K - - - escrita por petit_desir


Capítulo 2
Capítulo 2 - 1924'




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/17360/chapter/2

Junta as partes nodosas dos dias:
Soa a flauta, e o mundo está liberto,
Soa a flauta, e a vida se recria.
Angústia! A onda do tempo oscila
Batida pelo vento do século.
E a víbora na relva respira
O outo da idade, áurea medida.

Elena Schwartz (A Era -1923)

- - -
Era a primeira vez que eu havia ido à Moscou. Mamãe segurava minha mão, enquanto papai andava à nossa frente, segurando uma pasta de couro preto. Eu não sabia o que tinha lá dentro. Eu apenas me deixava maravilhar pela encantadora vista da Praça Vermelha. O relógio da torre mais alta marcava meio dia e papai pareceu ficar nervoso com isto. Eu não sabia ao certo, mas, suspeitei que ele estivesse atrasado. Ele usava uma boina preta, com um broche que eu não me lembro mais o formato. Lembro apenas que era dourado com detalhes vermelhos. No braço esquerdo, amarrado ao sobretudo preto, ele usava uma faixa vermelha com uma foice e uma marreta desenhadas. Nunca entendi o significado disso.

Então, eu e mamãe fomos deixados para trás, quando ele finalmente chegou onde deveria chegar. Aquele prédio era tão bonito. Tão majestoso e eu senti um receio dele, de repente. Tudo vermelho. Mamãe apertou minha mão e me levou para andar por Moscou. Mamãe era uma pessoa tão bonita... Eu sorri e a segui. Segui-la na realidade não era tão difícil, também.

Mamãe tinha um sorriso tão cheio de vida e me deixava mais calmo. Mamãe usava saltos grandes e finos, e usava calças pretas, por baixo do sobretudo vermelho. Mamãe tinha cabelos pretos lisos que caiam pelas costas e tinha olhos azuis, que destacavam sobre eles. Mamãe tinha a boca pintada de vermelho. Mamãe era uma mulher especial.

Moscou, a cidade gelada, fazia com que eu tremesse. Mamãe me disse que hoje eu conheceria meu tio Andrzej. O tio Andrzej era um homem corpulento e feio. O rosto era redondo, feito uma bolacha. As bochechas eram rosadas e os olhos azuis saltavam da órbita. Ele parecia um sapo. Tio Andrzej tinha muitos pêlos espalhados pelo corpo e pelo rosto, exceto na cabeça. Mamãe não bateu na porta quando chegou, apenas entrou e chamou por ele. O tio-sapo apareceu, de repente, todo desarrumado pela porta. Mamãe sorriu e deixou de segurar minha mão para ir abraçá-lo. O tio-sapo tinha uma risada gostosa de se ouvir. Era engraçada. Parecia que ele me fazia feliz quando ria. Deixava mamãe feliz também.

Depois de chá com bolachas (iguais ao rosto de tio Andrzej) papai chegou. Também não bateu na porta. Ele cumprimentou o tio-sapo e cumprimentou mamãe. A mim, ele deu um abraço e sorriu. Não estava mais nervoso. Mas, ele me expulsou da sala, mandando-me ir conhecer a casa do tio Andrzej. Eu fui. O piso era manchado pela umidade. As paredes descascavam. As cortinas eram cobertas por poeira. Eu espirrei. No quarto, ao lado esquerdo do último cômodo daquele andar, era ateliê do tio Andrzej. O chão não só era manchado pela umidade aqui, como também pelas tintas derrubadas. Gotas azuis, vermelhas, amarelas, roxas. Eu achei engraçado. Eu também queria fazer manchas no chão. Eu olhei em volta e tinha várias telas colocadas nos cantos. Algumas tinha montanhas. Outras, a Praça Vermelha. E uma, em especial, uma mulher pelada! E como era linda... Eu ri, desviando o olhar para o lado e reparando na nova tela que ele pintava. Eu fiquei sentado, olhando para tela, não sei quantos minutos...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "K - - -" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.