, sem eu nem ao menos poder me despedir de Lindsey, nós fomos embora. Desde então, tudo o que qualquer um sabe sobre mim é que eu sou um adolescente problemático, briguento e drogado. – eu busquei os olhos de Frank, sentindo os meus marejarem novamente sem poder controlá-los. – O que mais me dói é que além de não ter tido coragem de ajudar Lindsey, eu nunca consegui dizer à Mikey que não foi bem assim... E às vezes olho para ele... e a única coisa que vejo nos olhos dele é pena... Isso é o pior, Frank.

   Comecei a soluçar novamente. Finalmente me sentia leve, como se parte dos meus problemas realmente tivesses se resolvido apenas com aquilo. Eu me sentia mais tranqüilo, os pensamentos mais limpos, e logo que senti o corpo de Frank contra o meu, meu choro foi se acalmando até parar por completo.

   Nos afastamos um pouco naquele abraço desajeitado. Não sabia exatamente o que Frank pensava sobre mim, só sabia que ele continuaria ali, independente de sua opinião. Ele continuaria do meu lado, mesmo que fosse só para se certificar de que eu não teria o mesmo fim que seu pai.

   E quando eu notei, sua boca já estava sobre a minha em um beijo que eu não sabia muito bem o que significava, ainda mais tendo partido dele, mas eu retribuí.

- Eu acho que eu só consegui vir aqui hoje porque você me diz coisas estranhas que me fazem pensar... – não foi o comentário mais adequado para se fazer depois de um beijo, mas foi o mais sincero que eu poderia ter feito.

- Eu sei. E eu só estou aqui hoje para ver o quanto você pensou em tudo o que eu te disse. – ele me lançou um sorriso pequeno e sincero, e finalmente eu o enxerguei de verdade.

   Finalmente nos conhecíamos. Sem máscaras. Sem segredos. Sem fantasmas. Éramos apenas nós dois naquele carro.

   E eu dei a partida e segui a viagem. Permanecemos calados durante todo o resto do percurso, mas nenhum de nós dois parecia se importar... Não havia mais nada a ser dito.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não me abandonem! D:
Gerard ainda nem chegou até a Lindsey!
Não me deixem agora, ok? ;w;
Bom, de qualquer forma, estou realmente ansiosa para saber o que acharam do tão esperado passado de Gerar Way!
Decepcionei? Surpreendi?
Por favor, digam-me! ♥
Espero vocês na seção de comentários! :)