Kill Me escrita por Vickawaii


Capítulo 1
Capítulo Único - Kill Me




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Yuuki’s POV

Melancolia. Essa cinzenta palavra refletia o que eu tinha como sentimento, a sensação que me proporcionava aquele estranho dia. A chuva caía grossa e pesada pelas paredes daquela prisão, os ventos uivantes, as árvores inquietas. Aquela casa, outrora tão aconchegante, era uma prisão, sim, e eu era uma condenada à espera do meu destino. A espera de Zero. Eu sabia que ele iria chegar, e já esperava a muito tempo por isso. Nosso encontro, afinal, para mim significaria reviver memórias, reabrir feridas. Considerando a imensidão de pensamentos confusos e contraditórios que havia em minha mente, isso seria bom, até porque entre eles restavam saudades. Por outro lado, temia que para ele significasse outra coisa. Para Zero, nosso encontro resultaria em sangue.

Zero’s POV

Ironia. Era irônico que o destino preparasse um cenário tão conivente com meu objetivo. Uma chuva forte, agressiva, e um céu escuro e tenebroso. As coisas conspiraram para que eu fizesse aquilo, tudo se encaminhou para aquele momento: o momento em que eu mataria Yuuki. Tal objetivo era tão estranho e tão inimaginável se comparável a tudo que passamos juntos que era digno de um filme de Tarantino, mas aquilo era mais que uma obrigação, era uma promessa. Era uma sina que eu possuía, e justamente por tudo que nós dois vivemos que aquilo era tão doloroso. Yuuki, a pessoa que eu mais amei, a única mulher que eu verdadeiramente cheguei a amar, não era minha, era de um monstro bebedor de sangue, um vampiro que por mais respeitável que parecesse era um ser cruel.  Cruel por privá-la de ter uma vida feliz, e cruel por tê-la transformado em sua igual. Yuuki se transformou numa criatura que eu odeio.

Analisando aquela maldita mansão, o covil dos Kuran, me aproximei da última janela à esquerda para escalar. Não iria entrar pela porta da frente e correr o risco de encontrar aquele desgraçado do Kaname, teria que invadir o lugar. Foi o que eu ifz, dando um salto e abrindo a janela do andar de cima. Poderes de vampiro, como eu odiava isso. Odiava ter sido obrigado a tomar o sangue de Yuuki enquanto humana mais do que o que teria que fazer com ela agora. Sabia que, depois disso, seria o grande final. Diante de todo o sofrimento e dor, a morte se mostrava como a única solução. E se o céu ansiava por sangue, eu lhe daria sangue. Era o destino.

Yuuki’s POV

Passos no corredor, o prenúncio do que estava próximo a acontecer. Em cima do gabinete, a singela rosa que Kaname me dera estava junto de uma pequena fotografia dos tempos de colegial, a qual peguei par analisar uma última vez. Mostrava eu e Zero, no primeiro dia de aula, Zero com a mesma expressão mal-humorada de sempre. Contudo, aquilo fazia parte de uma época tranqüila, cuja maior preocupação nossa era recuperar as horas de sono perdidas na monitoria à noite. Na verdade, desde aquela época as preocupações de Zero eram muito maiores que as minhas, mas ele nunca esteve sozinho para enfrentá-las. Deixar Zero foi a pior conseqüência da minha união com Kaname, superando em muito as atormentadas sedes de sangue e as noites sem dormir. Mas eu tinha feito a minha escolha, e Zero a dele, e agora teríamos que arcar com elas. Levei a fotografia comigo, fechei a porta, e fui ao corredor para encontrar Zero.

Zero’s POV

Maldita. À medida que eu explorava a mansão, o cheiro inebriante de Yuuki impregnava o ar. Aquele aroma, tão doce outrora agora se misturava com um perfume vampiresco, e o pior de tudo, ainda conseguia me enfeitiçar. Causava-me sede por sangue, me causava desejo. E meus instintos de vampiro, também de homem, cada vez mais aguçados.

- Zero...? – Chamou hesitante uma voz fina e delicada, a voz de Yuuki. Virei para trás, e próxima da escada, a vi: vestido longo, branco e singelo, a pele branca mais alva do que eu lembrava, os cabelos longos esvoaçando por causa do vento e os pequenos pés nus pisando no assoalho frio. No rosto, as mesmas feições das quais lembrava, os mesmos traços, aquela mescla de inocência com uma expressão assustada por me ver. Contudo, os mesmo olhos profundos que hesitantes demonstravam saudades, até mesmo compaixão, adquiriram então uma tonalidade avermelhada, uma tonalidade vampírica. Doía ver aquilo, doía ver Yuuki tão bela e saber seus desejos mais pecaminosos naquele olhar. Desejos de vampira.

- Zero... – Aproximou-se ela lentamente. – Por favor...

Yuuki’s POV

Quando fiquei a um metro dele me joguei surpreendendo-o com um forte abraço. A roupa manchada, as cicatrizes em seu rosto devido aos assassinatos que cometeu, tudo não passava de vestígios do ódio que Zero carregava dentro de si. Eu não agüentaria isso, precisaria então de uma última demonstração de afeto, um último gesto que despertasse nele emoções humanas. Quando senti seus braços fortes, até então rígidos, fecharem-se em meu corpo em forma de m abraço, as lágrimas em meu rosto caíram descontroladamente. Meu Zero...

- Que saudades...

Zero’s POV

Segundos depois, aquela criatura pequena estava protegida em meus braços. Desgraçada, parecia ser tão frágil e, no entanto, sua natureza vampírica destruía tudo que um dia foi. E com um único gesto, um único olhar, ela me dominava, não por ser sangue-puro, mas por ser quem era. O toque do seu corpo junto ao meu, seu perfume, a própria textura dos longos cabelos, tudo me dominava, recriava em mim memórias, sentimentos. E aquela conhecida sensação na garganta a despertar. O som da sua voz que me fez voltar a mim.

- Não,Yuuki. – Disse, afastando-me. – Não vim aqui para isso.

Yuuki’s  POV

- Por quê?! – Suspirei, chorando. Por que Zero agia assim, por que tinha de ser tão esquivo? – Depois de tudo que passamos...

- E que você jogou fora.

- Não joguei! Você... Veio atrás de vingança, Zero?

Zero’s POV

Aquela mulher não sabia a dor que me causava ao falar assim. Agora, falava de vingança. Seria isso que me movia? Seria a vontade de exterminar, de sugar a vida daquela que tanto mal me fez? Talvez eu tivesse um desejo semelhante, de fazê-la minha consumindo seu sangue e essência, mas matá-la... Matá-la seria só a inevitável conseqüência.

- Talvez seja uma espécie de vingança, Yuuki, mas não é só isso. – Disse, procurando medir as palavras. Era difícil pensar racionalmente. – Eu disse que mataria todos os sangue-puros, e você se tornou uma...

- Zero... Mesmo sabendo das mortes que você causou, eu ainda não consigo te enxergar desse jeito... Não precisa ser assim...

Sua boca. O jeito suplicante, mas honroso com que falava. A maneira com que mexia as mãos. Tudo naquela menina a minha frente me atraía. Ela estava fazendo aquilo de propósito, veio com um vestido branco implorando para que eu o tingisse de vermelho. Em algum momento, Yuuki se transformou numa bruxa alguém capaz de me controlar com um simples olhar. E era por isso que eu tinha que matá-la.

- Você não sente mais nada, Zero?

- Droga Yuuki, é óbvio que eu sinto! – Declarei, o tom de voz exaltado. – E é justamente por eu sentir algo que eu terei que fazer isso!

Avancei em direção a ela como se prestes a matá-la, mas não foi isso que eu fiz. Eu fiz algo muito pior, algo que não poderia ter feito.

Yuuki’s POV

Zero me beijou. Pelo jeito que me dirigiu a fala, o modo inquieto com que me olhava, isso tudo me fez crer que Zero até fosse me machucar, mas ele me envolveu e roubou um apaixonado beijo. Nisso, todos os sentimentos ocultos vieram à tona, tudo que não foi e poderia ter sido. Seus lábios enroscaram-se nos meus de maneira intensa, e suas mãos Percorreram as minhas costas. Era boa a sensação, ter Zero para mim novamente.

Zero me deixava arrepiada com um simples toque, seu olhar fazia com que eu entregasse meus maiores segredos. Com que eu me entregasse. Era incrível como mesmo depois de tanto tempo afastados, ainda tivéssemos uma ligação tão grande. Essa ligação fez com que a gente se beijasse, com que a gente tivesse chance de ter uma última despedida.

- Desgraçada... – Xingou, entre beijos. – Olha o que você me fez fazer...

Zero era contraditório, isso dava pra ver. Desde o início, sue lado humano brigou com seu lado vampiro, seu lado sensível brigando com o Caçador. O matador. Agora, substituía o dever pelo desejo, sem perceber que o dever de me matar não precisaria existir.

- Mas, se o dever não existisse, o desejo também não se concretizaria, certo? – perguntou Zero em um tom exaltado, até debochado. Estava ele lendo meus pensamentos? Não queria pensar nisso, agora que me despedia de Zero. Mas, se pensasse nesse dilema, se pensasse em minha paixão por Kaname, a resposta seria óbvia...

- Certo...

Zero’s POV

Dissimulada. Se algum dia ela foi verdadeira, essa característica foi sugada pelo seu lado ruim, seu lado de vampira. Seu lado mulher. Mesmo assim, sua ambigüidade agora não importava, seu olhar de mentiras não se comparava aquele fato: eu estar com Yuuki. Seus lábios por mim tão desejados, suas lágrimas derramadas apenas e unicamente par Amim, tudo contribuía para que, de certa forma, eu ficasse feliz. Eu estava alimentando uma ilusão, mas, pelo menos, a vivia. E, da maneira com que as coisas andaram, para mim isso bastava.

Yuuki’s POV

Os lábios de Zero percorriam o meu pescoço, suas mão pressionando com força o meu corpo contra o dele. Finalmente, suas presas cravaram-se no meu pescoço, deixando escorrer meu sangue. A dor. Aquela conhecida sensação que tínhamos no passado, compartilhar um segredo. Eu sabia que isso ia acontecer, Zero não poderia negar sua natureza. E eu não podia negar que eu desejava isso. Era uma maneira estranha de relembrar o passado, reviver uma situação que freqüentemente acontecia. E, por um lado, Zero também estava gostando daquilo, até porque naquele gesto compartilhávamos as mesmas memórias. O dia da foto, quando fomos à praia, quando Zero mordeu meu pescoço pela primeira vez... Quando quase nos beijamos. Quando eu ainda era uma humana sem nenhuma consciência da minha real condição.

Zero’s POV

Reviver as memórias, sugar o sangue de Yuuki... Que estranha forma de prazer! Contudo, aquilo continuava a ser repugnante, pecado, era pecado profanar o corpo de alguém num ato tão deplorável como aquele.

- Não pense assim, Zero. – Disse Yuuki, sua voz tão tranqüila, tão angelical... – Não é errado. Essa é a forma com que vampiros dizem que se importam, sabia?

- Que se gostam?

Yuuki sorriu para mim, sem graça, mas gentil. Suas presas também se aproximaram do meu pescoço, e ela deu uma pequena, porém eficaz mordida. De repente, Yuuki não estava mentindo, era a mesma de antes, sempre fora. E aquilo era bom, estar com Yuuki era bom. Depois, olhou nos meus olhos e sua boca vermelha novamente se juntou a minha. Naquele momento, nos compreendemos.

Yuuki’s POV

Eu estava mais tranqüila, feliz em ver Zero até. Eu estava quase acreditando num final feliz para a nossa história.

- Desculpe, Yuuki. – Interrompeu Zero, se afastando repentinamente. – mas nossa história acabou no momento em que você escolheu ficar com Kaname.

- Por quê?! Zero, eu sei que te magoei e tudo, mas olha o que agente passou, tudo que a gente viveu, não precisa acabar assim.

- Já acabou, Yuuki. Não tem mais volta.

- Mas e o que aconteceu agora?! – Desesperei-me.

- Eu já disse, Yuuki, acabou.

Um silêncio triste se passou. E o que se passou agora? E o beijo de Zero? O que eu verdadeiramente significava para ele?

- Você... Tornou-se uma pessoa fria... – Constatei, as lágrimas de novo escorrendo. – Você... Tornou-se alguém insensível...

- Desculpe, Yuuki. Mas foi você que me deixou assim.

Zero abriu um bolso do casaco e dele sacou a Bloody Rose. Aquela arma, a mesma com que salvou minha vida, a mesma com que tentou se matar... Ele iria fazer aquilo. E eu nem poderia me despedir da Yori, do Diretor, dos meus amigos... De Kaname...

- Você me ama, Zero?

Zero’s POV

-... Amo. – E puxei o gatilho.

Yuuki caiu no chão com um estrondo, de forma até grosseira. Olhei para aquela menina bonita, de feições delicadas. O sangue escorria do pescoço, do seu peito. Não era uma morte digna do que ela foi, e mais tarde eu me puniria por isso. Eu deixaria aquele mundo, sabendo que a pessoa que mais me proporcionou alegria e tristeza também o havia deixado. Beijei os lábios de Yuuki uma última vez, e sai em direção contrária, para um vagar sem rumo. Sem propósito, mas livre. Ao meu redor, apenas sangue. E mais nada.


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