Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 4
Aproximação.




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Já ao término do primeiro dia de aula e Logan tinha um trabalho de biologia para fazer em trio. E como se isso não fosse ruim o bastante, os grupos haviam sido sorteados por uma professora completamente maluca e desorientada, que o colocara no mesmo grupo de Sophia e Brian.

— Poderia ter sido pior — disse Mark ao sair da sala de aula, com Logan ao seu lado — Você poderia ter pegado um trabalho sobre divisão celular e estar no mesmo grupo que uma menina ruiva que só sabe pensar em qual esmalte irá passar na unha e de um menino emo com um piercing ridículo no nariz.

Logan deu uma gargalhada estridente.

— Não acredito que caiu no grupo da Helena e do Tommy.

— Sério, eles são malucos. — disse Mark, revirando os olhos — Preferiria estar no seu grupo.

Logan suspirou quando lembrou que ele teria que fazer um trabalho com Brian.

— Por que não gosta desse tal de Brian? — perguntou Mark.

— Na verdade, quem não gosta de mim é ele. Parece que ele gostava da Sophia e eles se beijaram uma vez. E agora, ela não dá a menor bola para ele e não sei por que cargas d’água ele desconta isso em mim.

Eles já estavam subindo as escadas para o dormitório. O sol estava se pondo e eles trocariam de roupa para fazer alguma outra atividade pelo internato que não fosse ficar enfurnado no quarto.

— Então o caso é sério. — disse Mark com olhos sérios, como se fosse um gavião à procura de uma presa — Mas essa Sophia também é bem bonita. E eu bem que reparei o jeito que ela olhou para você hoje quando foi te buscar no dormitório.

Logan olhou para ele indignado.

— Jeito? Não tem jeito nenhum. Ela só é um pouco, quero dizer... ah, não sei explicar.

Mark deu um pequeno riso escondido entre seus dentes esbranquiçados.

— Invasiva?

— É. Exatamente isso.

Eles finalmente alcançaram o dormitório e entraram no cômodo. Logan ainda nunca havia percebido, mas aquele quarto tinha um leve cheiro de mofo. Talvez não tivesse sido usado por um longo período de tempo e estivesse reservado para quando alunos novos fossem transferidos para o internato. Ele olhou para as paredes totalmente cobertas por tijolos e tentou imaginar o que poderia se esconder por entre as frestas daquelas pedras avermelhadas.

A janela estava aberta e os raios de sol entravam por ela e inundavam o chão do quarto. O calor estava excessivo e ele imaginou o quanto seria bom um mergulho na piscina.

— Que tal darmos uma passada na piscina? — Logan perguntou a Mark.

— Você leu os meus pensamentos — ele respondeu — Eu ia sugerir isso agora mesmo.

Logan assentiu e pegou seus trajes de banho dentro do seu armário.

Depois que os meninos se trocaram, cada um deles estava trajando uma bermuda impermeável e uma camiseta regata.

Durante o caminho para a piscina, o pensamento de Logan se manteve vago. Talvez ele estivesse começando a aceitar que ficaria ali para sempre e que talvez isso não pudesse ser tão ruim assim. Claro, ele tinha Mark agora. Não fora difícil perceber que o menino seria uma companhia perfeita. Apesar de Logan não saber nada sobre o passado de Mark e nem o motivo pelo qual ele estava no internato, ele sabia que eles tinham muitas semelhanças e poderiam ser amigos. O passado de Mark não importava e ele não tinha subjeção alguma em saber. Apenas queria ter um amigo a qual se apoiar. Um amigo que não fosse igual às outras pessoas que ele conhecera.

Quando eles chegaram à piscina, Logan percebeu que as raias haviam sido arrancadas. O espaço interno da piscina agora estava livre para que ele pudesse nadar à vontade. Havia algumas cadeiras de plástico no deque e ele pôde ver que Helena estava sentada em uma delas, tomando um pouco de sol e bebendo um copo de suco de laranja. Se ele estivesse na escola antiga, com certeza não haveria uma piscina depois do período de aula. Talvez Shavely realmente não fosse esse bicho de sete cabeças que ele estava imaginando...

O sol estava aquecendo sua cabeça e Logan percebeu que Mark já havia entrado na água. Ele retirou a camiseta e a colocou em um canto ao lado de uma cadeira que estava vazia.

E fez uma das coisas que mais sabia fazer na vida: nadar. Ele sentiu o frescor da água quando impulsionou seus pés na borda e mergulhou de cabeça dentro daquela piscina aconchegante. Seu corpo estava totalmente imerso na água e ele fazia movimentos ondulados, o que o levava a deslizar como se fosse um golfinho. E era assim que Logan se sentia quando estava na água: como se fizesse parte dela e conhece todos os segredos para um nado perfeito. Talvez ele tivesse sorte na vida se tivesse entrado nas competições de natação como incentivava a sua mãe.

Quando Logan colocou a cabeça para fora da água e permitiu que litros de oxigênio entrassem pelo seu nariz, deu de cara com Sophia. Ele perdeu um pouco o restante do fôlego que ainda tinha quando viu que ela estava com um biquíni consideravelmente pequeno e vermelho, o que a deixava bastante atraente. Ela estava parada diante dele e parecia estar esperando que emergisse. Ele arriscou dar uma olhada para o lado, à procura de Mark, mas ele provavelmente já estava fora da piscina. Teria que encarar Sophia sozinho.

— Você nada tão bem que poderia se tornar um atleta. — ela estava sorrindo para ele.

Logan mexeu a mão por debaixo da água, o que fez com que algumas bolhas viessem à tona.

— Por que você vive me seguindo? — ele não devia ter perguntado aquilo, mas aquela pergunta estava ecoando na sua mente. E não era mentira. Quando estava perdido pelos corredores de Shavely, ela foi a primeira pessoa que apareceu para tecnicamente salvá-lo. Depois disso, fizera um tour com ele pelo colégio, mostrando quase todos os cantos. No dia seguinte, ainda fora no quarto dele buscá-lo para levá-lo ao café da manhã. Iria fazer um trabalho de biologia junto com ele e como se isso não bastasse, ele a encontrou na piscina logo depois de um mergulho. Qualquer pessoa normal se perguntaria se Sophia não era uma espiã em busca de informações secretas.

Mas ela não pareceu ligar para a pergunta. A única coisa que fez, foi passar a mão pelos cabelos loiros que pingavam água e estavam completamente colados no seu corpo.

— Não queria dar a impressão de que estou te seguindo.

— É que você simplesmente aparece em todos os lugares que eu estou.

Sophia deu de ombros.

— Eu gosto de você, Logan. Já disse que lhe considero um amigo e eu queria poder passar mais tempo com você.

Logan havia a conhecido ontem. Não havia nenhum tipo de intimidade com ela e ela queria passar mais tempo com ele.

— A gente ainda nem se conhece direito. — ele disse, coçando a parte de trás da cabeça.

Sophia se aproximou levemente dele.

— Vou te ensinar uma coisa, Loganzinho. Quando duas pessoas não se conhecem e passam a conviver no mesmo ambiente, elas têm a obrigação de se tornarem amigas. Veja bem, iremos nos ver todos os dias. Estou nas mesmas classes que você em todas as aulas. Por que não podemos ficar amigos?

Não é que Logan não queria ser amigo de Sophia. Ele até gostava um pouco dela, muito mais do que ele gostava de Tommy. Ou Helena. Ou Brian. Mas é que ela estava sendo rápida demais. Ela agia como se ele fosse um amigo de infância e isso o incomodava. Ele precisava de um pouco de ar para respirar. Não gostava de se sentir sufocado em uma amizade.

Ele ia abrir a boca para falar tudo isso a ela, quando a voz irritante de Helena percorreu seus ouvidos.

— Ei! Vocês dois! Irão ficar o resto do dia na piscina?

Logan e Sophia notaram que só havia os dois na piscina e todos no deque estavam olhando para eles. Ele podia ver Helena de braços cruzados, com os óculos escuros cobrindo seus olhos e Mark ao lado dela com um pequeno riso oculto entre sua boca.

Eles foram até a borda e impulsionaram seus corpos para fora. Água pingou do corpo de Logan quando ele se chacoalhou fora da piscina e Sophia lhe entregou uma toalha que ela havia pegado de uma das cadeiras.

— Agradeçam-me por eu ser prevenida e ter trazido as toalhas. — disse Helena.

— A Helena não parava de falar de vocês dois. — disse Mark — Ela queria poder ouvir o que vocês tanto conversavam.

Logan olhou para Sophia e viu que o rosto dela deu uma leve enrubescida.

— Típico dela, não é? — Sophia torceu o nariz quando olhou para Helena — Fofoqueira do jeito que é.

Helena pareceu indignada.

— Você é muito mal-agradecida, Sophia. Eu sou só apenas uma garota curiosa, ou será que isso está proibido hoje em dia?

— Você deveria ocupar sua cabeça com o nosso trabalho de biologia. — disse Mark.

Uma luz pareceu se acender sobre a cabeça de Sophia.

— Ah, claro, como eu poderia estar me esquecendo? — ela olhou para Logan e colocou uma das mãos sobre o seu peito nu — A gente vai começar a fazer o trabalho hoje. Então, me encontre na biblioteca logo depois do jantar.

Logan poderia ter ficado contente com isso se “a gente” incluísse apenas ele e ela. Mas ele sabia que Brian também estaria lá e sua frustração se tornou mais do que evidente.



Mark havia alertado Logan durante o jantar inteiro que aquele encontro na biblioteca não daria certo. E ele tinha razão. Logan ainda podia lembrar-se do olhar furioso de Brian quando o viu ao lado de Sophia logo depois dela ter mostrado o internato a ele. Já não restavam sombras de dúvidas que Brian tinha uma paixão doentia por Sophia e ele não iria aliviar para o lado de Logan. Por mais que ele não tivesse absolutamente nada com ela e ainda quisesse um pouco de distância, Brian não pensava assim. Com certeza ele imaginava que Logan e Sophia iriam se apaixonar um pelo o outro e seu pequeno coração de gelo se partiria em mil pedaços. Eca! Logan não queria imaginar isso. Apaixonar-se por Sophia seria a última coisa que ele gostaria que acontecesse.

Já eram quase nove da noite quando ele saiu do dormitório e foi em direção à biblioteca. O corredor estava silencioso e seus passos podiam ser ouvidos com facilidade. Logan ainda ficava assustado com as paredes de pedra, que pareciam olhá-lo com olhos fixos e ameaçadores.

Ele respirou fundo quando chegou ao seu destino e fechou os olhos por alguns segundos antes de abrir a porta da biblioteca.

Lá dentro estava mais claro do que no corredor. A luz das lâmpadas nos lustres iluminava a biblioteca inteira e aquilo o ofuscou um pouco. Ele andou calmamente até as mesas ao lado da sessão de livros didáticos e não demorou muito a encontrar Brian e Sophia sentados, um de frente para o outro.

Havia um livro de biologia entre os dois e um notebook ao lado de Sophia. Eles estava silenciosos e se encaravam; não com uma fúria no olhar, mas sim com um certo desprezo. Era óbvio que nenhum deles gostaria de estar ali. Sophia provavelmente preferiria estar fazendo faxina no seu dormitório.

Logan se aproximou da mesa e pigarreou. Eles olharam para ele ao mesmo tempo e Sophia soltou um suspiro de alívio.

— Ainda bem que você chegou! — ela fez um sinal para que ele se sentasse na cadeira ao lado dela.

Logan passou por Brian, o qual não desviou o olhar de Sophia, e sentou-se ao lado dela.

Um pequeno silêncio se formou e eles se entreolharam. Um clima de tensão se formara, mas ele foi logo quebrado quando a voz de Sophia ecoou na sala.

— Podemos começar, então? — ela viu que ambos acenaram a cabeça afirmativamente e então continuou a falar — O nosso trabalho é sobre as leis da genética. Eu adoro essa parte da biologia e trouxe esse livro que eu tenho no meu dormitório. É muito útil e tem umas informações legais e...

Mas ela parou de falar quando notou que nem Logan e nem Brian estavam prestando atenção. Eles estavam ocupados demais, um xingando o outro dentro de seus próprios pensamentos.

— Por que estão se encarando? — perguntou Sophia, cruzando os braços.

— Acho melhor dividirmos esse trabalho e cada um fazer um pouco no seu próprio dormitório — sugeriu Brian.

— Por que isso agora, Brian? Você havia concordado em vir aqui.

Ele fungou.

— Mudei de ideia. O lugar se tornou um pouco insólito.

Logan sabia que ele estava falando da sua presença. Já havia engolido muitos desaforos de Brian e ele não iria mais se calar. Iria falar tudo que estava entalado na sua garganta desde a cena no jantar.

— A minha presença te incomoda? — a voz de Logan estava rouca, como se fizesse força para sair de dentro da sua garganta — O que será que eu tenho que você não tem para você me odiar tanto?

— Você tem um cabelo ridículo, a prepotência de ser um novato, a voz um tanto quanto feminizada e ainda tem jeitinho de gay. Será que tem algo pior do que ser você?

Sophia parecia indignada diante a atitude de Brian. Ela parecia querer falar algo, mas as palavras lhe faltavam.

— Tudo isso é ciúmes porque eu estou mais próximo da garota que você ama?

— Eu não a amo. Apenas tenho nojo dela.

— Sente tanto nojo que me ofendeu de várias coisas só porque ela prefere ficar comigo a com você.

De repente, Brian se levantou da cadeira e deu um tapa na mesa, o que fez com o que o notebook saltasse.

— O que você está pensando, novato? Chegou aqui ontem e pensa que é o rei da cocada? Eu não vou deixar que você se sinta como se fosse o dono do internato, estou aqui há muito mais tempo que você e conheço esse lugar como a palma da minha mão.

— Você é louco. Não quero ser dono de nada. — Logan apontou para Sophia — Mas você parece que quer ser dono dela.

— Pare de falar dela! Estamos falando de mim e de você.

Logan revirou os olhos e soltou um suspiro de tédio.

— Eu vim aqui para fazer essa porcaria de trabalho. Se você não quer fazer, pode ir embora. A gente comunica à professora que você quer sair do grupo. Vai ser melhor para todo mundo.

Brian levantou-se da sua cadeira e Sophia soltou uma exclamação quando percebeu que ele a contornou e foi em direção a Logan. Brian colocou seu braço direito sobre o pescoço de Logan e começou a apertá-lo.

Sophia deu um grito, mas ele foi abafado pela voz de Brian:

— Está com medo de mim?

Logan podia sentir sua respiração rarefeita, enquanto o braço de Brian apertava o seu pescoço. Naquele momento ele percebeu o quanto o garoto era forte e tentava desesperadamente se livrar de suas garras.

— Pare com isso, seu animal! — berrava Sophia — Solte-o!

Brian deu um pequeno sorriso e soltou Logan, como se ele fosse uma coisa que precisasse ser desinfetada.

Litros de ar entraram no pulmão de Logan e ele levou as mãos ao pescoço, afagando o local onde o braço de Brian havia apertado.

— Isso é só o começo do que eu posso fazer quando alguém se mete no meu caminho. — disse Brian, passando por Sophia e indo para a porta da biblioteca, a passos largos.

Logan se assustara com tudo isso. Não esperava uma reação tão agressiva de Brian diante uma coisa que nem existia. A obsessão doentia de Brian fez com que ele tentasse enforcá-lo e isso não era uma coisa normal. Brian tinha sérios problemas psicóticos.

— Você está bem? — perguntou Sophia, colocando as mãos sobre o seu ombro.

— Sim. Consigo respirar.

A mão de Logan estava sobre a mesa e Sophia direcionou a mão que antes afagava o ombro do menino sobre a dele. Os seus olhares se encontraram e por alguns segundos, Logan sentiu algumas ondas de calor percorrendo o seu corpo. Os olhos verdes de Sophia eram tão invasivos e ao mesmo tempo tão penetrantes...

— Desculpe. — ela disse, finalmente — É tudo culpa minha.

Um dedo de Logan tremeu por debaixo da mão de Sophia.

— Não, o único culpado é Brian e sua obsessão doentia. Está tudo bem agora.

Ela forçou um pequeno sorriso, mas Logan sabia que as coisas não ficariam bem. A tentativa de enforcamento de Brian havia sido o princípio para que ele declarasse guerra contra Logan. E se era guerra que ele queria, era guerra que ele iria ter.


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