Resistance escrita por Jones, isa


Capítulo 11
O anjo, o cavaleiro e o astronauta




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As corujas circularam por todo o salão principal, pousando e levantando voo a medida em que entregavam correspondências. Rose esqueceu completamente o café-da-manhã pela expectativa de ver o que havia dentro da caixa branca muito grande recém-entregue por sua ave. Contendo a vontade de abri-la e rasgar o embrulho feito criança, apanhou primeiro o bilhete.

Rosie, seu pai fez questão de escolher a fantasia. Ele discursou durante meia hora sobre como você era o nosso anjinho e nunca nos deu dor de cabeça. Por fim, eu concordei que o traje cairia bem em você. Esperamos que tenha um baile incrível.

TAMBÉM DESEJAMOS QUE VÁ SOZINHA!

P.s.: Ignore a frase acima, querida. Também espero ter conseguido tirar o cinto de castidade que Ronald fez questão de mandar como acessório, mas caso você esteja vendo-o agora... Sinta-se a vontade para jogá-lo fora. Seu pai não perde a oportunidade de fazer uma cena.

Te amamos.

Antes que Rose pudesse conferir, James já estava fuçando a caixa dela.

— Hey! – ela espanou a mão dele com um tapa.

— Você sabe que independente da minha madrinha ter ou não tirado seu cinto daí, ele sempre existirá na minha mente e no meu coração, não sabe? Zoarei você pelo resto da vida por conta dele.

— Deixe de ser bisbilhoteiro. – Rose bufou, enrubescida.

— Tudo bem, anjinho, sem estresse – e recebendo um beliscão em resposta, ele riu, fazendo careta.

Weasley aproveitou a brecha para roubar a caixa dele. Se bem conhecia os pais, eles provavelmente tinham ido atrás das fantasias junto com seus tios Potter porque sempre inventavam uma desculpa para se encontrarem.

— O que é isso? – Perguntou estendendo a roupa indefinida de James. Foi a vez dele de enrubescer.

— Mamãe gosta de toy story— sussurrou, deprimido – E meu pai só pode ser traumatizado com algum baile da escola para deixar que ela comprasse uma roupa de astronauta para mim.

— Ou talvez ele só esteja cumprindo aquela ameaça bonita do ultimo verão. – fingindo arrumar um óculos imaginário, ela engrossou a voz, antes de repetir as palavras do tio: – James, vingança é um prato que se come frio!

— Ele não seria tão ruim... Seria? – com outra careta, afundou as mãos no rosto, frustrado.

— Meu pai tem sérios problemas com a idade – Rose afirmou – Se eu tivesse dito a ele que ele estava ultrapassado e que era velho demais para jogar quadribol, ele com certeza guardaria rancor.

— Que horror. Abbie vai fugir de mim. – rindo, Rose encostou o rosto no ombro dele em solidariedade. Juntos, eles viram os irmãos mais novos, apenas alguns metros afastados vendo as próprias fantasias.

Hugo iria de Peter Pan. Ele estava prestes a armar uma cara quando Lily disse que achava fofo. Alias, a garota iria de Ariel o que não era só fofo, como também um tanto sexy e nem James nem Alvo nem Hugo tinham certeza se gostavam da fantasia (o que fez Rose se prontificar a discursar para James que ele não tinha que gostar de nada e que ele deveria rever esse tipo de atitude masculina tóxica). Por fim, tinha Alvo, exultante pela fantasia de Darth Vader.

— Com certeza é pessoal – James fez um muxoxo, cruzando os braços. – Custava eles mandarem o que eu pedi?

Rose riu, já bem humorada, e meneou a cabeça, observando melhor a própria fantasia. As asas eram realmente bonitas, ao passo que o vestido era branco, longo e simples. Era melhor assim; não se sentiria desconfortável e não tinha que se preocupar com muitos acessórios.

Olhando de esguelha por cima do ombro, ela mirou a mesa da Sonserina. Esperava encontrar Scorpius e mostrar o que tinha ganhado, mas ao invés disso, seu olhar cruzou com o de Phil que aparentemente também tinha recebido a fantasia, já que levantou vestes de príncipe, animado. Ela sorriu e voltou a encarar a própria mesa.

— Ora, ora, se não é o pequeno príncipe. – James sussurrou maldoso.

— James! – Acertando uma cotovelada fraca em seu estomago, ela o ouviu rir alto.

— Só estou brincando, eu hein. Você que pensou em coisas perversas, anjo. Ser de luz. Sagrado pó de éter. Casta. Divinississima Ro... – e antes que ela o estapeasse de novo, James sorriu e encolheu os ombros, parando de implicar porque Abbie estava se aproximando.

— Sabe, não me admira que nem seus pais te aguentem! – mas ela acabou rindo como ele. – Idiota.

— Também te amo, Rosie. – e beijando o rosto da prima, bagunçou-lhe o cabelo antes de lhe lançar um olhar de suplica, a medida que Jones chegava mais perto – Por favor, por favor, convença-a de que eu não sou um completo babaca apesar da minha fantasia – e então escapuliu rápido da mesa.

— Ué, onde ele foi? – Abigail perguntou sentando na beirada do banco, perto de Rose. E então, reparando no pacote aberto, viu a fantasia - Ao infinito e além! – exclamou animada. – É sua?

— Não – Rose riu – É de James. Ele fugiu porque é um covarde e achou que você iria despachá-lo em um piscar de olhos. Masculinidade frágil. Ele está trabalhando nisso. - tentou defender. 

— Gosto do Buzz Lightyear. – Abigail riu, divertindo-se – Eu tenho um priminho trouxa sabe, vejo todas essas animações nas férias...

— Eu não tenho primos trouxas, mas meus avós maternos se amarram também. – Rose comentou sorrindo.

E enquanto as garotas se conheciam, James seguia em direção a sala precisa. Assim como Scorpius se tornara bom em poções por necessidade, ele se tornara bom em transfiguração por interesses próprios, não por nota.

— Ok – disse esfregando uma mão na outra, enquanto se concentrava e encarava a armadura. – Vamos ao trabalho.

Quase uma hora depois, admitindo que ele só poderia estar em um lugar, Scorpius foi ao seu encontro.

— Ainda bem que você chegou! – James disse sem nem mesmo se virar para ver quem era. Obviamente era fácil de deduzir, já que a sala precisa era uma lenda para boa parte da escola. – Porque demorou tanto? – ele sussurrava coisas ininteligíveis e fazia floreios e mais floreios com a varinha.

Se Scorpius soubesse do arquétipo cinematográfico cientista maluco ou derivados e tivesse consciência de seus significados, com toda certeza associaria e descreveria James assim.

— Ham... Talvez porque você não me pediu para vir. – o menino coçou a cabeça com medo de se aproximar.

James o ignorou.

— Quanto você mede?

— 1,85.

— Certo – murmurou mais para si mesmo do que para o garoto – Mais alguns pequenos ajustes...

Malfoy se sentou no chão, escorou as costas na parede e fechou os olhos. Sabia que era de mais serventia calado.

— Pronto – James anunciou depois de uns bons minutos, colocando a varinha atrás da orelha. – Tenho quase toda certeza de que agora essa geringonça é só uma roupa.

— Quase certeza? – Scorpius se aproximou cauteloso.

— Vista. – James lhe estendeu a cota de malha – Quando estiver caracterizado veremos.

— E se você estiver errado? – perguntou ainda receoso.

— Bom, o máximo que pode acontecer é você ficar preso dentro da armadura. Talvez morrer sufocado, mas confio na minha varinha.

— Eu deveria responder a esse comentário?

— Acho melhor não. Vamos, vista-se logo.

— Você tem algum anti-feitiço para o caso disso não funcionar?

— Claro – mentiu e jogou-se num puff macio. – Você vai ficar ai enrolando, é isso? Eu posso fechar os olhos, juro que nada disso me interessa.

Scorpius olhou outra vez para a armadura jogada no chão. Estava bem menor agora. Estava do seu tamanho. De fato, era bem menos ameaçadora do que as outras da sala das armaduras. Não rangia e não parecia como se fosse ganhar vida de repente. Era bem similar aos trajes que ele vira tantas pessoas ganhando.

Tomando coragem, despiu-se do uniforme e já estava vestindo a cota quando a porta se abriu outra vez.

— Porque ela sempre aparece quando você está seminu? – James divagou e Rose enrubesceu instantaneamente, girando nos calcanhares e ficando de costas para eles.

— Me desculpe – ela gritou para Scorpius e ele resmungou algo sobre a importância de se bater na porta.

Uma vez vestido, foi com prazer que ele constatou que a roupa não estava tentando estrangulá-lo.

— Pode virar, Rosie – anunciou.

Ela ainda passou uns três minutos encarando a porta, só para garantir.

— E então? – James olhou para os dois com expectativa, esperando os elogios.

— Wow – Rose sorriu – Você quase parece bonito assim.

Antes que Scorpius pudesse responder, James tomou a palavra.

— Obrigado, Rosie.

— Ela nem estava falando com você!

— Mas deveria – James se defendeu – Fui eu quem fiz isso por você.

— É um pouco pesado – Scorpius andou devagar, observando-se.

— Ingratidão é um problema sério – James grunhiu.

— Está ótimo, bro. – Potter e Weasley gargalharam – O que foi, falei errado?

— Não, é assim mesmo. – Rose piscou.

— Então... – ele continuou – Obrigado, Jay.

— Tudo bem, cara. – sorriu – às ordens.

Rose ajudou Scorpius colocando-lhe o capacete. Depois de ajustar o aparato no pescoço do garoto, ela abriu a viseira, sorrindo para ele.

— Acho que é a melhor fantasia. - Ele sorriu também, embora ela não pudesse ver nada alem de seus olhos.

— Última pergunta – dirigiu-se aos dois amigos. – O que um cavaleiro trouxa faz?

— Fazia – Rose corrigiu, mas sorria.

— Certo, que seja...

— Ah, matava dragões, salvava donzelas de torres, essas coisas – James disse muito sério. – Rosie, também conta os cavaleiros do zodíaco?

— Você é burro? – Rose guinchou, revirando os olhos – É claro que não. Primeiro porque não existem dragões no mundo trouxa. Cavaleiros eram homens dotados de coragem e grandeza intitulados por senhores feudais ou reis. Eles realizavam missões, guerreavam, exerciam diplomacia em nome do que lugar onde representavam e coisas assim. Ao menos na teoria. – James parecia tão perdido na explicação quanto Scorpius, mas os dois balançaram a cabeça veementemente.

— Mas também salvavam donzelas? – Malfoy quis saber, subitamente interessado.

— Só nos contos infantis.

— Naqueles livros que você ainda gosta.

— É. – levemente envergonhada, ela encolheu os ombros enquanto os garotos trocavam olhares.

— Mandei uma coruja para Ginevra e Harry. – James disse irritado, mais tarde na sala comunal. – Como é possível que vocês dois tenham ficado com fantasias legais e eu com essa de desenho animado infantil?

— Ginevra e Harry? Você quis dizer nossos pais? – Lily ergueu a sobrancelha. – Sem contar que a minha fantasia também é de desenho animado e eu não estou reclamando. Aliás, a minha é muito bonitinha.

— E muito indecente. Mencionei isso na carta também... Não sei pelo que Harry tá me punindo, mas vai te deixar usar uma fantasia seminua e eu vou ter que usar uma roupa estúpida de astronauta. – James completou cruzando os braços. – Já providenciei para que mamãe troque o biquíni por um maiô.

— Ah, eu também mandei uma coruja para nossos pais. – Alvo disse apoiando o irmão. – Eu hein, você não deveria usar aquilo.

— Se meu pai, que é o meu pai, não se manifestou contrário à minha fantasia, porque eu deveria escutar vocês? – Lily disse revirando os olhos. – Vocês e o Hugo tem que parar com essa mania de querer se meter com o que eu faço ou deixo de fazer. Eu tô falando sério, isso não é nada legal. É meio primitivo. - os irmãos tiveram a decência de corar um pouco. - E até parece que o maiô chegaria de um dia para o outro...

— Desculpe, Lils. - James murmurou, antes de se virar para Alvo. - E você? Você conseguiu uma fantasia do Darth Vader, cara! O melhor vilão da cultura pop. E eu com esse astronauta idiota. O que eu devo fazer? Gritar ao Infinito e Além? – James escondeu o rosto com uma almofada.

— Eu acho sua fantasia muito legal, você exagera muito. – Alvo tentou disfarçar uma risadinha.

— Ah é? Então vamos trocar de fantasia, espertão. – James bufou.

— Bem, a minha é bem mais legal que a sua e, graças a Merlim, não cabe em você. – Alvo comentou, agradecendo o fato de ser dez centímetros mais baixo que o irmão e também um pouco mais magro.

— Ah, Al, eu acho astronautas bem mais legais que essa roupa esquisita preta que você vai usar. – Lily disse feliz ao perceber que não era mais o assunto. – É meio macabra, de onde vem isso?

— Star Wars, Lil. – Alvo riu, não estava surpreso por Lily não saber, enquanto assistia a filmes, Lily sempre estava jogando quadribol com James ou qualquer um que a chamasse. – E é para ser macabra, o cara é vilão.

— Bem mais legal que a minha. – James disse ressentido. Alvo e Lily giraram os olhos. – O que foi? É mesmo.

— Tem certeza que ele é o mais velho? – Alvo e Lily perguntaram um para o outro em uníssono.

— Hey, Abbie. - Alvo disse assim que a viu. – Estávamos falando sobre fantasias...

— E como sempre James está reclamando da dele, não é? – Jones disse revirando os olhos.

— Até você, pigmeu? – James implicou levando um tapa antes de um selinho da namorada.

— Sirius está se sentindo engraçado hoje. – Abbie disse se sentando perto de James. – Aliás, Alvo, Isobel Dawson me pediu toda envergonhada para te dizer que está te esperando no lugar de sempre.

— Lugar de sempre? – James repetiu com tom zombeteiro.

— Isobel Dawson hein, aí sim Alvo... – Abbie disse no mesmo tom. – Essa família Potter cheia dos encantos...

— Falando sobre mim, obviamente. – James sorriu, dando uma piscadela para a garota.

— Estava falando de Alvo e de Lily, na verdade. – Jones fez careta e James riu.

— Não vive sem mim. – Disse, depois de abraça-la.

— Bem, eu acho que... Ér... Tchau. – Alvo escapou correndo.

Enquanto o Potter do meio corria para não deixar Izzie esperando sozinha (ele detestava a ideia dela o esperando por muito tempo debaixo da figueira a caminho do campo de quadribol), Alvo esbarrou em Rose que estava sozinha sentada na escada que levava ao salão principal.

— Hey Rose, o que você está fazendo aqui sozinha? – Alvo perguntou, se sentando ao lado dela, uma vez que a prima parecia um pouco aturdida.

— Eu estou... É bem, pensando... – Rose disse, procurando as palavras corretas. – Você sabe com quem Scorpius vai para o baile de Halloween?

— Acho que sim, ele vai com Pam Folley. – Alvo disse, depois de pensar bem na resposta. Tinha certeza que ela já sabia, só precisava de uma confirmação por algum motivo. – Por quê?

— Porque... Por nada. – Rose disse passando a mão nos cabelos. – Você... Hmm, sabe se... Ele está namorando com ela ou coisa assim?

— Não sei Rose, mas... – Alvo tentou escolher as palavras certas, mas preferiu ser direto – Ele é seu amigo... Por que não pergunta para ele?

— Acho melhor não. – Rose disse, repentinamente vermelha de irritação. – Eu sou a melhor amiga dele, ele deveria ter me contado. Mas eu nem ligo, eu vou ao baile com o Phil, sabe? Ele pode ir com quem ele quiser.

— Ah claro. – Alvo disse com sarcasmo. – Acho que você liga bem mais do que diz Rose, a pergunta é: por que você, a pessoa mais inteligente que eu conheço, ainda não fez nada a respeito? - e então se levantou e deixou Rose sozinha pensando.  

Claro que não ligava. Scorpius podia namorar quem ele quisesse, beijar quem ele quisesse. Ela não ligava. Não ligava que ele beijasse outra e a abraçasse forte no dia seguinte.

Mas a quem ela estava tentando enganar? Sentiu-se traída quando ouviu de Phil que Scorpius arranjara uma companhia para o baile, sentiu-se traída ao descobrir que ele não havia lhe contado. E, mais do que isso, sabia que se sentiria mal ainda se ele a contasse.

O que sentia por Scorpius definitivamente ia além da amizade, constatou mais tarde, sentada naquela mesma escada.


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