A Muralha escrita por Francine Luize


Capítulo 6
Familia Real




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Já era meia madrugada e Rafael se enrolava de um lado ao outro na cama desconfortável e barulhenta. Do lado de fora, barulhos irritantes de batidas, gritarias, risadas enchiam o corredor de ecos. Nizaran ainda não havia voltado e como Rafael não conseguia dormir decidiu ir procura-lo.

No andar de baixo havia mais gente do que pudesse ter, estava apertado, barulhento e o chão estava escorregadio.

Rafael conseguiu encontrar Nizaran em uma das mesas do canto, mas antes de se aproximar percebeu que um individuo de capa negra e o rosto impossível de se ver conversava com o velho patrulheiro.

Notando que falavam em um tom normal porém discretamente, Rafael sabia que não queriam que notassem a presença dos dois e por isso utilizavam o barulho da estalagem para abafar a conversa.

Rafael decidiu se aproximar, esgueirando entre os bêbados de plantão o Maximo possível da mesa sem ser notado pelos dois.

–Ele esta bem. De certa forma. Decidiu atravessar a muralha após os incidentes.

Disse Nizaran e o desconhecido colocou a mão no queixo e pensou por um tempo.

–Mas sozinho ele não vai vencer! É impossível!

O desconhecido dizia em um tom sarcástico, parecia se divertir com a conversa.

–Ele acredita na vitória, ele esta mais forte. Eu mesmo não o enfrentaria.

Disse Nizaran.

–Mas você é um rato perto do que Avalon foi enfrentar sozinho. Mesmo sangue por sangue é de lá que surgiu todo o poder e ele é só um terço de toda essa força.

O desconhecido tomou mais um gole, olhou para a cor da bebida bem avermelhada como sangue.

–E o rapaz que estava com você? Quem é ele?

Perguntou a Nizaran.

–Um aprendiz que dizem ter assistido ao assassinato de um dos patrulheiros pela criatura além da muralha a qual você conhece muito bem.

Nizaran parecia desconfortável falando sobre aquele assunto e por varias vezes olhou ao redor se certificando que ninguém ouvira a conversa.

–Serio mesmo? E sobreviveu como? Mesmo a criatura tendo se alimentado iria com certeza caçar novamente.

–É o que Bartolomeu acha, por isso mandou ele comigo.

–Interessante, mas qual a ligação dele com Avalon?

–Como assim ligação?

Perguntou Nizaran meio atordoado.

–Nada, deixa pra lá. Apenas algo me intrigou no rapaz.

Nizaran levantou a sobrancelha e bocejou.

–Se me permite vou deitar.

Disse ele já levantando.

–Permissão concedida.

Respondeu o desconhecido em tom de sarcasmo se levantando também. Os dois não se cumprimentaram, nem voltaram a se olhar.

Rafael ainda curioso decidiu seguir o homem e ver onde ele ia parar.

A rua estava completamente vazia, Rafael se esgueirava entre barris e objetos grandes o suficiente para lhe encobrir.

O homem andou até o extremo sul da cidade, a mais de meia hora da estalagem. Em um campo mais vazio onde não haviam casas, o homem misterioso parou em um circulo gigante, com desenhos tribais coberto por algumas plantas e musgo.

–Vai me seguir por muito tempo rapaz.

Disse aquele homem sem olhar para trás. O vento uivava fortemente naquela área, fenômeno que não estava acontecendo antes.

–Como sabe que estava aqui?

Perguntou Rafael, o homem olhou pra trás e disse.

–Notei assim que seu cheiro invadiu o cerco de bêbados na taverna.

–E porque não parou de falar?

Perguntou Rafael Perdido.

–Porque de nada me serve esconder, quem não podia deixar você escutar é o seu mentor que por sinal deve estar atrás de você nesse momento.

–Porque falavam de Avalon? Você o conhece?

O homem do qual o rosto não aparecia na escuridão mesmo que de relance parecia sorrir.

–Melhor que qualquer um! Melhor que a própria patrulha.

–Então ajude-o!

Gritou Rafael.

–Rapaz. – O homem fez uma pausa e continuou – Eu quero que Avalon seja massacrado e que de preferência eu possa ver isso!

–Não vou permitir que fale assim dele!

Rafael tirou sua espada da bainha e em um momento de explosão golpeou o homem com força mas o mesmo se defendeu com as mãos enfaixadas. A espada de Rafael fez um estalo e rachou ao meio onde a mão do homem de vestes negras havia defendido.

–É bem ousado você, mas porque razão defende Avalon. O que você sente por ele?

–Ele é meu amigo! –Gritou Rafael.

–Mas você é amigo dele? Não se surpreenda caso ele o mate por um beneficio próprio.

–Afinal de contas quem você é?

Perguntou Rafael horrorizado com a petulância do homem que se dizia inimigo de Avalon.

–Eu? - O homem gargalhou e soltou a espada de Rafael.

–Rafael!

Gritou Nizaran.

–Senhor patrulheiro Nizaran. Creio que queira retirar esse jovem da minha frente para que eu consiga seguir em paz.

Disse o homem de manto negro.

–Sim senhor, me acompanhe Rafael.

–Não sairei daqui!

Disse ele.

–Me obedeça!

–O senhor não é meu capitão.

–Mas sou seu responsável e não permitirei que morra aqui!

Gritou ele. Rafael se assustou e quando foi olhar por uma ultima vez para o homem, ele já havia desaparecido.

Durante a caminhada de volta Nizaran estava de olhos semicerrados e de punho fechado em ira.

– Quem era ele?

Perguntou finalmente Rafael.

–Alguém que você não deve conhecer.

–Porque falavam de Avalon?

Nizaran suspirou e puxou Rafael pelo cotovelo. Me acompanhe, vou te contar uma historia.

Nizaran e Rafael se espreitaram entre os becos até chegar a um castelo velho e abandonado, pelo que Rafael percebeu a tempos ninguém ia naquele lugar, pois no grande pátio a grama estava muito alta e o portão já estava no chão.

–Podemos estar aqui?

–Não. Fique quieto.

Nizaran empurrou devagar a porta evitando o barulho quase impossível.

Seguiram os dois pelo longo corredor, subindo as escadas empoeirada na parede ao termino da escada entre as duas outras que levam aos outros corredores estava um quadro ao qual Nizaran parou e passou a mão em todo ele. Rafael não prestou atenção no quadro, manteve os olhos fixados no castelo. As louças estavam todas na mesa no salão ao lado, tudo posto como se fosse para o jantar. Ele até conseguia ouvir o som baixo do piano branco coberto por pó perto da porta de jantar um pouco a frente da entrada e distante o suficiente para que Rafael pudesse tocá-lo, mas ainda ouvia o som.

–Essa é a família Kellermeyeer.

Rafael prendeu a atenção no quadro abismado. No quadro estavam um homem e uma mulher com sua respectivas coroas, ela a dama estava sentada em uma cadeira de veludo vermelho com braços dourados. Ela sorria melancolicamente seus cabelos castanhos escuros e seus olhos verdes musgo mostravam uma beleza delicada , o homem já de pé ao lado dela tinha uma expressão seria e zangada com os cabelos grisalhos e um bigode que lembrava o de um mosqueteiro, seus olhos eram castanhos. Nos pés dos dois em pé estavam três crianças iguais, mas não eram somente iguais, além da semelhança tinham detalhes em sua aparência que Rafael nunca virá até conhecer Avalon. Todas as três crianças tinham a pele, os olhos e os cabelos brancos feito neve. Dois meninos e uma menina com um sorriso largo sem mostrar os dentes, os outros dois tinham a expressão de disputa, como se ela fosse o premio dos dois.

–Que família é essa?

–Não é da sua época, eu tinha sua idade quando eles foram extintos. Era uma família envolta em mistério, principalmente quando os tri-gêmeo nasceram, crianças de aparência estranha e atitudes estranhas.

–O que aconteceu com eles?

–Foram mortos, uma noite de chuva alguns aldeões encontraram vários corpos pilhados e totalmente dilacerados. Em cima desses corpos estavam os meninos fazendo sexo com os corpos. Isso não foi o pior, os pais sabiam que as crianças mantinham relações incestuosas. Como não havia atitude por parte dos pais, a população o fez. Queimou o casal vivo e começaram a caçar as crianças, era uma noite de ação de graças por isso a mesa estava postas.

–E as crianças?

Perguntou Rafael Horrorizado.

–Não sabemos, eles desapareceram. Alguns dizem ainda vê-los vivo e outros dizem que morreram.

–Mas o que tem isso haver com aquele homem e com Avalon.

–Na opinião de Bartolomeu nada, mas na minha Avalon é uma dessas crianças pois a semelhanças que não é possível explicar.

–E aquele homem?

–É a sombra do Lorde Faral, ele sabe tudo e conta tudo. Por isso estava comigo, queria saber o que eu fazia ali e como não quero morrer cedo, decidi contar o que me perguntasse. Mas eu desconfio que ele também seja um dos irmãos, pois um mistério corre por ele.

–Isso me da medo.

–Não somente você. Os pelos do meu braço se arrepiam quando vejo este retrato.

–Falou com Bartolomeu sobre isso?

–Não, ele não ouviria. Então prefiro manter minhas suspeitas comigo.

O silencio permaneceu na sala.


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