Asas negras escrita por Veneficae


Capítulo 8
Capítulo 4 - Deixada parte 2




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Segurou minha cintura e o braço de Vitor - que já estava delirando pensando que o lago era um campo de futebol, vê se pode? Isso que dá beber demais. Vitor caiu perto da ávore a sua direita e resmungou como uma criancinha que tivesse sido privada de algo super legal. Revirei os olhos com hiperbole.
E eu estava meio que agachada e levantada, pois o tal alguém me segurava para que eu não caísse.
- Você está bem? - perguntou preocupado.
- Tirando que o fato que vi minha vida passando por meus olhos dois faróis atrás... sim. Estou bem. - não. Eu não estava bem. Estava com ansia, cheirando de bêbado e totalmente assustada. O tal alguém me colocou no chão para que eu pudesse pegar minha bolsa, foi o que fiz. Peguei, abri, tomei uns calmantes e levantei para agradecer essa pessoa, mas adivinha quem era?
Quase vomitei os calmantes ali mesmo.
- Kyle?! O que faz aqui? - perguntei.
- Central Park garota. Frequento esse lugar a muito mais tempo que você.
- Você não sabe a quanto frequento aqui.
- Se for desde que começou a frequentar meu restaurante... sim. Sei. Alem disso, com certeza sou 7 anos mais velho do que você. 
- Eu tenho 20.
- 27, eu sabia.
Revirei os olhos.
Levantei-me e fui ajudar Vitor se recompor, mas o cheiro estava muito forte e acabei correndo até aquela mesma lixeira e vomitei. Minha garganta doia e o estomago fazia força para botar pra fora algo inexistente na minha barriga. Eu nem tinha comido nada! Uma mão afagava minhas costas, mas não consegui prestar atenção nisso. Meu canal lacrimal foi repentinamente ativado, mas eu nem sabia o porque. A dor não era tanta, apesar dos pesares. Talvez por causa da força... eu chegava a gemer.
Em fim, parei. Não sei de onde conseguiu, mas Kyle tinha me entregado uns guardanapos para me limpar. Bom, de certo modo, é certo que ele teria isso com ele, apesar de não ser muito... normal. A maioria carrega com sigo lencinhos. Mas tudo bem.
- Obrigada. - sussurrei.
- Calma, eu vou te levar ao banheiro. - ele pegou Vitor e apoiou sob os ombros para poder andar. Vitor estava simplesmente mais do que bêbado, não fazia ideia de onde estava.
Entrei no banheiro, lavei a boca com bastante água e sabão. Olhei no espelho e vi a mesma feição daquela noite que senti pela primeira vez aquela sensação. Aliás, aquele lugar meio escuro e vazio era um bom lugar para senti-las. Mas não senti. Realmente, é muito esquisito o jeito que Kyle conseguia afasta-las. Pensei em me aproveitar disso, mas eu não estava com o espírito da coisa. Feliz e tranquila o bastante.
- Tudo bem ai? - perguntou atrás da porta.
- Uhum, claro.
Respirei fundo, arrumei o cabelo o melhor que pude e sai.
Vitor tinha dormido no banco da praça, Kyle deu ombros.
- Sabe onde ele mora?
- Não.
- Mas você não é namorada dele?
- Não mesmo. Vitor só me chamou pra... - eu não queria dizer sair. -... dar uma volta. Coisa de amigos, mas ele parece não entender.
- Porque não? Ele parece boa gente, se não estiver bêbado.
- Eu tenho um tipo de aversão a vocês.
- Vocês quem?
- Homens. Sem ofença. - revirei os olhos e respirei pela boca - Meio que tenho um trauma em relação a vocês. Já tenho poucos amigos porque tenho uma dificuldade de confiar em pessoas e...
Pensei um pouco. Eu podia estar ofendendo-o.
- Por ai. - conclui.
- Ok. - ele pareceu confuso, pelos olhos meio esbugalhados de incrédulo, mas tentei parecer gentil ao dar um sorriso. Mas minha barriga roncou de fome - o sorriso virou uma careta, para minha vergonha. Fora alto demais. - Vamos comer.
- E Vitor? 
- Podemos deixa-lo no banco de trás. - Kyle apoiou Vitor em um dos seus ombros e começou andar em direção a picape. Tentei ajuda-lo.
- Não acho que a picape seja uma boa ideia, agora.
- Porque não?
- Vitor atravessou o sinal vermelho. Com certeza a foto do rosto dele e a placa deve estar em alguma delegacia por ai. Pode nos complicar.
- Hum... entendo.
Passou um silencio bem demorado até a picape. 
Kyle colocou Vitor no banco de trás, fechou a porta e encostou no carro pensando. Eu estava de pé na frente dele, como era alto! Eu me sentia tao baixinha perto dele. A minha altura era 1,68 ou algo parecido, nem me lembro direito. Ele era mais ou menos entre 1,84 ou 1,97 - entre esses números. Era bem mais alto do que a picape e olha que a picape era bem grandinha. Minha cabeça se encachava certinha no seu pescoço, certo que com um pequeno esforço, mas isso importa? Eu mal conseguia tirar os olhos dos seus, só que pensativos. Aqueles olhos de mel derretido e penetrante. Era quase desconcertante.
Suspirei tentando fazer minha mente trabalhar, mas não precisou tanto.
- Hum, não sei bem, mas acho que tem uma pizzaria na Avenida Columbus entre a W 74 e 75th St. Podemor ir rapidinho para comer e voltamos antes que esse ai acorde.
- É uma ideia. Gostei. - eu não podia falar não. Nem conseguiria.
- Muito bem. - ele sorriu. Tirou meu fôlego. - Vamos.
Dando um duro danado para que não ficasse cansada, andamos todo aquele reto da avenida e viramos a direita. Passamos por tanta gente pelo caminho que quase não pude respirar! Isso quase me deixou claustrofóbica.
O restaurante estava cheio, novidade. Seria sobrenatural se não estivesse. Sentamos em uma mesa e esperamos o garçom nos atender. Nossos joelhos estavam se tocando! Ai! Vou derreter!
- O que vão querer? - perguntou o garçom sem muita simpatia.
- Para mim nada. Só um Sprite.
Olhei um menu. Era tanta coisa que chegou ser uma poluição visual. Kyle percebeu isso. 
- Uma Ziti Al Forno. Aure?
- Ah, uhum. Awm... uma Coca também. 
Marcou e o garçom se foi.
- O que é isso? - sussurrei.
- Parecido com lasanha. Você vai gostar. - tranquilizou-me pegando minha mão gentilmente, afagando-a. Um gelado arrepiou meu estômago, podia jurar que era por causa da fome, mas era por causa da quentura da mão dele mesmo. Era perto demais. Quente demais. - Tudo bem? Você parece...
- Não! Estou bem até demais. - pisquei algumas vezes.
- Mesmo?
- Uhum.
Não sei porque ele fez isso - talvez para me tranquilizar, era uma possibilidade -, foi demais. Kyle estava zoando com minha cara mesmo. Ele simplesmente ergueu nossas mãos entrelaçadas até seus lábios e virou para beijar a mim. Foi leve - como veludo, rápido e carinhoso. Ai mesmo que eu estava prestes a desmaiar. 
Não, eu não ia desmaiar.
Não agora que a comida tinha chegado. Vou desmaiar depois.
   
                                        


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