Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 28
Morte.




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O dia já havia amanhecido e Logan, Sophia, Helena e Tommy estavam sentados em umas das mesas da cantina tomando o café da manhã. O sol estava intenso e o calor já podia ser sentido nas primeiras horas daquela manhã.

Logan estava cansado e seus ferimentos estavam doendo. Depois que Sophia havia o ajudado a lavar os pontos onde as unhas e os dentes de Mark haviam entrado em contato com a sua pele, percebera que cortes profundos e vermelhos podiam ser vistos, os quais provavelmente levariam algum tempo para cicatrizarem. Mas isso não era o que mais o estava preocupando. O fato de Helena e Tommy terem abandonado o quarto de madrugada estava deixando-o intrigado o suficiente para que pudesse afirmar que um deles era, na verdade, Mark. E foi isso que ele perguntou assim que a menina ruiva deu a primeira mordida no seu pão com manteiga.

— Não acredito que você pode sequer desconfiar que eu ou o Tommy possamos ser o Mark disfarçado. — ela respondeu completamente indignada — Simplesmente não dá para acreditar.

Ela olhou de soslaio para Tommy, Logan percebera, e o menino manteve sua expressão rígida e séria, sem deixar transparecer nenhum sentimento.

— Então por que não explicam o que estavam fazendo fora do quarto quando Logan foi atacado? — perguntou Sophia, com a voz levemente alta.

Helena deu de ombros.

— Talvez porque a minha vida íntima não lhes dizem respeito.

— Vida íntima? — perguntou a loira com um tom que parecia sarcástico — Interessante que eu lembro muito bem que você queria cuidar da minha vida íntima com o Logan e que também já teve a proeza de atrapalhar dois beijos. Acho que eu tenho o direito de saber o que você estava fazendo, sendo que meu namorado está correndo risco de vida.

Helena largou o pão sobre o prato e repousou as duas mãos sobre a mesa, dando um suspiro profundo e encarando Sophia seriamente.

— Eu não me importo em contar o que eu estava fazendo, mas me admira muito vocês desconfiarem de nós. Olhem bem para mim, acham mesmo que eu possa ser um zumbi disfarçado? — o tom de voz dela estourou — Ah, pelo amor de Deus!

Sophia não respondeu; apenas abaixou o olhar e fitou o prato que estava bem diante dos seus olhos, mas ela não parecia estar com nenhum pingo de fome.

Logan imediatamente se lembrou do sonho, onde Helena enfiava os dentes dentro do seu peito e Tommy o matava instantaneamente. Aquilo ainda o assustava e toda vez que ele olhava para Tommy imaginava se ele teria coragem de fazer o que acontecera no sonho.

— Vocês me mataram no sonho que eu tive. — disse Logan com a voz tão fraca que ele se perguntou mentalmente se os amigos tinham conseguido ouvi-lo — Quero dizer, será que isso não foi um aviso que um de vocês tentaria me matar realmente?

Helena apenas deu uma risada irônica e Tommy encarou profundamente o garoto.

— Chega, Logan! — ele disse — Nós garantimos que não somos nenhum zumbi. — Tommy olhou para Helena — Posso contar o que realmente aconteceu ou você vai ficar enrolando-os?

— Não sei se eles estão merecendo saber. — ela disse com o nariz empinado, mas logo em seguida deu de ombros — Mas tudo bem, se esse for o único jeito de eles acreditarem que não somos zumbis.

Logan e Sophia franziram as sobrancelhas.

— Do que é que vocês estão falando? — ela perguntou.

— Fique quieta e apenas escute o que Tommy tem a dizer, sua princesinha desconfiada. — respondeu Helena.

Sophia mostrou a língua para ela e permaneceu em silêncio, até que Tommy respirasse fundo e começasse a falar:

— Vocês lembram muito bem quando chegaram ao quarto e viram a Helena e eu nos beijando, não é? — ele assentiu quando viu que Logan e Sophia balançaram afirmativamente a cabeça — Eu não conseguia parar de pensar nisso e, embora a Helena não quisesse admitir de imediato, eu sabia que ela também não. Eu não estava conseguindo dormir e minha cabeça estava estourando, então resolvi sair do quarto e dar uma volta lá fora, respirar um ar puro e sentir o vento gelado sobre o meu corpo. Foi quando eu subitamente encontrei a Helena parada olhando para o céu e eu abri um sorriso maior do que tudo. Sentamos sob o gramado e ficamos lá trocando carinho até que eu fiz uma pergunta...

— Tommy — interrompeu Helena, mas ele fez um sinal com a mão e ela se calou imediatamente.

— Eu sei que pode parecer cedo demais — ele continuou falando — e também muito precipitado da minha parte, mas eu não conseguia mais esconder esse sentimento. E, já que esse é o único jeito de vocês acreditarem que a Helena e eu não somos zumbis, é com grande prazer que eu anuncio uma notícia que vocês jamais esperariam ouvir: eu a pedi em namoro e ela aceitou.

Tommy sorriu depois que terminou de falar e os olhos de Helena brilharam. Eles se aproximaram vagarosamente e deram um beijo apaixonado, enquanto Logan e Sophia permaneciam embasbacados olhando para aquela cena que para eles era mais do que inusitada.

— Helena aceitou? — perguntou Sophia — E toda aquela convicção de que não queria um namorado por causa das cobranças?

Helena deu de ombros.

— Com Tommy é diferente. Eu sei que ele nunca me cobrará nada e nosso namoro não será meloso como o de vocês.

— Meu namoro não é tão meloso assim.

Helena riu.

— Ah, qual é Sophia? Você pelo menos deveria admitir que existem quilos de mel entre você e o Logan.

— O fato de ser meloso apenas indica que somos perdidamente apaixonados um pelo outro. — disse Logan e ele imediatamente virou o rosto para dar um beijo em Sophia, que estava sorrindo intensamente.

Helena e Tommy mostraram a língua numa expressão de nojo.

— Eca! — eles disseram em uníssono.

Tommy e Helena tiveram um bom motivo para abandonar o quarto no meio da madrugada, pensou Logan, e ele não mais podia pensar que um deles poderia ser Mark. Mas aquilo ficava cada vez mais confuso e ele não conseguia parar de pensar na identidade da pessoa que havia sido morta.

Todos na mesa já haviam terminado de comer e os pratos já haviam sido arrumados em uma pilha única. Ainda deveriam faltar alguns minutos para que o sinal do início das aulas ecoasse por todos os cantos do internato e eles ainda tinham tempo para conversarem.

— Logan? — chamou Tommy — Eu estava observando esse seu ferimento no braço. Eles foram causados por uma mordida, não?

— Sim. — ele respondeu com o cenho franzido.

— Você não tem medo que possa ter sido contaminado? Eu já li muito que mordidas de zumbis transferem um vírus que permite que a pessoa mordida se transforme em um deles.

Logan congelou ao ouvir aquilo. Ele ainda não havia pensado nessa possibilidade e jamais poderia suportar o fato de se transformar em um zumbi. Simplesmente preferiria morrer a virar um monstro.

— Não tem a menor chance de ele ter sido contaminado. — disse Sophia.

— Como você pode ter tanta certeza? — perguntou Logan.

— É simples. Não é assim que funciona com os zumbis antropomórficos. Eles são raças superiores e não se originaram a partir de um vírus que se desenvolveu em uma pessoa e pode ser transferido como uma praga. São adaptações de eras e eras e são espécies fixas que não são derivadas de um vírus, mas sim de outras espécies de zumbis. Portanto, não há como ter uma transmissão de genes zumbis para outra pessoa.

Logan, Helena e Tommy olharam para ela com o queixo caído.

— Quando foi mesmo que você virou uma enciclopédia ambulante? — perguntou a ruiva.

Sophia exibiu um mínimo sorriso.

— Diferente de você, eu costumo ler bastante. Aquele livro que eu peguei na biblioteca não dizia apenas aquilo que li para vocês. Eu continuei a fundo com a leitura e descobri mais coisas sobre os zumbis antropomórficos.

— E você só nos diz isso agora? — perguntou Tommy.

Ela deu de ombros.

— Ué, vocês nunca me perguntaram nada! — ela deu um suspiro quando percebeu que os amigos olhavam como se ela tivesse cometido um crime — Tudo bem, não precisam ficar me olhando desse jeito. Não foram tantas coisas assim que eu descobri; apenas algumas informações que não são úteis o bastante para que Mark seja aniquilado. E, além do mais, se Logan tivesse sido contaminado ele já teria demonstrado alguns sinais.

— Que tipos de sinais? — quis saber Helena — Está querendo dizer que ele começaria a suar frio, ter febre e desejar mais do que nunca nos matar para que pudesse devorar nossos corações?

Um arrepio percorreu a espinha de Logan e naquele momento ele se imaginou metamorfoseado em um zumbi sanguinário, pronto para atacar qualquer pessoa que cruzasse seu caminho. A única coisa que conseguia sentir dos zumbis era pena. Deveria ser lastimável ser assim como eles, dependendo da morte de pessoas inocentes para que pudessem se manter vivos.

— Vocês querem, por favor, mudar de assunto? — exigiu o garoto — Eu não me transformarei em um zumbi.

— Ainda tenho medo. — disse Tommy — A saliva de Mark entrou em contato com a sua pele e...

— Tommy, fique quieto! — exclamou Sophia, se segurando para não dar um tapa na mesa — Já expliquei que não há meios de transmissão. Por que não namora Helena um pouco e para de assustar o Logan?

Tommy amarrou a cara e mostrou a língua para Sophia, antes de transportar sua atenção para Helena e agarrar as mãos da menina ruiva.

Logan olhava para aquela cena e achava tudo estranho. Não conseguia imaginar que algum dia Tommy e Helena pudessem ser um casal; logo eles, que sempre vivam em pé de guerra e eram peritos em apontarem os defeitos do outro. Talvez isso fosse um modo de disfarçar os verdadeiros sentimentos que nenhum deles gostaria de admitir perante o outro.

Com Sophia fora tão diferente... Eles não tiveram desavenças e eram raros os momentos nos quais brigavam. Logan ainda se lembrava de como Sophia aparecia misteriosamente quando ele estava sozinho e isso o assustava, mas foi o fator precursor para que ele se apaixonasse por ela. Uma paixão tão forte que o medo que ele sentia de perdê-la era maior do que o medo que ele sempre teve da própria morte. E com Mark à solta pelo colégio, ambos os fatos ficavam propícios a acontecerem com maior facilidade.

— Vocês viram o aviso que estava pregado no mural do corredor principal hoje? — perguntou Tommy depois que parou de afagar o rosto de Helena e voltou sua atenção para o restante dos amigos.

Um bufo foi ouvido da boca das meninas e Logan não sabia o motivo.

— Eu não vi nada. — ele disse — O quê estava pregado lá?

— Não sei o porquê, mas a idiota da Janeth resolveu que agora a aula de educação física será todas as segundas-feiras de manhã — Sophia revirou os olhos — Fala sério, é frustrante saber que a primeira aula da semana será educação física.

— Eu ainda estou com sono! — reclamou Helena — Não consigo me imaginar correndo atrás de uma bola agora.

A aula de educação física era agradável para Logan. Pelo menos, ele não teria que ficar sentado em uma cadeira ouvindo uma professora falar coisas que ele nunca entendia e ser obrigado a copiar tudo que ela passava no quadro-negro.

— Vocês estão é com preguiça. — disse Logan, dando um tapinha nas costas de Sophia — Vamos, aula de educação física é divertida.

Sophia deu uma risada irônica.

— Divertida para quem? Só se for para você, porque eu fico parecendo uma mosca morta no meio do campo, esperando alguém tocar a bola para mim como se eu fosse uma mongoloide.

Risadas escaparam da boca dos amigos, o que fez com que o olhar de Sophia ficasse raivoso.

— Mas, Sophia, você é uma mongoloide. — disse Helena dando uma risada tão alta que poderia ser ouvida do lado de fora do internato.

— Nossa, e você é tão engraçada, Helena. — respondeu a menina com um tom de deboche — Quer um presente por sua piada ter sido a melhor do século?

— Já que você perguntou, eu quero um milhão de reais. Será que poderia depositar na minha conta até amanhã?

— Vá se danar. — disse Sophia, mostrando o dedo médio para ela — Só porque começou a namorar está se achando superior aos outros.

O sarcasmo usual de Helena preencheu novamente o seu tom de voz.

— Eu não preciso namorar uma pessoa para me achar superior a alguém.

O sinal ecoou por todos os cantos do internato e os alunos já começaram a se levantar, indo em direção à porta de entrada da cantina. A discussão que poderia se formar naquele momento entre Sophia e Helena foi interrompida quando Logan segurou na mão da menina loira e Tommy na mão da menina ruiva e eles foram seguindo nessas condições até a quadra do colégio.

Elas ainda se encaravam como se estivessem prontas a uma pular no pescoço da outra, mas os namorados seguravam firmemente as mãos delas. Era mais do que frequente que as meninas se estranhassem de vez em quando e talvez isso definisse quão amigas elas eram.

O sol estava forte e o corpo todo de Logan foi instantaneamente aquecido quando alcançaram a parte externa de Shavely e visualizaram a quadra ao longe. Era uma parte aberta do colégio, onde só existia um teto de lâmina que servia para protegê-la da chuva. Vários alunos já foram vistos reclamando de que Janeth poderia investir algum dinheiro para que a quadra fosse reformada, cercando-a com uma parede que impedisse que a bola sempre fosse parar no pomar e desenhando mais algumas linhas no chão que pudessem servir para fazerem parte da quadra de outros esportes.

O único problema da aula de educação física é que todos os alunos faziam juntos, portanto levava a manhã inteira até que a aula acabasse. Isso poderia significar menos tempo dentro de uma sala de aula, mas também significava mais tempo desperdiçado olhando os outros alunos jogando e se sentindo entediado.

Aquela manhã seria uma aula de beisebol. O professor estava segurando um grande balde onde podiam ser vistos um taco e vários coletes coloridos e uma pequena bola verde e felpuda estava na sua outra mão. Ele assoprou um apito e começou a organizar os times.

Logan não gostava muito de beisebol porque era um dos esportes que ele não sabia jogar perfeitamente; nunca sabia o que fazer quando estava em uma das bases, mas adorava quando era o rebatedor e acertava em cheio a bola. Pelo menos, tinha uma boa pontaria.

O time do garoto não contava com a presença de ninguém em especial. Sophia e Helena haviam caído no time que enfrentaria o de Logan primeiramente, enquanto Tommy havia ficado em outro time que era formado, em sua maioria, por garotos que não sabiam nem o que estavam fazendo na aula de educação física.

Logan havia sido escalado para ficar na segunda base, enquanto as meninas estavam na fila para rebater a bola. O time de Tommy ainda não estava pronto para jogar e ele estava sentado no fundo da quadra mexendo em um tablet.

O apito para que o jogo se iniciasse ecoou por toda a quadra, mas Sophia e Helena estavam brigando pela disputa do taco. De longe, Logan podia ver que elas estavam uma puxando o taco da mão da outra e gritando como se estivessem a quilômetros de distância. O professor interveio e decidiu que Helena seria a primeira a rebater a bola e que Sophia aguardaria no final da fila. A garota ruiva lançou um olhar triunfante e mostrou a língua para Sophia e Logan percebera que ela resmungara alguma coisa que provavelmente era um palavrão.

O jogo começara e Logan sabia que Helena era uma boa jogadora e seria capaz de acertar a bola com os olhos fechados. O adversário a atirou com movimentos ondulatórios e Helena esticou o corpo para trás apenas para balançar o taco perfeitamente e acertar em cheio o centro da pequena bola.

A euforia das pessoas foi mais do que evidente e gritos pedindo desesperadamente para que Helena corresse o mais rápido que pudesse eram ouvidos com facilidade. Logan tinha que se concentrar em pegar a bola antes que seu time o xingasse das piores coisas do mundo. Os raios de sol estavam machucando sua visão, mas ele viu quando o pequeno objeto cruzou o céu e foi em direção ao pomar, caindo por entre as árvores altas e robustas.

Um coro de vozes ordenando que ele fosse até lá entrou raspando pelos seus ouvidos e inundou seu cérebro. Logan assentiu e foi correndo até o pomar, mesmo sabendo que Helena já havia alcançado a última base e que o time adversário havia marcado alguns pontos.

O sol excessivo sobre o seu corpo fazia com que não enxergasse com precisão e uma leve dor de cabeça estava começando a lhe importunar. Ele abaixou e procurou pela pequena bola no meio a tantas folhas secas e galhos espinhentos, quando uma coisa realmente lhe chamou a atenção: ao lado de uma laranjeira havia um amontoado largo e incomum de folhas que parecia ter sido feito para que pudesse esconder algo grande.

Logan, já com suor escorrendo da sua testa, abaixou-se diante às folhas e levantou a mão para que pudesse espalhá-las superficialmente. Tocou em algo gelado e ele imediatamente se retesou. Os músculos do seu corpo estavam tremendo e quando afastou todas as folhas que cobriam aquela coisa gelada, ele viu o corpo morto de uma pessoa.

O rosto ainda estava encoberto pelas folhas, mas Logan imediatamente percebeu que quem estava bem diante dos seus olhos era a vítima de Mark: uma poça de sangue seco estava a envolvendo, o peito estava completamente dilacerado e o coração havia sido arrancado.

Bile subiu à sua boca e desejou sair correndo de lá antes que pudesse vomitar, mas ele se aproximou ainda mais até que suas mãos tocassem as folhas que estavam cobrindo o rosto do cadáver. Imerso em um profundo suspiro, Logan afastou-as e soltou um grito quando percebeu que Janeth estava morta, com os olhos arregalados e a boca aberta em um silencioso pedido de socorro.


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