Fechei meus olhos e imaginei que o Justin estava deitado ao meu lado, imaginei que a música que estava tocando no som também era ouvida por ele e que se eu esticasse a mão poderia segurar a dele. Esse era meu tipo de distração favorita, quando não estava trabalhando, dormindo ou conversando com ele pelo computador ou telefone, desde duas semanas atrás, o tempo exato em que ele havia começado a segunda parte sua turnê e que nós não nos víamos pessoalmente. Um momento perfeito, até abrir os olhos e me encontrar sozinha na varanda do meu quanto, deitada em um dos balanços de madeira, abraçada com um dos travesseiros que tinham o cheiro dele.

Castigo? Não. Isso estava mais para tortura.

A viciada sem sua droga.

Abri meus olhos e me sentei, abraçando com mais força o travesseiro e puxando a coberta até os ombros, assim que senti o vento frio e salgado, que vinha carregado pelas ondas do mar. O céu estava levemente acinzentado e mostrava sinais claros de que o inverno havia chegado, o que só tornava todo o meu dia muito mais melancólico do que já estava e fazia com que minha mente, meu coração e o meu corpo desejasse muito mais o Justin do que eles já desejavam.

Me revirei no balanço e sentir ele se mexer de leve, enquanto eu me esticava para pegar o notebook e a caneca de chá( que a essa hora já devia estar frio) que estavam equilibrados de um jeito perigoso, no outro balanço à minha frente. Entrei em qualquer besteira, enquanto esperava que o Twitter carregasse, para que eu finalmente fizesse o que desde o início era minha intenção: conversar um pouco com as minhas fãs e ver se o Justin havia postado alguma notícia, mesmo é claro, que eu tenha conversado com ele ontem à noite e eu duvidava que ele tivesse algo de novo em tão pouco tempo.

Isso era normal para uma pessoa que se viu obrigada a aguentar duas semanas sem seu vício e teria mais uma semana pela frente. A dependência as vezes era uma droga.

Depois de algumas besteiras twittadas, eu já estava sem esperanças e pronta para desligar o notebook quando vi que o Justin havia sim, postado alguma coisa nova de ontem para hoje e o mais surpreendente era que era uma mensagem para mim (sinto sua falta) acompanhada de um vídeo, onde o Justin fazia o cover de “Jet Lag” do Simple Plan. (N/a: vejam a tradução da letra)Coloquei play e logo senti meu rosto se iluminar e um sorriso enorme aparecer, quando comecei a ouvir os primeiros versos em sua voz.

Ele era incrível e mesmo a vários quilômetros de distância, conseguia me fazer sorrir como ninguém mais conseguia. Conseguia iluminar o meu dia com um simples sorriso, mas mesmo assim insistia em fazer surpresas iguais a essa, mesmo que nada disso fosse preciso para ele ser esse garoto incrível, por quem eu estava apaixonada.

Estava tão concentrada no Justin que aparecia na tela, que fui pega de surpresa, quando senti suas mãos cobrirem meus olhos e o seu cheiro me invadir e deixar um rastro de formigamento por todo o meu corpo.

–Adivinha quem é- ele disse perto do meu ouvido, me deixando arrepiada, rindo assim que percebeu isso.

–Jus... eu acho que sou a pessoa errada para se perguntar isso, se você espera ouvir várias respostas erradas.

–Droga!Nem quando eu chego mais cedo em casa, sem você saber... Por que você sempre sabe?- ele disse rindo, enquanto se sentava ao meu lado e me entregava um buque de rosas vermelhas.

–A forma de suas mãos, seu cheiro.., em fim você, tudo é familiar para minha mente, tudo em você está guardado aqui- disse apontando a minha cabeça- Como você acha que eu conseguiria passar duas semanas longe de você, sem isso?- disse sorrindo, enquanto subia no seu colo e iniciava um beijo longo e cheio de saudades.

Escutem enquanto leem: http://www.youtube.com/watch?v=EgeEN2JY5AA&feature=related
Corri para minha cova e entrei na frente de um dos homens que começavam a jogar a terra, começavam a enterrar minha esperança de que eu acordasse e visse que aquilo era apenas um sonho, enterrar todas as minhas esperanças de realizar meus sonhos e viver ao lado do Justin. Gritei para que eles parassem e me tirassem de lá. Gritei que estava ali e pedi misericórdia para qualquer pessoa que estivesse escutando, pedi para acabarem logo com isso, pedi que me desligassem daquilo, me deixassem cega e surda, para que eu não continuasse vendo minha mãe debruçada sobre a minha cova, enquanto as outras pessoas caminhavam até onde meu corpo estava e deixava suas últimas homenagens, flores, recados, objetos e não escutasse os gritos da dela, misturados ao choro do Justin e de todos os outros a minha volta.

Os suspiros e gritos ficavam girando pela minha mente, junto das imagens, palavras do discurso do Justin, imagens de um futuro que eu imaginava para mim. Tudo se transformava eu uma tortura, que se gravava como ferro em brasa, na minha mente e deixava feridas incuráveis, não importa quanto tempo passasse. Como eu podia ter sido tão burra? Por que eu não olhei para a rua enquanto estava seguindo o Justin?

Estava com medo de tudo, do futuro incerto e do esquecimento. Será mesmo que o Justin não se esqueceria de mim? Será que um dia todos se esqueceriam quem foi Cammille Miller? Eu continuaria andando por aqui por anos a fim, esquecida, mas sem conseguir esquecer? Vendo e invejando a vida das pessoas, igual a uma que eu também deveria ter tido?

Uma chuva forte começou a cair, se misturando com as minhas lágrimas, levando-as assim como faziam com as dos outros, mas não levavam nosso sofrimentos, nossos medos, ao contrario só deixavam eles mais sólidos e maiores. Deixavam o frio que eu sentia no coração se espalhar para o resto do corpo e lavavam as esperanças de um final de dia bonito e quente.

Eu estava morta e nada disso iria mudar. Eu havia estragado minha vida e trazido tristeza para as pessoas que eu amo. Será que um dia eu conseguiria dar as costas para tudo isso e seguir em frente? Será que um dia eu me perdoaria por ter feito todas essas escolhas erradas e ter destruído um futuro que eu estava construindo com as pessoas que eu amava, com o Justin? De ter perdido a chance de morrer bem velhinha ao lado do dele, numa uma casa repleta de filhos e netos? De todos os sorrisos e histórias que eu desperdicei? Como eu poderia me perdoar?

....

Aos poucos as pessoas começaram a se dispersar o único que insistiu em ficar lá, debaixo da chuva foi o Justin. Assim como ele havia prometido, continuou do meu lado, mesmo depois do fim.

Ele se aguachou, enterrando os joelhos na terra molhada e se aproximou de onde eu estava deitada e perto de onde minha cabeça deveria estar à alguns palmos abaixo e sussurrou, como se soubesse que eu ouviria:

–Eu prometo que não vou te esquecer, Cammie. Não importa quanto tempo passe você sempre vi ser minha favorite girl- ele disse soltando um pequeno sorriso na última parte, me fazendo automaticamente sorrir e deixando uma pequena rosa vermelha em cima da terra recém cavada e levantando.

–Eu também não vou te esquecer, Jus- disse o seguindo.

Caminhei ao seu lado, sem ter certeza do que faria a seguir, apenas aproveitando cada momento com ele como se fosse o último, já ciente de que tudo era imprevisível e que esse realmente podeira ser o último momento com ele. A coisa que eu mas queria no momento era poder me aninhar em seus braços e descansar minhas cabeça, entre a curvatura do seu pescoço e sentir o calor do seu corpo perto do meu. Queria sentir a chuva em minha pele e refrescar minha mente com suas gotas frias. Mas elas simplesmente passavam reto pelo meu corpo como se não existisse nada ali, o que realmente era verdade.

Estava andando tão distraída que percebi só depois que o Justin começou a caminhar em direção oposta a que estávamos indo que havia uma pessoa vindo para perto de nós, debaixo de um guarda-chuva preto, Selena. Ela estava de óculos escuros e uma roupa toda preta e só depois dela se jogar nos braços do Justin, é que notei que ela fingia chorar e soluçar, como se sentisse muito por tudo o que havia acontecido comigo, eu até acreditaria que ela estava triste com a minha morte, Se não tivesse escutado tudo aquilo que ela tinha falado, nas chances que tivemos de nos encontrar ,todas as besteiras e armações que ela tinha prometido contra mim, sendo que algumas ela realmente tinha conseguido executar.

–Justin... eu nem sei o que te dizer.. sinto muito por tudo isso- Mentira- Eu sei que ela não gostava de mim, mas eu nunca desejei mal algum para ela -mentira de novo. Como uma pessoa pode se defender se ainda não foi acusada de nada? Culpa pesando na consciência!

–Eu sei, Selena. Brigado por ter vindo- ele disse num sussurro de voz, se afastando dela e deixando uma certa distância entre eles, assim como ele fazia quando estava comigo- Preciso ir agora- ele disse se afastando mais um pouco e saindo da proteção que o guarda chuva dela oferecia a ele.

Mas antes que o Justin pudesse dar-lhe totalmente as costas ela já havia se jogado em seus braços e colado sua boca com a dele. Fechei meus olhos e segurei as lágrimas de raiva que afloravam dos meus olhos e me xinguei de todos os nomes possíveis por todas as besteiras que eu havia cometido, que tinham me levado no ponto em que estava: vendo meu namorado ser beijado por aquela víbora e não poder fazer nada para separá-los.

–Selena...não, eu não quero isso! Você está confundindo as coisas entre a gente... Eu amo a Cammie e você sabe disso- pude ouvir ele dizer, enquanto eu dava as costas para os dois.Vi apenas ela saindo correndo a minha frente, mas não me importei. Precisava de um tempo para esclarecer meus pensamentos e as ideias ruins que me vinham após aquele beijo.

...

Mesmo que o Justin tivesse se afastado e dito que me amava eu não podia deixar de pensar que aquela não seria a última garota que tentaria beijar e tomar o meu lugar na vida do Justin. Eu estava morta e outras viriam para me substituir. Mesmo que ele me dissesse que me amava, minha mente não parava de me bombardear com imagens dele com outras. O Justin era humano e mais cedo ou mais tarde me substituiria, porque ele querendo ou não a vida seguia em frente e como a própria ciência havia explicado, a homem não tinha nascido para viver sozinho. O que eu faria da minha vida quando aparecessem outras? Como eu poderia continuar seguindo com a vida, com essa dúvida martelando minha cabeça? Como eu aguentaria ele me esquecer?

Me assustei ao ver que eu tinha chegado as capelas ,que ficavam do outro lado de onde havia sido enterrada e o susto maior ainda foi de ver que eu não estava sozinha lá. Eu estava na companhia do cara que havia me beijado naquela maldita festa, onde eu morri. Ele estava parado, rezando enquanto choravae pedia perdão baixinho, segurando uma foto minha nas mãos.

E o mais surpreendente foi ver que ele também não estava mais sozinho. Estava agora na companhia da Selena, que havia acabado de entrar.

Ela se assustou quando viu que não estava sozinha, mas logo se recompôs, olhando para ele com um olhar duro, enquanto dizia , depois de ter pigarreado para clarear a voz:

Por que você está aqui? Vai antes que alguém te veja. A Cammie já está dando trabalho demais, mesmo depois de morta, eu não preciso que você me arranje mais um.

–Como você consegue falar desse jeito dela, sendo que você é uma das culpadas pela morte dela?-ele disse com um olhar de nojo, se preparando para continuar a falar, mas antes mesmo de começar, ele fechou a boca e empalideceu, olhando para um ponto fixo atrás de mim.

Me virei e me assustei ao ver o Justin parado na soleira da porta, parecendo ter acabado de levar um soco no estômago, com o que tinha acabado de ouvir.