Hoje o dia amanheceu nublado, assim como minha cabeça e meus pensamentos distorcidos. Estou me sentindo pior do que nunca agora. Eu briguei com meu melhor amigo, com minha mãe e com a minha futura irmã de consideração e não dei chances a nenhum deles. Eu sou uma egoísta. Sinto-me um lixo por ter dado as costas a todos sem nem ter um motivo. Até menos do que um lixo, quem sabe. 

Só agora eu dei valor a tudo o que eu perdi. Quando criaram esse ditado, quem quer que tenha criado, estava certo. A dor da perda de algo valioso é inconfundível. Só agora noto como cada um é especial para mim. Principalmente Sasuke. Pois eu nunca havia pensado nele como estou pensando agora. Então é diferente de todas as outras vezes. É como se ele não fosse apenas um amigo, é um sentimento diferente. Algo que eu nunca pensei em sentir... Não por ele. 

(...)

Saí mais cedo para o colégio. Não teria coragem de pedir carona para mamãe, mesmo estando extremamente frio. Também não iria a pé com Sasuke. Não saberia como encará-lo. Acabei indo a pé, sozinha sob a garoa. 

Cheguei à sala de aula com meu casaco molhado. Tive uma vontade quase incontrolável de chorar quando fitei Sasuke me olhando com olhar de desaprovação, mas me controlei. 

Naruto não havia chegado atrasado dessa vez. Pior, ele faltou de novo. O único com quem eu poderia contar não estava presente.

Parecia que não iria piorar, mas, mudei de ideia ao ver Sasuke e Hinata conversando divertidamente. 

Só aí notei o quanto eu gostaria que ele soubesse que eu estava em cacos, principalmente, por sua causa. Como eu queria poder dizer como ela é sortuda por tê-lo como companhia. Era exatamente isso. Talvez nem tudo estivesse perdido. Eu fui estúpida em desperdiçar tudo o que passei junto a Sasuke por nada. 

Flashback narrado na 3ª pessoa – on

Duas crianças corriam cheias de energia pelo extenso bosque de Konoha. De repente a pequena menininha de olhos verdes e curtos fios rosados se jogou sobre a grama macia, rindo sem parar. O garotinho de olhos e cabelos cor de ônix acompanhou o salto logo depois.

– Promete que sempre seremos amigos? – perguntou a angelical menininha sorridente. 

– Prometo, Sakura... – respondeu o garoto aparentemente desinteressado.

– Pra sempre? – ela exclamou infantilmente.

– Tá, tá. Pra sempre. – disse com seu típico tom seco. – Agora vamos tomar sorvete? 

– Vaamooos! – a linda menininha, no auge de seus seis anos gritou animadamente, como se o tão sagrado juramento recém feito já não importasse tanto quanto o sorvete que estavam prestes a saborear.
Flashback off narrado na 3ª pessoa – off

Puxa vida. O mais contraditório é que eu sempre fui tão fixada na nossa amizade e ele, que sempre pareceu tão desligado nisso, foi um amigo mais fiel do que eu. Eu devo admitir que sinto sua falta. Sinto muito a sua falta.

POV’s Uchiha Sasuke – On

Por mais que eu tente ignorá-la, eu sempre acabo olhando para Sakura e a vejo naquele estado lastimável. Olho uma, duas, três vezes e ela permanece ali, imóvel. E, por mais magoado que eu esteja, por pouco eu não largo esse personagem e vou falar com ela. Só que dessa vez é diferente. Eu já corri tantas vezes atrás dela que nem consigo mais contar. Sempre levei a culpa por nossas brigas mas, dessa vez, eu sei que não tive culpa alguma. Eu não fiz nada de errado e ela simplesmente me tratou como um nada, ignorando todos esses anos convividos juntos. Agora é a vez de ela consertar seus erros e não eu. Nunca fui do tipo de ficar de braços cruzados e esperar, no entanto, se ela não superou o próprio ego e veio se desculpar – como sempre me aconselhou –, eu não vou mover um dedo sequer para mudar essa situação. 

Sendo que, o pior de tudo isso é ter que admitir que ela não teve a menor consideração com nossa amizade. Como eu poderia esperar que ela viesse a me corresponder? Eu nunca deveria ter criado falsas esperanças. Acho que o melhor a fazer seja realmente desistir e aproveitar esse afastamento para ver em outras garotas o que eu só via nela.
POV’s Uchiha Sasuke – Off

– Olá. Eu posso me sentar com você? – perguntou uma familiar voz feminina, não sabia quem era pois estava de cabeça baixa. Soltei um murmúrio semelhante a um ‘sim’ por baixo do moletom e ela pareceu tê-lo decifrado.

– Sou eu, TenTen. – identificou-se. – Sabe, eu costumo te ver por aí, sempre animada, não importando com o que os outros digam sobre você. – começou a falar, sentando-se ao meu lado na carteira. – Sempre está de cabeça erguida e nunca se deixa abalar. Sempre admirei isso em você. Por isso eu fiquei preocupada ao vê-la assim. Só pode ter acontecido algo realmente ruim para te deixar tão mal afinal. Eu posso ajudar de alguma forma? – perguntou amigavelmente.

– Eu não sei. – respondi, virando o rosto para fitá-la. – É que eu briguei com pessoas queridas sem ter a razão e sem ter motivos sequer. 

– Hm, entendo como é isso. – disse focada num ponto imaginário da sala de aula.

– Você... entende? – perguntei surpresa.

– É claro. – respondeu sorrindo. – Todos cometem esse tipo de erro. Brigam com amigos, pessoas que querem o nosso bem e até mesmo parentes que sempre nos apoiaram a vida inteira. Mas o importante não é você remoer isso e ficar para sempre com o remorso te assombrando, sem fazer nada. Você deve ir até eles e se desculpar da melhor forma possível, provar que eles são valiosos para você e de que está arrependida.

– Parece fácil falando assim... – comentei tristonha, fitando Sasuke de relance. 

– É verdade. Assim é bem mais fácil. – admitiu. – Olha, se isso te conforta, eu mesma já cometi esse erro uma vez. Doeu, doeu muito e eu me senti arrasada. – revelou. 

– Sério? E o que aconteceu? – perguntei curiosa. Sem reparar, eu já estava com outro ar conversando com TenTen, ela estava me ajudando de verdade.

– Eu fiquei um bom tempo sem falar com meu pai achando que ele nunca me perdoaria, quando, na verdade, ele esperava que eu fosse me desculpar. Apenas isso. – ela explicou. – Às vezes as coisas são mais simples do que parecem. Melhor eu sair daqui, antes que nos deem uma bronca. – recordou-se de estarmos numa sala de aula. 

– Obrigada. Você conseguiu me animar e me dar esperanças. – confessei. – Você pode ir hoje lá pra casa depois da escola? – Sempre conversei com a TenTen, mas nunca tivemos muita intimidade. Talvez fosse a hora de eu ganhar afinidade com ela. Mais do que nunca, preciso de ajuda e ela apareceu justamente agora para me apoiar.

– Tudo bem. Meu pai está viajando, então eu posso ficar à vontade. Já que eu fico no maior tédio, eu aceito seu convite. – disse a Mitsashi sorrindo.