Killer escrita por Hugo Campanaro


Capítulo 4
Capítulo Três - Os segredos do Porão




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Enquanto meu sangue estivesse no organismo de Charlotte Gates, ela não teria forças nem para abrir a boca direito.

Entrei na casa e a coloquei com cuidado no sofá. Fechei a porta e as cortinas da casa. Logo o sol nasceria e eu não podia correr o risco de me distrair e virar pó.

Charlotte se debatia no sofá, e eu apenas observava um pouco divertido ao ver a cena... Mas divertido bem pouco.

- Quanto menos você se mexer, menos o meu sangue vai te queimar – Eu alertei, segurando-a para que ela parasse de se debater – Fique imóvel e você vai parar de arder por dentro!

- O que você é? – Ela perguntou pausadamente em um sussurro.

- Ah querida, sou uma coisa que você não deve acreditar por enquanto.

Dores, dúvidas, ódio, e até mesmo loucura. É isso que nós causamos às nossas vítimas. E para nós, isso é tão divertido quanto pular de um avião de para quedas.

Quando Charlotte parou de se debater, eu a soltei e comecei andar pela casa. Havia algo ali que me intrigava. Talvez em meus trezentos e dezesseis anos eu já tivesse estado ali, mas era como se... Algo me pertencesse.

Entrei em cada cômodo, fechando as cortinas, e quando eu cheguei na cozinha, percebi algo que eu não tinha visto antes.

Enquanto eu fechava a cortina que havia na porta da cozinha, percebi uma espécie de alçapão do lado de fora, logo em frente à porta.

Olhei para o céu para ver se eu tinha tempo suficiente para explorar o alçapão, mas ao longe, já era possível ver o sol se por.

Mesmo contra o tempo, eu abri o alçapão, entrei nele e o fechei novamente.

***

Escuro e empoeirado. Era assim que estava dentro daquele alçapão. Ali era uma espécie de porão, cheio de coisas velhas. Mesmo com tantas coisas velhas por ali, e com a sensação – agora triplicada – de que algo ali me pertencia, eu tinha a certeza de que meu relógio não estava ali.

Você deve estar se perguntando: Mas que história é essa de relógio?

Bom, eu vou explicar.

Em toda história antiga, há pelo menos uma pessoa que guarda um amuleto. O meu relógio é basicamente isso. Um amuleto.

A diferença entre os amuletos comum e o meu amuleto, é que o relógio não me protege do mal... Me protege do sol.

Há pouco tempo atrás – estou falando de pelo menos cem anos atrás – descobrimos que havia apenas mais dois daquela espécie de amuleto que protegia vampiros do sol.

O meu, eu roubei de um senhor muito rico, que era um dos mais antigos moradores de Nova Orleans. E ali em Nova Orleans, havia mais dois moradores muito antigos que roubaram outros objetos de alguns vampiros há uns... Oitenta anos antes de eu ir para lá.

É como se esses amuletos fossem heranças, deixadas de mão em mão. Entre humanos e Vampiros. E quando são roubadas, é claro, não sabemos que se trata de um objeto que nos protege do sol. Os humanos que os roubam, também não se dão conta de que são objetos que guardam segredos de outros mundos.

E só depois de um bom tempo, percebemos o poder que os objetos têm.

Mas dessa vez, se fosse a hora de eu perder o meu amuleto, eu teria sido roubado por um humano... E não foi isso que aconteceu.

Zachary Coplan roubou o meu relógio. Ele é um vampiro de trezentos e oitenta anos... Só um pouquinho mais velho que eu.

Mas ele vive em ninho, junto com outros vampiros poderosos e muito mais assustadores que eu. Então, o que eu posso deduzir, é que Zachary recebeu ordens, e quem está andando por aí, pelo sol, com o meu relógio é Steven Porter, um vampiro de oitocentos anos, mas não o mais velho de nossa espécie.

Mas voltando ao porão...

O cheiro de mofo ali era bem forte. Não era de se assustar, não havia sol aqui dentro.

Aquele lugar... Daria para formar uma casa aqui dentro, de tão grande que era. E havia as mesmas divisões da casa acima. Havia a parte que indicava que estávamos em baixo da cozinha, e a parte que indicava que estávamos em baixo da sala.

E a cada vez que eu dava um passo, meu corpo se arrepiava. Havia definitivamente, algo importante ali dentro.

Como o sol não penetrava ali, eu não tinha com o que me preocupar. Eu teria o dia inteiro para explorar o lugar.

Eu mexia em todas as coisas. Havia baú, com roupas femininas muito antigas, alguns chapéus de palha – daqueles usados por fazendeiros – espalhados pelos cantos.

Eu não me lembrava de nenhuma das pessoas que eu havia visto nas fotos que estavam por ali.

Essas percepções me deixavam ainda mais curioso. O que de tão errado havia ali?

Continuei andando, até encontrar um armário.

Era de madeira, com apenas duas portas. Pela aparência, era tão velho talvez... Quanto eu.

O abri lentamente, mas tudo o que eu encontrei Ali foi apenas uma espécie de diário.

Um livro antigo com capa de couro e uma corda mantendo-o fechado.

Quando o peguei nas mãos, meu corpo inteiro formigou e foi como se minhas mãos tivessem sido queimadas, pois eu deixei o livro cair no chão. Era aquilo!

Depois de me recuperar do susto, o peguei com cuidado e com ele nas mãos, caminhei até um sofá empoeirado que havia ali.

Depois de folhear muitas páginas, algo fez com que meu corpo travasse.

Era uma linguagem antiga, escrita em latim em uma folha amarelada. A caligrafia estava tremida, mas eu conseguia ler o que estava ali.

“Tu, ad ambulandum in lucem malum sit amet, metus. Donec vitae magna in mundo, est curare, non est nisi vos have satis intellectum mysteriorum persolvo nocte custodiuntur a creatura”.

Era perturbador ler aquilo. Eu que pensava que aqueles seres estavam extintos ou que não houvesse mais coragem de nos confrontar. Mas agora eu estava aqui, com um aviso para os humanos... Ou para uma nova geração.

Em inglês, o bilhete dizia:

“Vos que andam sobre a luz, há males mais antigos a temer. Vos que vivem em um vasto mundo, é de se garantir que não haja ser que tenha compreensão suficiente para desvendar os mistérios guardados pelas criaturas da noite”.

A linguagem, o Latim... Aquilo tudo definiam uma espécie tão antiga quanto nós. E agora eu entendia.

Aquele diário estava aqui e isso não era uma simples coincidência. As gerações que aqui iriam viver deveriam fazer parte de um mesmo destino.

Seria impossível que entrassem em extinção, pois diferente de nós, eles tinham a capacidade de se reproduzir.

Mais algumas folhas, havia uma pequena mensagem, mas que me assustou tanto quanto a primeira:

“Neque silentio tenebris reget”

Essa por sua vez, significava:

“Mesmo que em silêncio, a escuridão reinará”.

Era realmente perturbador. Queria poder saber se eu era o único ciente disso. Será que eu fora o primeiro a descobrir isso?

Havia outros diários como esse em algum lugar do mundo?

Eu tinha muitas respostas para poucas perguntas, mas de uma coisa eu sabia: Aquilo ficaria apenas entre mim e o porão... Por enquanto, eu não deixaria que ninguém soubesse disso.

Nem mesmo a pessoa que estava destinada à esse diário. Eu manteria sigilo absoluto mesmo que Charlotte Gates fosse tão envolvida quanto eu.


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