Intrusa escrita por Carola


Capítulo 1
O começo




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Estava escuro. Eu não via nada além do preto. Não sabia onde estava, o que havia acontecido. Acreditava que não passava de um sonho. Não havia chão, eu estava flutuando. Senti uma pontada de desespero quando vi flashs da história. Aquele breu era um intermediário entre o mundo real e o do além. Eu estava morrendo.

Senti o pânico aumentando gradativamente em mim, era completamente inútil tentar fugir. Por mais que eu tentasse correr, não me mexia. Parecia ser o fim. Gritava e ninguém escutava. Aquele era o meu espírito preso em algum lugar intitulado por mim de vazio.

Quando tudo já parecia estar próximo do fim, alguma coisa aconteceu. Vi uma luz muito forte, que me cegava os olhos, surgir à minha frente, e iluminar tudo. De preto, passara a branco. E rapidamente, de branco para o mundo, o meu mundo. Lá estava eu, deitada em uma mesa, com os braços ensanguentados. Havia dois homens mais velhos ao meu lado. Eram xamãs. E em segundos, as vozes foram ficando mais nítidas.

_ Ela vai morrer, está fraca e sua alma já partiu do corpo.

_ Talvez uma junção de almas consiga salvá-la.

_ É, talvez, mas poderá haver a rejeição.

_ Isso não caberá a nós dois decidirmos.

_ Mas vai ser difícil pra ela.

_ É melhor do que deixá-la morrer.

_ Então ta.

E então, o que parecia mais velho fez um movimento rápido com as mãos e eu pude ver uma intensa luz esverdeada que surgiu. Era como uma gavinha, fina, brilhante, que envolveu meu corpo e como se minha pele tivesse a absorvido, sumiu. Depois disso não me lembro de detalhes, sei que comecei a sentir minha respiração entrecortada e dores insuportáveis.

Era agonizante, queimava. Todo o corpo queimava. Os cortes ardiam. Mas tinha que passar, aquilo ia passar. Só precisava agüentar mais um pouco.
E em questão de segundos, acabou. Abri os olhos por impulso. Não sentia mais nada, estava viva. Ainda via tudo embaçado, mas consegui ver os cortes nas mãos. Eram incrivelmente profundos e feios. Mas, como conseguira aquilo? Minha mente não era capaz de lembrar. Eu tentaria mais tarde.

Olhei ao redor e vi os dois homens me olhando. Antes que pudesse falar, o mais velho chegou perto e disse:

_ Está tudo confuso não é?

_ A-a-aham  Minha voz falhou. Estava baixa e transmitia meu cansaço.

_ Vai ser difícil se acostumar, agora você é duas.

_ Como é que é?  Disse com respectivo espanto.

_ Bom. Nós a encontramos a caminho do monte Fibs. No penhasco principal. Você havia perdido muito sangue, era impossível salvá-la.

_ Mas então resolvemos fazer uma junção de almas, para que a sua fortalecesse e você tivesse uma mínima chance de sobreviver.  O mais novo interrompeu o outro, e continuou a história.  E creio eu que isso aconteceu muito bem.

_ Não entendo, quer dizer que agora tenho duas almas?

_ É mais ou menos isso, na verdade você terá lembranças de Annie Waste, a garota que teve a alma misturada com a sua.

_ Isso não faz sentido.

_ Não faz sentido, mas é a verdade.  Disse o mais velho.  Já se sente melhor? Acha que já pode ir?

_ É, acho que sim.  Me levantei da mesa, e me dirigi em direção à porta.  Mas antes de ir, posso saber quem são vocês?

_ Eu sou Phill Waste.  Disse o mais velho.

_ E eu Paul Collins.

_ Espera ai, você era parente da Annie?  Disse apontando para o mais velho.

_ Eu era tio dela.

_ Ah, entendi.  Quando ia saindo pela porta me lembrei e disse.  Muito obrigada, devo minha vida, literalmente, a vocês.

Sai andando, tentando lembrar-me das coisas. Fiquei feliz por saber o caminho, e mais feliz ainda por saber que estava perto de casa. Deveriam ser apenas uns 10 quilômetros.

Enquanto fazia uma caminhada tranqüila, apreciando o clima de inverno, aquele vento frio, tentava me lembrar do que havia acontecido. Esforçava-me muito, mas até certo ponto do caminho minha mente parecia estar bloqueada. E foi exatamente após esse ponto, que tudo voltou. E tudo começou a ter algum sentido. Sentei em uma pedra no meio do caminho, fechei os olhos e me concentrei nas lembranças.

Eu havia decidido sair de casa às 7 da manhã para dar uma volta, ir até o monte Fibs pra pensar um pouco na vida, como de costume. Estava frio, e ventava muito, mas como gosto do frio, não havia nenhum problema, aliás, era melhor.

Quando cheguei ao penhasco principal, reparei na barreira de espinhos que havia em algumas pedras. Isso me mostrou que eu deveria ter mais cuidado para subir nelas.

Para chegar até as pedras que eram como um mirante, o caminho era em declive, e estava úmido. Fui pisando com cuidado e devagar, para não escorregar, mas como meu all star já era mais antigo e estava gasto, o inesperado aconteceu. Acabei caindo deitada e escorregando rumo às pedras.
Esse foi o momento fatal, eu ia em direção à barreira de espinhos que envolvia algumas das pedras. Era impossível parar, tentei pelo menos sentar, por que as pequenas pedras pontudas do cascalho cortavam minhas costas como lâminas, e acabei tentando defender o rosto com as mãos.

Os espinhos rasgaram a palma das minhas mãos de um lado ao outro. Os espinhos maiores e mais grossos da base fizeram um corte enorme na minha perna direita.

Como se não bastasse as mãos e a perna, acabei sendo impulsionada para trás com o impacto, e indo novamente em direção aos espinhos, mas dessa vez de costas. Surgiram mais ferimentos em toda a extensão da mesma.
     Com toda aquela dor agonizante, foi impossível agüentar, tentar ou pensar. Não tive nem a oportunidade de gritar por ajuda, e seria inútil, não havia ninguém por perto. Foi aí que fui me desligando do corpo gradualmente. Comecei a flutuar e pude ver-me jogada naquele chão. Depois disso, tudo ficou preto.


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