-Por que se vocês olharem pra essa formula vocês podem notar que... – eu estava dispersa. Olhava pela janela ao meu lado, a rua em frente a minha escola perdida em pensamentos. Por que Baro tinha sido tão frio comigo? O que ele quis dizer com não me conhecia? Claro que ele me conhecia, ele me ajuda com física há dois anos já. O que aconteceu com ele? -... E é por isso que vocês deveriam parar de olhar pela janela, e prestar atenção no quadro e nos exercícios que o professor esta passando...
Prestei atenção nas ultimas palavras do professor, virando o rosto de imediato, encontrando seu olhar nada satisfeito na frente da sala, que fez todos na sala rirem de minha situação, enquanto tentei esconder minha cabeça entre os ombros.
Olhei rapidamente para meu caderno, e o professor continuou dando a aula. Então prestei atenção no resto de aula.
Assim que o sinal do fim da aula tocou olhei para pela janela para rua, uma ultima vez. Baro não estava lá, como não tinha estado nos últimos dias. Eu sentia tanto sua falta. Respirei fundo, coloquei minhas coisas dentro da mochila e olhei em volta. Nem Julia estava mais ali. Revirei os olhos e segui ate a rua do colégio.
Assim que sai do colégio, peguei meu iPod, coloquei os fones rapidamente, e coloquei uma musica qualquer para tocar. Coloquei as mãos no bolso e segui meu caminho.
Pude sentir uma gota cair em minha bochecha. Levei minha mão ate a mesma, limpando-a e olhando para o céu, vendo algumas gostas começarem a cair.
-Você ta brincando comigo, né? – disse em voz alta para mim mesma.
-Alem de agarrar estranhos, ainda fala sozinha. – ouvi uma voz atrás de mim. Uma voz conhecida. Virei-me rapidamente e meus olhos encontraram com os de ninguém mais ninguém menos do que ele.
Por um momento fiquei estática. Esqueci como se falava, como se mexia, como se respirava. O que não foi muito agradável, por que soltei um longo suspiro depois de alguns segundos sem respirar. O que fez Baro me olhar assustado, de novo.
-Achei que você não me conhecesse! – Disse o encarando. Mesmo depois de brigas nós sempre nos entendíamos! 
-Ainda não te conheço... – ele me disse, me fazendo baixar a cabeça tímida. Afinal o que estava acontecendo com esse guri? – Mas você pareceu... Er... Ser legal... – levantei o rosto rapidamente encontrando seus olhos presos ao meu rosto, e um sorriso de canto. Ele ficou sem jeito de imediato, então desviou o olhar. -... Estranha, mas legal! – Ele disse me olhando de novo e sorrindo.
Ah esse sorriso.
Abaixei a cabeça novamente, dando uma risada tímida, para que ele não visse minhas bochechas corarem. Por fim dei meia volta e voltei a andar na direção que estava antes.
-Hey, a onde você vai? – Ele foi atrás, colocando sua mão sobre meu ombro.
-Pra casa! – Disse como se fosse obvio. E era... Ele já conhecia meus horários e caminhos, por que ele estava me perguntando isso?
-Posso te acompanhar? – O olhei assustada.
-E desde quando tu me pede algo assim? Para de enrolar e vem logo se não vou perder o metro! – disse guardando os fones no bolso.
Ate então, desde seu sumiço, o caminho de volta pra casa estava normal... Conversamos sobre as varias besteiras de costumes que falávamos, às vezes o clima ficava estranho como nunca ficou antes... Mas o tempo passou rápido, quando menos notei já estava na porta de casa.
-Foi bom te encontrar de novo... – ele disse sorrindo enquanto acenava para mim. Sorri de volta.
-Vê se não some de novo, okay? – ele deu uma risada, balançando a cabeça de um lado pra o outro como se estivesse pensando “é louca!”, então colocou as mãos no bolso e seguiu caminho.
Fechei a porta, e subi correndo ate meu quarto e atirei minha mochila ao pé da cama, me atirei em cima da mesma. Pus as mãos sob a cabeça e fechei os olhos. Fiquei assim, pensando por um tempo no dia de hoje. Tão confuso, tão cheio de surpresas... De qualquer jeito, Baro estava de volta. Sorria como uma boba pelos meus pensamentos, mas fui interrompida bruscamente por minha mãe abrindo a porta do meu quarto.
-VAI PRO BANHO ANTES DE IR DORMIR!!!
-POR QUE TU SEMPRE FALA ISSO? – Dei um pulo pelo susto, caindo sentada na cama.
-Por que é divertido ver sua cara de braba por isso! – Minha mãe disse sorrindo de um jeito bem sapeca e saindo do meu quarto. – MAS É SERIO... VAI TOMAR BANHO! – ela gritou do lado de fora do meu quarto, enquanto descia as escadas.
-Ta, que seja... – Disse em voz alta, mais pra mim, do que pra ela.
Fui ate meu armário, peguei minhas coisas e fui para o banheiro. 
Despi-me rapidamente, então fui para de baixo da água corrente que caia. Ao sentir as gostas quentes de água tocar minha pele fechei os olhos por reflexo, relaxando. Então os pensamentos de hoje voltaram a minha cabeça. Como flashbacks, meu reencontro estranho com Baro, os dois, por sinal... Um com ele se afastando rapidamente, e outro com ele me acompanhando ate em casa. Afinal, o que se passava naquela cabeça escondida por aqueles cabelos quase tão brancos quanto às folhas do meu caderno meio rabiscadas? Quanto me dei conta do longo tempo que estava em baixo do chuveiro, pensando em Baro parei de sonhar acordada então comecei a me lavar. Terminei o banho rapidamente, após ter me abusado no tempo e quando notei já estava deitada em minha cama de novo, com os mesmos pensamentos, novamente, vagando pela minha cabeça ate adormecer.

A semana se passou assim... Baro me esperava todo dia na saída do colégio, e me acompanhava ate em casa. Mas estranhamente, parecia que dessa vez, finalmente, eu estava conhecendo o Baro. Tantas coisas sobre ele que eu não sabia, mesmo há tanto tempo que o conheço. Algumas vezes ate apostamos corrida do metro ate minha casa, e mesmo sabendo que ele ia mais de vagar só pra me deixar ganhar, ainda era engraçado.
Ate descobri seu dom para imitações. Ele estava se apresentando uma outra pessoa para mim, uma pessoa diferente do Baro que eu conhecia, mas ao mesmo tempo era o meu Baro, um garoto divertido... Meu melhor amigo.
Estávamos a caminho da minha casa, conversando e rindo escandalosamente pelas ruas quando fomos interrompidos pelo seu telefone.
-Alo? – ele sorriu pra mim, correspondi o sorriso e logo em seguida abaixei a cabeça andando ao seu lado. – Sim... Como assim? Agora? Ta brincando??? Meu Deus to indo pra ai agora! Ta... Ta... Aham... Ate mais! – então ele desligou.
-Posso saber por que tanta felicidade? – estranhei, encarando-o.
-Na verdade ainda não posso te dizer... E alem do mais, tenho que ir, então anda mais rápido que quero te deixar segura em casa.
-Mas... – então ele começou a correr. Fazendo-me rir e correr atrás dele. -... VOCÊ TA ROUBANDO! – eu gritava enquanto ria, o fazendo parar na minha frente.
-Sobre! – Ele fez menção de que eu subisse em suas costas.
-Não! Você vai me deixar cair!
-Sobe logo! – Ele ria. Assim que pulei em suas costas ele finalmente começou a correr dando o melhor de si, me fazendo pular que nem uma louca em suas costas, rindo ate perder o ar. – Chegamos! – ele gritou, me largando no chão e depois se atirando no mesmo.
-Dramático, nem sou tão pesada assim! – Disse fazendo beiço e cruzando os braços.
-Nunca disse que era... Mas tenta correr 07 quadras com uma pessoa nas tuas costas pra ver se tu também não morre! – ele disse pausadamente, tentando respirar a cada palavra.
-Eu disse que não queria subir. – Falei com uma voz dengosa tentando esconder meu rosto entre os ombros. Ele por fim se levantou, e segurou meu queixo e me olhou nos olhos.
-Também não disse que era sua culpa! – e por fim sorriu. – Agora entra logo em casa, que eu tenho que correr mais um monte! – Ele disse rindo, me acenando, incentivando-me a entrar logo em casa.
Fui rápido para casa, para não atrasá-lo mais do que aparentemente ele já estava. Acenei uma ultima vez e entrei em casa, ouvindo seus passos rápidos se distanciarem. Escorei-me na porta e fui caindo ate sentar no chão.
-Ih, parece que tem alguém prestes a suspirar bem alto... – Minha mãe de repente colocou a cabeça para fora da cozinha, me dando um tremendo susto, que me fez dar um pulo e cair em pé diante dela. – Errei, tem alguém brincando de esconde-esconde nas nuvens mesmo! – ela disse rindo entrando na cozinha novamente.
-Que susto que você me deu! – eu disse indo atrás dela. – O que você ta fazendo de bom?
-Era pra te chamar pro chão de novo... Essa tua cabeça vive no mundo da lua garota! – ela disse rindo e dando um tapa em minha mão quando tentei pegar um dos salgados que estavam na mesa. – Ainda não, você será minha cobaia, mas ainda não terminei todas as opções para o novo cardápio do Buffet. 
Minha mãe era cozinheira de um Buffet de festas. Ela amava cozinhar, toda vez que entrava na cozinha a via com um sorriso inexplicável em seu rosto, enquanto dançava e cantava totalmente desafinada e sem coordenação. Era divertido, muitas vezes me juntava a ela para dançar e ajudar a cozinhar, mas no final das contas ela sempre me tirava da cozinha a colheradas por que eu estava atrapalhando.
Fazer o que, nasci pra ser cantora, não cozinheira! Ela se empolgava cozinhando, e eu roubava a colher da mão dela e começava a cantar como se fosse um microfone... É, nem sempre dava muito certo, mas eu era a cobaia favorita, e única, da minha mãe.
-Ta... Que seja... – disse fazendo careta. – Nem queria mesmo... – disse rindo, peguei um salgado e sai correndo em direção ao meu quarto. – ME CHAMA QUANDO ESTIVER MAIS QUE EU TO COM FOME! – gritei subindo as escadas.
Entrei no meu quarto e fui estudar... As provas trimestrais estavam quase chegando e eu ainda nem tinha tocado em meus cadernos fora da sala. Em menos de dois segundos já estava afundada nos cálculos e palavras dos meus cadernos. Nem notei que já tinha passado das 2h da manha quando finalmente parei de estudar. Atirei-me na cama de qualquer jeito e ali dormi.