Take My Heart -Em suas mãos tudo começou escrita por M Iashmine M


Capítulo 6
Capítulo 05 – Estranha recepção


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora! Estou em um período tremendamente difícil na faculdade (e isso não significa que não vai piorar...) e até levei bomba em duas provas >.<"
Espero ter compensado com este capítulo.
Ah! Para quem já leu o "4.1", ele vai passar a ser apenas "04", pois como pode se ver este capítulo é o "05" (a ideia que tive no início não fazia muito sentido, mas é só isso que estou modificando).
Abraços e desfrutem!



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Estranha recepção: “Um lar distante, belo... e misterioso”



Mais alguns dias se passaram até que o médico confirmasse uma estabilidade satisfatória para Catherine; Henry também estava recebendo um pequeno acompanhamento para que igualmente não sofresse nenhuma regressão – afinal, insistira em sair dirigindo do hospital e o médico tampouco achou convincente seu condicionamento físico para tal esforço.

Mas naquela manhã ambos receberiam “alta”: Henry já havia se recuperado da exaustão e da doação feita no transplante, e Catherine recuperara parcialmente o movimento dos braços e das pernas durante a breve reabilitação; sentia muitas dores, mas ainda assim forçava a movimentação dos membros. Por mais que insistisse em sustentar-se sozinha com a ajuda de um par de muletas, seus braços não suportavam o esforço por muito tempo, e logo era colocada sobre uma cadeira de rodas. Enquanto Catherine era preparada para deixar seu quarto, o médico e o rapaz tentaram adequar o banco do carona do Hispano-Suiza para o conforto máximo da garota. Quando saíram do Hospital, levaram junto o par de muletas – por cortesia do hospital – e Henry garantiu ao médico e às enfermeiras de que não seria necessária uma cadeira de rodas, pois ele mesmo carregaria a garota nos momentos necessários. Ash, o coelho cinza, também fora devolvido à garota depois de lavado por funcionárias do hospital.

Naquele início de tarde retomaram sua viagem. Henry havia dito alguns dias antes que, de acordo com o médico, eles estavam em Storstrom, na Zelândia – região a qual vem uma grande ilha a sudeste da Dinamarca.

– Daqui, iremos até um porto de Lolland e embarcaremos em um navio até Puttgarden, na Alemanha – começou a informar o rapaz, enquanto dirigia. – Depois iremos de carro até Hamburgo e de lá tomaremos um trem até onde for possível chegar.

Catherine assentiu para ele, sentindo-se exausta. Estava sentada da forma mais confortável possível, pois o assento de couro também fora coberto por uma coberta grossa e macia de lã.

– Tente dormir o quanto puder – disse di Castle, percebendo a expressão da pequena. – Você se esforçou demais na reabilitação e acabou se excedendo. Não será bom se continuar sobrepujando seus limites.

Ela consentiu em silêncio e aquele foi o fim do diálogo. Este também foi o último da viagem, que se seguiu sob uma calmaria tensa e quase palpável. Eles já haviam chegado a Hamburgo para tomar o trem, conforme fora planejado, e o silêncio ainda prevalecia sobre eles. Havia apenas algumas poucas trocas de palavras, completamente triviais – algumas sobre refeições e outras a respeito do tempo ou itinerário do restante da viagem.

Catherine começou a sentir o incômodo que aquela situação gerava e logo se viu atordoada e ansiosa; porém não demorou a compreender o que tudo aquilo significava (mesmo que fosse um sentimento unilateral e estivesse afetando apenas a ela): aquela era sua punição, a penalidade que deveria receber em retorno ao incidente que provocara, o qual afetara a ambos. Ela sabia que Henry a estava sentenciando do seu próprio jeito. E estava funcionando, ele sabendo ou não; estava sendo torturante, afinal ela queria ter sua presença aceita por ele, mas não sabia mais o que fazer.

Foi preciso tomar três trens até se aproximarem o suficiente da fronteira com Luxemburgo – era necessário que houvesse algum vagão de carga disponível para transportar o Hispano-Suiza, e alguns não tinham essa disponibilidade. Para embarcar o carro, Henry sempre pedia para falar diretamente com o responsável pela estação e, em particular, mostrava a esse um documento que lhe dava permissão para transportar o veículo – e, considerando a origem e a autenticação do documento, a autorização lhe era concedida sem maiores questionamentos. Catherine não compreendia de onde vinha toda aquela autoridade que dava a Henry uma posição de privilégios perante tantas situações, mas percebera, em dado momento, que tudo estava ligado a um emblema que se apresentava no documento e em um broche preso às vestes do rapaz – bem como, ela descobriria mais tarde, estava gravado na face interna de um relógio de bolso que Henry sempre carregava consigo.

Quando finalmente se aproximaram da fronteira, foi o momento de retomar a viagem de carro. O silêncio que vinha atormentando a jovem até ali foi suspenso quando Henry decidiu fazer uma declaração – a qual, em outro instante, também teria sido trivial, não fosse pela ansiedade da pequena em ouvir a voz dele mais apaziguada.

– Eu moro em Clervaux, no distrito Diekirch, ao norte de Luxemburgo, mas viajo até capital com frequência – disse ele despreocupadamente. – Quando preciso permanecer muitos dias por lá, fico hospedado em um hotel já convencionado.

Catherine não sabia se deveria dizer algo ou não, mas tentou arriscar:

– Ir para a capital com frequência... O senhor faz isso por causa do seu ofício? – Sugeriu, sem saber o que mais dizer.

– Sim, a filial para qual trabalho fica lá. Às vezes recebo o trabalho explicitado diretamente por correspondência, o que me poupa uma viagem.

Catherine ficou curiosa quando o rapaz mencionou a palavra filial – sendo um detetive particular, ele não deveria trabalhar de forma exclusiva e reservada? Então, o que significaria trabalhar para uma filial? Talvez ele prestasse serviços a algum grupo do ramo de investigações policiais. Ficou matutando por alguns instantes, mas por fim decidiu não continuar pensando a respeito, pois não seria conveniente iniciar um interrogatório por causa de sua curiosidade.

Ela nunca viajara para outros países além da Dinamarca (para visitar seus tios) e da França (quando ocasionalmente saía em alguma viagem de férias com seus pais). Em Luxemburgo tudo era novo, tudo era diferente e muito bonito. Durante os dias em que estiveram viajando, ela se recuperara ainda mais e suas dores não a limitavam mais tanto, pois agora eram fracas e inconstantes; mesmo o movimento das pernas já estava recuperado, embora não completamente devido à fragilidade dos músculos e dos ossos.

Encantada com o novo cenário que a cercava, a pequena colou-se contra o vidro da janela do automóvel na tentativa de captar todos os detalhes.

Henry percebeu e riu:

– Tente não atravessar o vidro, por favor. Isso me custaria muito caro – brincou.

O comentário soou casual, mas a forma como foi expresso deixou Catherine surpresa – jamais lhe ocorrera que Henry fosse capaz de rir, de expressar uma reação de diversão (ao menos não para ela). Entretanto, manteve-se calada para não dizer algo que fosse desagradá-lo e acabasse com aquela nova e frágil tranquilidade. Pela meia hora seguinte, ela tentou se concentrar na paisagem, mas mesmo seu esforço estava sendo abalado pela lembrança daquela breve risada, que ficara ecoando em sua mente.

Quando o carro entrou em um trecho de cascalhos, Catherine finalmente tornou a prestar completa atenção ao cenário passando pela janela. A paisagem mudara um tanto: as casas e prédios, que antes os cercavam de ambos os lados da estrada enquanto atravessavam o centro de Clervoux, foram substituídos por bosques e morros cobertos de mata nativa ainda intocada pelo homem. Esta visão deixou a garota ainda mais encantada, dando-lhe a sensação de ter entrado em um conto de fadas.

Logo adiante, dobraram à direita em uma curva, seguiram mais alguns metros e atravessaram uma ponte de pedra, que se erguia em arco sobre um tranquilo e sinuoso riacho, flanqueado por barrancos; do outro lado, a estrada de cascalhos seguia por mais um trecho, mas o bosque havia ficado para trás, arrastando-se para cobrir um vale ladeado por uma cadeia de montanhas. Catherine percebeu que haviam entrado em uma colina descampada, da qual se tinha uma visão completa do vale que se estendia ao sul do local. Este lugar é muito lindo, pensou maravilhada. É incrível!

Quando o automóvel finalmente parou, a garota olhou para frente, vendo além do para-brisa, e percebeu que haviam parado diante de uma elegante casa. Era uma construção abastada, de dois andares - três, se considerado o último sob o enorme telhado de ardósia, do qual se via projetar-se uma janela dupla, coberta por um telhadinho exclusivo. Era uma mansão de xisto, toda elevada em quase um metro por uma sólida base de granito; uma escadaria polida do mesmo granito se erguia em direção a porta dupla de entrada, a qual também possuía seu telhado particular - grande suficiente para cobrir a larga entrada e seus degraus. O que mais chamava a atenção eram as numerosas janelas em arco: no primeiro andar, duas grandes ladeavam a entrada principal, centralizadas cada uma em sua metade; já no segundo, uma janela imensa, dividida em quatro partes ligadas por dobradiças, se posicionava ao centro da parede, logo acima da entrada, também sendo ladeada por duas gêmeas em arco (sendo estas mais estreitas que as do andar inferior). Na parede sul, uma janela curva inteiramente de vidro se destacava da base de granito (igualmente arredondada neste ponto) até um pouco abaixo do telhado, coberta por pequeno telhado arredondado para acompanhar sua simetria. Entre os dois pavimentos havia outra camada de granito e esta atravessava ao meio a enorme janela curva, mas sem tirar sua elegância. No lado norte havia uma peça menor - provavelmente um cômodo mais reservado, pois as paredes que o formavam mostravam-se apenas de um nível -, mas ainda assim tinha um pé-direto mais alto que o primeiro nível do restante da construção, destacando o anexo do restante, mas sem tirar-lhe o charme. Na parede frontal três janelas muito estreitas se distanciavam uniformemente, mas cada uma se encontrava em uma altura diferente da outra. Uma escadinha de janelas, pensou Catherine empolgada com cada novo detalhe do lugar. Um caminho regular de pedras claras iniciava logo à frente de onde o automóvel fora estacionado e terminava uns vinte metros depois, diante da escadaria de granito; Catherine percebeu que havia uma ramificação da trilha que levava aos fundos da mansão, contornando o cômodo menor ao norte, seguindo em direção ao bosque que estendia atrás da casa. Ficou curiosa para ver aonde ela levava, mas não se deteve a pensar muito nisso; em algum momento descobriria por si mesma, afinal aquele provavelmente era seu novo lar e teria muito tempo para explorá-lo.

– Chegamos – anunciou Henry, num tom quase arrastado, o que fez a menina interromper seus pensamentos e se virar para ele. Ela não havia percebido antes, mas ele apresentava olheiras profundas sob os olhos azuis cobalto e seus cabelos loiros acinzentados se colavam ao pescoço e à nuca; aparentemente ele tentara pentear a longa franja para trás com os dedos, mas parte dela tornara a cair, algumas mechas colando-se às têmporas.

Percebendo o olhar que a pequena lhe lançava, Henry apressou-se em sair do automóvel e ir pegar suas malas no bagageiro; Catherine, sem saber o que fazer, seguiu-o para ajudar com algumas bolsas, embora ainda se movimentasse mais lentamente que o normal.

– Não se sobrecarregue. Pegue apenas o necessário – disse ele enquanto seguia pela trilha principal sem olhar para trás.

Pegando a bolsa onde guardara seus poucos pertences, tomou o mesmo caminho que o rapaz. No mesmo momento começou a ficar nervosa, sentindo seu coraçãozinho bater muito depressa. Ela sabia que tudo aquilo era muito novo e repentino, e sabia também que nunca mais teria sua vida de volta. Mesmo sendo tão jovem, a pequena entendia sua nova realidade, mas de repente tudo ficou confuso e o medo começou a envolvê-la – medo de entrar naquela casa, medo de entrar nessa nova vida que lhe parecia tão estranha e enevoada, medo de não seguir em frente. Sem perceber, lembrou-se da mãe e de sua antiga casa em Warwick, e a saudade invadiu seu peito, trazendo consigo a vontade de chorar. De cabeça baixa, sentiu seus olhos embaçando, mas um ruído fê-la erguer o rosto novamente e olhar para frente. O som vinha da porta dupla de entrada se abrindo e Catherine percebeu alguém saindo por ela; era um homem.

Inclinando a cabeça para o lado na tentativa de enxergar melhor à frente, a pequena percebeu que o homem seguiu na direção de Henry e que vinha sorrindo.

– Harry, finalmente! – Saudou-lhe. Parecia feliz e aliviado ao mesmo tempo, e aquela alcunha que ele usara deixava claro que deviam ser muitos próximos.

Próximos, sim. Parentes, dificilmente. O homem também era alto e jovem, aparentando ter pouco mais que Henry (talvez um ou dois anos), mas a tonalidade de sua pele deixava tudo mais curioso: parecia fortemente bronzeada, mas não havia dúvidas de que era um tom natural. A menina não tinha certeza de onde ele poderia ser, mas tinha um palpite, baseando-se nas histórias que seu pai contava sobre suas inúmeras viagens pelo mundo: provavelmente um indiano. De fato, esta seria a primeira impressão de qualquer um que o visse, mas também seria questionável, pois à medida que ele foi se aproximando, seus olhos colocaram essa ideia inicial em dúvida, afinal não eram escuros como se esperaria de um asiático; pelo contrário, eram lindamente dourados como os de um gato. Esta imagem foi a que Catherine conseguiu associar a ele - que ele parecia um enorme gato preto de olhos amarelos e brilhantes -, ideia que se reforçava graças aos cabelos lisos e negros penteados para trás.

– Nossa! O que houve com você? Está mais branco do que papel – comentou ao chegar perto o bastante do outro e sacudir-lhe levemente os ombros, sorrindo.

– Longa história – respondeu-lhe Henry, suspirando.

Cansado de segurar as maletas, abaixou-se e largou-as nos degraus da escada. Ao fazer isso, permitiu que o indiano visse a menina parada logo atrás, a qual observava tudo silenciosamente. Confuso, o mesmo desfez o sorriso e questionou:

– Harry, quem...

Entendendo a pergunta mesmo antes de ser terminada, o rapaz endireitou-se e respondeu logo, fazendo uma apresentação rápida, mas sem muitas explicações.

– O nome dela é Catherine Duran, e ela passará a viver conosco daqui pra frente - disse, tirando alguns papéis do bolso interno do casaco e entregando ao outro, enquanto passava por ele e seguia para a entrada.

– S-senhor... - chamou a menina timidamente, sem saber o que fazer ou dizer.

Detendo-se brevemente na porta, Henry virou metade do corpo e acrescentou:

– Este é o Darell, ele é meu amigo e meu assistente. Se precisar de qualquer coisa, peça a ele - disse, gesticulando com a mão na direção do indiano, enquanto este abria os documentos que lhe haviam sido entregues.

Por um breve segundo antes de Henry desaparecer pela porta, Darell leu rapidamente o cabeçalho de um dos papéis e entendeu que se tratava de documentos de adoção - os quais o detetive adquirira em Copenhague.

– Henry, isso é...

– É - respondeu rapidamente. - Acomode-a no quarto de hóspedes por enquanto, até providenciarmos algo melhor - instruiu e seguiu porta adentro, murmurando para si mesmo algumas últimas palavras. - Droga, estou exausto.

O indiano Darell e a pequena ficaram observando do lado de fora enquanto o rapaz subia uma grande escadaria branca do hall principal até o piso superior, apoiando-se na balaustrada de pedra esculpida. Quando ele desapareceu em um corredor, ambos se viram em uma situação tensa, pois não sabiam como agir ou o que dizer um ao outro. Darell observou a garota com seus olhos cor de mel e percebeu que ela se sentia acuda, então assumiu uma postura que acreditou ser mais adequada, na tentativa de quebrar a estranha tensão entre eles.

– Então seu nome é Catherine? - perguntou gentilmente, expondo um sorriso semelhante ao que havia mostrado a seu amigo, instantes antes.

Catherine apenas acenou com a cabeça, mantendo-a baixa.

– Ora, está tudo bem. Eu não mordo - brincou. - Venha, vou te levar ao seu novo quarto. Deixe-me só... – complementou ao pegar as maletas de viagem que Henry havia deixado na escadaria externa e colocando-as para dentro, logo ao lado da porta. - Bem, depois resolvo isso. Vamos?

Ainda hesitante, a pequena ergueu um pouco a cabeça e acenou novamente. Ainda movida pelo sentimento de insegurança, ela começou a se sentir um incômodo, afinal era uma estranha chegando para morar em um lar que já era de alguém, mesmo que não fizesse muito sentido pensar de tal forma. Ninguém a estava colocando nessa posição, embora sentisse que aquele homem chamado Darell pudesse pensar assim. A decisão de adotá-la fora do senhor di Castle, mas e se seu amigo não aprovasse a decisão e se aborrecesse com ela, e se...

– Venha, deixe-me carregar sua bolsa para você - disse o homem, interrompendo os pensamentos de Catherine, o que a fez olhar na sua direção. Ele estava com a mão estendida e apresentava um sorriso gentil. - A senhorita não deveria se esforçar demais sendo que tem dificuldades para se mover – observou. – Posso ajudá-la a subir a escada também, se quiser.

Acho que ele não vai se aborrecer comigo. Ele parece legal e tem uma voz bem serena.

Sentindo-se mais tranquila, Catherine sorriu e seguiu Darell para dentro da casa.




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Notas finais do capítulo

hei, hei minna! Gostaram?
Espero fazer o próximo capítulo até a primeira semana de junho, mas não garanto muito.
Enfim, espero que eu tenha feito um bom trabalho (até porque descrever a "humilde" casa do Henry roubou meu tempo e minha paciência XD). Estou anexando a casa na qual me baseei para descrever a da história (mas esta original está virada ao contrário do que eu descrevi); quando der, coloco um esboço da que eu realmente imaginei.
Arigato, minna!
Adoro vocês, e não esqueçam do review!



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