Quando março levou o inverno e a neve, mas levou também a minha paz.

Nós comemoraríamos três meses, quando eu recebi uma ligação as três da manhã, tateei minha cama atrás do corpo de Gerard e depois lembrei que ele tinha ido à casa dos pais pegar algumas coisas dele. Eu sentia falta do corpo dele aquecendo o meu, por mais que o inverno já tivesse ido, tudo parecia mais frio e triste sem Gerard.

“Alô?”, disse com voz sonolenta.

“Cloe...”, era Mikey, sua voz estava horrível.

“Ei, Mik!”, saudei. “Gerard volta daqui a algumas horas, eu peço para ele te ligar.”, respondi querendo me livrar do telefonema e voltar a dormir.

“É sobre o Gerard, Cloe.”, eu pulei da cama em alerta.

“O que tem o Gerard? Ele passou ai? Dá o telefone pra ele!”, ordenei alterada.

“Cloe, calma... Oh Droga. Não queria falar isso por telefone...”.

“Isso o que, Mikey?”, eu gritei já alterada, eu comecei a arfar.

“Ele... Aquele idiota irresponsável, bateu o carro!”, ele tinha raiva na voz, lembro de ter me acalmado.

“Ah! Mikey, você está assim por conta de um carro?”, eu soltei uma risada sem humor, ainda estava nervosa.

“Cloe...”, sua voz alertou algo na minha cabeça.

“Ele ta machucado, Mikey?”, perguntei com pavor.

“Ele... não... resistiu...”, soltei o telefone em choque.

Era por isso que eu estava me sentindo mal desde que ele saira, por isso eu olhei tão atentamente para ele antes de sair, eu sentia que era a ultima vez. Ele não podia. Deus não podia ter feito aquilo comigo.

Meus joelhos cederam e grossos caminhos de lágrimas mancharam meu rosto, eu podia ouvir a voz de Mickey do telefone, ele perguntava insistentemente se eu estava bem.

“Eu vou praí!”, o ouvi dizer e depois ele desligou.

Deitei-me no chão e abracei minhas próprias pernas, não querendo acreditar que Gerard morrera. Ele não podia... Ele me prometeu um casamento lindo. Ele me prometeu amor eterno. Prometeu que morreríamos juntos. Por mais que promessas assim não devessem ser feitas, ele prometeu para conter meu choro, conter a depressão que um dia desses nos envolvera.

Ouvi a porta sendo aberta com violência, quanto tempo havia se passado enquanto eu chorava no chão do quarto?

Mikey apareceu e me fez levantar, me colocou de volta na cama e eu me encolhi como estava no chão. Meu peito doía tanto, só com a idéia de Gerard estar morto. Minha razão de viver não existia mais. Então para que viver? Sim, isso passou pela minha cabeça. Lembrei que tínhamos umas facas muito boas, eu podia utilizar uma só. E assim eu iria para o lado dele, onde quer que ele tenha ido. Mas lógico que Gerard tinha ido para o céu, uma pessoa como ele não podia ir a outro lugar depois da morte.

“Ele ainda nem tinha me mostrado o parque florido.”, eu murmurei.