Pela sua respiração pesada, Zacky sabia que Taylor estava dormindo.

  Abraçava-a de costas, seus fios sedosos espalhados pelo travesseiro. Se levantou com cuidado da cama, fazendo de tudo para não acordá-la, e rumou seu próprio banheiro, se apoiando na pia e olhando seu rosto.

  Abriu um sorriso ao ver seu reflexo no espelho.

  Não poderia estar mais feliz do que estava.

  Todos os beijos, todos os toques... Tinha sido tudo melhor do que poderia ter imaginado, melhor do que qualquer vadia ou groupie que tenha pegado em beira de estrada ou pubs por aí.

  Era por que foi com Taylor. Sua paixão, seu amor desde tanto tempo.

  Voltou para o quarto, onde Taylor continuava a dormir como um anjo. Deitou-se de seu lado novamente, observando seu rosto.

  Ela era tão perfeita.

  Taylor se moveu, suspirando e abriu os olhos com dificuldade, colocando a mente em foco.

  Abriu um sorriso que deixou Zacky extasiado de felicidade.

-Bom dia, porpeta.

  Zacky revirou os olhos, fazendo-a rir.

-Bom dia.

  Taylor virou seu corpo para cima, encarando o teto.

  Depois de um momento em silencio, a garota deu um risadinha.

-Que é?

-Promete que não vai me bater?

  Zacky assentiu com a cabeça, com um mínimo sorriso na cara.

-Nunca imaginei que você tinha tanto fogo, Zachary Baker.

  Zacky corou, batendo na testa, escutando as risadas seguidas de Taylor.

-Sério, Zacky. Estou boba, você é...

  Taylor pareceu pensar na palavra. Zacky encarava-a com um sorriso cômico na cara.

-Hot.

  Ambos começaram a rir novamente. Quando Taylor conseguiu enfim se controlar, já estava ate chorando.

  Se chegou para perto de Zacky e encarou suas enormes esferas esverdeadas. Abriu um sorriso e, num sussurro, falou:

-Você foi o primeiro.

  Zacky franziu a testa.

-Primeiro?

-É. Minhas amigas sempre falaram que a primeira vez delas foi linda e romântica. Bom, a minha foi com uma garota e o namorado dela de trinta e cinco anos.

  Zacky lhe deu um beijo na testa, acariciando seus cabelos, abraçando-a.

-Você foi o primeiro cara que não me tratou como se eu fosse uma vadia.

-Eu fico com um ódio mortal desses caras quando você fala essas coisas.

  Taylor deu uma risadinha breve e baixa, distribuindo selinhos por seu pescoço. Zacky sorriu, apoiando suas mãos nas costas nuas de Taylor, passando-as de um lado ao outro, esbarrando em seu sutiã. A menina sorriu, sussurrando sem seu ouvido:

-Você podia transformar esse seu ódio em algo mais... proveitoso. Ou prazeroso.

-Como você é safada...

                        ***

  Ele socou a parede com toda a sua raiva. Não importava, aqueles dois no quarto nunca iriam escutar.

  O que há de errado com você? Deveria estar feliz por seu amigo. Ele se repreendeu mentalmente.

  Passou as mãos nos cabelos, começando a chorar de novo, escorregando encostado na parede, sentando-se no chão.

  Sentia dor.

  Muita dor.

  Ele gritava em silencio, sua manifestação de dor era o fato de que não saia para mais lugar nenhum. Sentia sua falta, mas sabia que, daquele jeito, nunca podia durar. Estava certo de que terminar com ela fora a melhor coisa a fazer.

  Por que doía tanto, então?

                        ***

  A porta do quarto sofreu leves batidas.

  Já era de manhã, e Taylor se encaminhava para um banho.

  Abriu a porta e deu de cara com ninguém menos que seu amigo.

  Revirou os olhos.

-O que você quer, vara de cutucar estrelas?

  Rev abriu um sorriso malicioso.

-Pegou alguém ontem?

  Zacky não pôde conter um sorriso.

-Sim.

-Groupie?

  Zacky negou com a cabeça.

-Não, caro Wilson.

-Pare de citar House e fale logo quem você comeu.

  Rev entrou no quarto, observando a bagunça. Escutou o barulho do chuveiro e em seguida Taylor gritar:

-Vengeance, pode vir aqui?

  Sua cabeça apareceu para fora do banheiro, seus cabelos longos e molhados pingando o chão. Taylor ergueu as sobrancelhas ao ver Rev plantado no meio do quarto.

-Hey, Rev. Bom dia.

  Rev arregalou os olhos e abriu a boca.

  Zacky tentava conter um sorriso de graça.

-V-VOCÊS...?

  Perguntou, apontando para os dois.

  Olhou para Zacky, que assentiu com a cabeça. Rev abaixou o dedo, dando outro olhar carregado de malicia aos dois.

-Mas que safadinhos!

-Jimmy, menos. Vengeance, pode pegar minha toalha?

  Taylor revirou os olhos, entrando no banheiro novamente depois que Zacky lhe entregou a toalha.

-Zacky, nós temos um problema.

  Zacky estranhou a voz baixa do amigo. Franziu a testa e perguntou:

-Fale.

  Jimmy se sentou na cama. Logo se levantou, fazendo uma cara de nojo em direção aos lençóis.

-É o Gates, cara.

  Respirou fundo.

-Ele está em uma depressão sem fim e ninguém sabe por que.

  Zacky balançou a cabeça negativamente, passando as mãos nos cabelos. Era quase impossível associar Syn Gates com depressão. Seu amigo era sempre tão alegre e hiperativo.

-É por causa da Chelle?

-Olha, é o problema mais provável. Eles estavam mesmo numa situação dessas, mas...

  Rev pareceu pensar.

-Mas o que? Jimmy, ‘mas’ o que?

-Ninguém acha a Chelle. Cara, estou começando a ficar preocupado.

-A Chelle de vez enquanto dá uma sumida, é normal.

-Mas ela dá uma sumida com o Brian. E nós sempre temos uma breve noção do “porquê” e “onde”.

  Zacky esfregou os olhos. Logo em seguida a porta do banheiro se abriu novamente, revelando Taylor vestida com um short jeans e uma blusa de mangas longas, tremendo de frio, correndo e se sentando na cama, enrolando-se nos lençóis.

-Qual é o papo dos meninos, heim?

-Brian. E Chelle.

  Taylor franziu a testa.

-O que tem eles?

-Chelle sumiu, e Brian anda muito estranho ultimamente.

-Val não tem noticias dela?

  Zacky encarou jimmy em busca de uma resposta para a pergunta de Taylor.

-Val é a única que sabe onde ela está, mas não quer dizer à ninguém.

-Menos mal, se alguém sabe onde Michelle está.

  Zacky comentou.

-É... Mas o Brian. É ele quem precisa de ajuda. Ele não come, não sai daquele quarto. Alguém tem que ver como ele está.

-Zacky pode ir. Ele não é melhor amigo dele?

  Jimmy sabia muito bem que os dois não estavam se entendendo muito.

-É... Acho melhor não.

-Nem você.

  Jimmy completou, apontando para Taylor.

-Porque não eu?

-Você está com o Zacky, Taylor. Está feliz demais, pode acabar fechando-o ainda mais.

  Assentiram.

-Eu acho que ninguém tem que ir. Temos que dar um tempo para ele.

-Pensando bem.

  Todos assentiram.

-Vou continuar preocupado, né.

  Jimmy revirou os olhos.

-Syn não é suicida, relaxa.

-Podíamos pelo menos ver se ele está bem?

-Não, Rev. O melhor agora é esperar.

  Rev suspirou, tenso. Todos ficaram em silencio, até ele se lembrar do fato citado antes.

-E o Porpeta é bom de cama?

-Ela não vai revelar essas...

-Você não tem nem noção, vareta.

  Taylor comentou interrompendo a voz de sério de Zacky, que lhe lançou um olhar alarmado.

-Como saberei se não está mentindo? Vai, fala a verdade, Taylor, preciso sacanear o Zacky com outra coisa além de comida. Diga que ele é péssimo na cama.

  Taylor revirou os olhos, caminhando de novo para o banheiro.

-Sou tudo, menos mentirosa.

  Zacky encarou Rev com um olhar de quem diz ‘e aí, babaca?’. Este, porém, apenas deu de ombros, declarando:
-Um gordo bom de cama, duvido.

-Devia ter escutado os gritos dela de noite.

  Johnny apareceu do nada no quarto, com um pote com algum doce dentro e uma colher enfiada na boca.

  Reclamavam do Zacky, mas ninguém via Johnny atacando toda hora a geladeira.

-Você estava aqui?

-Claro. Matt recebeu uma ligação da Val enquanto estávamos em uma festa ontem de noite, não muito pacifica. E eu tenho muito medo do que a Val pode fazer com quem chama Matt para festas, e vim pra casa.

-Serve essa testemunha?

  Zacky continuou a encarar Jimmy.

-Podem sair do meu quarto agora, tenho uma morena no meu banheiro esperando por mim.

  Johnny empurrou na mesma hora Rev para fora do quarto, balbuciando sons de nojo.

            ***

  Alguns dias se sucederam.

  Estavam todos reunidos na casa de Val. Menos Brian.

  Este estava um pouco mais sociável. Ainda não falava muito, mas saía do quarto para ir para a rua ou jogar vídeo game.

  Ninguém direciona uma só palavra a ele, ou ele a alguém, o que deixa o clima ainda meio tenso.

  Val e Leana estavam na cozinha, preparando algo para o almoço. Taylor estava sentada do lado de Zacky, com suas pernas em seu colo, servindo de apoio para sua cerveja gelada.

  Discutiam o fato incrível de que os dois, Zacky e Taylor, tinham finalmente se entendido. Aliás, eles só sabem fazer isso agora.

-Falando nisso, Rev, seu puto, cadê o meu dinheiro?

  Matt perguntou, apontando para o amigo, que começou a assobiar.

-Que dinheiro?

  Taylor perguntou, erguendo uma sobranceha.

-Apostamos se um dia Zacky comeria você.

  Matt explicou como se fosse a coisa mais normal do mundo. Zacky abriu um sorriso pequeno, pensando na noite que tiveram.

-Que babacas.

-PASSA MEU MONEY.

  Matt tornou-se a olha pra Rev.

-Para de falar que nem uma bixa, Shadows.

  ****

-TOMA ESSA, PORPETA ATOMICO!

  Matt gritou, jogando contra Zacky no seu videogame algum jogo qualquer de luta. Taylor revirou os olhos, entediada, bufando. Já tinha folheado umas três revistas de fofoca, feito as unhas e dormido.

  Val estava de seu lado, vendo-os jogar feito um menino.

-CACETE, MATT, MANDA LOGO HADOUKEN NELE, SEU BIXINHA!
  Val berrou, derramando um pouco cerveja.

  O celular da morena bipou. Olhou para a tela, sentindo uma pontada no coração.

“ Me encontre no pub de sempre.

  K.”

  Já fazia uns dias que saia de noite para encontrá-lo, para fazer nada além de beber.

  Taylor engoliu a seco, se levantando.

-Onde você vai?

  Zacky perguntou sem desgrudar os olhos da TV.

-Em casa. Buscar umas coisas. Não se preocupe, não demorarei.

-Quer que eu vá?

-Não precisa. Volto pra cá.

  Abriu um sorriso meigo, pegando seu casaco e saindo.

  Não tinha percebido que havia deixado o celular em cima da mesa.