Eu ainda encarava, orgulhosa, as barras derretidas. Sorri. Meus poderes, aos poucos, estavam voltando. Apesar de que eu devia me lembrar: de que aquilo adiantava? Eu possuía uma dívida ainda.

E imersa nesses pensamentos que não percebi a entrada de Gabriel.  O vi apenas quando ele passou pelas barras que agora não mais faziam diferença.

- Oi. – cumprimentei, contemplando seu sorriso doce.

- Oi... – ele retribuiu, sentando-se ao meu lado. – Você sabe que pode sair daqui assim que quiser, não é? A cela não faz mais diferença.

Sorri. Sempre o mesmo irmão doce.

- Eu gosto daqui. – respondi e apontei para a pequena janela. – Posso ver as estrelas.

Senti seu abraço quente me envolver e fechei os olhos.

- Você se lembra? – perguntou e as lembranças começaram a vir. Cada nome, cada estrela que ele me apontava.

- Não esqueci nem umazinha. – respondi e sabia que não era necessário citá-las.

- Lembra-se de minha preferida? – perguntou, e meus olhos se abriram. Era aquilo.

Meu foco desceu até a parede, as marcas que estavam ali desde meu primeiro dia. “Os dias que estou aqui! Ah, claro!”, ironizei.

- Não. – respondi. Sim, eu sabia. Mas precisava me certificar.

- A Órion.

Aquilo me trouxe uma torrente de lembranças.

“- Aquela ali é a minha preferida. – dizia. – A Órion. Diziam que era um grande caçador e amado por Ártemis. Foi levado aos céus juntamente com o Escorpião”

Meus olhos vasculharam os céus até que as encontraram. Órion e o Escorpião mandado por Apolo. Mais alguns lugares foram observados até que eu constatasse sua posição. O quebra-cabeças estava montado.

A porta foi levemente aberta, revelando o anjo loiro. A face de Elliana corou ao nos ver ali.

- Então... Então... – gaguejou.

- Sim. – respondeu meu irmão. – Era ela.

Meus olhos se estreitaram até tronarem-se fendas.

- Como? – perguntei e Gabriel voltou-se para mim, sorrindo.

- Tenho que ir, Jude. – ele disse e senti a raive me dominar ao ouvir meu antigo nome.

- Meu nome – corrigi. – é Cassandra, Gabriel.

“Agora sou um anjo caído.”