Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 31
Evidências.




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A única coisa que estava preocupando a mente de Logan naquele momento era o estado de saúde de Sophia. Apesar de todas as partes do seu corpo estarem gritando por repouso, ele já não conseguia mais se importar com a dor. Nada se comparava à sensação horrível de quando viu Kofuf passando a faca sobre a barriga de Sophia. Seu sangue havia subido de uma maneira distinta e a única coisa que ele conseguira fazer foi investir contra o zumbi até que ele desmaiasse depois da facada dada por Tommy.

O garoto de cabelos negros estava com os braços envolvendo o pescoço de Logan, enquanto eles tentavam subir com dificuldade as escadas até os dormitórios onde as meninas provavelmente deveriam estar. Shavely até possuía uma enfermaria, mas era pouco provável que elas se dirigissem até lá. Logan sabia que elas gostavam de resolver os problemas entre elas, mesmo que tal problema fosse uma facada na barriga.

— Estou lhe dando trabalho? — perguntou Logan quando percebeu que Tommy havia soltado um suspiro logo depois do garoto ter pisado no seu pé. — Se quiser, posso tentar continuar sozinho.

Tommy deu de ombros.

— Não se preocupe, já estamos quase chegando.

O último lance de escadas havia se aproximado e eles já podiam ver o corredor com os dormitórios. A luz forte e cegante que entrava através das diversas janelas entre as paredes de pedra indicavam que o dia lá fora estava quente e ensolarado. Um silêncio estarrecedor ecoava por todos os cantos e os outros alunos provavelmente estavam dentro das salas de aula; se eles não tivessem tido a ideia de matarem aula para fugir do colégio também estariam lá, sãos e salvos, e Sophia não teria sido ferida por uma faca.

A porta do dormitório apareceu diante seus olhos e Tommy finalmente soltou Logan. O garoto estava dolorido e todas as partes do seu corpo ardiam com um formigamento interno, mas ele concentrou suas forças para abrir a porta e entrar no quarto pouco iluminado.

Seus olhos procuraram freneticamente por uma figura alva e amarela, e então ele viu a namorada deitada na cama, com os olhos fechados e a face tão branca como a neve. Helena estava de pé, diante o corpo da amiga, com uma expressão desesperada no rosto.

Um soluço escapou dos lábios de Logan e ele se aproximou vagarosamente das meninas.

— Ainda bem que vocês chegaram! — disse Helena, esticando a mão para puxar Logan até mais próximo de Sophia — Ela está sangrando muito e eu não sei mais o que fazer.

Sophia se mexeu na cama e seus músculos da mão tremeram como se estivessem pedindo para que fossem envolvidos. Ela abriu a boca e sua voz saiu trêmula e frouxa, como se ela estivesse fazendo muita força.

— Logan...

O garoto sentou na borda da cama e segurou a mão da menina. Ela estava quente e provavelmente deveria estar ardendo em febre.

— Vai ficar tudo bem.

Sophia apertou a mão de Logan e ele sentiu o sangue correndo pelas suas veias. Suor escorria por todos os cantos do corpo da garota e a camiseta estava grudada em seu corpo. Um corte vermelho e profundo podia ser visto no ventre dela.

— Está doendo muito.

Seus olhares se encontraram e ele viu novamente quão verde eram seus olhos.

— Eu cuidarei de você.

Logan analisou profundamente o machucado e rasgou o tecido da camiseta de Sophia, permitindo que sua pele ferida ficasse exposta. O corte tinha aproximadamente dez centímetros de comprimento e Logan percebeu que havia sido superficial o suficiente para apenas atingir a pele, apesar de ainda estar sangrando.

Ele desviou o olhar para Helena e Tommy, que estavam de pé, ao lado da cama, olhando piedosamente àquela cena.

— Vão à enfermaria e tragam um anti-inflamatório, um pano para estocar o sangue e um rolo de esparadrapo.

— Logan, — chamou Helena — não seria melhor levá-la até lá? Ela pode sofrer uma infecção.

— Não. Minha mãe sempre me ensinou como cuidar de ferimentos. — ele estreitou o olhar — Agora vão, por favor.

Eles assentirem e saíram do quarto com as mãos entrelaçadas.

O garoto voltou a atenção para a namorada e com a mão livre começou a afagar seus cabelos. Lindos fios dourados, sempre tão macios e sedosos, capazes de encantarem qualquer pessoa.

— Aquela sala... — a voz de Sophia saía como um sussurro — Estamos presos no inferno. Ele vai destruir tudo. Vai acabar com a vida de todos.

Logan colocou o dedo sobre a boca de Sophia.

— Não diga nada. — ele forçou um sorriso — Você é uma garota de sorte por esse ferimento ter sido superficial. Estou orgulhoso de você.

O olhar dela permaneceu duro e frio. Ela parecia estar olhando profundamente para o garoto, como se fosse capaz de ver sua alma.

— Me deixe morrer. — ela pediu sombriamente e Logan arregalou os olhos. Nunca imaginaria que ouviria Sophia dizendo uma coisa dessas — Para que adiarmos o inevitável? Ele dominou tudo, Logan. O colégio é dele agora. Por favor, não sei se quero continuar a viver nesse inferno.

Logan não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele envolveu os braços no corpo da garota e a trouxe para um abraço. Ela gemeu levemente, mas ele percebeu que um mínimo sorriso apareceu em seus lábios.

— Como pode dizer uma coisa dessas? Acha mesmo que eu deixaria você morrer? Estou aqui com você e cuidarei de você como se fizesse parte de mim. Por favor, não deseje isso. Lembre-se do quanto eu te amo, por favor.

A voz dele estava desesperada, mas Sophia não respondeu. Apenas soltou um suspiro e fixou os olhos sobre a parte de cima do beliche, onde se podia ver o colchão de Helena.

As rápidas batidas do coração de Sophia foram os únicos ruídos que os ouvidos de Logan conseguiam captar. Seus pensamentos logo se transportaram para o que a sala de Janeth havia se transformado: um lugar insólito e sombrio o suficiente para que arrepios percorressem a espinha de qualquer ser vivente. A insanidade mental de Kofuf era impressionante ao ponto de querer completar uma coleção sanguinária coletando o sangue de alvos próprios.

A porta se abriu em um estrondo e Tommy e Helena surgiram segurando as coisas que Logan exigira. Sophia emitiu um gemido e o garoto pediu para que ela tentasse se sentar sobre o colchão. Ela forçou o pescoço para frente e colocou lentamente as pernas para fora da cama.

­ — Isso vai doer um pouco, mas é necessário. — disse Logan e logo em seguida segurou o pano de modo que as duas pontas se encontraram atrás das costas da garota. Ele contou mentalmente até três e apertou o tecido contra o machucado de Sophia, que apenas emitiu um grito.

Helena cerrou os olhos enquanto assistia àquela cena e em uma rápida desviada de olhar, Logan percebeu que ela segurava na mão de Tommy.

O sangue havia parado de escorrer e o pano estava completamente ensopado do líquido vermelho e viscoso. Logan desenrolou o esparadrapo e fechou o ferimento de Sophia, passando várias camadas do papel colante até que nenhuma parte ficasse à mostra.

Helena estava segurando uma cartela de remédios e enfiou as unhas sobre o lacre aluminado para que pudesse tirar um comprimido. Um copo de água foi entregue das mãos de Tommy às de Sophia e ela engoliu o remédio ao mesmo tempo em que virava sedentamente toda a água através da sua garganta.

Um último suspiro antes de ela olhar para os amigos e sorrir.

— Obrigada. Vocês são incríveis.

Os lábios de Logan tocaram a mão direita de Sophia e ele apenas precisou de um olhar para entender que ela o amava.

— Logan está aprovado como enfermeiro! — exclamou Helena — Não pensa em trabalhar em um hospital quando sair desse colégio infernal?

Logan olhou repreensivamente para a garota.

— Helena, por favor, agora não é hora de gracinhas. A coisa está mais do que séria e precisamos fazer algo de uma vez por todas. — as palavras de Logan soaram tão heroicas que ele se perguntou se não estaria exagerando.

Helena elevou as mãos frente ao ombro e assentiu, embora parecesse estar pronta a xingá-lo a qualquer momento.

— Alguma ideia? — perguntou Tommy, dando um bocejo e se jogando contra o colchão no chão.

Os garotos se entreolharam e um leve silêncio foi a única resposta que Tommy obteve.

Há muito tempo eles não estavam seguros, pensou Logan, e quando Helena teve a ideia de que se manterem juntos era o melhor que poderiam fazer ele rapidamente pensou que o fato de um poder proteger o outro daria forças para que continuassem em frente. A união era a única coisa capaz de fazê-los vencer aquele zumbi e, no entanto, ela era apenas formada por quatro pessoas. Será que não era a hora do colégio todo saber o que estavam enfrentando silenciosamente? Até quando eles poderiam ser os únicos a saberem que um zumbi controlava o colégio? Até que ponto eles teriam que lutar sozinhos para destruir Kofuf? E foi quando Logan teve uma ideia.

— Acho que está na hora de abrirmos o jogo. — ele disse — Todos precisam saber com o que estão lidando.

Logan percebeu que os amigos franziram as sobrancelhas.

— Do que é que você está falando? — perguntou Sophia com a voz fraca, passando a mão levemente sobre o ventre enfaixado.

— Não acha injusto sermos os únicos a saberem que um zumbi assumiu a diretoria do colégio? Quero dizer, vamos chamar todos os outros alunos e contar a eles tudo o que sabemos!

Um silêncio profundo se formou no dormitório. Logan poderia esperar que eles abrissem a boca para dizerem que estava sendo idiota e que todos os acusariam de serem insanos. Seria o óbvio, não é qualquer pessoa que acredita que zumbis são criaturas reais que assombram o mundo sem que ninguém perceba.

— Eles nunca acreditarão. — lamentou-se Tommy. — Os estudantes de Shavely são pessoas que acreditam na convicção de que Janeth é uma divindade superior que merece ser idolatrada. Eles mal sabem que ela é uma tirana que aplica punições humilhantes. Quem nos garante que eles acreditarão que agora ela está morta e quem está no seu lugar é um zumbi nojento?

É claro que Tommy estava com a razão. Logan deveria aprender que não se pode contar com a ajuda de ninguém que não seja seu amigo ou seu familiar. As pessoas simplesmente não são confiáveis e a maioria delas é corrompida por um sentimento egocêntrico e pseudomoralista.

Quando ele já estava perdendo as esperanças, uma lâmpada pareceu se acender sobre a cabeça de Helena e ela abriu um sorriso.

— As fotos! — ela quase gritou — O sádico tirou fotos de todas as suas vítimas!

— Helena... — interrompeu Sophia — Você não está pensando em...

A menina ruiva começou a andar pelo quarto e seu tom de voz estava exacerbado, como se ela estivesse prestes a fazer uma coisa pela qual havia ansiado por dias.

— É claro que eu estou pensando nisso! É tão óbvio! Invadiremos a sala do zumbi e roubaremos a foto de Janeth morta. Eles vão ter que acreditar.

Logan coçou a parte de trás da cabeça e enrugou a face numa expressão confusa.

— Mas isso não prova que há um zumbi no colégio.

Helena revirou os olhos.

— E a lerdeza começa a dominar os integrantes mais fracos do quarteto fantástico. — ela suspirou — Para eles, meu querido Logan, Janeth está viva. Se mostrarmos uma foto dela morta e explicarmos a existência de zumbis antropomórficos que absorvem a essência vital de suas vítimas e podem se transformar nelas, é claro que eles vão associar tal fato com Janeth ser o verdadeiro zumbi.

— E você acha que simplesmente poderemos entrar na sala de Mark? — perguntou Sophia.

— O nome dele é Kofuf. — disse Helena — Kofuf! Quando aprenderá?

A garota loira apenas suspirou longamente.

— Mark, Kofuf, Janeth, zumbi assassino. Qual a diferença? O que importa é que ele deve estar furioso e não poderemos entrar na sala dele agora.

— E quem disse que vai ser agora? Esperaremos anoitecer e tentaremos a sorte para saber se a sala vai estar abandonada ou ocupada.

Helena emitiu uma leve risada após dizer aquilo, o que fez os pelos do braço de Sophia se eriçar.

— E se ela estiver ocupada? — perguntou Tommy.

Helena sorriu.

— Estaremos definitivamente mortos.



Quando a noite caiu, Logan percebeu que estava completamente encrencado. Primeiramente, o plano incluía que todos entrariam na sala de Kofuf para pegar a foto de Janeth morta, mas Sophia começou a resmungar de dor e Helena e Tommy decidiram que seria melhor se eles ficassem cuidando dela. Ela também ainda não podia fazer muita força até que seu ferimento estivesse começando a entrar em processo de cicatrização e tentar invadir a sala de um zumbi com uma garota reclamando de dor não seria muito inteligente.

Quando o relógio indicava que eram oito horas da noite, Logan abandonou o dormitório e começou a andar em direção à sala do zumbi. Um vento gelado entrava pelas janelas abertas e os pelos dos seus braços já estavam arrepiados o suficiente para que ele começasse a tremer de frio. Talvez ele devesse ter posto um casaco.

Seu cérebro estava a mil. Ele poderia morrer caso abrisse a porta da sala e Kofuf estivesse lá dentro. Já estava começando a achar o plano completamente insano quando pensou no que o zumbi poderia fazer quando descobrisse que um dos itens de sua coleção sanguinária havia sumido. Talvez aquela ideia de contar para todo o colégio o que realmente estava acontecendo agora não fizesse tanto sentido, mas não havia jeito de voltar atrás. Logan teria que pegar a foto do corpo de Janeth.

O colégio estava quase vazio, exceto por algumas pessoas que andavam pelos corredores em direção à biblioteca e à sala de estar. Depois de vários passos, Logan finalmente alcançou a porta da sala de Kofuf. O pânico começou a dominar seu corpo todo e ele simplesmente não conseguia esticar a mão para girar a maçaneta.

Logan fechou os olhos e respirou profundamente. Ele tinha que entrar novamente na sala para o bem de todos. Para que pudessem reunir ajuda na luta contra Kofuf. Os alunos daquele colégio tinham o direito de saber de toda a verdade, afinal, eles faziam parte do plano de Kofuf. Todos seriam mortos por ele.

Assentiu para si mesmo e reuniu toda a coragem necessária para abrir a porta. Um rangido irritante fez os músculos de suas pernas desejarem ao máximo sair correndo daquele ambiente, mas ele respirou aliviado quando percebeu que a sala estava escura e vazia.

Logan procurou pelo interruptor e ele se sentiu mal por novamente ter que ver aquela cena que o induzia a vomitar. Agora a sala estava mais iluminada do que da outra vez e outro detalhe que não havia percebido ficou à mostra: letras vermelhas e viscosas incrustadas nas paredes negras vazias formavam a frase “Morte é vida”. Alguns resquícios do sangue negro de Kofuf podiam ser vistos no chão da sala e Logan poderia estar feliz se ele tivesse morrido naquele momento.

Apesar da sensação terrorista, ele estava naquela sala por um objetivo e tinha que se concentrar nele. Foi em direção à mesa central e viu os potes com os sangues das vítimas. O líquido ainda estava tão fresco que parecia estar desejando correr pelas veias de alguém.

O corpo aberto de Janeth estava bem diante dos seus olhos quando tocou a foto e a pressionou contra o peito. Ele havia visto aquela cena e tudo estava voltando à sua mente. O cheiro de carnificina da sala fez com que ele entrasse em uma espécie de transe e as imagens dos corpos mortos inundaram seu cérebro.

Logan estava lá na biblioteca, onde Brian havia sido morto. Agachado sobre o corpo do garoto, suas mãos logo se sujaram com aquele sangue gelado. O desespero tomando conta do seu corpo e se sentindo culpado por não poder fazer nada. Queria segurar as lágrimas, mas tal fato foi impossível. Seus olhos ardiam e ele sentia um líquido espesso descendo pelos seus olhos. Uma gota vermelha pingou sobre a sua mão quando a lágrima escorreu e ele notou que estava chorando sangue.

O desespero tomou conta de si e ele levou as mãos à cabeça. Aquilo não podia ser real. Estava tendo uma alucinação e rapidamente fechou os olhos e voltou a abri-los.

Uma voz.

— Estou te chamando há minutos! O que está esperando para sair daí?

Um grito e a foto caiu de suas mãos. Pensou que sua vida tinha chegado ao fim, mas quando apertou os olhos percebeu que Tommy estava parado diante à porta, batendo os pés impacientemente no chão.

— Você está bem? — perguntou Tommy — Está branco feito um lençol.

Logan balançou a cabeça e abaixou-se para pegar a foto que estava no chão.

— Você me assustou. — ele queixou-se — Pensei que era Kofuf invadindo a sala.

— Helena me mandou aqui para que me certificasse de que você estava fazendo tudo certo. Sabe como ela é neurótica, não sabe?

— O namorado dela é você, e não eu.

Tommy o ignorou e mudou de assunto.

— Por que estava parado segurando a foto contra o peito com uma expressão boba no rosto?

Porque eu sou esquizofrênico e estava tendo uma alucinação, pensou Logan, mas as palavras que saíram da sua boca foram completamente diferentes:

— Eu apenas estava pensando nas mortes injustas. — ele foi à direção de Tommy e empurrou levemente o ombro do garoto — Agora vamos sair daqui antes que Kofuf apareça e faça o mesmo conosco.


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