Fecho a porta do carro com muita força. Era final de tarde e fazia muito calor, o que já era costumeiro. Entrei na casa de Emily e ela me recebeu, convidativa.

-Qual a boa? – pergunta, se sentando na bancada da mesa de sua cozinha.

-Nenhuma. – dou de ombros. – Só problemas...com você sabe quem.

-É, só acho que você deveria dar um pé na bunda daquele seu namoradinho nojento.  Ele é um idiota. Fica com outras a sua custa e você finge que não sabe e o ignora. Ele deve ser bom de cama e por isso não o despachou ainda...probrezinha, eu poderia te ajudar a encontrar alguém melhor mas a vida é sua.

Uma das coisas que eu sempre admirei nela foi a sua sinceridade. Ela não é como as outras pessoas que mentem para fazer com que você se sinta bem. Diz o que pensa e parece não ligar para nada. No fundo, eu sempre quis ser como ela.

- Talvez eu goste de ficar com ele. – murmurei, duvidando muito de minha palavra. – Ele é um cara legal e tranqüilo. Pode até ficar com várias garotas, mas ele é gentil e meigo. E muito romântico, até. Ele sempre abre a porta do carro para mim.

-Oh então você prefere a fama de vadia só para ter um cara que abre a porta do carro. – riu, deitando na mesa. – Muito interessante sua tese.

-Que se dane. – sussurrei e ela riu.

-Uau e agora você fala palavrão. – se virou, olhando para mim e fazendo uma pose muito sensual. – Isso mostra que eu estou mudando você...Interessante.

-Ah, cala a boca e vamos logo assistir a esse filme de uma vez.

Ela gargalhou, pulando da mesa e indo para cima de mim. Reclamei baixinho e ela riu mais ainda.

- Sabia que eu adoro quando você fica com raiva? – sussurrou em meu ouvido. – É tão excitante

Pulou de meu ombro e voltou para o chão. Ela começou a andar de costas e eu olhei-a melhor. Emily é linda e mais alta do que eu. Tem o cabelo mais preto do que carvão e olhos azuis claro. É bastante estilosa e usa sempre roupas no estilo gótico, ao contrário de mim que sou sem graça e extremamente básica. Hoje ela decidiu não variar e está maquiada, suas unhas pintadas de preto.

-Só não fica com medo, ok? – ela disse, sentando no sofá – Eu não quero ter que te consolar depois, como você deve estar acostumada. Sou a que dá medo nos outros e não a que consola

Deixo que ela escolha o filme que é um de terror (olá novidade?). Enquanto ela coloca Jovens Bruxas, como um pouco da pipoca que ela deixou para mim.No inicio do filme, tudo fica calmo demais só que tende a ficar mais tenebroso a medida que o final se aproxima. Não consigo não deixar de ficar pasma com sua semelhança com a personagem Nancy, seja física e psicológica. E também de mim com a minha xará Sarah que é uma garota sem graça que só quer ficar com um carinha que a despreza, mas ai ela o enfeitiça fazendo com que se apaixone por ela. Sinto que Emily gostaria muito de fazer isso e pelo pouco que sei dela, ela é muito de mexer nesse tipo de coisa o que sempre me deixa muito arrepiada.

Vendo que eu estou calma, ela grita e apaga as luzes o que faz com que eu me assuste.

- Sua ...- mordo meu lábio ciente de que estava prestes a falar um palavrão. Desconto minha raiva em uma almofada que jogo nela.

-HAHAHHA – ela ri, mais alto que tudo no mundo. – Você precisava ver a sua cara agora. – depois de tanto rir ela se acalma, irritada por eu não estar rindo com ela. – Se não vai rir beleza, mas Sarah...é impressionante o quanto você consegue ser idiota e ridícula. Sabe que eu gosto disso em você, não é?

-Não, eu não sei; - retorqui. – Deveria saber?

-É claro. Você é minha. Que queira admitir ou não. Um dia você vai se tornar uma pessoa mais...agradável, acredite. Isso vai acontecer, nem que eu tenha de transformá-la em uma como eu.

Me encolho no sofá, com medo. Até então ela estava séria, mas depois voltou a rir e foi difícil de acreditar nela. Seu lado obscuro e misterioso sempre me intrigaram, mesmo que de uma maneira surpreendente.