Taciturno escrita por MaiaAntunes


Capítulo 2
Ilusões


Notas iniciais do capítulo

Oiiii, desculpa a demora pra postar esse capítulo, é que eu tive que reformular algumas idéias que eu já tinha escrito e acrescentei uma parte que não tinha nesse cap, espero que gostem e que comentem suas opiniões! Beijos



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No dia seguinte, pesarosamente minha querida mãe levou-me para aquele tal colégio interno, o qual jurei que escaparia antes mesmo de completar dois dias.

Não deu outra, dois dias após a minha chegada aquele lugar coberto de pessoas sem moral ou cultura, nem sequer um pingo de amor próprio, eu já havia descoberto mil e uma maneiras de burlar a segurança e sair de lá calmamente. Porém, devo confessar que ainda não era o tempo certo, todas as pessoas ainda me notavam demais, me percebiam demais, e se eu saísse de lá, pela cara daquela coordenadora, a policia estaria atrás de mim em menos de uma hora. Então decidi esperar, tentar tirar algum proveito daquela experiência, pois sempre acreditei que, por mais fútil que pareça, se é real, existe a chance de valer a pena.

Infelizmente não consegui descobrir muita coisa nas duas semanas que fiquei confinada naquele lugar, as pessoas eram cegas, cegas por si próprias, não enxergavam que estavam presas, se sentiam livres mesmo sabendo que não poderiam sair de lá, se sentiam livres por poder fazer uma ou duas coisas quaisquer e esqueciam de todo o mundo desconhecido lá fora, enclausurados na fantasia de ser nobre dentro de um mundo taciturno, onde tudo não passa de uma farça.

Decidi sair exatamente duas semanas depois que entrei. Arrumei minha mochila, que infelizmente não poderia carregar tudo o que eu queria, tive que me despedir de muitas coisas, mas eu tinha uma idéia, idéia qual agia como um vírus que crescia a cada segundo dentro de mim, então sai, sai para começar de novo, descobrir o que realmente seria de mim. Eu já tinha o rumo certo, sabia onde queria chegar, e por mais que isso me parecesse errado, fugir para fazer algo tão previsível, eu não tinha opção, eu precisava tentar, precisava saber se João ainda se lembrava de sua amiga, precisava saber se Marta, minha ex-mãe, sentia algum arrependimento, pois como João dissera, eu era orgulhosa demais, e já que eu estava indo contra todos eles, decidi deixar esse egoísmo de lado só pra tentar descobrir se aquela minha vida ainda valeria a pena, se eu suportaria vive-la novamente.

Algumas horas depois eu já estava em frente à minha casa, tudo parecia tão normal, era como se fosse absolutamente igual, como se eu nunca tivesse feito parte daquele ambiente. Senti-me estranha com isso, talvez fosse frustração ou tristeza, mas isso de nada mais importava, fui direto para a janela que eu mais adorava escalar, para os olhos que eu jamais cansaria de ver.

Caminhei pelo corredor e fui até a janela de João, mas estava trancada, e tudo estava escuro, a parte de dentro da janela também estava fechada, e a casa parecia estar vazia, o silencio predominava tudo por ali. Fui novamente à frente da casa e então reparei em uma plaquinha pequena e sutil no portão que dizia: “Aluga-se”. Não podia ser verdade, ele não teria se mudado sem me avisar, mesmo ele não tendo me ligado nenhum dia em que eu estive no internato, ele jamais me abandonaria.

Fiquei revoltada, o sangue pulsava forte no meu coração, e o pior de tudo é que eu já poderia estar bem longe, curtindo meu tempo livre até que alguém me encontrasse, mas não, eu estava lá, e ele? Nem sequer me deu um telefonema para avisar. João era meu único amigo de verdade, mesmo me mostrando durona e forte, eu precisava dele, João era como o meu pilar, minha sustentação, embora eu tenha ficado muito revoltada, eu sabia que mais tarde eu ficaria triste, eu sentia que a separação acontecera, não era só o fato de ele não estar mais ali, o problema estava no fato de eu não me encontrar mais em seu coração.

Bati na porta da minha casa e Marta me atendeu, ela me olhou espantada.

- Oi, mãe. – Disse com um pouco de relutância, eu ainda não a tinha perdoado.

- Kayla, o que faz aqui? – Ela me puxou para dentro de casa e eu fui para a cozinha beber água.

- Eu fugi, você já deveria saber. – Sorri e tomei a água de uma só vez.

- Sim, não posso esperar mais nada de você. – Ela olhou para baixo e esperou.

- Se quer que eu peça desculpas e volte para aquele lugar, pode ir esquecendo. Eu não volto mais para lá.

- Então o que veio fazer aqui? Jogar na minha cara que você consegue ser rebelde? Que você é livre e o caralho a quatro? Eu não quero saber Kayla, se você não quer obedecer, ótimo, o que você pretende fazer? Rodar bolsinha para se sustentar? Pretende morar de baixo de uma ponte? Vá em frente, você não tem idade para fazer absolutamente nada! E se alguma coisa ruim acontecer, pode ficar tranqüila que noticia ruim chega rápido.

- Olha só como você é. É com essa recepção que você costuma receber as pessoas na sua casa? Posso ao menos dizer o motivo de ter vindo aqui?

- Ta, mais não enrola que eu tenho coisas pra fazer. – Ela disse impaciente.

- Eu só quero saber se você sabe onde o João está. Fui a casa dele e está vazia.

- Deixa esse garoto em paz! Você só atrasa a vida dele, não vê que agora ele está bem? Esqueça-o! – Ela disse mais alto, eu me irritei.

- Por que você diz isso? Só você não sabe, mais nós éramos como irmãos, eu o visitava todos os dias sem você saber e sempre fizemos tudo juntos. – Disse e fui em direção a porta.

- Essa é a questão Kayla, e só você não percebe. Ele quer viver do jeito dele, mas você, a garota incompreendida e metida a rebelde sempre o deixa ocupado demais para poder viver a própria vida.  Você só tem dezesseis anos, mal sabe o que é viver querida. – Ela disse com um tom de piedade que me tirou do sério, me virei e sai pela porta sem olhar para trás, sem olhar para a fachada que agora representava somente um lugar vazio pra mim. Um lugar onde eu não pretendia mais voltar.

Agora eu estava mesmo sem rumo. Eu tinha a pretensão de que João aceitasse sair comigo, se divertir, aproveitar enquanto ainda estamos aqui, jovens e felizes, mas parece que ele está me esquecendo.

Claro que eu já tinha um plano, eu pensava bem rápido nesse aspecto, e decidi naquele momento uma das coisas mais importantes da minha vida, algo que mudou meu destino completamente.

Peguei um ônibus na avenida perto de casa e fui para a rodoviária estadual. O lugar era bem grande, e a tarde ensolarada de verão deixava tudo com um clima de total correria, exatamente como a vida na grande metrópole era.

Eu não sabia para onde ir, nem queria saber, o que mais importava eu já tinha: coragem para seguir em frente, para dar de cara com o desconhecido, para encarar a vida nova que eu estava disposta a viver.

Caminhei pelas estações, sem saber o que eu realmente deveria fazer, então vi que estava na hora certa, eu não iria voltar atrás, já estava ali mesmo. Peguei em minha mochila um lenço preto e segurei. Olhei para as pessoas ao meu redor e procurei por alguém que me parecesse legal, alguém que parecesse confiável, que não me questionaria e simplesmente me ouviria.

Vi a alguns metros de mim um rapaz alto e com um suéter cinza. Ele parecia ser muito gentil e tranqüilo, seu rosto estava calmo, e mesmo naquele calor todo, ele estava bem, não se sentia nem um pouco incomodado, caminhei até ele e sorri, ele retribuiu e continuou olhando para o lugar de onde os ônibus vinham, segurei firme o lenço e finalmente disse:

- Pode me ajudar? – Olhei para ele, que virou-se na minha direção, ouvindo o que eu tinha para dizer.

- E com o que eu poderia te ajudar? – Ele disse sorrindo.

- Preciso que você me coloque dentro de um ônibus, o primeiro que passar.

- Tudo bem, e como? Você vai vendar seus olhos? – Ele disse olhando para o lenço em minha mão, sorrindo carinhosamente.

- Exatamente, então eu só precisarei entrar no ônibus e sentar. Você pode me ajudar?

- Claro que posso, não será problema nenhum. – Ele sorriu e eu me virei de costas, colocando a venda sobre meus olhos. O rapaz alto do sorriso gentil me ajudou a amarrar e ficou bem perto de mim, só esperando o primeiro ônibus passar, eu podia senti-lo a todo momento ao meu lado, e mesmo cega, eu sentia como se tudo estivesse no seu devido lugar, como se agora eu fosse realmente enxergar a vida diante de meus olhos.

- O ônibus chegou. – Ele disse e segurou minha mão, me conduzindo até os degraus altos do ônibus. Subi dois, e então o rapaz me ajudou a sentar em um banco próximo. Estendi meu bilhete, e depois de alguns segundos ele me devolveu, sentando ao meu lado.

- Quer uma dica? – Ele falou baixinho.

- Claro, é sempre bem vinda.

- Desça somente no ultimo ponto, o cobrador virá lhe chamar. Espero que goste. – Ele afagou minha mão.

- Obrigada, por tudo. – Sorri e senti ele se levantar, e meu corpo ficar sozinho. Eu só teria que esperar agora, esperar por algo bom, ou ruim, mas algo diferente, que fizesse com que a minha existência valesse a pena.

Dormi por um bom tempo, não sei dizer quanto. Talvez duas horas, mais, menos, quem sabe? Somente acordei quando alguém, que presumi ser o cobrador, tocou meu braço, despertando-me de meu sono tranqüilo.

- É a ultima estação.

- Obrigada. – Disse e tirei o lenço de meu rosto. Senti a luz invadir meus olhos e apertei minhas pálpebras até meu olho se acostumar com a claridade. Desci do ônibus e percebi que o sol estava quase se pondo, deveriam ser umas cinco horas da tarde.

Caminhei para fora da rodoviária e senti meu corpo todo estremecer. A visão era simplesmente incrível, inacreditável. A praia na minha frente, o sol iluminando tudo em tom de laranja, as pessoas sorrindo e se divertindo a beira mar, e eu ali, vivenciando aquilo, como se nunca tivesse estado lá. Mesmo visitando o litoral com freqüência junto de minha mãe, nunca fora assim, nunca tinha me sentido tão livre e tão feliz assim, a praia estava mais bonita, estava cantando para mim, o som das ondas e o cheiro de mar me enfeitiçavam. Caminhei calmamente até a areia fina e banca da praia do litoral norte. As praias por ali eram vazias, por serem fora do caminho dos grandes centros comerciais, ou sei lá por que, somente sabia que era perfeito, que aquele dia prometia muito, e eu só podia agradecer mentalmente a meu querido ajudante do sorriso gentil e calmo.

Sentei na areia e fiquei observando o horizonte por uns vinte minutos, sem nem mesmo ter tirado a mochila das costas. Percebi que meus ombros protestavam de cansaço por carregar peso o dia todo, então me permiti um descanso e coloquei a mochila de lado.

Peguei uma garrafa de água que eu mantinha dentro da mochila e bebi tudo de uma só vez, o clima quente exigia a hidratação, não me sentia bem em ficar sem beber nada.

Com todo aquele sol eu tive uma grande vontade de me jogar nas águas do oceano e afundar na minha própria brincadeira, afogar-me de felicidade, mas não tinha levado biquíni, não pretendia ir para a praia, e nem fazia idéia que iria parar ali, mas mesmo assim a experiência era ótima, eu sentia uma alegria gritante em meu peito, tive vontade de morar ali para sempre, não me importaria de ver aquela paisagem pelo resto dos meus dias, porém, esta era somente uma em mil paisagens que eu ainda pretendia ver, viver.

A brisa fresca da água batia em meu rosto e eu sonhava em tudo que estava por vir. Ouvi passos bem próximos de mim, e vi um garoto se aproximar e sentar-se ao meu lado.

- Oi! – Ele disse sorridente.

- Oi! – Respondi na mesma animação.

- Estava passando por aqui, e vi você sentada, não é daqui, é? – Ele dizia olhando em meus olhos, e os seus estavam brilhando, talvez pela umidade do dia, eram verdes, simples assim, indescritível. Seus cabelos eram pretos como a noite e se moviam levemente com a brisa de verão.

- Não, sou da capital, estou só a passeio.

- Percebi pelo seu olhar. Também sou da capital, e também estou a passeio.

- O dia está lindo hoje, não está? – Disse, depois de olhar para ele, e depois para o mar.

- Sem dúvidas. Vai ficar aqui por quanto tempo?

- Não sei, talvez mais algumas horas, ou dias, eu não sei ainda. E você?

- Vou embora quando eu estiver satisfeito, entende? Quando aquele sentimento de missão cumprida chegar. – Ele dizia olhando para o horizonte, mas parecia ir muito mais longe, viajava pelos continentes, sonhava com alguma coisa, seu olhar ia totalmente contra sua postura enigmática, me contavam tudo.

- Posso saber seu nome? – Perguntei.

- Tiago, e o seu? – Ele sorriu.

-  Kayla.

Nós ficamos conversando por mais alguns minutos, e então ele me convidou para passear, nós caminhamos e conversamos por um bom tempo, e quando já era noite, lá para as dez, nós nos sentamos novamente à beira da praia e ficamos em silencio, somente nos olhando, o momento era mágico.

Tudo estava perfeito, aquele olhar magnífico, a noite estrelada, a brisa fina e úmida, o som das ondas quebrando, aqueles segundos de paz eram eternos em sua perfeição, e estariam para sempre dentro de mim, não importava o que acontecesse.

Depois de alguns segundos em silêncio, percebi que estava tarde e que ainda não tinha pensado no que iria fazer.

- Tiago, acho que esta fi... – Comecei a falar, mas Tiago colocou um dedo em minha boca, me impedindo de continuar, ele sorriu e aproximou lentamente seu rosto do meu, e então nós estávamos mais próximos do que nunca. Seus lábios tocaram os meus com uma suavidade encantadora, e em menos de dois segundos eu já estava apaixonada por Tiago, eu mal o conhecia, mas sentia como se ele fosse a parte que faltava em mim. A metade que completava meu eu.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Comentem e digam suas opiniões! Beijoos, até o proximo capítulo ^^



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