P. Bailey escrita por CellyLS


Capítulo 15
Quando despertar




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Ainda era cedo, o sol tentava brilhar por entre as nuvens no céu da cidade de Kohtla-Järve. O pequeno café na esquina do hospital onde Nigel estava internado já estava movimentado. Sydney e Kate continuavam sentadas em lados opostos de uma mesa no canto. O vento frio embaçava os vidros nas janelas do pequeno estabelecimento.

As duas mulheres se entreolharam. Kate havia conseguido a atenção da caçadora com sua declaração. A agente continuou. "Falei com os médicos e parece que Nigel vai ficar bem." Começou a folhear o pequeno cardápio do café.

Sydney virou-se novamente para a janela, observando o movimento fora do estabelecimento. "Excluindo-se a possibilidade de ele continuar em coma pelo resto da vida, eu diria que você está certa."

Kate jogou o cardápio sobre a mesa. "Ele vai conseguir!" Sydney impressionou-se com a firmeza na voz da agente da Interpol. Kate relaxou um pouco e escorou-se no encosto da cadeira. "Mas eu posso dizer que esta não é a sua única preocupação, Sydney. Pode parecer incrível, mas Preston me contou o que houve entre vocês." Ela ganhou um olhar inquisitivo da historiadora, mas não se deixou intimidar.

A agente pôs os braços sobre a mesa e entrelaçou os dedos. "Eu vou lhe fazer uma pergunta, mas você não precisa me dizer nada. Apenas pense na resposta e a guarde para si." Sydney franziu o cenho e a garçonete chegou, interrompendo Kate.

Era uma loira baixinha, que trazia duas xícaras de café. Ela entregou as bebidas e anotou os pedidos, que se resumiram a duas torradas. Kate observou a garçonete se afastar e começou a adoçar sua bebida. Sydney começou a fazer o mesmo, mas parou ao ouvir a voz da amiga.

"Pretende enganar Nigel para sempre?" disse Kate, encarando a morena.

Sydney deixou a colher cair sobre a mesa. Abriu a boca para falar, mas levou algum tempo até emitir qualquer som. Começou a balbuciar. "Eu... não estou..." Sua resposta foi interrompida pela outra mulher, que levantou uma das mãos e balançou a cabeça, pedindo para Sydney se calar.

"Quero saber se vai finalmente assumi-lo da forma que ele merece. Ou, se vai continuar obrigando Nigel a segui-la, para que possa abandoná-lo novamente quando encontrar outro homem que lhe proponha o mesmo que ele já faz." A caçadora ficou em silêncio.

Sydney virou o rosto novamente para a janela, séria, e Kate continuou calmamente. "Como eu disse: você não precisa me responder. Esta resposta pertence a Nigel, quando ele acordar."

A garçonete voltou, trazendo as duas torradas e se afastou para atender outros clientes. Kate começou a beber seu café e aguardou até Sydney voltar a encará-la. A historiadora parecia transtornada.

A agente da Interpol olhou para o próprio prato, sem apetite. "Resolva esta situação, Sydney. Vocês dois não merecem mais sofrer." Empurrou a torrada para longe e virou-se para a janela, olhando para o nada. "Não cometa os mesmos erros que eu." Completou.

Sydney observou a mulher a sua frente por algum tempo, em silêncio. Depois disso, Kate começou a fazer perguntas sobre o estado de Nigel. Elas trocaram algumas palavras até as xícaras de café esfriarem, então resolveram sair da lanchonete. Levantaram e pagaram a conta, as torradas continuavam intocadas sobre a mesa.

Na porta do café, as duas se despediram e tomaram direções opostas. Sydney caminhou em direção ao hospital, como já era de sua rotina, e Kate voltou ao hotel, para acertar os detalhes de sua viagem de volta à América.

A tarde desse mesmo dia estava um pouco mais ensolarada, mas não menos gelada. O tempo estava demorando a passar. Sydney permanecia sentada ao lado da cama de Nigel no hospital. Ela ajeitou-se melhor sobre a cadeira desconfortável e continuou olhando pela janela do quarto, como já estava fazendo há horas.

A caçadora havia esquecido do almoço e passado praticamente o dia todo na mesma posição ao lado do amigo, refletindo sobre as palavras de Kate. Ela segurava a mão esquerda do inglês enquanto observava o céu escurecer vagarosamente pela janela do quarto. Acariciou a mão quente do amigo, tomando cuidado para não tocar no tubo de soro preso a ela. A febre dele ainda não havia baixado totalmente.

Pensou no que a agente falou e lembrou-se do que Nigel dissera ao chegarem à cachoeira três dias atrás: 'As mesmas palavras que você não hesitou em interromper quando ditas por mim foram o motivo de você viajar para outro continente buscando a felicidade ao pensar que eram de Preston'.

Ele estava certo, assim como Kate. Ela se permitiu levar quando recebeu os galanteios de outro homem, mas ignorou as investidas de Nigel. Nunca fora tão reservada quando se tratava de envolvimentos com o sexo oposto, por que agiu automaticamente dessa forma quando se tratava de seu assistente?

Observou o rosto tranquilo do inglês. Talvez a resposta fosse ele. Sydney o considerava puro e inocente, quase intocável. A idéia de se aproximar e manchar aquela imagem ideal que formara sobre o amigo a enchia de medo.

Ele disse certa vez que ela não o considerava um homem. Teve que rir da constatação do amigo, na verdade pensava o oposto. Ele não era um homem comum. Havia provado sua coragem em incontáveis situações, das heróicas às mais simples. Fosse salvando os dois dos apuros ou apenas assumindo que estava com medo, ou inseguro. Ele sempre soube claramente quem era, suas capacidades e limitações, e nunca teve vergonha de demonstrar isso. Essa era a maior prova de caráter que Sydney poderia ter.

Dessa forma, nunca poderia reuni-lo com os demais homens que passaram por sua vida. Ele ficava acima de todos, em um lugar especial reservado só para Nigel Bailey.

Sydney sorriu.

Era isso. Ela o admirava demais para aceitá-lo como igual. Tinha medo de estragar tudo e acabar o perdendo. Dessa forma, seria mais seguro manter os relacionamentos românticos, onde não tinha qualquer talento, para outros homens. Assim, se eles a dispensassem, o que com certeza fariam, ela conseguiria ao menos superar a perda no futuro.

Nesse ponto, as afirmações de Kate estavam corretas. Ela estava agindo de forma a preservar apenas seus próprios sentimentos. Estava sendo egoísta. Queria ter o homem perfeito sem perder seu melhor amigo.

Se ela tivesse ao menos a garantia de que desta vez conseguiria manter um relacionamento que durasse por mais de uma semana, não teria tantas dúvidas. Possuía certa atração pelo assistente, neste quesito não haveria problemas. Ele era um homem muito atraente, e várias vezes Sydney já havia se pegado apreciando o perfume suave e amadeirado da loção que ele usava, mesmo nas caçadas. Como ele conseguia se manter sempre tão cheiroso? E os olhos verdes, tão encantadores e cheios de vida. Eles brilhavam de forma fascinante quando ele sorria...

Mas isso não bastava para afastar a insegurança. Sydney precisava ter certeza que as coisas dariam certo entre os dois.

Se ao menos ele estivesse acordado, os dois poderiam conversar horas sobre isso. Essa era outra característica única no jovem inglês, ele era normalmente o primeiro a se propor a resolver assuntos pessoais e realmente conversar sobre esse tema, coisa em que Sydney era péssima.

A caçadora suspirou pesadamente. Aproximou uma das mãos do rosto de Nigel e o acariciou de leve. "Quanta dor de cabeça, Nigel." Disse, afastando os cabelos que estavam sobre os lindos olhos que permaneciam fechados. "Preciso de sua ajuda para decidir o que fazer. Kate me deu um sermão, sabia?"

Ele não demonstrou qualquer reação. "Até Cláudia estava me dando conselhos." Ela resmungou. O inglês permaneceu inconsciente. Sydney recolheu o braço e voltou a acariciar a mão do assistente, ainda admirando o rosto do amigo. Ele parecia dormir tranquilamente, alheio a todas as suas dúvidas, a fazendo se sentir ainda mais fraca e covarde. Havia tanta certeza nos sentimentos que ele demonstrou nas cartas, como ele conseguia...

As cartas!

Isso. Encontraria os pensamentos e a força do amigo nas palavras que ele escrevera pensando nela. Pegou a bolsa que estava pendurada no encosto da cadeira, mas estacou ao colocar a mão no fecho. Era a primeira vez que leria as cartas depois de saber que eram de Nigel. Sentiu-se nervosa de repente.

Já sabia o que estava escrito, mas encarar as declarações sabendo serem de seu assistente dava às palavras um sentindo totalmente diferente e uma intensidade muito, muito maior. Com dedos trêmulos, Sydney abriu a bolsa e retirou os envelopes. Havia chegado o momento de decidir qual rumo estava disposta a tomar em sua vida, e com... Nigel.

Ela respirou fundo e abriu a primeira das cartas que havia recebido, decidida a encontrar a resposta para a pergunta que a amiga fez na lanchonete. Valeria a pena arriscar um relacionamento tão especial – se é que já não o havia perdido? Concentrou-se na carta.

Sydney leu as palavras atentamente. Ela demorou até chegar ao final da carta, absorvendo cada detalhe do que ele havia escrito. Tudo fazia sentido naquela declaração. Ele a descrevia como uma pessoa linda, e demonstrava a maneira como apreciava todas as suas características, até mesmo aquelas que Sydney considerava como defeitos. A forma como ele encerrou a carta escrevendo como ela sempre o protegia de todo o mal a fez chorar.

Sydney esfregou os olhos e abriu o próximo envelope, começando a ler a segunda carta com o mesmo cuidado. Ela continuou ali, sentada ao lado dele, segurando uma de suas mãos enquanto lia as declarações como se fosse a primeira vez.

Já era noite quando ela terminou de ler as doze cartas.

Seus olhos estavam vermelhos. Sydney largou a última declaração sobre a cama e segurou firme a mão do inglês. Abaixou a cabeça e encostou a testa sobre a mão dele, cerrando os olhos com força. Lágrimas continuavam a escorrer dos olhos dela e umedecerem o lençol branco. "Espero que ainda possa me dar uma chance quando despertar." Ela sussurrou.

Sydney abriu os olhos e já era manhã. Olhou ao redor, ainda estava escorada na maca de Nigel com as cartas espalhadas entre os dois. Viu os raios de sol refletirem no chão branco do quarto e iluminarem todo o ambiente. O inglês continuava dormindo. Sydney pegou seu celular na bolsa. Eram oito horas da manhã. Sentou-se melhor na cadeira e esfregou o rosto. Passou as mãos pelos cabelos e se levantou.

Foi até o pequeno banheiro do quarto e olhou no espelho. Estava com os olhos avermelhados e inchados. Pôs as mãos sobre o rosto e suspirou. Era o quarto dia que Nigel estava internado. Mexeu na pequena necessaire que a acompanhava quando passara as últimas noites ao lado Nigel. Pegou uma escova de dentes e a escova de cabelos.

Ela havia passado mais um dia inteiro no hospital, até dormiu sentada na cadeira. Suas costas estavam doendo. Não havia lembrado sequer de comer alguma coisa. A conversa com Kate a havia deixado sem qualquer apetite. Terminou de se aprontar e saiu do banheiro.

Fez a volta na cama e guardou a necessaire em sua bolsa. Acariciou o rosto do amigo durante alguns segundos e saiu do quarto.

Sydney deu alguns passos pelo corredor e... parou.

Piscou algumas vezes. Virou-se devagar e olhou para a porta do quarto. Voltou até lá e olhou para o inglês na cama. Analisou a posição dos braços do amigo. Estavam assim quando ela acordou? Teve a impressão de que o braço direito dele estava sobre o peito, e não estendido.

Aproximou-se devagar da maca. "Nigel? Está acordado?"


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Notas finais do capítulo

Continua...



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