A porta foi fechada após todos entrarem. A expressão que levavam era séria, talvez até mesmo severa. Qualquer um ali reconhecia aquele anjo. O famoso Gabriel, mensageiro do nascimento de Jesus. O que me trouxera tamanha surpresa fora seu parentesco com um anjo caído. Com aquele anjo caído.

Seu olhar se dirigiu a mim e eu entendi que ele decifrava o que eu estava pensando. E, com aqueles profundos e impositores olhos azuis, eu me repreendi.

- Sentem-se, por favor. – convidou Ellie e ambos obedecemos sem relutar. – Então, meu caro amigo, - dirigiu-se a Gabriel. – o que o traz aqui?

Ele suspirou e eu pude perceber que até assim ele era majestoso. As belas asas brancas esticadas por trás do banco de madeira.

- Elliana, vim pedir-lhe ajuda. – confessou, baixando as orbes brilhantes. – Eles estão se descontrolando de novo. Os renegados. Eu temo que... Temo que seja necessário um acordo.

As estrelas eram refletidas nos olhos de Ellie.

- Mas... Acha que estão fortes o bastante? – perguntou e Gabriel negou.

- Não, mas temo que fiquem. E o inimigo vem se fortalecendo cada vez mais. Você sabe que eles podem novamente... Seduzi-los com suas mentiras e tê-los ao seu lado. Não estamos em condições de suportar isso...

A anja levou uma mecha dos cabelos dourados e cacheados para trás da orelha.

- E acha que devemos... – ela começou, mas Gabriel, visivelmente impaciente, cortou-a.

- Temos de partir amanhã pela manhã. Não há como, Ellie.

Ela desviou os olhos enquanto eu permanecia calado, um pouco enciumado de ouvir o apelido pronunciado pelo anjo que sempre fora seu melhor amigo.

“- Estarei pronta. – respondeu.”