Asas negras escrita por Veneficae


Capítulo 3
Rumo a Nova York - parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/170578/chapter/3


Eu estava mais ou menos perto do restaurante de taco quando vi Ajneia. Ela era uma garota que eu via todo santo dia no shopping, ela tinha um probleminha com o marido. 
Homens, claro.
Sempre a causa dos problemas são eles. Principalmente num casamento, na maioria das vezes. Encostei ao seu lado, parecendo indiferente, só para saber o que tinha acontecido agora.
Se lamentando ouvi-a dizer.
-... e como sempre sou uma boba! Até essa guarda ao meu lado deve ter um relacionamento melhor do que o meu! - com certeza não. - não vou aguentar mais uma traição. - Pera ai! Ela tinha sido traída e aceitou-o de novo? Isso era o cúmulo do absurdo! Ela não se dava valor não? Eu tinha que dizer a ela certas coisas entaladas em minha garganta e...
Mas ela estendeu a mão, abstendo-me. 
- Nem chegue perto guarda. Deixe eu me lamuriar!
Eu podia muito bem usar minha autoridade, mas pensei... ela que se desse mal! Estou nem ai. A garota já fazia tanta burrada que um conselho meu agora não faria diferença na sua vida, pioraria até. Então, me afastei. Eu não queria dar a ela um motivo para fazer Ckipton me demitir, o que ele mais queria.
Fui para a área de jóias, então.

Em fim tinha terminado meu horário. Agora era só um intervalo.
- 20 minutos Aure. - relembrou-me o chato.
- Eu sei C.h.e.f.e. - aquela palavra ardeu na minha boca. Eu podia vomitar ali mesmo. Tanto que nem escondi minha repugnância na sua frente, fingi vomitar. Mas antes que ele pudesse me agredir verbalmente, sai.
Desci a escadaria e fui rumo ao Arno Ristorante para almoçar. 
Sentei a mesa e logo o garçom veio me atender.
- O que deseja?
Nem precisei olhar. Fazia um bom tempo que eu frequentava lá.
- Crostini Di Mozzarella, por favor. - esse prato era simplesmente empanados de mussarela com molho de tomate. Simples, barato e interessante. 
- Beber?
- Por enquanto nada, obrigada. - ele assentiu e saiu. 
Olhei para a janela ao meu lado e observei o movimento. Como sempre, cheio de gente. Havia tanta gente que as vezes era difícil de respirar, ficava abafado.
Hoje estava nublado e frio, -5 acho. Mas isso não é nada quando se é acostumada a esse tipo de tempo, nova iorquino. Não havia tempo muito quente, só as vezes. A gente se livrava dos casacos e colocava roupas mais finas, quase nada. Eu estava com um sobretudo marrom, bota grossa até abaixo do joelho, legg preta e cachecol. O suficiente, para mim.
Foi então que um carro preto (especificamente, tinha um designer um pouco diferente) passou pela rua e, não sei porque, chamou minha atenção. Parou na entrada do restaurante e saiu. Foi então que um cara com o cabelo meio espalhado (um castanho escuro com mechas pretas?) cruzou o restaurante elegantemente e sentou a duas mesas longe da minha. Ele não era o tipo de pessoa que eu via todos os dias, era mais do que elegante, apesar do trage simples. Parecia um pouco sério, dava para perceber quase que nada uma barba rala e acastanhado no contorno meio quadrado do seu rosto, olhos de mel penetrantes, boca com um leve tom de rosa claro e sobrancelhas um pouco grossas que dava um leve charme natural. Não seria o tipo de homem que eu falaria "já vi parecidos" ou "nunca vi mais gordo" e, aproposito, de gordo ele não havia nada. Não parecia aquele cara que vivia indo para a academia, mas um cara que só com uma curta caminhada por ai ficava perfeito. Ele arrumou um pouco o terno (estava sem gravata) deixando-o meio aberto e fez o pedido ao garçom. Foi rápido, mais do que eu, como se já soubesse o que pedir. Mas eu nunca o vi frequentando aqui, só se for de manhã, pois todas as tardes eu passava meu almoço aqui. Só se foi pelo mês que passei em Nova Orleans cuidando dos meus pais, talvez. Era um possibilidade.
Foi então que, talvez sentindo que alguém o observava, dá pra sentir, nossos olhares se encontraram. Desviei quase que imediatamente. Envergonhada era pouco. Então um outro garçom trouxe meu prato. Comecei a comer sem ao menos levantar os olhos em direção ao rapaz.
Tempo depois, o garçom veio. Olha! Nem precisei chamar!
- Senhorita, o cavalheiro ali mandou-lhe essa bebida. 
Um vinho. 
Um bilhete.
O cara olhava para cá e acenou com dois dedos com um sorriso discreto. Não entendi bem, mas fiquei curiosa. Mais do que já estava. Ao ver o bilhetinho dobrado em dois, um sorriso tentou sair, mas eu tentei não admiti que havia gostado daquilo. Parecia até uma cantada, se eu não soubesse que...
É um vinho ótimo depois de uma refeição como essa... ah, cortesia da casa.                                   Ass. K   
- Aquele senhor é...?
- O dono. - ... se eu não soubesse que era o dono. Com certeza era só uma gentileza, uma gentileza que tirou meu ar. Para não fazer desfeita, e eu nem queria, bebi um pouco e ergui um pouco a taça agradecendo assentindo com a cabeça. O homem sorriu. Senti-me levemente corar, o que nunca acontecia comigo. Eu tinha uma certa... aversão aos homem. Ckipton tinha me traumatizado, Ajneia também, os ladrões que eu já havia pegado também. Eu achava que todos os homens não prestava, todos me faziam entender isso, várias vezes, mas talvez aquele senhor fosse uma exceção. Talvez, não é? Tudo é possível.
Paguei e sai do restaurante. 
Com certeza eu veria muito aquele homem desse dia em diante.

                                      

Cheguei em casa caído de sono. Tomei um longo banho e desabei na cama, mas infelizmente a agua tirou todo o sono que estava tento. Me revirei na cama procurando uma posição boa para dormir, mas só quando me mudei para o sofá da sala na frente da TV foi que consegui dormir. 
Foi um sonho turbulento. Atrás de uma parede de vidro embaçada eu via uma figura com algo grande saindo de suas costas, parecia asas. Foi então que antes que eu pudesse quebrar o vidro, acordei. Foi nesse momento que comecei sentir presenças a minha volta, presença de pessoas me olhando. Mas não havia ninguém.
Mais assustada do que nunca, ciente de que estava ficando louca, liguei todas as luzes e me espremi contra o travesseiro na cama. Mas a sensação não parava, demorei para dormir.
E quando dormi tive pesadelos.
Pior do que qualquer um que eu já havia tido e, em vez de ser expectadora, vi-me correndo de sombras. Eu tinha virado participante, mas o jogo o qual eu estava envolvida não tinha acabado bem. Não mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Asas negras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.