Ele voltara à academia, voltara a socar aquele mesmo saco de pancadas. Com as luvas de boxe, tentando aliviar a raiva que sentia dentro do peito. Aquela preocupação toda, aquela necessidade de sempre proteger Megan a todo o momento, mesmo ela sendo maior de idade agora, mesmo ela sabendo se cuidar.

O moreno queria não ter passado por tudo o que sua vida lhe deu, todos aqueles obstáculos, todas aquelas tragédias. Mesmo sabendo que as dificuldades de sua vida o definiam como o homem que agora ele estava se tornando.

Ela se encostou no batente da porta, observando as costas musculosas do moreno, enquanto ele atacava sem piedade seu alvo imaginário. A garota não sabia o que pensar sobre a atitude indiferente que ele havia tomado naquela tarde. Talvez ele estivesse apenas sendo o Sean que ele sempre foi. E talvez, ela pudesse fazer com que ele mudasse sua compostura.

No entanto, pensando um minuto mais, mudá-lo não seria sua melhor opção. Ela adorava o jeito como ele era, tão longe, submerso em seus segredos, tão misterioso que ela poderia passar toda uma eternidade tentando desvendá-lo e não se arrepender jamais.

Era isso o que ela gostava nele, o fato dele ser tão inflexível tão duro e frio, que lhe passava confiança. Era uma sensação doida, uma pessoa tão indiferente lhe atrair tanto, mas era apenas a verdade.

A garota sentia que podia cair nos braços dele, e nunca tocaria o chão. Poderia chorar rios de lágrimas em seus ombros largos e ele nunca a julgaria. Poderia contar seus maiores segredos, medos, temores e dores e ele nunca a mandaria embora. Ele a entenderia. Mais do que nunca a garota queria que ele a quisesse tanto quanto ela o queria. Mesmo assim, ela jurou a si mesma naquele instante, que faria tudo para tê-lo.

Leah entrou na sala, e Sean parou por um momento, se virando para encará-la. Ele se abaixou pegando uma toalha para enxugar o suor, e depois se endireitou na frente da garota. Mirando-lhe aqueles lindos e indecifráveis olhos negros.

- É um jeito interessante de se extravasar. – a garota disse sua voz saindo suave e confiante.

Uma confiança que Sean nunca tinha ouvido dela antes. Ela estava diferente, desde sua primeira missão. Parecia que ela tinha finalmente descoberto o que queria. Finalmente ganho a confiança que fazia dela mais forte e especial que antes.

Ela era diferente, e o moreno a queria proteger de tudo que ela temia. Queria segura-la antes que ela caísse, queria afagar seus cabelos loiros quando ela estivesse triste e queria deixar que ela chorasse em seu ombro, até molhar sua camiseta, se fosse preciso...

- É só um jeito que eu encontrei de não machucar ninguém inocente, quando não é necessário. – ele disse, sorrindo.

- É nobre de sua parte pensar assim, contando é claro que eu já te vi com uma arma na mão. – a garota disse.

- Mas nunca viu o estrago que eu faço com uma arma daquelas. – o moreno disse.

- Talvez você pudesse me mostrar algum dia. Quem sabe em uma missão até... – a loira disse.

Sean se perguntou se ela sabia dos planos de seu pai, mas olhando dentro dos olhos da garota, ele soube que tudo o que ela estava fazendo era flertar com ele. E o moreno entraria no jogo, se era isso o que ela queria.

- Quem sabe... – ele disse, colando seus corpos um no outro.

O rosto dela subiu para encontrar os olhos negros dele, sua boca entreaberta, convidativa. Então ele sorriu aquele belo sorriso que fazia o coração dela se amortecer.

Então ele se aproximou o sorriso brincalhão enquanto umedecia os lábios, a loira fechou os olhos. Sentindo a respiração dele em seu rosto, depois em seu pescoço, deixando sua pele arrepiada.

- Quem sabe... Você não acaba me mostrando como Nova York é aos seus olhos. – ele sussurrou suavemente logo abaixo da orelha dela.

Logo depois ele se afastou, com a toalha em seu ombro, deixando a sala silenciosamente. Leah sorriu, entendendo bem o jogo do garoto. Se ele queria brincar, então que começassem os jogos.

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As pernas dos dois estavam apoiadas na mesa de centro da sala dele. Copos com bebidas geladas suando em cima da mesinha de centro e nenhum dos dois se importava se faria uma mancha ou não. A tigela de pipoca já havia acabado, e o chocolate que ela levara também, metade desperdiçada com a brincadeira dos dois. Digamos que passar chocolate no rosto, nem sempre é uma coisa agradável.

Agora a cabeça dele esta apoiada no colo dela, enquanto eles assistem a um filme de ação que tinha acabado de sair nas locadoras. Ela nunca fora daquelas garotas que deixam de assistir um monte de explosões em prédios e rixas com carros potentes por ruas de Hollywood, por filmes de amor e melodrama.

Ela era diferente das outras, porque sua vida era diferente das outras. Ela preferia sair em uma missão com sua adrenalina a flor da pele, do que passar a tarde comprando roupas e maquiagem, mesmo que ela gostasse de fazer aquilo... Às vezes...

A morena passava as mãos distraidamente pelos cabelos ruivos dele. Enquanto ele relutava em dormir, na parte mais emocionante do filme. Era simplesmente relaxante estar perto dela.

Por um momento ele não achou que ela fosse real. Deitado ali, no colo daquela morena de olhos negros, tão concentrados agora no filme, mas que já expressaram tantas emoções diferentes. Aquela que tinha confiado a ele todos os seus maiores segredos, seus maiores medos. A qual ele tinha confiado sua vida, seu coração. Ela não era real, era impossível uma garota ser assim como ela. Tão perfeitamente feita para ele, tão certa, tão na medida. Era como se ela tivesse nascido para permanecer ao lado dele, até que a morte os separasse, mesmo que aquela promessa não estivesse explicita em palavras entre eles.

Ele a amava era aquela a mais pura verdade. Não havia como negar, que aquela era a garota que ele teria apresentado aos seus pais. Se fosse o caso de eles ainda estarem vivos.

A cabeça dela pendeu para o lado, tão concentrada na tela da TV, que mal percebera os olhos cor de mel dele a observando. Ele riu. Ela o encarou de repente.

- O que foi? – ela disse.

- Nada... – ele disse, ainda sorrindo.

Ela semicerrou os olhos, mas acabou suavizando sua expressão quando ouviu uma explosão na TV, e voltou-se para o filme.

Ele a observou por mais algum tempo, mas voltou sua atenção na TV. Apenas para não perder o fio da conversa depois com sua garota. Já que aquele filme parecia tão interessante a ela.

A morena mal percebeu quando seu irmão chegou ao apartamento, no entanto o ruivo percebeu tanto a presença do amigo quanto o revirar de olhos dele ao ir em direção ao seu quarto.

O filme acabou logo, e Megan pareceu animada em comentar cada feito dos atores e dubles, dizendo que podia muito bem fazer igual. Ryan apenas sorriu e concordou, despedindo-se depois de um tempo com um longo e apaixonado beijo ao qual a garota não entendeu de início, mas recusou a ideia de questionar ou não retribuir.

Depois que a morena havia partido, sua presença na sala foi ocupada pelo moreno. Que esticou os pés descalços dramaticamente em cima da mesinha de centro, olhando para Ryan. O qual riu, e se sentou ao lado do amigo.

- Você e minha irmã, né? – Sean começou, não dispensando o sorriso sarcástico no rosto. – Devo me preocupar?

- É claro que não. – Ryan disse. – Você sabe o que eu sinto por ela.

- Sim. Eu sei. – o moreno disse. – Que bom que pelo menos você conseguiu fazer com que ela se esquecesse de Owen.

- Conversamos sobre isso, eu disse a ela que era uma lembrança ruim demais para se deixar viva. – o ruivo disse.

- E ela... – o moreno incentivou.

- Disse apenas que queria ter o prazer de matá-lo ela mesma. – Ryan disse. Sean riu.

- Fiz de minha irmã uma garota forte. – o moreno comentou, seu amigo concordou perdido em pensamentos. – Onde ele esta nesse momento?

O ruivo deu de ombros.

- Provavelmente indo pra Antártica, sendo despachado em algum lugar no meio do gelo... – Ryan disse.

Os dois sorriram malevolamente, e foram cada um para seu quarto. Tinha sido um longo dia, e os dois estavam cansados demais para continuar acordados.

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A morena abriu a porta, com um sorriso brilhante no rosto. Ela pegou uma das malas da loira de suas mãos e a convidou a entrar. Leah comprimiu os lábios, aceitando o convite.

Megan levou Leah para um breve tour pelo apartamento, e instalou a garota no segundo quarto de sua casa. A loira se sentou na cama, e a morena a acompanhou sorrindo.

- Por que me convidou a morar aqui? – Leah perguntou.

Megan sorriu, olhando a amiga nos olhos.

- Não gosto de sua vó, Leah. Ela não faz bem a você. Ficar aqui, comigo vai ser melhor. Não gosto de morar sozinha, e acho que você também não quer ficar lá por muito tempo. – Megan disse, indecisa se tinha escolhido as palavras certas.

- Acho que você esta certa, Meg. – Leah disse. A morena riu com o apelido.

- Vem, vamos pedir uma pizza. Temos muito que conversar. – a morena disse.

A loira a seguiu, rindo.