Os primeiros raios de sol da manhã londrina atravessaram preguiçosamente a janela de um dos quartos da casa verde e suntuosa onde o jovem "esquisito" da vizinhança morava.

Draco acordou aos poucos sentindo uma claridade incômoda invadir sua visão. Ele se mexeu a fim de esfregar os olhos mas percebeu que Hermione Granger estava deitada em seu peito.

"Hermione Granger?!" - Ele pensou de sobresalto. O pequeno pulo que o jovem deu na cama foi o suficiente para despertar a bruxa.

"Oh droga!" - Pensou ele ao se lembrar do dia anterior.

Sentou-se rigidamente na cama e pôs as mãos na cabeça esperando pelos berros da garota. Era de se esperar... ela ficaria uma fera. "Ela vai me castrar..." Pensou o jovem com pesar. As acusações e os xingamentos no entanto não vieram. Ele afastou as mãos do rosto para observar Hermione.

- Quem é você? - A garota perguntou confusa.

- Como assim quem sou eu? - Perguntou ele de volta mais confuso ainda.

- O que está fazendo aqui?  Quem é você? - Perguntou a garota arregalando os olhos. Uma sombra de desespero passou pela expressão da grifinória e Draco ficou temeroso pelo que podia acontecer caso a moça se descontrolasse. Resolveu ser cauteloso.

- Bem... Sou Draco Malfoy. Eu moro aqui.

A bruxa pareceu pensar.

- Draco Malfoy. - Ela repetiu - Gosto desse nome. - Disse Hermione para o choque do sonserino.

- Então Draco Malfoy, o que eu faço aqui? - Ela perguntou inclinando a cabeça para um lado. Um gesto gracioso e infantil na opinião do jovem.

- Você.. você não sabe? - Perguntou o rapaz bestificado. A garota fez que não sacudindo infantilmente a cabeça.

- Você... não lembra? - Ele tornou a perguntar.

A questão pareceu perturbar um pouco a moça que se encolheu e abraçou os joelhos balançando a cabeça negativamente. O gesto preocupou Draco.

- Você sabe quem é? - Ele tentou.

- Hermione Granger. - Respondeu ela automaticamente.

O rapaz ficou um pouco aliviado.

- Sou Hermione Jean Granger. - Ela repetiu balançando pra frente e pra trás na cama.

- O que mais você sabe? - Draco arriscou.

A moça parou de se balançar e olhou tristemente para o loiro ao seu lado antes de responder:

- Eu não sei mais nada.

O rapaz deixou escapar um chiado. Ele estava perplexo. Que diabos havia acontecido?

- Isso mesmo Potter. Ela está aqui na minha casa. Respondeu Malfoy num tom letal. O moreno estava quase espumando e ele não ficava atrás. Até quando aquela rivalidade idiota iria durar?

Ele havia explicado brevemente o acontecido a Harry via pó de flu enquanto Hermione tomava um banho. Encontrava-se com metade do corpo dentro da lareira enquanto a outra metade estava ajoelhada. a cena era bizarra e o loiro achava aquilo totalmente desconfortável, mas era um esforço necessário.

- Draco Malfoy. O que eu devo fazer com isso? - Perguntou a garota inocentemente enquanto segurava um colete social branco de Draco estendido a sua frente.

O jovem quase engasgou ao ver que Hermione estava praticamente nua, apenas vestida (e mal vestida diga-se de passagem) com uma samba-canção preta, no meio de sua sala.

- Por Merlin Granger! Você não lembra como se vestir?! - Disse ele esbaforido corando um pouco. Em outra situação o sonserino aproveitaria o evento, mas a inocência estampada no rosto da garota o constrangia.

A moça pareceu murchar. Ela se encolheu um pouco no lugar e abaixou a cabeça. Draco percebeu que ela iria chorar.

- Quero... quero dizer... Não tem problema em não lembrar não é mesmo? Deixe-me lhe ajudar com isso... - Falou o rapaz se aproximando lentamente da garota como se ela fosse uma bomba relógio prestes a estourar. - Anh... me dê isso aqui por favor...

Hermione levantou a cabeça minimamente e estendeu o colete. Draco virou-se de costas para a garota, respirou fundo e transfigurou o colete num vestido simples e  branco de verão. Estava frio mas era o máximo que sua imaginação e seu senso de moda feminina permitiram.

- Tome. Coloque  isso. - Ele disse estendendo o vestido às cegas para a garota por cima do ombro,  ainda de costas. Aguardou por uns minutos em silêncio...

- Conseguiu? - Ele perguntou meio nervoso.

- Sim. - Disse Hermione. - Mas, Draco Malfoy, o que eu faço com isso? - Indagou lhe estendendo , dessa vez, a samba-canção.

Draco quase teve um enfarte ao imaginar se ela estava ou não com o vestido do jeito certo. Virou-se cautelosamente para a moça e com alívio percebeu que ela havia se acertado com o vestido.

- Draco Malfoy? - Repetiu Hermione confusa com a peça de roupa ainda estendida na direção do rapaz.

- Ah claro! - Disse ele pegando a cueca. - E me chame só de Malfoy. Ou de Draco. - Salientou.

A jovem bruxa assentiu e ficou parada olhando para o rapaz.

O jovem pigarreou antes de falar:

- Porque não se senta?

A bruxa se encaminhou para um sofá e sentou-se obedientemente.

Draco não soube o que dizer. Aquilo tudo era bizarro e muito muito surreal.

"Meu Deus... Ela não deve sequer saber que é bruxa..."

O jovem olhou para Hermione sentada no sofá observando tudo muito curiosa. Seus olhos castanhos mudando de direção a cada segundo.

O auror sentiu fome e automaticamente virou-se para a cozinha, mas ao pensar que Hermione também devia estar com fome, virou-se de volta para a garota.

- Você está com fome? Sabe o que é fome... certo? Draco achou a pergunta estúpida, mas vai saber...

- Sim eu sei, fome é o alerta que o corpo humano envia median... - Começou a jovem mas o bruxo a parou.

- Eu também sei o que é fome. - Disse ele sério. Adicionou um sorriso amarelo ao ver que a garota abaixara a cabeça ao ser interrompida. - Bem... Não precisa ficar triste. - O rapaz falou sorrindo um pouco mais convincentemente.

Hermione o olhou sorrindo pra ela e não teve dúvidas. Retribuiu o sorriso e disse:

- Eu estou com fome, Draco.

O jovem ficou um pouco surpreso por ver que ela optara o chamar pelo primeiro nome. Também notou que ela continuava sendo esperta e aprendendo rápido. Não pode deixar de sorrir abertamente em resposta ao lindo sorriso que ela lhe enviara.

- Venha comigo, vou lhe mostrar uma cozinha mágica.

Ele se pegou dizendo.

Hermione se encaminhou para onde ele estava e rumaram calados para a cozinha.

- Draco?

- Sim?

- Porque aquilo está se mexendo e fazendo barulho?

- Porque é o que ele faz.

Explicou Draco para a moça que o indagara a respeito de um liquidificador mágico.

- Você gosta de morango? Questionou o rapaz.

- Sim, eu gosto de morango. Morangos são frutas.

"Interessante" - Pensou ele antes de servir um prato de panquecas de morango para a garota.

Eles estavam, por mais absurdo que pareça, tomando café da manhã juntos. Tudo era muito bonito e agradável para Hermione, que observava e escutava o loiro muito atentamente enquanto ele lhe explicava que ela não precisa explicar tudo o que sabia tempo todo.

"Ele é tão gentil e bonito. É um anjo. É meu anjo."  Hermione estava bebendo seu leite e observando o loiro com admiração quando ouviu um pop!

- Draco, o que foi esse barulho? - Ela perguntou colocando a caneca de leite na mesa.

- Que baru... - Ele se interrompeu ao ouvir passos apressados ecoando pela casa.

- Draco, o que é isso? - Perguntou  a garota arregalando os olhos e apontando para a varinha que Draco tirara das vestes automaticamente.

- É uma varinha Hermione, por Merlin! - Disse o rapaz arregalando os olhos. Ele havia a chamado de Hermione de novo.

- O que é Merlin? - A garota perguntou inocentemente mas não obteve resposta, pois nesse instante dois estranhos adentraram na cozinha.

- Hermione! - Gritou Rony ao vê-la.

- Não... Não... Não! Sai! SAII! SOCORRO! NÃO! NÃO! NÃO! POR FAVOR NÃO! SAI! SAI! NÃOOOO" -A garota gritava e chorava em desespero.

- Hermione? O que...? Harry sussurou perplexo.

- NÃO! NÃO! NÃO! POR FAVOR NÃO! SAI! SAI! NÃOOOO" - A esta altura ela já estava no canto mais afastado da cozinha encolhida no chão se debatendo sem parar.

- O que você fez com ela?! - Berrou Rony apontando a varinha para Draco.

- Mione, somos nós. - Disse Harry indo em direção a amiga com a mão estendida.

- NAAAAAAAAÃOOOOO! NÃO ME TOCA! ME SOLTA! SAAI!

- Hermione... - Sussurou Harry chocado.

- O QUE VOCÊ FEZ COM ELA? - Berrou Rony mais uma vez.

- Eu a achei num beco escuro, desacordada... -O loiro sentiu que iria explodir se Hermione continuasse a chorar daquele jeito. Ele olhou a garota em seu surto e voltou sua atenção, subitamente inflamado, para os dois homens à sua frente.

-Já expliquei tudo ao Potter, Weasel. Agora, por gentileza... -Disse o rapaz apontando para a saída da cozinha, que dava na sala, com a cabeça.

Os dois grifinórios pareciam não tê-lo ouvido.

 - SAIAM DAQUI, AGORA! ESTÃO A PERTUBANDO! - Exclamou Draco bufando de ódio ao ver que Ronald ia em direção a garota.

"Eles são idiotas ou o que?" - Pensou Malfoy

- Hermione, sou eu, Rony. Vamos pra casa e... - tentou o ruivo olhando para a castanha que ainda estava no canto da cozinha chorando. Ele parou.

- Seus idiotas! - Disse Draco arrastando os dois para a sala. Ele perdera o controle.

- Esperem aqui e fiquem calados! - Disse o loiro voltando para a cozinha.

Harry e Rony se entreolharam temerosos. Os olhos do ruivo brilhavam com lágrimas que ele não derramaria nem sob tortura. Que teria acontecido a sua doce Hermione?