O barulho de um celular tocando ecoa pela casa. Júlia vai atender.

- Alô, meu nome é Vitória, eu sou do canal de televisão pipoca.tv. Por gentileza, quem me atende?

- Júlia.

- Sim, Júlia. Parabéns, você é uma das ganhadoras da promoção "Tokio Hotel in Brazil".

- Aiiiiiii! - Júlia se exalta e acaba gritando tão alto que a pessoa do outro lado afasta o telefone do ouvido. - Desculpe.

- Ah, tudo bem, eu já fui muito fã dos Menudos. Estou ligando para confirmar alguns dados para cumprirmos o protocolo necessário, ok?

- Sim, tudo bem. - disse com a voz embargada por tamanha emoção.

Júlia, mal conseguindo emitir as palavras, confirmou todas as informações necessárias ao protocolo, ficando informada de que só poderia entrar no local do show e no camarim acompanhada dos pais ou algum responsável maior de idade, com todos os documentos exigidos.

Esperou que todos se encontrassem em casa para anunciar a grande surpresa, que pouco interessava a qualquer um, além dela, já que achavam pura besteira da parte da garota. 

Quando, enfim, anunciou a todos, eles simplesmente receberam a notícia com "cara de paisagem". O pai dela limitou-se a dizer um "parabéns" insosso. 

- Qual é, gente? Vocês nem acharam legal eu ter ganhado a chance de conhecer meus ídolos, ainda por cima, totalmente 0800?

- Devia ter sorte assim pra ganhar na mega-sena, pelo menos, ficaríamos ricos. Assim, você só tá aumentando o ibope deles. - falou a mãe de Júlia.

- É legal sim, Júlia. Mas, a pergunta que não quer calar: quem irá te acompanhar? Eu não posso, porque irei trabalhar. A não ser que sua mãe queira ir. - o pai interveio.

- Não, senhor. Pode me tirar dessa. Eu não vou compactuar com essas bobagens. 

- Se vocês não podem ir, já sei quem pode: a Rebeca. Simples assim. Ela é maior de idade, é só vocês darem uma autorização escrita para ela.

- Será? - o pai de Júlia sabia que isso era possível, mas perguntou para por dificuldades.

- Mas, é claro. Uma vez que ela é maior, é só passar a autorização que ela fica responsável por mim.

- Temos que consultá-la primeiro, pra saber se ela concorda. - respondeu Marcos.

- Olha se ela vai perder a oportunidade de viajar, ainda mais pra Sampa. - Júlia falou com toda segurança.

Marcos conversou com Rebeca, e ela aceitou sem nenhuma resistência, porque, Júlia conhecendo a irmã, sabia que a outra iria adorar viajar para São Paulo. Rebeca ficou tão empolgada que antes mesmo de conversar com Júlia, já estava fazendo os preparativos.

Júlia se encontrou com Mariana e contou tudo sobre a surpresa inesperada. A amiga parabenizou-a  e disse que estava muito feliz por Júlia ter ganho algo que era tão importante para ela, tentando dissimular a angústia que dominava seu coração, desde o momento em que recebeu a notícia. Apesar da alegria de Júlia, Mariana sentiu o coração apertar, cogitou implorar à amiga que não fosse ao tal show, mas teve medo que Júlia achasse que ela estava despeitada. Preferiu calar e pensar que era só uma má impressão momentânea.

Júlia, por sua vez, achava que seria o momento mais inesquecível de sua vida, e começou a planejar formas de como aproveitar melhor. Quanto mais o tempo passava, maior se tornava sua ansiedade. O tempo parecia lutar contra o curso natural, os dias se arrastavam com grande lentidão. Mas, sabemos que isso não passa de uma sensação que a ansiedade causa. O tempo é sempre o mesmo.

Depois de longa agonia, o dia de viajar chegou, e lá estavam, no aeroporto: Marcos, Mariana, Andrey e Roberta, se despedindo e desejando boa viagem para Júlia e Rebeca. Parecia que alguma nuvem de energias positivas tinha coberto todos eles, que faziam votos sinceros. Até mesmo Roberta foi carinhosa. Na hora de as duas se dirigirem ao portão de embarque, Mariana lançou um último olhar, carregado de uma lágrima para a amiga, talvez desvendando o que poderia ocorrer.

Rebeca estava para lá de empolgada e falante. Júlia permaneceu calada, apesar de ter experimentado um estranha calma depois de o avião decolar. Não conseguia parar de pensar nos meninos, - principalmente no Bill, que era o seu "preferidão", como ela dizia - como ele seria pessoalmente, se ele era tão bonito quanto nos vídeos, fotos, se ele seria meigo ou simpático, como ela agiria quando estivesse com eles. Ficou com medo de tropeçar no inglês devido ao nervosismo, mas isso seria o de menos, já que eles às vezes deslizavam na pronúncia, significados ou concordância também.

Depois de uma viagem não muito longa, as duas garotas chegaram a São Paulo, muito alegres. Rebeca achou o máximo viajar na classe executiva. As duas seguiram para o hotel no qual iriam se hospedar. Rebeca quis dar uma volta para conhecer a cidade. A viagem não foi cansativa, mas Júlia preferiu ficar no hotel, dizendo estar com uma indisposição.