POV de uma brasileira-coreana escrita por NandaVictory


Capítulo 1
Eu, o gêmeo e o vizinho




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Eram 02h37min da manhã. Sexta como outra qualquer e eu – como sempre – sem sono.

Porra! Que calor dos infernos é esse? – Bradei, me revirando na cama, já toda molhada de suor.

Mas que diabos está acontecendo? Por que a droga do ventilador parou?

Levantei da cama soltando um leve gemido, começando a tatear os móveis a procura do interruptor da lâmpada, a qual parecia estar à milhas de distância de mim. Droga! Fui me batendo em todos os móveis possíveis que, obviamente, não estavam em meu campo de visão. Claro!
Tentei acender o chuite umas três ou quatro vezes, “ligando” e “desligando”. Essa agora não! Será possível? Não! Não...

– JINKI SEU MALDITO! VOCÊ NÃO PAGOU A CONTA DE LUZ! – Gritei até sentir minha garganta arranhar. Acho até que acordei algum vizinho. Ops!
Ah, mas bem feito! Por que meu “querido” irmão, que se acha o dono da casa, não foi pagar a porra da conta?

Meu Deus, que deselegância a minha! Nem tive a educação de me apresentar e já estou aqui gritando, xingando e acordando os vizinhos. Perdão!

Bem... Sou Fernanda O’Neil, tenho 17 anos e ainda estou no segundo ano do ensino médio. Julgue-me! Não sou muito alta, tenho apenas 1,62m. Nem magra, nem gorda... Cabelos castanhos levemente arruivados, um pouco abaixo dos ombros. Confusa e desajeitada. Moro com meu irmão gêmeo e meu pai.

Jinki O’Neil, ou apenas Onew, como ele próprio prefere, é meu irmão cinco minutos mais velho que eu. Pele alva, cabelos castanhos, altura mediana e corpo másculo, bastante viril. Onew é o tipo de pessoa responsável e protetora, contudo, ainda é muito brincalhão e, por falta de sorte, ridiculamente desastrado. Bem... Neste quesito, não é muito diferente de mim.

 Compartilhamos diversas características, mas em uma ele se sobressai, ou eu talvez – os olhos. Somos fruto do amor entre um coreano e uma brasileira. Logo, eu obtive olhos ocidentais e ele, os olhinhos asiáticos que tanto amo!

Nascemos no Brasil e atualmente vivemos aqui na Coréia do Sul, mais precisamente na capital Seoul.

Meu pai, Dennis Joseph O’Neil, ou apenas Dennis Oh – seu nome artístico – é modelo fotográfico e por conta das viagens de trabalho, praticamente não pára em casa. Na verdade, tem vezes que chega a passar um mês ou dois fora.

Ele conheceu minha mãe quando passou férias no Brasil. Foi basicamente um “amor de verão” e logo, não durou muito tempo. Contudo, por injúria do destino, Giovanna – também modelo, acabou engravidando.

Eles ainda eram novos. Dois adolescentes praticamente, além do fato dela não ser de procedência lá muito endinheirada; Então, meu pai assumiu-nos e nos trouxe para cá.

– Onew! – Gritava quase cega, correndo pelos corredores. – Cadê você?  Onew!

– Calma pequena. O que houve? – disse sereno, me segurando os ombros.

– Pequena? PEQUENA? Olhe aqui Onew, primeiro, não me chame de pequena, e segundo, por que você não...

– Shiiiiiu! Nosso pai deixou todas as despesas pagas. Pare de querer sempre colocar a culpa em mim. – Disse quase absoluto, ainda fazendo um bico de descontentamento. Aish! Eu ainda dou um murro nessa “criança”!

– Então por que diabos estamos sem eletricidade? – Quase gritei. Quase. – Está calor. Você sabe que eu não consigo dormir quando estou suando, não sabe?! – Tentando fazer o melhor aegyo que pude.

– Eu sei Nanda, mas o que você quer que eu faça? Temos que esperar a energia voltar... Alias, a água deve estar fria, por que não vai tomar um banho? – Disse sorrindo.

– Fria? A água deve estar gelada Onew. GELADA! – Disse o ignorando depois.

– Ai tem velas? – Virou-se para mim como se tivesse tido uma idéia brilhante.

– Velas? Acho que devem ter algumas na despensa, mas... Quem vai lá?

– Ah Fernanda, vai você. Não é você que está dando escândalo ai? – Virando-se com desdém.

­ – Oppa! Por favor, eu não quero ir no escuro. Por favor! – Disse praticamente brilhando os olhos. Por um segundo acreditei de Jinki tinha se derretido as minhas manhas.

– Aish Fernanda! Vamos nós dois.

Tateando os móveis, e guiando-se pelas paredes, descemos as escadas com o maior cuidado possível e mesmo assim Onew quase caiu sobre mim. Quando enfim chegamos à área de serviços, achamos um pacote que parecia ser as velas. E então a mente brilhante do meu irmão teve a grande idéia de cheirá-lo...

– Ei Onew... Acho que é isso aqui! – disse apertando um pacote que tinha algo fino que pareciam ser velas.

– Passa para mim. Qual é o cheiro? – tentando achar o tal pacote em minhas mãos. Aliás, tentando achar minhas mãos!

– Como é que eu vou saber anta coreana?

– Cheirando ué! Velas têm cheiro...

– De quê Onew? – respindo fundo...

– De parafina! ^^

– T-t-t-tá bom. Eu não sei o cheiro disso... Tente achar uma caixa de fósforos. Deve ter uma por aqui.

– Mas, mas, mas Nanda... Tá bom!

Onew, na maioria das vezes era muito responsável e cuidava de mim. Mas quando estava assustado, agia como um retardado.

Nós somos muito unidos, pelo fato de sermos gêmeos e também por morarmos praticamente sozinhos. 

Eu o xingo, bato, mordo, brigo, falo barbaridades, mas isso fica entre nós. Como os velhos já diziam: “Coisa de irmãos. Melhor não se meter”. Na verdade, nossa convivência nunca foi um problema.

– Onew, conseguiu achar? – Disse alto e rude, quase gritando. Não era minha intenção, só estava um pouco irritada com a situação.

– Tá aqui já. Me passa uma das velas para eu tentar acender.

Depois de algumas tentativas frustradas – e leves queimaduras – Jinki finalmente conseguiu fazer luz. Separou duas velas, uma para cada obviamente. Eu já estava cansada. Não suportava a idéia de ficar no escuro. Ele também, mas tivemos que esperar.

Passados algo em torno de uma hora, eu desisti. Já estava com muito sono, mas não conseguia pregar os olhos pela quantidade de suor. Onew já dormia feito um bebê apoiando-se em meus ombros. Já estava sentindo meu corpo dormente.

Como uma idéia desesperada, levantei-me bruscamente acordando o coitado.

 – Que foi? Já amanheceu? – Sussurrou com os olhos entre abertos, bocejando entre as palavras.

– Pode voltar a dormir “Bela Adormecida”. Só vou lá embaixo buscar um copo d’água.

Onew fez o máximo de esforço para pronunciar algo, mas estava tão cansado que conseguiu apenas assentir com a cabeça e desmaiar em seu sono urgente.

Bem, minha urgência era outra. Eu precisava de algo para refrescar... Apenas. Isso era pedir demais?


(RING) DING DOOONG...

– Er... Desculpa? – Um rapaz alto e forte abriu a porta usando apenas samba-canção. Não parecia nem um pouco sonolento, talvez um pouco assustado com a visita de uma estranha em plena madrugada.

– Er... Eu sou a vizinha da casa ao lado da sua. Desculpa estar buzinando uma hora dessas, mas é que... – Disse praticamente corando, não conseguia ao menos completar a frase.

– Você quer entrar? – Disse quase rindo e dando espaço para que eu pudesse passar. – Está fazendo muito frio aqui fora.

– Quero sim. Claro! – Por um segundo estranhei sua reação, mas apenas consenti. Não era exatamente isso que eu queria?

Entrei um pouco envergonhada. Não acredito que tinha realmente feito aquilo. Mas espera aí, eu não me lembro de ter visto esse cara por aqui. Será que ele se mudou faz pouco tempo?

– Sente-se. Estava vendo um filme aqui. – Disse apontando para um sofá de couro e uma bacia enorme de pipocas. – Como se chama mesmo? – Deitando-se no chão, em frente à tevê...


– Bem... Eu sou Fernanda O’Neil. Chame apenas de Nanda! – Envergonhada, sentei-me ao seu lado.


– Então Nanda... Eu me chamo NichKhun. Prazer em te conhecer!  – Dando um sorriso fofo, extremamente branco, e logo em seguida quebrando a minha bela visão, tacando um punhado de pipocas na boca. Filho da mãe! Ficamos assistindo o tal filme por cerca de 30 minutos até que ele voltou a perguntar.

– Então, o que te trouxe aqui? Por favor, não diga que foram suas pernas... 


– Não, eu não ia dizer isso. – ri fraco ­– Na verdade, NichKhun, eu vim aqui pois eu queria pedir um favor. Aconteceu alguma coisa e minha casa está sem luz e muito quente, em contrapartida, faz muito frio lá fora e a água do chuveiro deve está congelante. Se não for incomodar muito, será que eu posso tomar banho aqui?


– Tomar b-b-banho? Aqui?  ­– gaguejando, começou a piscar várias vezes. Será que eu estava sendo muito folgada? Ou será que...

 

– Não, desculpa. Tudo bem! Sabia que estava sendo inconveniente demais. Será que então... – Falei abaixando a cabeça.  

 

– Não, não... Não é isso! Pode sim! – Khun balançava a cabeça algumas vezes como se tentasse organizar suas próprias idéias. – Agora? – Levantando-se e erguendo a mão, tentando me ajudar a imitá-lo, dando concomitantemente um grande e belo sorriso. 


Enquanto subíamos as escadas, aproveitávamos para nos conhecer melhor. Ele me contou que havia se mudado para aquele bairro a alguns dias, pois ficaria mais próximo de sua escola, a qual não entrou em detalhes. Contou-me também que morava com os pais, mas eles haviam viajado desde a quarta-feira, pois sua avó materna estava muito adoentada. Enfim, ele parecia ser uma pessoa adorável e não seria nada mal tê-lo com vizinho. Não mesmo...

 

– Então Nanda... Ali tem umas toalhas e se você quiser, tem alguns blusões. – Disse apontando para um closet relativamente médio. Nada tão extraordinário. – Vi que você está apenas com sua camisola, então...


– Ah sim, claro...Gomawo! – disse fazendo uma leve mesura, esperando, então, que saísse do quarto.


Ao entrar na suíte, fiquei impressionada com a quantidade de sais de banho que tinha ali. Notei que era um rapaz bastante vaidoso, ele conseguia ter mais cremes hidratantes do que eu. Ri dos meus próprios pensamentos. Como podia?
Deparei-me com uma enorme jacuzzi. Meu Deus, o banheiro daquele cara era tipo... “A SUITE”. Aquilo estava me seduzindo descaradamente. Contudo, não podia fazer isso. Ele já estava sendo bastante gentil em me confiar em sua casa e me deixar passar o resto da madrugada aqui. Já seria abuso demais da minha parte!
Fazia muito frio, é verdade, mas contentei-me, apenas, em ligar o chuveiro elétrico na intensidade mais forte.


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Ponto de vista de NichKhun

 

Fazia uns 30 minutos que Fernanda estava no banho, tinha aproveitado o tempo para assistir ao resto do filme que havia pausado. Nada muito interessante.

Há anos que havia me mudado para a Coréia do Sul, e jamais havia visto algo parecido. Há alguns dias, minha família tinha se mudado para este bairro e o que parecia ser apenas uma madrugada de sexta-feira fria e comum – que eu costumava virar assistindo filmes – se tornou algo fora do comum graças a uma garota baixinha que bateu em minha porta trajando apenas uma camisola branca levemente transparente.

Não que eu esteja reclamando. Longe disso na verdade! Mas não é algo que eu esteja acostumado a ver todos os dias.

O mais interessante é que ela não parece ser coreana, mas consegue ter uma pronúncia perfeita, sem nenhum tipo de sotaque. Não que eu possa dizer alguma coisa. Sou apenas um tailandês-americano oxigenado que fica se passando por coreaninho. Mas ela me surpreendeu.

O jeito dela, o cheiro dela, as pernas dela, o corpo dela... ELA!

Deveria ter vergonha de meus pensamentos não castos, mas a garota aparece em minha porta em plena 03h45min da manhã, SEMINUA, e não quer que eu repare em nada? O mínimo que eu podia fazer era ser um pervertido em pensamento. Faça-me um favor!

Falando em favor, ela está lá em minha suíte, enquanto eu, como bom babaca que sou, estou aqui embaixo – na cozinha, refletindo com a porta da geladeira aberta. O que eu ia pegar mesmo?

Vamos NichKhun, esqueça a merda desse iogurte e seja homem pelo menos uma vez na vida. Faça alguma coisa!

Coloquei o pote de iogurte novamente na geladeira e subi as escadas em direção ao meu quarto.

Esperava ouvir o barulho d’água que escorria do chuveiro, o que me fez pensar um milhão de coisas impróprias, mas isso não aconteceu. A porta do quarto estava aberta e já de fora dava para se ver claramente que não havia ninguém na suíte. Estranhei. Onde estava aquela menina?

Após rodar todo o quarto, comecei a chamar por seu nome. Em meio a tamanho desespero, procurei Fernanda em lugares impossíveis como dentro de uma gaveta, ou até mesmo, debaixo de um banco. Percebi o quão lento estava sendo meu raciocínio, e tentei focar em lugares que ela poderia ter ido.

Lembrei-me que antes de sair do quarto, lhe ofereci uma roupa e então, atinei para o closet. É isso! Mas porque ela não me respondeu quando lhe chamei?

 

– Fernanda! Algo lhe serviu? – Perguntei ainda do lado de fora do closet. Hesitei em entrar, mas fi-lo ao perceber que ninguém respondia. – Fernanda-sshi? – Chamei novamente procurando-a entre as araras de roupa que eu mantinha ali.

Assustei-me ao deparar a garota da casa ao lado encolhida num cantinho, vestida em um blusão azul claro comprimindo contra si uma coruja de pelúcia velha que eu escondia ali. Ela dormia tão graciosamente que tive pena de acordá-la.

Segurei-a em meu colo tentando ter o máximo de cuidado para não despertá-la. Coloquei-lhe em minha cama, o que a fez agarrar automaticamente o meu travesseiro e pronunciar algo inteligível. Até tentei não ri da expressão fofa que acabara de fazer mesmo que inconsciente, porém foi algo impossível. Ela tinha feições tão leves e parecia dormir tão tranquilamente... Eu podia passar horas ali, só a observar-te. 

Deitei-me ao seu lado, e antes que pudesse perceber já havia adormecido.



Fim do ponto de vista de NichKhun

 

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A luz do sol já incomodava bastante, fazendo-me enterrar o rosto no edredom jogado ao lado. Mesmo com a claridade, ainda resistia, o que me custava a abrir os olhos.

Tateando a cama, senti algo totalmente inebriante o qual fazia meu corpo quase entrar em estado de êxtase. Que droga era aquela?

Depois de longos minutos, finalmente consegui desligar-me daquele tal cheiro, concentrando-me, apenas, em abrir os olhos.

Atônita. O que estou fazendo aqui?


{Flashback on}


Após um banho relativamente rápido, minha pretensão era vestir a mesma camisola novamente, mas acabei molhando-a ao tentar colocar o chuveiro na intensidade mais forte. Droga! Teria que buscar algo de NichKhun para vestir.

 

Onde ele falou que estava mesmo? – pensei entrando no emaranhado de araras que existem ali. Suas roupas estavam muito bem separadas: cores, tamanhos, ocasiões... Aquilo chegava a ser invejável!

Realmente, ele deveria ser uma pessoa muito boa, ou muito lerda, pois além de me deixar ficar aqui, ainda me permite mexer em suas coisas... tsc, tsc!


Ao fundo tinha um grande armário com pequenas portinhas cor de rosa em cima. Minha curiosidade foi tanta que nem hesitei em abrir.

A porta parecia estar emperrada, não queria abrir de jeito nenhum... Eu já estava até mesmo na ponta dos pés. Ao forçar pela última vez, consegui abrir a portela mas acabei escorregando. Estava tão preocupada com a queda que mal reparei um bichinho que tinha despencado em meu colo.Numa tentativa de entendimento, voltei meus olhos para a pelúcia e o armário que acabara de quebrar... NichKhun esconde uma coruja de pelúcia em seu closet? Meu Deus, que coisa fofa... Ela é tão macia, tão aconchegante, tão...

 

[Flashback off]



Esse era então seu quarto. Nem tinha reparado quão bonito era, lembrava-me os cômodos antigos do rococó que vi num folheto, mas isso não importa agora.

Fui até o banheiro e improvisei minha higiene matinal, amarrei meu cabelo num coque frouxo e desci as escadas.


Sentia cheiro de sanduíches prensados e tocava uma música qualquer, formava um clima bastante agradável. Fui diretamente à cozinha, desejando que não fosse um dos pais de NichKhun que estivesse lá, sentindo, enfim, uma alegria imensa ao deparar-me com aquele sorriso tão alegre.


– Bom dia, Fernanda!  Dormiu bem? – Dizia ele, ajeitando dois pratinhos na mesinha da copa.


– Eu? Er... Sim... Mas, NichKhun-oppa?!


– Diga...


– O que aconteceu ontem? Eu... – Disse corando levemente. Tinha medo de sua resposta, mas mesmo assim queria saber.


– Você acabou adormecendo entre minhas roupas e eu tive pena de te acordar, então eu te carreguei até minha cama. Só isso!


– Mas... – Tentei refutar, mas ele me interrompeu antes que dissesse algo.


– Eu jamais ia deixar você sair da minha casa tão cedo assim. Ainda eram 04h35min e, além disso, fazia muito frio. Que espécie de pessoa eu seria se te permitisse isso? – Disse sorrindo alegremente, entregando-me um copo de suco.

 

Exatamente, que tipo de pessoa você é? O que você pretende? – Pensava.


– Que horas são? – Disse procurando com os olhos algum relógio por ali.


– Acho que devem ser 10h40min... Preocupada com alguma coisa?


– Bem NichKhun, eu não deveria estar aqui. Você está sendo bastante generoso comigo, mas eu não posso mais te incomodar. Eu deixei meu irmão sozinho em casa e sequer avisei que sairia. Ele, essa hora, já deve ter dado minha falta e deve estar preocupado comigo.


– Ei, calma! Coma seu lanche em paz, e depois, se quiser, eu vou com você e falo com ele. Está tudo bem! Calma! – Disse segurando minha mão num gesto de carinho.


– Agradeço, mas terei de recusar.


– Ah, vai. Essa é uma proposta irrecusável. Eu não aceito “não” como resposta, ok mocinha?! – Dando uma piscadela no fim de sua proposta tentadora. Aliás, tentador era ele...


Uns 15 minutos depois do café da manhã, ainda ficamos conversando um pouco. Perguntei sobre sua pelúcia, porém ele respondeu que era apenas algo insignificante, puxando outro assunto qualquer... 

Procurei meu celular por um segundo, lembrando depois que não trouxera comigo. Hora de ir para casa...


Já em frente à porta de casa, implorava que Onew não estivesse bravo comigo. Respirei fundo e buzinei.

Jinki, ao abrir a porta, praticamente voou em mim dando-me um abraço apertado. Senti minha respiração falhar, mas contentei-me em sorrir. Estava feliz por meu irmão não ter sentido raiva de mim.



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Meu celular vibrava loucamente debaixo do travesseiro me impedindo de continuar o sonho perfeito com... Com alguém ai. Mas que porra!

 

– O QUE VOCÊ QUER INFELIZ? – Bradei para meu próprio telefone, empurrando com força o edredom preto que me cobria.

Minha vontade era de jogá-lo na parede, mas meu pai não compraria outro se soubesse o motivo.


Cadê você que não atende essa porta? ><’

 

Puta merda, eu tinha marcado de sair hoje com SeungRi! – Disse para mim mesma, descendo as escadas correndo e ao mesmo tempo, ajeitando meu cabelo desgrenhado.


SeungRi é o meu namorado a cerca de oito meses, e eu o amo! Nos conhecemos a uns dois anos quando eu ainda saía com Julliana, uma amiga em comum, e a partir daí nos tornamos cada vez mais próximos e mais próximos. Daí já da para entender.


– Bom dia meu amor... – Disse o mais sorridente possível, ao abrir a porta. SeungRi estava lindo, como sempre, trajando um moletom engraçado do Luigi, uma calça jeans e all stars, enquanto eu, apenas um baby doll verdinho.


– Que bonito, moça! Marcamos a meia hora atrás e você ainda desse jeito... – refutou franzindo a testa e pondo as mãos na cintura em sinal de indignação, mas logo mudou sua expressão ao reparar na lingerie que eu vestia. Eu ri.


– Ah vá Victory! Entre logo... – Puxei-o pela camisa para que entrasse, enquanto ele fechava a porta atrás de si com um dos pés, olhando-me maliciosamente.


SeungRi não fazia o tipo de namorado fofo, que fica cheio de xuxuzinhos e blábláblás. Muito pelo contrário. Alias, acho que é exatamente isso que me atrai a ele. Na teoria não temos muito a ver, mas até agora, temos nos dado muito bem. Talvez a frase “Os opostos se atraem” faça algum sentido...

 

SeungRi comprimia meu corpo contra o dele enquanto depositava beijos em minha nuca. Ao ouvir um ofego meu, ele apenas sorriu glorioso guiando-me para traz até caírmos num dos sofás da sala de estar.


– Oppa...


– Estava com saudades de você, meu amor... – Falou de forma calma, mordiscando o lóbulo da minha orelha. Eu, envolvida por aquele enlevo, cravei os dedos em seus cabelos puxando-os de leve, quase como uma súplica para que me beijasse o quanto antes.


O oppa tinha um beijo quente, dominador, era como se por um momento eu me sentisse como uma mocinha indefesa. Gostava disso!


Quando finalmente fui solta, andei em direção a cozinha para pegar algo para comer. Não era nada fora do comum o meu rebolado natural, mas meu moreno olhava-me como se estivesse se segurando para não agarrar-me novamente.


Enquanto recolhia um dos sucos da geladeira, apenas inclinei um pouco a cabeça para traz piscando para meu namorado, assim deixando transparecer minha falsa inocência.


Enquanto, distraidamente, buscava presunto, queijo, ervas e blábláblá, Seungie começou a perguntar do nada, dando-me um susto.


– Cadê Onew? Ele costuma me atrapalhar.


– Onew? Não vi ainda. Acredito que tenha saído... – Falei dando de ombros enquanto montava um sanduíche que certamente mataria a fome de 500 homens juntos. Brincadeira, claro!


– Vamos Fernanda, adiante logo com isso! – Olhando impaciente para o tamanho do meu sanduíche.


– Ah SeungRi, se acalme... – disse virando-me novamente para a geladeira ­– Aliás, ainda vamos sair? Está nublado. Em instantes deve começar a chover!


Ele fez uma expressão triste, mas não seria nada mal ficarmos em casa. Enfim, estávamos sozinhos e se a noite é uma criança, o dia é um bebê. Limitei-me a sorrir bobamente enquanto Victory mexia em algo qualquer no celular.


– O que foi? – Disse ao reparar a cara de boba apaixonada que te fitava.


– Não nada... – Sorri novamente, dei-lhe um selinho e fui em direção à estante que meu pai costumava guardar os filmes.  – Que tal uma comédia?


– Você não vai se trocar? – Me interrompendo.


– Não! Meu baby doll está te incomodando?


– Que é isso! JAMAIS! – Olhando-me de cima a baixo – Alias, está sim... Pode tirá-lo se quiser. Não vou reclamar!


– Engraçadinho. Não precisa... Estou muito confortável com a “roupa” que estou.


– Tudo bem, mas me deixa escolher o filme, certo?


– Filme não amor... Série!


– Ih, ta bom, sua chata! Eu escolho...


E assim sucedeu-se. Passamos o resto do dia assistindo comédias e comendo pipoca com brigadeiro.


– Ih, pára! – disse rindo, com as mãos lambuzadas, tentando impedir com os braços que SeungRi passasse chocolate em meu rosto – Pára, pára...


– Vai, deixa! Vou te dar cócegas então. – Disse ele, já todo sujo e rindo feito criança.


– NÃO! – levantei e sai correndo pela casa – Não Seungie... Você não vai me alcançar!


– É o quê?! Você está duvidando da minha capacidade de conseguir o que eu quero?


Ao ouvir isso, parei e dei língua como se o desafiasse.


– Olhe Fernanda, você vai se arrepender... Venha aqui garota! – Disse correndo até mim.


– Sai Seungie, sai! – Falei em meio a gargalhadas enquanto ele me abraçava por traz me dando cócegas na cintura. Virei na tentativa de fazer pará-lo dando soquinhos em seu tórax. Tentativa frustrada, obviamente!


– Ah Nanda, deixa de ser chata!


– Então pare! – tentando segurar o riso.


– Não vou parar! – (risos)


– Então eu vou sair contando seu segredinho para todo mundo. SOU MÁ!


– Não... Não... Você não seria tão rude comigo. Seria?


– Me desafia então. ­– Dando uma risadinha sínica de canto.


– OH SHIT!


E assim meu idiota-mor começou a me cutucar e, logo em seguida, dar-me infinitos selinhos. Porém, como bons desastrados que somos, tropeçamos no controle da tevê e caímos sobre o sofá.


Ríamos feito duas crianças inocentes, ali, lambuzados de chocolate, descabelados, um pouco suados é verdade, enfim, FELIZES.

Em meio a tantas risadas e sujeira, ouvi barulho de chaves e logo supus que fosse Onew; além do mais ele já estava acostumado com nossas bagunças, era quase de praxe Jinki ver uma cena do tipo entre eu e meu namorado. Sim, MEU namorado!

 

– Vai! Abre lá a porta... Vou à cozinha pegar alguma coisa para beber. – Disse, após se levantar, dando-me um beijo delicado segurando meu rosto entre suas mãos.


– Ok... Ah, e aproveita para passar no banheiro e lavar essa cara. Você ta nojento! – Falei risonha, descontraindo um pouco, porém, algo me fez gelar ao ver que quem estava parado na porta não era meu irmão.


– Er... O-o-o-oi pai!


– Oi querida! – Dizia risonho – Me ajuda a pegar essas malas.


– Ah, t-t-tudo bem!


– Voltei com tantas malas que tive que pagar por excesso no aeroporto. (risos) A Escócia é linda! Vocês precisam ver. Acabei comprando bastante coisa para você e Jinki. – Enquanto eu apenas assentia nervosa e tentava disfarçar a bagunça arrumando-a com os pés, ele continuava a tentar ajeitar suas bagagens.


– Falando nele... Onde ele está?


– Er... Pai... O Onew saiu... Mas sabe... Ele já deve estar voltando. – Espero... – Coisa rápida!


– Tá acontecendo alguma coisa Fernanda? – Olhando para mim desconfiado.


– Comigo? NÃO! Tem nada não! – Não, claro que não... Imagina! ¬¬


– Por que você ta assim, toda suja? Tava tentando cozinhar novamente?


– Hein? É... É isso! Eu tava tentando cozinhar um... Um... FRANGO!


– Ah sim... – parecia acreditar no que estava dizendo, mas... – Isso é chocolate na camisa de Jinki? – Disse apontando para uma camis... PUTA QUE PARIU! A camisa de SeungRi. Seu idiota, seu imbecil... Você tinha que deixar a camisa tão à amostra assim?


– O que? Er... É chocolate sim. É uma nova receita que aprendi, e... eu tava usando a camisa de avental para fazer o jantar! É... é isso!


– Ah...


– Então pai, vou aqui tomar um banho e depois a gente conversa melhor!


Meu pai fazia menção de continuar seu interrogatório, mas eu apenas o interrompi e tentei sair dali o mais rápido possível.


– FERNANDA! O seu quarto é para lá...


– Ah sim! Que cabeça a minha... – Ri amarelo.


Mas que droga meu pai! ¬¬
E agora? Eu tenho que tirar Victory de casa.

E se esse idiota me gritar ou aparecer na sala?

EU ESTAREI FUUUUUUUUUUU...

Se bem que...


– Er... Pai! Agora que lembrei. O chuveiro da minha suíte queimou...


– Vai no meu, ou no quarto de seu irmão! – Disse um pouco distraído, passando entre os canais da tevê. – “Não tem nada que preste passando. Vou cancelar essa merda!” – Bradou meio que para si.


– Hum... – Eu já não sabia o que responder mesmo, mas uma luz surgiu em minha mente – NÃO! Não precisa! Vou tomar meu banho no quartinho daqui de baixo mesmo!


Acho que ele nem me ouviu, mas de qualquer forma tanto faz. Eu estava muito mais preocupada em tirar SeungRi de casa sem que ele percebesse do que com “sei-lá-o-que” que ele fosse responder.


Eu realmente não entendo o porquê do meu pai ter aparecido 10 dias antes do previsto. Isso nunca aconteceu. NUNCA!

Enfim, ele conhecia SeungRi e sempre soube que estávamos namorando, porém ele nunca nos viu tão juntos, e bem... Eu não queria que ele visse nada ainda!


– SeungRi... SeungRi... SEUNGRI-OPPA!


Realmente, era só o que me faltava. Dennis Oh na sala, eu aqui toda suja, desesperada e... A ANTA DO MEU NAMORADO INVENTA DE SUMIR! TÁ FAZENDO CURSO DE FANTASMA É PORRA?

Por favor... Uma putaria de cada vez, como diria G-Dragon.


– Que saco! Cadê você criança?


Eu realmente já estava quase sem paciência. Victory tinha que ir embora nem que fosse pela janela do banheiro...


Aliás...

 

Já perto da porta do quarto dos fundos, eu conseguia ouvir o barulho d’água ao cair do chuveiro. Era ali... Abri a porta de sua suíte com cuidado e me deparei com um ser a cantarolar “Haru Haru”; Fiquei tão abobalhada que quase não reparei que ele estava despido. Completamente nu!


Sim, eu nunca fui adiante com SeungRi. Aliás, o máximo que o vi foi de cuecas – E isso já era um absurdo! WOW!


Saindo do meu leve transe, esforcei-me a pronunciar algo que tivesse nexo, mas tudo que consegui foi um leve tossido.

 

– Er... Oi amor! – Respondeu, abrindo uma fresta do box, já todo embaçado, saindo dele enrolado em uma tolha branca bordada com o meu nome.

 

– Victory, você vai ter que ir! – Pronunciei séria, tentando fitar apenas o chão para não me desconcentrar. E eu sabia que isso iria acontecer! (risos)

 

– Por quê? Cadê Onew?


– Como assim “Cadê Onew”? Você quer que ele tenha uma visão geral sua? (risos) – Tentei descontrair um pouco o clima tenso que havia se estabelecido, sem querer. Se bem que eu continuo achando que esse climão só ocorreu na minha cabeça. SeungRi parecia tão relaxado... Enfim... 


– Ah claro! MY BODY IS READY! – Disse aproximando-se e dando-me um beijo.


O afastei.


– Não SeungRi! Onew não está em casa. Quem acabou de chegar foi meu pai! Ele ta lá na sala e, obviamente, não sabe que você está aqui... – Aqui, assim, de toalha, todo sexy, no estilo da baixaria... Pára Fernanda, pára!

 

– Mas ele não ia chegar só no fim do mês?


–...


– Hum... Tudo bem então! Mas, como é que eu vou embora? Você quer que eu vá pelado?


– Aigoo, eu não! – *empinando o nariz*


– Você fez o favor de sujar minha camisa toda. Que negação! Tsc, tsc, tsc...


– EEEEEEEU? QUE BLASFÊMIA!  Veste assim mesmo!


– Eu não... Eu não quero! – fazia o tão mais manhoso que conseguia.


– Fresco!


– É O QUÊ? VOCÊ TÁ MALUCA? Eu já sou doce até sem roupa...


– Hum... Nem é convencido!


– Convencido não. Gostoso! Repita comigo... GOS-TO-SO!


– Hum... Quer que eu vire?


– V-v-v-virar o quê? – Balbuciava nervoso. Não sei por que, mas isso me fez lembrar Lee Joon! Não sei mesmo... ri baixinho.


– Virar minha avó!


– Mas ela não ta aqui e...


– ME VIRAR IDIOTA! Me virar para você por o pouco de roupa que restou.


– Não precisa gata, pode olhar se quiser. E eu sei que você quer! – Disse, piscando descaradamente. Meu vagabundinho!


Já vestido, tentei ao máximo sair dali com SeungRi sem que fôssemos percebidos. Nos dirigimos até a porta dos fundos e então ele partiu. Já começava a escurecer e eu estava um tanto apreensiva.

Tudo bem, meu bairro não é lá muito violento, mas eu temia que Victory fosse confundido com um delinqüente pelos seus trajes e... Espera um pouco. O que eu estou falando?! SeungRi É um delinqüente! Ri baixinho.


Já eram 17h36min.


Entrei no meu quarto trancando-o logo em seguida. Tentei ligar para o lerdo do meu gêmeo e nada dele atender. Depois de quatro tentativas ele finalmente me atendeu rindo e falando com alguém ao fundo.


– Onew??

 

Oi Nanda... – *ria*


– Onew, quem ta ai com você?

 

– JongHyun... – Mais risos ao fundo.

 

– JJong? Vocês estão aonde?

 

– Por ai... saimos!

 

– Mas Onew, eu preciso de sua ajuda. Nosso pai acabou de chegar e...

 

– É O QUÊ? – Parecia ter engasgado com algo do outro lado da linha.

 

– É sim. Ele chegou e por pouco não viu SeungRi aqui em casa.

 

– PUTA QUE PARIU!  Que vacilo! 

 

– Onew, por favor! Eu preciso da sua ajuda agora...


– Nan eojjeorago... – Cantarolou alegremente algo como “O que você quer que eu faça?”.

 

– Pára Jinki! É sério!

 

– NANDA GOSTOSAAAA!  – JongHyun berrava do outro lado da linha e falava mais alguma coisa que felizmente foi inaudível.

 

– Sim, tarado... Ela é minha irmã!

 

– Gente...

 

– Eu sei Jinki. Por isso que você é tão sexy assim... Puxou à irmã! Ai Onew, você me atrai tanto! – Fazendo uma voz fina irritante.

 

– SEU GAY!

 

– Ô gente...

 

– Ai, não fala assim se não eu perco a linha!

 

– PRESTEM ATENÇÃO AQUI...

 

–...

 

– Olha Onew, eu preciso que você traga um frango pronto. Eu inventei que tava fazendo o jantar e nosso pai vai desconfiar se não ver frango nenhum aqui.

 

– Sim chefe!

 

– É sério!

 

– POSSO IR JUNTO?  POR FAVOOOOR? – JongHyun berrava. Claramente bêbado.

 

– Pode JJong, pode sim. E venham logo! – Desliguei. 



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