A Muralha escrita por Francine Luize


Capítulo 2
Avalon




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O rapaz alto com um semblante delicado e inofensivo olhava pela janela do escritório do lorde os recrutas em seu ultimo treinamento. Logo virão mais assassinos, mendigos, arruaceiros e ladrões para fazer parte dos amaldiçoados guerreiros da noite, lugar que eram enviados após
quebrarem alguma lei de seu reino. O que antes eram magníficas estruturas e
milhares forjas espalhadas pelo centro da vila estavam em ruínas, com pouco mais que cinco construções ainda seguras para os condenados a perecer neste lugar para sempre, o resto aos redores eram pedaços de madeira, pedras e lugares arruinados sendo coberta pela mais alta muralha construída em todos os tempos. A fortificação rochosa de pedra sob pedra impedia a visão para o outro lado do mundo, mas
o que mais impedia era à entrada de criaturas medonhas que assustavam por vezes até os Deuses.  O tilintar das armas velhas usadas pelos novatos ecoavam na imensidão ao sul, onde não se havia nenhuma cidadela, reino ou qualquer coisa parecida, tudo estava coberto pela lama que a chuva deixará como presente. Fora um mês de chuva continua e mesmo agora após uma pausa o céu continuava cheio de nuvens pesadas, o sol não aparecerá mais e isso fazia mais triste que o normal aquele lugar. Pelo menos era o que pensava o belo rapaz Avalon, cujos cabelos eram incrivelmente longos e lisos, a cor de sua pele, seus olhos e seus cabelos lembravam a neve de tão branco. Apelidado de o fantasma sem rumo, estava na muralha a muito mais tempo do que os soldados considerados já velhos, ninguém entende porque, mas sua aparência continua a mesma de um garoto de dezoito anos, ninguém sabia nem sequer de onde ele veio pois não falavam do sobrenome de Avalon e ninguem se lembrava de uma familia com caracteristicas familiares a dele, porém Avalon era o protegido de Sr Bartolomeu.

Ele não se transformara patrulheiro como todos estão
destinados a se tornar quando vão para a muralha, recusou todas as vezes que concluía o treinamento para patrulheiro, a única coisa que dizia era “-Espero alguém que se iguale a mim”. Avalon sempre foi o melhor dos guerreiros treinados na patrulha, nunca perdeu uma batalha e ao ser solicitado em campo era constantemente alvo de medo e respeito dos
mais novos. Sua espada presa do lado esquerdo de sua cintura tinha o cabo lapidado com o mais resistente cristal, uma raridade e todos desejavam possuir.

Avalon vestia sua capa envolta em pelos de raposa e por
baixo um corselete de couro um pouco maior que seu corpo, dando aparência que Avalon possuía músculos por baixo dos tecidos.

-Avalon, o que faz tão quieto rapaz?

Perguntou o capitão da patrulha da noite Sor Bartolomeu Benhossi, um velho que ainda mantinha seus músculos e um bom porte físico mesmo com tão poucos cabelos em sua cabeça. Havia cochichos de que ele não agüentaria nenhuma batalha e por vezes foi motivo de apostas ao decidir “brincar” com os novatos, o que sempre ganhava,contestou a decisão de Avalon ao negar o juramento, mas decidira não intervir mais até que achasse estar pronto, como o caso de Avalon era ter ido para a patrulha por opção própria não havia motivo de obrigá-lo. Mesmo assim o
deixava irritado ver tanto talento guardado.

Hoje estava envolto em peles e mais peles de urso, parecia
mais cansado que o normal e um belo resfriado o atingiram há alguns dias.

-Nada demais capitão. Apenas observo-os.

Sor Bartolomeu coçou sua barba grisalha observando o que
Avalon tanto olhara. Eram inocentes ainda, mas prestes a fazer seu juramento, teriam em torno de quinze a vinte anos e pareciam talvez mais maduros ou menos arrogantes de quando chegaram à fortaleza. Trazidos a chutes e pontapés de suas vilas onde eram negados e chutados como se fosse cachorro, as vilas sempre tinham motivos para mandá-los, como traição, roubo e outras coisas, porém Bartolomeu não acreditava nisso. Ele pensara sempre nos meninos como seus filhos que nunca teve, meninos mal criados pelas mães, abandonados pelo pai como bastardos ou usados como escravos até não renderem o suficiente.



Por fim Sor Bartolomeu voltou a olhar Avalon ainda curioso.



-Porque não se junta a eles e da mais uma aula de como
massacrar alguém sem causar danos fatais? – esperou até ver que não teria
resposta, a única coisa a se ouvir continuavam a ser as espadas e os pássaros a
fugirem para o sul. – Bom, acho que isso é um não. Então guarde suas forças,
pois um grupo maior esta vindo. Talvez tenha algum trabalho. Avalon sorriu melancolicamente e disse por fim, com uma voz aveludada que parecia o belo som de uma harpa.

-Não creio que me traga alguma surpresa com os novatos, é
provável que sirvam melhor para limpar o chão ou as fezes de um cavalo do que segurar uma espada e manejá-la. Sor Bartolomeu soltou um riso abafado.

-Acho que irá chover novamente.

Olhou com seus olhos castanhos para o céu ainda mantendo o
sorriso na boca.

-Se é só o que tem a me dizer, peço licença.

Avalon já saia sem esperar uma resposta quando ouviu os
cascos de cavalos se aproximareme a corneta de aviso começar a tocar. Ele olhou pelo canto do olho para a entrada oeste onde outro patrulheiro voltava juntamente com alguns meninos montados em cavalos pequenos e desgrenhados, provavelmente presente de despedida de alguém
que queriam eles longe da vila. Eram ao todo seis meninos magricelos, sujos e com olhares tristes e amedrontados.

-Chegou seu divertimento Avalon.

O velho disse.

-Não mais que ratos vê passar pelos portões.

Bartolomeu soltou outra gargalhada. Mas mesmo com o que
Avalon havia dito não conseguia sair dali, nem tirar os olhos daqueles meninos. Esperava ansiosamente alguém que pudesse vencê-lo, mas logo se rendeu ao desapontamento, todos eram um pouco mais alto que ele, porém fracos e magricelos

“Apenas meninos que ainda fazem xixi na cama.” Avalon pensou
enquanto entrava para o quente da sala de escrituras.



Rodeado por milhares de livros, Avalon sentou-se em uma
cadeira e permaneceu ali observando o fogo arder na lareira até que adormeceu por fim.

Quando acordou o vento do lado de fora uivava e o fogo da lareira
já tinha se apagado. Ouvia vozes e gritarias vindas do salão na torre a leste
da casa do capitão, Avalon desceu as escadas e antes de sair pela porta ajeitou
seu casaco cobrindo a maior parte de seu corpo. O vento era gelado e as poças
indicavam mais chuva, dois patrulheiros subiam pelas escadas até o topo da
muralha, fizeram um aceno ao longe quando viram Avalon ir em direção ao salão de refeições.

-Boa Sorte.

Gritou Avalon respondendo aos acenos dos dois patrulheiros.
Abriu a porta de ferro com uma mão e pouca força, pois notara que estava
prestes a cair também. Todos riam e bebiam perto de uma enorme lareira, carne de dois porcos gigantes que provavelmente foram caçados por Agustine e Salomão que eram tão experientes em caça dentro das muralhas quanto para fora.

A diversão tornou-se silencio ao ver a entrada de Avalon. Os
mais novos ficaram assustados e até mesmo aqueles que iriam fazer seus votos esta noite paralisaram. Os mais velhos ao ver o silencio se aquietaram esperando a reação dos jovens. Sor Bartolomeu observava sentado na mesa mais perto da lareira e sorriu gentilmente chamando o com o dedo indicador. Avalon permaneceu parado até que Bartolomeu se irritou com a demora e o chamou.

-Venha, Avalon. Sente-se logo.

Com passos largos se aproximou da mesa do capitão ainda
sentindo os olhos fugazes em suas costas. Os cochichos incomodavam Avalon, mas não tanto como estavam irritando aquela noite.

-Ele é Avalon? Mas não tem nada de monstruoso nele. Esperava
um homem não um rapaz que lembra mulher.

Perguntou um dos novatos ao rapaz Grovy que já tinha
apanhado tantas vezes de Avalon quanto às estrelas que enchem o céu em um dia
limpo.

-Dói os olhos de olhar para ele, é tão branco. Não acho que
combina com a noite.

Outro disse.

-Acho que não passa de um fraco, nunca se tornou
patrulheiro.

Mais um cochichava até que Grovy decidiu responder.

-É melhor cuidar com a língua, por vezes é mais rápida que o
pensamento. Não o subestimem ele, é mais forte do que qualquer coisa humana que eu já tenha visto.

Os cochichos voltaram até Sor Bartolomeu falar alto o
suficiente para que eles ouvissem.

 -Então Avalon, quantos caçadores de sangue matou hoje?

Ele olhou para Avalon esperando alguma mentira que pudesse
encobrir a dele.

Caçadores de sangue eram criaturas horrendas que vestiam
mantos negros de um tecido tão fino que pareciam fazer flutuar seus corpos.
Eles bebiam sangue de crianças se desobedecessem a mãe, mas era mais que
historias para assustar os meninos, com o tempo se tornaram verdade. Eles vivam
além da muralha e normalmente suas vitimas eram os patrulheiros que decidiam
buscar por alguma alma viva além das matas sombrias.  O que nunca ocorria, ao contrario, no final
eram encontrados os corpos deles mortos o suficiente para ninguém ter duvidas
de que não haveria chance de existir uma alma viva.

-Cinco, se contar a cria mais jovem que não deu muito
trabalho.

Avalon respondeu bocejando e tomando um gole de vinho para
esquentar.

Os senhores sentados deram tapas no ombro de Avalon
escondendo o rosto para abafar o riso. Claro que era mentira, mesmo alguém
experiente e forte como Avalon não sabia se conseguiria matar dois caçadores de
sangue, mas isso bastou para que os novatos ficassem com medo e se afastassem o
quanto mais longe de Avalon, mesmo tremendo de frio ainda se mantinham
afastado.

Na mesa junto ao Sor Bartolomeu estavam os patrulheiros que
agora eram mestres de treino, Barahir Belegrir cuja sua família é considerada a
mais guerreira entre todas largou o estandarte do Urso branco e negro de vossa
casa para se unir aos patrulheiros e hoje é mestre de batalhas, mesmo Avalon o
considerando muito mole para este trabalho, as cicatrizes de Barahir não
deixavam por menos pois cobriam quase todo o seu corpo e seu rosto, um de seus
olhos foi tirado a visão graças a uma luta feroz com um urso montanhoso que
tinha o dobro do tamanho de Barahir o que era difícil pois o instrutor era o
mais alto dos cavaleiros presentes. Drauguan Elros pertencia a família menos
conhecida pelo reino de Nissirë, tinha como brasão o martelo de metal, eram
ótimos ferreiros e construtores, quando Drauguan se juntou a patrulha da noite
sua família foi morta em um incêndio algumas luas depois, o deixando ser o
ultimo de sua casa, o que ainda tinha tempo pois Drauguan nunca ia a batalhas e
era jovem ainda, talvez alguns anos mais velho que Avalon, mas não muitos.
Tinha o cabelo marrom longo emaranhado e preso as pressas em uma tira de couro,
estava com as mãos sujas de poeira e tinta, mas ignorava isso comendo sem se
importar o que era de se esperar de um homem redondo como aquele.

Galadhon Forockell era o ultimo deles e o mais carrancudo
não gostavam de Avalon e nem Avalon dele, mas manterá a paz entre si a pedido
de Bartolomeu. Galadhon não falava e nada de bom sairia de sua boca suja e com
dentes podres. Tinha os cabelos negros enrolados bem curtos, seus olhos verdes
tinham a expressão de raiva o tempo todo. Era líder dos patrulheiros em dias de
caça aos fugitivos da patrulha ou quando é ordenado atravessar os portões da
muralha para reconhecimento de território. Tinha menos cicatrizes que Barahir,
mas um semblante de serpente corria em suas veias, era o símbolo de sua casa,
família traiçoeiras e de poucos amigos, Bartolomeu disse que todos tinham
abandonados suas casas o que o tornava diferente de sua família. Avalon achava
o velho capitão burro ou cego demais, pois toda vez que iam para além da
muralha somente  Galadhon voltava vivo e
dizia que por um milagre conseguiu matar o monstro, prova que nunca foi
trazida.

Naquele momento, Avalon percebeu que não estava se sentindo
incomodado pela presença de Galadhon, mas sim de um jovem que estava sentado em
uma das mesas afastados de todos, o rapaz não ria e o olhava sem medo,
diferente dos outros. Era jovem mas incrivelmente forte e alto e Avalon não se
lembrava se sua chegada durante a manhã, tinha cabelos bem curtos pretos
desgrenhados e olhos tão claros que por relance lembraram os olhos de Avalon.
“Brancos como o meu” pensou ele, mas virou o rosto e voltou a comer.

Os novatos riam alto e se levantaram seguindo até a mesa do
rapaz solitário.

-Você é o Rafael de que?

Perguntou um rapaz esquelético e de estatura alta, ele ria
para os outros que pareciam compartilhar de uma piada interna.

-Diga rapaz, responda franguinho.

Outro rapaz ruivo e sardento falou.

-Não fale com ele assim, pobrezinho ele não tem mãe é um
bastardo qualquer, filho de uma puta qualquer e um beberrão qualquer, sem
duvida sua mãe deu a luz a você em um estábulo não é mesmo?

Quando os mestres se levantaram, o rapaz ruivo que voltou a
falar já estava no chão e um a faca atravessara seu braço que protegia seu
rosto. O menino chamado Rafael estava em cima dele com os olhos em fúria.

Galadhon  ria sentado
na cadeira enquanto os outros mestres tiravam Rafael de cima do menino.

-Ele merece castigo senhor.

Disse o ruivo entre lagrimas.

-Se for assim você também merece. -Disse Bartolomeu que
olhou o Rafael por um tempo e voltou a falar com o Barahir que prendia os
braços do rapaz nas costas. – Leve-o e de algum castigo.

Avalon se levantou brutalmente deixando a cadeira cair no
chão e fazer um estalo com o impacto.

-Eu irei castigá-lo.

Disse ele, sem esperar qualquer resposta pegou Rafael pelo
braço e seguiu para fora, os dois estavam com suas capas mas tremiam o queixo
com o frio e o vento. A porta atrás deles se fechou e Avalon seguiu até o
estábulo ainda segurando-o pelo braço até jogá-lo em um monte de feno.

-Então, vai pedir perdão ao menino?

Avalon perguntou secamente se encostando em um tronco.

-Por que deveria?

Disse o rapaz mexendo nos pulsos.

-Porque é a única maneira de não ser castigado.

Avalon não entendia, mas aquele rapaz o intrigava o
suficiente para irritá-lo.

-Porque deveria, se ele me ofendeu.

Avalon se aproximou e se agachou.

-Me diga rapaz, acha que a cada ofensa deverá bater em
alguém?Se for assim teria motivos para matar todos daquela sala, mas o que isso
ia adiantar? Apenas ficaria eu para proteger essa muralha e então eu teria mais
problemas que antes, resultando em uma morte precoce para mim. As vezes engolir
é a melhor maneira. Bom, agora chega de conversar, suba aquelas escadas e vá
até o topo da muralha, permaneça de vigia até amanha comigo.



Avalon apontava para a alta muralha.



-Não vai me bater? Meu castigo será vigiar?



Ele disse surpreso, Avalon se levantou deu um suspiro e
olhou para a muralha.



-Acredite jovem, esse é o pior castigo que alguém poderia
lhe dar, pode ter certeza que amanha estará me rogando maldições.




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