Taciturno escrita por MaiaAntunes


Capítulo 1
Promessas


Notas iniciais do capítulo

Esse é o primeiro, pensei nele um dia a noite e corri pra escrever, mas como ocorre naturalmente, odiei ele pela manhã, mas decidi manter o início original, afinal, ele é a essência. Espero que gostem, adorem, amem, ou ao menos leiam. beijo beijo beijo, até lá em baixo ^^



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Hoje acordei com uma sensação estranha. Eu estava com medo, medo de que tudo fosse esquecido, medo que a magia simplesmente acabasse junto a mim, medo de que nunca alguém pudesse saber de tudo que aconteceu.

Não sou nenhuma contadora de histórias, pelo menos não era entes de conhecer ele, o homem da minha vida. E também nunca tive nenhum dom para escrever ou inventar, porém eu sempre tive aquela tal chama que move e guia você, aquela chama que te da a esperança e a coragem na sua vida, então, decidi começar assim, do jeito que realmente era, uma mulher que tinha experiências de sobra para contar, mais nenhuma experiência em escrever, se é que me entendem.

Comecemos do início, no momento que tudo aconteceu. Eu estava em minha casa, tinha dezesseis anos e uma mãe neurótica e solitária que não largava do meu pé. Eu freqüentava a escola normalmente e sempre fazia tudo que minha mãe mandava; isso porque eu devia a ela, devia muito. Meu pai havia falecido há cinco anos naquela época e eu me lembrava perfeitamente de tudo, dos últimos momentos dele em vida, porém, nunca tive coragem de contar a ninguém. Somente eu sabia o que tinha acontecido, mas só tinha dez anos, e nenhuma cabeça para falar da morte recente do meu pai. Nunca foi esclarecido o que realmente aconteceu, e eu sabia que era assim que deveria ser; tudo estava bem aos meus dezesseis anos, e não seriam psicólogos lunáticos que estragariam minha adolescência.

Voltando a nossa história, naquela tarde, eu não tinha ido à escola, estava passando mal, eu sofria de uma terrível enxaqueca crônica que não me abandonava nunca.  Estava deitada no sofá assistindo à um programa idiota sobre carros, eu não queria prestar atenção em nada, já que só fazia minha dor piorar.

Você pode estar pensando em quanto eu sou chatinha ou mimada, cheia de frescura e tudo o mais, mas não julguemos antes de conhecer, preciso ser sincera e dizer que realmente eu estava sentindo uma dor terrível naquele dia, não que isso fosse algo de outro mundo, mas é a pura verdade.

- Filha, temos que conversar. – Minha mãe disse sentando ao meu lado. Eu estava com meu pijama e enrolada em um cobertor, provavelmente com olheiras monstruosas e um animo bem ruim.

- Pode dizer, só não garanto que eu vá ficar acordada o discurso todo. – Eu disse meio grogue, olhando para a TV.

- O que eu tenho a dizer é sério, e preciso que você me de atenção. Estou pedindo demais?

- Sim, se eu quisesse mesmo ouvir uma chata falando sem parar, eu teria ido à escola.

- Tudo bem, você é assim não é? Faz sempre o que quer, na hora que quer. Eu não me importo mais, estou cansada de você! – Ela disse se levantando, sua voz estava mais alta. Ela estava brava.

- Mãe, não grita. Não quero perder meus neurônios.

- Kayla, eu e Luan decidimos que será melhor para todos se considerarmos a possibilidade de você ir para um colégio interno. – Ela disse, já recuperando seu estado normal de voz. Fiquei abismada, eu estava perdendo meus direitos de filha gradativamente, aquele cara (meu padrasto) iria mesmo conseguir tudo o que queria.

- Você quer mesmo que eu vá? Ótimo, mas saiba que eu não fico lá nem dois dias. – Eu disse indiferente. Finalmente aquele programa estava ficando um pouco mais interessante.

- O que você quer dizer com isso? Por que você não pode me apoiar pelo menos uma vez? Eu não agüento mais isso Kayla, você não colabora, não é educada, não me obedece... Não sei mais o que fazer com você.

- Mãe, ou melhor, Dona Marta. Se você quer se livrar de mim, ótimo, é só você me dizer agora mesmo o que realmente quer e eu nunca mais aparecerei na sua frente.

- Não é isso filha, é só...

- É só o que? – Eu a interrompi. – Será que você não enxerga?! O problema dessa família não sou eu. – Sentei-me no sofá e a encarei, minha cabeça girou. – O problema é você, só que é boba demais para perceber. Você foi quem deixou aquele cara entrar na sua vida e destruir o resto de felicidade que ainda tínhamos. Foi você quem fechou os olhos e deixou que eu me tornasse a ovelha negra, mas para seu infortúnio, eu não sou fraca como você, não vou deixar que uns ou outros me digam o que realmente devo ou não fazer. E, só pra desencargo de consciência, eu sempre quis colaborar, não sou mal educada e muito menos desobediente, isso é fruto da sua cabeça... Ou será que foi o Luan que plantou isso ai? 

Respirei fundo, eu nunca tinha contado o que eu realmente pensava para minha mãe, nós não tínhamos um bom relacionamento muito menos um dialogo, aquilo não era nada comparado ao que eu realmente estava pensando.

- É bom saber que é isso que você pensa de mim.

- Não é nem metade. – Desafiei-a.

- Ótimo, arrume suas malas, já esta decidido. Amanhã você ira conhecer novas pessoas, e quem sabe não repense suas atitudes. – Eu olhei para ela e vi sua cara de vitória, como se o peso finalmente tivesse sido jogado fora. Eu ri, não alto, mas o suficiente para que ela se irritasse.

- Claro que já estava decidido, aliás, você não tem poder nenhum aqui dentro, é bom saber que pelos menos eu vou poder ter uma salvação.

Sai andando e fui para meu quarto. Não era nada de mais, quatro paredes, uma cama, um guarda roupa e uma estante com livros pesados demais para poderem me acompanhar.

Nós morávamos em um bairro normal da classe média brasileira. Já é de se esperar que as casas sejam mesmo todas amontoadas, umas em cima das outras. Depois que fiz minha mala com o que eu precisaria; o essencial; fui para minha janela. Ainda eram quatro horas, meu vizinho, João, só chegaria seis horas. Ele era um nerd bobão que morava bem ao nosso lado, e por coincidência, minha janela ficava exatamente em frente à dele. Eu sempre fazia visitas para ele, minha mãe não deixava que eu fosse a casa dele nem que ele viesse a minha, mas ela tinha medo até de chegar perto quando eu estava irritada, então ela nem percebia que eu escapava enquanto meu quarto ficava trancado horas e horas.

Fui até a cozinha, peguei uma maça e voltei para meu quarto, tranquei a porte e sentei na janela. Claro que a janela dele não estava trancada, ele sempre deixava aberta, mesmo que ele dissesse que estava muito bravo por me ver no quarto dele, ele adorava quando eu aparecia lá, e sempre torcia para que não demorasse o dia que eu faria de novo. Infelizmente nossos encontros não durariam muito tempo, mesmo que minha mãe mudasse de idéia, eu não ficaria mais ali, naquela casa.

Pulei da janela e atravessei o corredor até o muro. Eu já tinha meus macetes, então não era difícil escalar e chegar do outro lado. Fiz e cheguei à frente da janela dele. Não tinha ninguém em casa, como sempre, seus pais trabalhavam a só voltariam as dez, e ele com certeza estava na aula super empolgado com seus átomos e moléculas. Pendurei-me no parapeito e, graças as minhas super habilidades em educação física, subi.

Como eu já imaginava, a janela estava aberta. Entrei e respirei fundo. O ar do quarto dele me fazia muito bem, era aconchegante e familiar. O perfume dele estava em tudo lá dentro, o que me reconfortava bastante. Deitei em sua cama e peguei o livro que estava em sua cabeceira. O titulo dizia: Como conquistar uma garota em dois meses. Eu ri. Era típico dele essas coisas. Com tantos livros legais em sua estante, era isso que ele estava lendo? Abri o livro onde indicava os truques para conquistar as mulheres e comecei a ler.

Não sei quanto eu li, mas em um momento, quando eu mudava de página, ouvi passos suaves e silenciosos. Sabia que era João, ele era a única pessoa na face da terra que andava politicamente correto até dentro de casa. A porta se abriu e ele apareceu.

João estava com uma careta engraçada e me olhava assustado.

- O que foi? Parece que viu um fantasma. – Eu sorri.

- Se eu não tivesse uma vizinha maluca, eu até acharia que fosse uma assombração. – Ele retribuiu o sorriso e colocou sua mochila em um canto.

- Nossa, estou tão mal assim?

- Bom, você já esteve melhor. – Ele riu e tirou a camisa. Enquanto procurava uma camiseta em seu guarda roupa, fechei o livro e fiquei olhando para a capa.

- Eu sei que ainda estou de pijama, não penteei meu cabelo e milhas olheiras devem estar terríveis, mas pelo menos eu não fico apelando para esses livros de ajuda. Vai por mim, não vai funcionar. – João olhou para mim e veio na minha direção.

- Me da o meu livro! Não era pra você ver! – Ele tentava tirar da minha mão, mas eu era mais rápida.

- Cuidado, com você sem camisa podem achar que está me assediando. – Comecei a rir e entreguei o livro pra ele.

- Relaxa, não seria verdade mesmo. – Ele jogou o livro dentro do guarda roupa e sentou na ponta da cama. – A que devo a honra de sua presença? – Ele disse com uma sotaque estranho.

- Não fala assim nunca mais. – Ele riu e continuou me encarando, provavelmente já devia ter sacado que tinha algo errado. – Amanhã eu não venho. – Disse e me sentei.

- Tudo bem, vem na quinta. Acho que eu não vou morrer por esperar.

- Amanhã eu não venho, nem na quinta, ou na sexta. Eu não vou mais vir aqui. Não tão cedo. – Ele me olhou torto, sem entender o que estava acontecendo. Eu sabia que ele ficaria triste, nós éramos amigos desde que eu tinha dez anos, quando me mudei para aquela casa, e desde então, nos víamos todos os dias, nem que fosse para dizer um “Boa noite” pela janela.

- Por quê? Eu fiz alguma coisa? Desculpe-me se eu disse algo que te magoou... – Fui até ele e tampei sua boca, eu tinha um sorriso no rosto, mas não ele.

- Olha, você não fez nada de errado. Alias, sem você não sei se eu teria sobrevivido até hoje, mas agora não é mais suficiente, eu e minha mãe não vamos agüentar mais nenhum dia na mesma casa.

- Mas, o que eu tenho a ver com isso? Quero dizer... Você pode continuar a vir escondida aqui, eu não me importo. E quanto a sua mãe, a gente pode dar um jeito.

 - Ela me colocou em um colégio interno. Minhas malas já estão prontas. – Ele me olhou triste. Eu sabia que isso ia acontecer, se eu pudesse, nem diria a ele para não ter que ver ele triste, mas seria muito pior ir sem dizer nada.

- Por que não me avisou antes? Por que não disse que estava tão ruim?

- Por que não estava. Aconteceu de repente. Hoje eu e minha mãe brigamos e puf, ela já tinha me matriculado.

Ficamos em silencio por bastante tempo. Depois de uns vinte minutos de cabeça baixa, João levantou e foi até seu guarda roupa. Pegou uma camiseta e vestiu. Ele não virou, continuou olhando para seu guarda roupa extremamente arrumado.

- João, você sabe que não vai acabar. A gente ainda vai se ver. Eu já estou até bolando alguns planos para fugir de lá para poder me encontrar com você. Só é meio longe, então você vai ter que ir até metade do caminho e eu...

- Esta mentindo! – Ele me interrompeu irritado. – Você sabe que não vai ser assim. Você sabe que isso vai separar a gente. E você... Vai simplesmente aceitar isso? Tenho certeza que sua mãe pode mudar de idéia, mas você é muito orgulhosa para pedir pra ficar não é? Se você quer mesmo ir, acho que é até bom mesmo que vá e fique longe por uns tempos... – Sua voz sumiu e o silencio voltou.

Eu me levantei e caminhei até a janela, não tinha mais nada para fazer ali, eu sabia que ele iria reagir assim. Quando eu ia abrir a janela, João segurou minha mão. Ele ficou me encarando.

- João, eu não quero ir, mas eu também não quero ficar. Eu não posso me esconder no seu quarto pra sempre.

- Eu sei, desculpa pelo o que eu disse. É só que, é tão injusto, isso me deixa revoltado.

- A mim também, mas eu já decidi, vai ser melhor assim. Mas vou te fazer uma promessa. Uma promessa para toda a minha vida. Eu prometo que nunca vou deixar você. Prometo que sempre estarei pensando em você e que quando eu puder, eu voltarei. Prometo também que vou ser independente. E para finalizar, prometo que nada nem ninguém irão atrapalhar nossa amizade.

 - Ótimo, e eu prometo que vou cobrar tudo isso de você. – Ele riu e me abraçou. Eu retribui. Ficamos abraçados por um tempo, então eu disse em seu ouvido.

- Amanhã não vamos nos ver, então eu já não vou mais ter o controle de quando poderei te visitar. Por isso escute: Nunca se esqueça de tudo que já conversamos nesses cinco anos. Cada conselho ou discussão. E, se alguém tentar derrubar você, lembre-se que suas pernas sempre foram o suficiente para te manter em pé, e então, siga em frente.

- Kayla, isso não é um adeus, é? – Ele disse me apertando mais. Eu não pude responder.

- Feche os olhos. – Eu sussurrei. Soltei-me de seus braços e olhei para ele. João era um adolescente normal, um nerd estudioso, nada malhado ou sarado, mas ele me fascinava, não sei até hoje por que, mas eu sinceramente gostava dele, o sol que se punha pela janela batia em sua pele e dava ao momento um tom meio dramático.

Beijei seus lábios e me virei, deixando seu quarto antes que minha resistência falhasse e eu ficasse lá o resto do dia, fui embora como sempre fazia, mas agora, sem a intenção de voltar. Ah João, queria que você estivesse errado, queria poder dizer que nos veríamos em breve.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo não é nada esclarecedor, eu sei, mas com o tempo vocês irão descobrir mais sobre a vida de Kayla e de João, mas vão ter que esperar pra ver. Garanto que depois ficara mais emocionante. Comentem, e digam tudo o que pensam, críticas construtivas são bem vindas.
PS: Não revisei o capítulo, então se tiver erros, me desculpem de coração.
beijo beijo beijo. Até mais



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