Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 1
I




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 Há aproximadamente um ano, eu me mudei para Winnipeg com minha mãe e minha irmã, Louie, porque minha mãe havia fracassado novamente, dessa vez em seu terceiro casamento. Toda vez que isso acontecia, nós nos mudávamos para um estado mais ao norte, para começar de novo e tentar esquecer os últimos problemas. Nossa vida é assim desde que eu nasci, no Texas, e meu pai nos abandonou. Mudamos mais duas vezes, para o Kansas e depois para o Wyoming, antes de minha mãe encontrar seu terceiro marido em Oregon. Foi lá onde Louie nasceu e viveu por pouco tempo, até minha mãe conseguir acabar com mais um casamento.  Depois disso, ela simplesmente decidiu que precisava mudar completamente. Por isso que nos mudamos para o Canadá, para que minha mãe pudesse continuar com suas tentativas frustradas de arrumar um marido que não fosse alcoólatra ou dependente químico.

 Então lá estávamos, num país novo, rodeadas de gente nova. Não lembro quantas vezes eu tive que sair da escola nos primeiros dias para buscar Louie, porque ela não conseguia ficar na creche. Passei as duas primeiras semanas tentando adaptá-la à nossa nova rotina, porque minha mãe estava ocupada demais em entrevistas de trabalho. Quando finalmente consegui, foi a minha vez de se adaptar. Não posso dizer que essa operação foi um sucesso, porque não tenho muitos amigos na escola, mas também não posso reclamar de muita coisa.

 Uma coisa boa que o Canadá havia nos trazido era o novo emprego da minha mãe. Ela tinha cursado uma faculdade de administração e conseguiu um bom cargo numa empresa. Infelizmente, tinha ainda menos tempo para lidar comigo e com Louie. Passei a ser responsável por nós duas, coisa que não reclamei, já que ganhei um carro de presente ao completar dezesseis anos.

 Há uns seis meses, Louie fez amizade com uma garotinha do bairro, que sempre estava no parque aos sábados. Seu nome era Jazmyn e ela tinha um irmão menor chamado Jaxon. Sempre que levava Louie ao parque, os três ficavam brincando juntos.

 A mãe das crianças, Erin, conversava comigo algumas vezes. Era uma mãe mais dedicada do que a minha havia sido e eu admirava isso nela. Certo dia, pouco tempo atrás, ela estava apressada e não parava de falar ao celular; pediu para que eu ficasse olhando as crianças enquanto saía para resolver assuntos pessoais. Eu aceitei sem problemas. Desde que começara a cuidar de Louie, havia desenvolvido um amor incondicional por crianças. Elas eram tão pequenininhas e espertas que me fascinava. Erin saiu um pouco preocupada, provavelmente achando que uma garota de dezesseis anos não daria conta de três crianças pequenas, e me jurou que voltaria em pouco tempo.

 Três horas depois, ela apareceu.

 Nesse meio tempo, eu e as crianças brincamos de tudo que se pode imaginar. O problema foi quando elas ficaram com fome. Nós fomos até um restaurante vegetariano, o único perto do parque, e jantamos um pouco de salada e carne de soja. Acho que nenhum de nós estava muito acostumado a isso, mas Louie aprovou brócolis, assim como Jazmyn e Jaxon. Quando saímos do restaurante, eu não tinha muita certeza para onde ir, mas resolvi voltar para onde havíamos estado todo aquele tempo no parque. Peguei Jaxon no colo, dei a mão à Jazmyn e pedi que Louie não desgrudasse de sua amiguinha. Por coincidência, ou talvez destino, Erin estava no lugar que havíamos acabado de sair e parecia desesperada. Ao nos ver chegar, praticamente se jogou em cima de Jazmyn e puxou Jaxon para si.

 - Meu Deus do céu, onde vocês estavam? – ela perguntou, afobada.

 - Desculpa, Erin, mas eu levei as crianças para jantar naquele restaurante vegetariano aqui perto. Elas estavam com fome e eu não sabia onde você estava, não sabia o número do seu celular e nem onde você mora, então achei melhor levá-las. Desculpa pelo transtorno – murmurei, tímida demais para expressar minha pequena raiva por ela ter sumido por três horas sem dar notícia.

 Erin me encarou abismada e olhou seus dois filhos, provavelmente checando se eles ainda estavam bem. Tirando o fato de ambos estarem com as bochechas vermelhas pelo vento frio, não havia nada de errado com eles.

 A partir desse dia em diante, fiquei encarregada de cuidar de Jazmyn e Jaxon todos os dias depois da escola e nos fins de semana, em período integral. Eu ganhava dez dólares por dia, o que era mais do que suficiente para abastecer meu carro e levá-los ao cinema ou ao zoológico. Já fazia mais de um mês que eu era a babá oficial das crianças Bieber e eu já os amava como se fossem meus próprios irmãos. Eu já era uma presença constante na casa deles e até recusava minhas noites de folga. Eu não tinha nada melhor para fazer, já que não tinha amigos de verdade, e ficar em casa assistindo comédias românticas ao lado da minha mãe enquanto ela desabava em prantos não era uma opção.

 Portanto, lá estava eu, em pleno sábado à tarde, no parque de sempre, com Jazzy, Jaxon e Louie, tentando coordenar os brinquedos e a atenção devida a cada um deles. Jaxon era menor, portanto eu ficava mais de olho nele, mas Louie era muito ativa e não conseguia ficar muito tempo fazendo a mesma coisa. Não era um trabalho tão difícil assim e eu adorava aquelas crianças. No fim das contas, eu é que saía ganhando.

 Louie chamou meu nome, trazendo-me de volta à realidade. Olhei em seus pequenos olhos e lhe dei um sorriso.

 - O que foi, Louie? – perguntei, docemente.

 - Jaxon não devolve o celular! – reclamou ela, apontando o garotinho louro sentado em sua frente.

 Olhei para Jaxon, que brincava feliz e apertava todos os botões possíveis do celular de mentira que carregava nas mãos. Sua irmã, Jazmyn, estava sentada ao seu lado e me olhou com seus grandes olhos castanhos. Dei-lhe uma piscadela e voltei minha atenção à Louie.

 - Por que você não brinca com essa boneca aqui? – sugeri, pegando uma boneca do meio da roda e lhe oferecendo – Eu acho mais legal que o celular!

 Ela me olhou com seus olhinhos desconfiados, mas pegou a boneca e logo conseguiu se divertir. Enquanto isso, Jazzy me oferecia uma xícara de plástico vazia. Ela fingiu colocar duas colheres de açúcar em sua própria xícara e levou-a a boca. Estávamos brincando de tomar chá.

 Quando meu celular de verdade tocou, Jaxon parou e ficou encarando o aparelho de brinquedo, confuso. Dei risada enquanto pegava o celular do bolso de trás da minha calça e afaguei de leve seus cabelos louros, pra cima num moicano. Ele ficava muito fofo com esse penteado.

 - Alô – eu disse, colocando o celular no ouvido.

 - Liv, é a Erin – disse a voz do outro lado – Está tudo bem aí com as crianças?

 Ela sempre sabia a resposta, mas insistia em perguntar.

 - Sim, tudo ótimo. Por quê? Aconteceu alguma coisa?

 - Não, nada. É que o irmão deles está aqui e faz algum tempo que eles não se vêem. Você podia trazer as crianças de volta para casa?

 - Claro – respondi, enquanto evitava ao mesmo tempo que Jaxon engolisse a falsa antena do aparelho de celular de mentira. Na mesma hora, Louie sem querer chutou a xícara de plástico e Jazzy começou a brigar com ela.

 Erin pareceu ouviu meus protestos para que todos se comportassem, mas não comentou nada. Ela ainda duvidava que eu conseguisse cuidar da situação, mas nada de ruim havia acontecido até hoje com seus filhos.

 - Então, ok. Estamos te esperando – e, antes de desligar, ela me chamou de volta à linha – Ah, e não se incomode com os fotógrafos em frente a casa. Eles não vão fazer mal nenhum à você ou às crianças.

 Desliguei o celular, confusa, e dei um último grito para que as crianças não brigassem. Arrumei a sacola de brinquedos e coloquei-a no ombro, depois peguei Jaxon no colo e dei a mão à Jazzy, para que ela segurasse na mão de Louie. Tive que ralhar com as duas mais uma vez, porque não queriam dar as mãos, mas no fim tudo saiu como esperado. Ao chegarmos ao carro, elas já estavam conversando de novo.

 Quando chegamos a casa deles, não consegui ver nenhum fotógrafo. Achei estranho Erin ter me advertido sobre algo que não tinha nada a ver, mas não liguei. Fiz o mesmo esquema com as crianças e caminhamos juntos da calçada até a entrada da casa. Antes que pudesse perceber, três ou quatro homens com máquinas profissionais apareceram do nada e tiraram fotos a distância. Não me exaltei ou diminuí o passo. Eu não sabia por que aquilo estava acontecendo, mas ainda havia tempo para explicações. Entramos pela porta da frente e eu ainda conseguia escutar o click das máquinas ao trancar a porta.

 Ao virar-me para cumprimentar o irmão de Jazzy e Jaxon, percebi que meu cérebro trabalhava rápido demais e tentava associar aquele pequeno grupo de fotógrafos lá fora. Eu nunca havia associado o sobrenome Bieber de Jazzy e Jaxon, mas devia tê-lo feito.

 Justin Bieber encontrava-se na minha frente naquele exato momento.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *-*