Take My Heart -Em suas mãos tudo começou escrita por M Iashmine M


Capítulo 7
Capítulo 06 - Adaptação e convivência


Notas iniciais do capítulo

Finalmente! Aqui está o sexto capítulo!
Sei que faz muito tempo desde minha última publicação e estou atrasada há meses com este capítulo, mas foi impossível fazê-lo antes. Atualmente, tudo na minha vida está de pernas para o ar: saúde, faculdade, relacionamento, etc. Cheguei ao ponto de ficar tão desesperada para finalizar o capítulo que passei uma madrugada escrevendo e tive aula bem cedo no dia seguinte (em resumo, dormi apenas umas 3 horas ç.ç). Como não pude postar no mesmo dia, acabei atrasando mais um pouquinho, pois tenho raros momentos de acesso à Internet devido aos estudos. Para ser sincera, será um milagre se eu conseguir passar nesse semestre na faculdade. *chora*
Mas, como eu não quero desistir desta história, farei o possível para continuá-la, nem que eu precise suar sangue.
De coração espero que gostem, pois fiz muito carinho e dedicação. ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/172051/chapter/7

Adaptação e convivência: “Decisão que atua sobre vidas”


Aquele era um novo começo, para todos os três. Todos precisariam se adaptar a nova realidade e apenas o tempo - e as atitudes de um para com o outro - diria se aquilo seria possível.

O mais importante naquele momento era acomodar a nova moradora da casa. Como lhe fora mandado, Darell imediatamente levou a pequena Catherine para um quarto vago no primeiro andar – o qual originalmente era reservado para hóspedes. Atravessando o grande saguão principal da casa e seguindo na direção oposta à escadaria pela qual di Castle havia subido instantes antes, Darell dobrou à esquerda em um corredor que era ladeado por algumas portas. Nas paredes não havia nada pendurado – nenhuma pintura ou retrato – além de antigas luminárias que ainda dependiam de fogo para iluminarem o local. O quarto ficava no fim do corredor, na última porta.

Darell apanhou um molho de chaves em seu bolso e selecionou uma, colocando-a na fechadura. A porta deu uma leve rangida e se abriu. Dentro havia alguns móveis para acomodar muito bem um visitante: um guarda-roupa, uma cama de casal, uma escrivaninha com uma cadeira, uma penteadeira com espelho, um porta-casaco e uma poltrona. Seguido por Catherine, Darell entrou no quarto e largou a bolsa da pequena na cama, enquanto ela seguiu na direção de uma vidraça pela qual, assim como a grande janela curva que vira do lado de fora, se tinha uma ampla visão para o vale ao sul da campina. Segurando Ash pelas orelhas felpudas com apenas uma mão, a menina colocou a mão livre sobre o vidro; naquele momento o sol já estava se pondo e lançava sobras coloridas pela abertura, as quais Catherine começou a traçar com os pequenos dedinhos.

Abrindo os compartimentos mais altos do guarda-roupa, Darell pegou algumas roupas de cama limpas e começou a preparar o quarto para uso da garota.

– Quase nunca usamos este cômodo, então me desculpe pela confusão. Se eu soubesse que meu senhor viria acompanhado de uma dama, certamente já teria preparado o quarto para a senhorita – comentou, enquanto rapidamente substituía os lençóis que antes cobriam a cama pelos limpos que havia pegado. Terminado de trocar as fronhas dos dois travesseiros, afofou-os e recolocou-os na cama. Em seguida, foi até a poltrona que estava posicionada de frente para a janela e removeu um lençol que a cobria, revelando um estofamento aveludado e vermelho, acompanhado de uma almofada macia e igualmente vermelha.

Enquanto o rapaz trabalhava para organizar impecavelmente o cômodo, Catherine virou-se de costas para a janela e ficou observando-o. Ela nunca antes tinha visto roupas como as que ele vestia; ela não tinha certeza, mas imaginou que aquele devia ser algum traje indiano. Era composto por uma túnica bege clara que ia até a altura dos joelhos, cobrindo uma calça de mesmo tom; claramente a confecção da túnica era um trabalho profissional, pois era toda bordada com linhas brilhosas e contas pequenas, descendo pelo ombro esquerdo e terminando logo acima do joelho, formando lindos padrões curvos e ramificados por toda sua extensão. Nos pés calçava um mocassim igualmente bege e levemente trabalhado para combinar com o restante da roupa. Observou quando ele retirou um pequeno pano de um bolso oculto como fizera com o molho de chaves, mas não conseguiu visualizar nenhum sinal da tal fenda na lateral da túnica. Com o tecido, começou a limpar agilmente os móveis do quarto, fazendo um bom trabalho por onde passava. A imagem que Darell passava dava a imaginar que fosse um mordomo – e talvez esta fosse, de fato, sua cátedra naquela casa.

Catherine perdeu-se por um instante em pensamentos vagos e nem percebeu quando o rapaz cessou suas atividades e voltou-se na sua direção.

– Está tudo bem, senhorita? – perguntou ele, aproximando-se dela.

Sentindo-se embaraçada e um pouco constrangida, a menina sacudiu a cabeça, tentando espantar os tantos pensamentos arbitrários que vagavam por sua mente. Sem saber o que se passava, Darell ficou confuso.

– A senhorita não está bem? Aconteceu alguma coisa? – perguntou, ajoelhando-se em frente à pequena.

– N-não, eu estou bem – respondeu baixinho. – É só que...

– É só que...? – incitou, tentando motivá-la a falar mais.

Dessa vez Catherine não respondeu, não sabia o que responder, então apenas baixou a cabeça, sentindo-se perdida. Darell não sabia o que fazer, mas tentou confortá-la do seu modo.

– Ei – chamou, colocando a mão sobre ombro da garota -, está tudo bem. Pode conversar comigo se quiser. O senhor di Castle também conversa muito comigo, então não se sinta acanhada. Agora você faz parte da nossa pequena família e a casa também é sua. Pode confiar em mim. E eu não sou tão velho para não poder ouvir uma jovem e bonita dama como a senhorita.

Erguendo o rosto, Catherine sorriu voluntariamente, sentindo confiança naquele convite, e acenou com a cabeça.

– Viu? Podemos ser amigos. Acredite ou não, eu posso ser um ótimo amigo – brincou o rapaz, retribuindo o sorriso e estendendo a mão. – Você aceita?

Mal terminara a frase, Darell foi surpreendido por um abraço da menina; ainda estando ajoelhado, os bracinhos acabaram envolvendo firmemente seu pescoço, que estava mais ao alcance. Surpreso, mas satisfeito com o progresso, correspondeu igualmente, abraçando a pequena - cada braço dando uma volta completa em torno do miúdo corpo. Depois de um minuto, afastou-a pelos ombros, suspirou contente e sugeriu:

– E então? Amigos?

– Sim! – respondeu ela, sorrindo animada.

– Fico feliz, senhorita.

Catherine hesitou por um momento e então falou:

– Ahm, o senhor não precisa me chamar de senhorita...

– Então como prefere que eu a chame?

– Pode ser apenas pelo meu nome – respondeu timidamente.

– Tudo bem, mas vamos combinar que você também vai me chamar apenas pelo meu nome, certo? – Sugeriu o rapaz, dando um leve peteleco no nariz da menina, que riu com a brincadeira. – Nada de “senhor”, está bem?

– Está! – riu, agarrando o dedo que lhe cutucara e balançando-o de um lado a outro com ambas as mãozinhas. – Pode me chamar de Cathie também!

– Certo, Cathie. O que acha de conhecer a cozinha e fazer um lanchinho? – sugeriu Darell.

Levando a menina até a cozinha – que ficava no lado noroeste do primeiro andar da casa – e guiando-a até um grande balcão central cercado por um conjunto de altas cadeiras, lhe ofereceu biscoitos de chocolate e chá de pêssego, que Cathie revelara ser seu preferido. Conversaram e brincaram, falando a respeito de doces e de outros petiscos que gostavam e alguns que consideravam estranhos. Depois de se fartar de biscoitos e de rir muito, Catherine começou a sentir-se cansada; Darell guiou-a de volta ao quarto para que descansasse e informou que, se precisasse de algo, deveria puxar a corda da sineta presa na parede ao lado da cama que ele viria atendê-la. Logo ela pegou no sono e o rapaz foi resolver a outra questão que lhe inquietava: precisava preencher algumas lacunas e responder dúvidas, e seu amigo seria a pessoa que lhe daria as respostas.

Em sua antiga residência, Darell já era uma pessoa atenciosa, perceptiva e confiável, embora suas condições de vida não fossem favoráveis. Quando Henry o convidou para morar em sua casa como amigo e assistente, essas características se aquilataram para compensar e agradecer ao rapaz. Anos se passaram e Henry lhe confidenciou seu maior segredo – do qual apenas seu falecido tio tivera conhecimento. Agora eram cúmplices. Darell conhecia as fraquezas e penúrias do amigo e sabia que precisavam ser abrandadas com urgência; esse conhecimento também oferecia e o envolvia em riscos, mas isso não o intimidava.

Certificando-se de que a menina caíra no sono, o rapaz retornou à cozinha com uma lanterna acesa em mãos, entrou na despensa e se dirigiu a um armário de madeira escura no canto mais afastado do cômodo, o qual deslizou para o lado e revelou uma porta oculta feita da mesma madeira. Vasculhando o enorme molho de chaves que carregava consigo, selecionou a que abria a tranca. A passagem revelava o topo de uma escadaria espiralada e em cujo final havia outra porta, metálica e mais larga que a anterior, lacrada por uma trava de cofre. Darell colocou o segredo, girando os anéis e discos cravados de números, e abriu a porta. Com um leve rangido metálico, a abertura revelou um quarto grande, escuro e muito frio. O rapaz entrou e iluminou algumas das prateleiras que cobriam as paredes, todas preenchidas por inúmeras garrafas de vidro; apanhou uma, tornou a lacrar a porta metálica e retornou pelo mesmo caminho que percorrera instantes antes, certificando-se também de trancar a última porta e encobrir-lhe com o armário.

Apanhou uma bandeja prateada na cozinha e começou a preparar o que era necessário levar ao quarto do amigo.



Na bandeja trazia a garrafa de vidro, medicamentos, uma taça de cristal vazia e outra com água. Chegando ao quarto de Henry, Darell bateu levemente na porta para anunciar sua presença e entrou, encontrando o amigo deitado na cama. Largando a bandeja no criado mudo, buscou a cadeira da escrivaninha até próximo à cama, sentou-se e começou a preparar a medicação.

Henry abriu os olhos um pouco para observar o trabalho do amigo, mas logo tornou a fecha-los novamente. Em um murmúrio rouco, perguntou:

– Onde ela está?

– Dormido no quarto de hóspedes – respondeu Darell, ciente que a pergunta era sobre Catherine.

– Bom. Adormecida ela não me causará problemas.

– Ela parece muito inteligente para uma menina tão jovem. Não acho que tenha a intenção de causar problemas aos outros propositalmente.

– Ha! Você não conhece a encrenqueira – respondeu Henry com uma risada curta e irônica.

– E você a conhece tão bem assim? – retrucou Darell.

O rapaz olhou para o amigo sentado e enrugou a testa, sabendo que seria interrogado.

– Tome – ofereceu Darell, estendendo uma colher com uma mistura em pó para o outro, junto com a taça de água –, e engula tudo. Sei que você odeia o gosto, mas sabe muito bem o quanto é eficaz.

Franzindo a cara, Henry virou o conteúdo da colher dentro da boca e tomou toda a água da taça o mais rápido que pode.

– Blerg! Nunca vou me acostumar com isso! – resmungou, estendendo a colher e a taça vazia para o amigo. – Rápido, me dê a outra!

Darell virou-se novamente para a bandeja e pegou a garrafa de vidro, agora aberta, e a outra taça que trouxera consigo. Em seguida virou o frasco e despejou seu líquido rubro na taça, entregando-a para o rapaz. Henry bebeu o líquido quase tão rápido quanto o primeiro, mas claramente saboreando mais este que o outro.

– Ah, doce néctar! – suspirou ao esvaziar a taça.

– Tenho a impressão de que você vai beber toda a garrafa rapidamente hoje – comentou Darell, enquanto Henry lhe alcançava a taça para que fosse novamente cheia.

Sentando-se e apoiando as costas em um travesseiro contra a cabeceira da cama, o rapaz suspirou e sorriu:

– Pode ter certeza! Estou em falta disso há quase um mês! Não sei como ainda não perdi o juízo e ataquei alguém.

– Bom. Ainda bem que você tem um grande autocontrole e um apurado senso de perigo. Bom também que você vai beber tudo, assim terá tempo para me explicar tudo o que está acontecendo, pois algo me diz que o seu juízo não está em perfeito estado.

– Certo – concordou Henry, sabendo que uma explicação ao seu fiel escudeiro seria inevitável. – Por onde quer que eu comece?

Darell apanhou os documentos de adoção que também trouxera na bandeja e os brandiu lentamente no ar.

– Eu ia sugerir que começasse me explicando o quê e de onde exatamente são esses papéis de adoção, mas acho que há muito mais antes disso. Então o que acha de partir do marco zero?

– É justo.

Assim como havia acontecido, Henry detalhou toda a história, desde o início – quando recebera a missão – até o atual momento. Darell ouvia tudo em completo silêncio, fazendo caretas para alguns trechos que compreendia mal ou desaprovava. Por fim, suspirou e refletiu a respeito do que ouvira.

– Henry, você entende o que fez? – questionou o indiano.

O rapaz, que acabara de beber outro gole do líquido rubro de sua taça, pousou-a sobre o colo e virou o rosto para o outro lado do quarto.

– O que quer dizer? – perguntou desconfiado.

Darell apoiou os cotovelos sobre as pernas, cruzou as mãos e sustentou o queixo sobre elas, tentando organizar os pensamentos enquanto formulava as perguntas em sua mente.

– Henry, você adotou uma criança – falou lentamente, dando ênfase às palavras enquanto as pronunciava. – Você entende isso? Compreende o tamanho e as consequências desse ato?

– Parece que não entendo? – retrucou o rapaz, logo tomando outro longo gole de sua bebida. – Não está óbvio?

– Não sei. Está? – devolveu Darell calmamente. – O que deveria estar óbvio, Harry? Que você entende ou que não entende o que fez?

Henry grunhiu frustrado. Largando ruidosamente a taça vazia na bandeja em seu criando mudo, o rapaz apoiou a cabeça com uma mão sobre cada têmpora e ficou olhando para baixo.

– Eu não sei! Eu não sei, está bem? Eu não sei por que fiz tudo isso! Eu não sei, eu não sei, eu não sei... – Ficou repetindo algumas vezes enquanto sua voz ia ficando mais baixa. – Eu... eu não sei o que houve. Simplesmente aconteceu.

Darell pousou a mão nas costas do amigo na tentativa de apoiá-lo a prosseguir.

– O que eu faço agora?

– Você assumiu um compromisso e agora vai honrá-lo. Assim como fez comigo.

Espiando o amigo com o canto dos olhos, Henry ficou sério e respondeu, lembrando-se de uma promessa – agora silenciosa – feita pelos dois:

Isso e aquilo são coisas diferentes. O compromisso que assumi com você foi algo diferente.

– A situação e os motivos podem ser diferentes, mas a importância é a mesma. A magnitude de ambos é igual... Você assumiu a responsabilidade pela vida de duas pessoas inicialmente estranhas a você e acha que isso difere em importância? Que uma vida pode valer mais que outra?

– Não foi isso o que eu disse. O que eu estava querendo dizer é que a sua situação e a dela são coisas diferentes.

– Certo, não vou discutir isso com você agora – suspirou Darell. – Mas me prometa que vai honrar esse compromisso. Ou terei de falar com seu superior.

– E eu tenho escolha? – perguntou Henry, tentando ser retórico.

– Não, não tem.

O rapaz suspirou profundamente enquanto endireitava o corpo e recostava-se na cama.

– Sabe, agora que penso nisso, se eu considerar bem tudo o que aconteceu, sinto que teria feito tudo de novo... teria tomado a mesma decisão ainda que tivesse outras opções.

– Ter a escolha de poder fazer diferente e continuar na mesma opção significa que você não queria fazer diferente. Não estou certo?

– Talvez sim, e talvez eu realmente não me arrependa disso... Talvez eu esteja apenas curioso para ver como serão as coisas, como tudo vai acabar...

Darell balançou a cabeça.

– “Talvez, talvez, talvez”... Você é muito imaturo mesmo! Pense melhor nas consequências dos seus atos! Nem sei o que dizer... Esse nem parece você. Tão frio e calculista no trabalho e me toma uma decisão tão repentina e atípica como essa...

Tentando se desviar um pouco da conversa e querendo evitar um sermão, Henry retrucou:

– Você sabe ser chato quando quer, velho resmungão.

– Quanto ao velho, não sou tão mais velho que você. Quanto ao resmungão, você ganha de mim; não dá nem para comparar.

Henry soltou uma risada irônica, mas baixa.

– Aposto que isso será problemático.

– Ela não me parece uma fonte de problemas.

– Está brincando?! – ironizou o rapaz. – Não ouviu a história que acabei de lhe contar? Tem alguma parte que você não entendeu direito? Lembra que foi ela quem pulou do carro e quase se matou?! Foi por causa dela que ambos acabamos em um hospital!

– Parece-me que será fácil e agradável conviver com ela sem maiores problemas – começou Darell calmamente. – Bem, ao menos ela parece mais fácil de lidar do que você. E o incidente não teria acontecido se você tivesse simplesmente mordido a língua e seguido viagem, seu arrogante! – ralhou por fim, sem mais delongas.

Sentindo-se ofendido, Henry ergueu os ombros e inclinou-se na direção do outro.

– Ora, seu... – exaltou-se, mas foi interrompido.

– Estou mentindo, Henry? – perguntou Darell rapidamente.

– Por que eu sou o único culpado? – esbravejou.

– Ela teria saltado do carro se você não tivesse dito o que disse? Ela tinha alguma única razão para saltar ou apresentava algum sinal de que faria alguma loucura por nada?

Henry ia responder com nervosismo ao amigo, mas imediatamente calou-se e reviu alguns detalhes daquela noite em sua cabeça. De fato...

– Não, ela não teve nenhuma atitude que indicasse isso ou qualquer outra coisa do gênero.

– Está vendo? Até mesmo você reconhece isso.

Henry fechou a cara, cruzou os braços sobre o peito e recostou-se na cama. Aos poucos foi aliviando a tensão do rosto e inclinou a cabeça para trás.

– Acho que está tudo bem, então – falou em vou baixa.

Ficaram em silêncio por alguns minutos, até que Darell disse:

– Ela não pode ficar morando para sempre num quarto de hóspedes.

– Sei disso, só não pensei a respeito ainda.

– Certo, mas eu pensei. Tive uma ideia e creio que seja a opção mais apropriada, embora eu acredite que você vai criar caso e se opor.

De olhos fechados e sem se mover, Henry perguntou:

– E qual é a sua ideia?

Darell fez uma pausa, medindo as palavras que julgava serem adequadas para introduzir o assunto.

– Eu acredito que o quarto mais adequado seria o dela.

– Dela quem? – perguntou o rapaz.

Passados alguns segundos sem resposta, Henry abriu os olhos e observou o amigo de forma questionadora.

– O quarto de quem?

– O quarto dela – repetiu o indiano firmemente, acenando com a cabeça em um sinal que sabia que o rapaz entenderia.

Percebendo o significado daquelas palavras, Henry novamente ficou nervoso e postou o corpo mais a frente para encarar o outro.

– De jeito nenhum! – declarou. – Eu não permitirei isso!

– Henry, pense com clareza: aquele é um quarto adequado para uma senhorita e já está mobiliado de acordo. Não acha óbvio que seja a melhor opção?

– Não precisa ser aquele! Podemos mobiliar outro. Podemos... – Henry respondia rapidamente, não de forma irritada, mas sim ansiosa. Em seu rosto se via uma repentina agonia e uma clara relutância. Sua face expressava sofrimento e saudade.

Colocando a mão sobre o ombro do amigo, Darell disse baixinho:

– Harry, você precisa abandonar esses fantasmas, ou eles irão te consumir até não lhe restar mais nada. Eu sei o quanto você sente a falta dela, mas precisa deixar isso no passado... Não precisa esquecer, mas pense apenas nas coisas boas e em quanta alegria ela te trouxe enquanto estavam juntos. Pense no quanto ela se importava com você.

Henry começou a chorar e soluçar repentinamente, revelando sua vulnerabilidade. Antigos ferimentos, ainda não cicatrizados, foram tocados e seu efeito era doloroso demais até mesmo para conter as lágrimas. Darell deu um abraço caridoso no amigo, sabendo que tocara em um assunto delicado. Henry não respondeu mais nada naquela noite e dormiu, derrotado pelo cansaço trazido pelas lágrimas.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, deixe um review e me diga sua opinião. Ela pode salvar o coração de um escritor! *-*