Um despertador barulhento berrou.

Sara acordou gritando com os olhos vermelhos e colocou logo a mão em sua barriga. Intacta. Com vida, sem sangue.

Ela levantou-se e desceu as escadas rapidamente, sua mãe estava sentada vendo t.v. alegremente segurando um bebê em seus braços enquanto seu pai lia normalmente o jornal.

- Que bebê é esse, mãe? - Sara perguntou com um embrulho no estômago.

- Ora, Sara. Já conversamos sobre a sua inveja mútua do seu irmão, por favor, pare com essa baboseira! - A mãe respondeu.

- Meu irmão? Que brincadeira é essa? - Sara encrispou a testa.

- Amanhã você tem dentista, querida. - O pai falou olhando para Sara por cima do jornal.

- De novo? Fui há menos de um mês. E só vou nos dias três ou quatro. - Sara falou ainda com a testa encrispada.

- E você acha que hoje é que dia, querida? - A mãe levantou-se. - Hoje é três de abril. 

- Não, não é! - Sara berrou subindo as escadas.

Sara foi até o seu calendário e percebeu que nenhum dia havia sido marcado, apenas o 01 e 02. Nem mesmo o dia 12, no qual seu irmão falecera, constava ali. Era como se...

'' - Eu voltei ao passado? Não, isso não é de volta para o futuro e até Einstein ou Freud duvidariam de mim. Eu estou sonhando... Ou realmente morta. Sonhando e morta, é. Isso mesmo. ''

Sara vestiu-se rapidamente e saiu correndo pela rua, queria encontrar algo que provasse que aquilo talvez fosse um delírio. Ela havia sido morta, faltava algo dentro dela e isso a incomodava. Ela sabia que tinha morrido, ela tinha sentido a intensa morte que obtera naquele chão melecado de sangue. 

A escola estava normal; os jornais mais ainda. Sua mãe tampouco estava dopada ou chorando. Seu irmão vivo. Que diabos acontecera?

'' - Tem algo estranho acontecendo aqui... ''