Uma parte do corpo de Deus! Os olhos e as mãos de Deus! Seria possível?

Parecia a maior loucura! Não; era a maior loucura. Mas fazia sentido. As datas, os nomes, o Iluminismo, os pares de três pessoas. – Um vive para matar, os outros três para revolucionar. – O que diriam os seguidores desses grandes gênios se descobrissem qual era a verdadeira fonte de tamanha sapiência? Quem imaginaria?

Parecia uma idéia idiota e absurda, mas as maiores idéias sempre apareceram assim, como idéias estúpidas, improváveis. E isso aumentava o entusiasmo dos antigos gênios quando todos descobriam que eles estavam certos e no fim, todos tinham o seu momento de dizer: “Eu disse” ou “Enfim, eu estava certo”. Ou pelo menos a maioria.

É simples. - Domenick começava a entender – Os olhos vêem a mente. A mão canaliza com um toque. É mais do que simples, é brilhante!

Domenick começava a entender. Ficara evidente que ele, Jerom, Luke e o assassino tinham “potenciais” diferentes. Era só comparar Mozart, Newton e Kant.

A idéia era impressionante. Domenick não tinha palavras. Era simplesmente, inacreditável. E isso era só o começo.

– Meu Deus... – Exclamou Domenick. Enfim, conseguindo falar.

– É exatamente Ele. – Disse Jerom.

– Mas, como? Por quê? Quais as provas?

– As provas?! – Disse Jerom aos berros – Você é a prova! Não seja ignorante, Dom. Mas se isso não for o suficiente – Ele esperou alguns segundos –, eu tenho a prova escrita.

– Do que está falando? – Perguntou Domenick estupefato. Ele tem uma prova escrita?

Jerom já estava se levantando e caminhava até um quadro de Michelangelo. A Criação de adão. Um dos quadros mais famosos do mundo que mostra Deus criando o primeiro homem da terra. Deus, cercado de anjos, estende a mão, e a seu reflexo, está Adão com o mesmo gesto. E onde os dedos se encontram no quadro, Jerom pôs o seu. Houve um click e como mágica, o quadro começou a se mover para o lado revelando um cofre eletrônico, ele digitou a senha e pegou uma pasta, fechando-o novamente.

– Domenick, eu lhe apresento o Copiale Cipher!

Domenick ficou paralisado. O que diabos é o Copiale Cipher?

Luke sorriu. Isso fez Domenick lembrar que ele estava ali. Desde que se sentou, Luke ficara paralisado como se estivesse prestando atenção em outra coisa, algo distante. Ele com certeza estava no mundo da lua.

– Não me impressiona que não conheça o Copiale, Dom – Disse Jerom –, mas para isso que estamos aqui! Não precisa nem me tocar, eu explico. – Ele deu um tempo – O Copiale Cipher foi descoberto na Academia de Berlim Ocidental no final da Guerra Fria, um manuscrito do século XVIII de 105 páginas contendo mensagens cifradas em forma de símbolos abstratos e caracteres romanos, foi finalmente decifrado com a ajuda de um computador, pela Universidade da Califórnia do Sul com uma equipe internacional. Foi difícil conseguir isto. E com difícil quero dizer caro – Ele retirou o manuscrito da pasta, era envolto e escrito em papel brocado ouro e verde – O criptograma revela os rituais e as tendências políticas de uma sociedade secreta estabelecida na Alemanha há 300 anos.

Domenick estava paralisado, apenas ouvia.

– Os ritos detalhados no documento indicam que esta sociedade tinha fascínio pelos olhos e a oftalmologia. No entanto, não parece que seus membros tenham sido médicos especializados nesta área. – Ele parou para ver a cara de Domenick – Isso te lembra algo, Dom?

Fascínio pelos olhos e a oftalmologia. Essas palavras pulsavam na mente de Domenick.

– Meu Deus...

– Para quem era um descrente, já mudou bastante. – Brincou Jerom.

Domenick não só havia percebido esta ligação estranha de uma sociedade secreta com a sua habilidade – os olhos – como também havia percebido algo mais surpreendente. Algo que ele mesmo dissera minutos antes. E suas palavras não paravam de ecoar em seus ouvidos:

“Euclides... Livros sobre a óptica da visão... Eratóstenes... Escreveu várias obras, em destaque ‘Sobre o libertar-se da dor’ ... Mozart... A música... Kant... A teoria do conhecimento...”

– É incrível. – Disse, enfim, Domenick.

– E creio que queira saber a herança do homem que quer lhe matar?
Domenick o olhou nos olhos, esperando.

– A imortalidade. O desgraçado herdou o coração de Deus.

Domenick caiu pra trás. Seu corpo não se movia mais, todas suas energias e concentração se uniam nos seus pensamentos. E mais uma vez, sua cabeça latejava com as peças que encaixavam.

Ele conseguiu passar pela cerca elétrica ileso... Se levantar depois de receber um tiro... A sede de matar, sem o medo de morrer... – E para seu maior espanto, uma obra de Eratóstenes relampeou em seus pensamentos iluminando ainda mais – “Sobre o libertar-se da dor”.

– Meu Deus... – Disse Domenick afundando no sofá.

– Ele outra vez. O quarto de nós se chama Hugo. Acho que já foram devidamente apresentados e creio que já faz idéia do que ele é capaz.
Domenick ainda não havia recuperado o fôlego.

– Na verdade eu me hesitei um pouco, ninguém é completamente imortal. – Corrigiu-se.

Isso fez Domenick se mover.

– O que disse?

– Ele não vive desde séculos atrás. Provavelmente tem a sua idade, Dom. Sabe o que isso quer dizer.

– Que os outros morreram. – Disse Domenick – Os que vieram antes, os antepassados dele.

– É. De certa forma, sim. O que ele realmente faz é se regenerar. Uma célula do seu corpo é capaz de se tornar qualquer outra célula e até mesmo se duplicar. Como se cada célula fosse um corpo.

– Com isso ele não envelhece, não precisa comer, nem se fere – ele lembrou novamente da obra de Eratóstenes, Sobre o libertar-se da dor. – e nem morre.

– Exato, mas há um certo limite. – Jerom se sentou novamente, pondo o manuscrito na mesa – Ninguém é eterno. Se...

Domenick o interrompeu, com o pensamento à frente.

– Se algo ocupar um espaço no corpo, não há possibilidade de regeneração. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar! – Domenick deu um salto – Ou seja, atingido no lugar exato, ele não poderá se recompor. Se o coração não bate, o cérebro não funciona e nada se move. Ele entra em estado vegetativo. – Domenick estava em êxtase – Newton nos deu a resposta. A resposta que vai nos salvar.

Salvar Asheley. – Acrescentou em pensamentos.

– Exatamente. Agora me diga, Dom, tenho certeza que tem a resposta, qual foi a sociedade secreta estabelecida na Alemanha há 300 anos?

Domenick ficou pálido de imediato.

– Meu Deus...

– Desta vez você errou. – Ele riu e esperou Domenick se corrigir.

– A Illuminati!

Mais peças se encaixava perfeitamente.

A Illuminati... O Iluminismo... O Copiale Cipher... Os artefatos maçônicos da casa de Jerom... As informações privilegiadas que Jerom tinha acesso...

– Você é um...?

– Claro que não! – Disse Jerom. Mais alto do que pretendia – A sociedade realmente existiu isso não é novidade, mas não existe mais. Tudo foi herdado. O segredo foi revelado para aqueles que eram bons em guardar segredos. Os maçons.

– Impossível. Eu já vi a mente de dezenas de maçons de último grau. Não há segredo Illuminati algum na Ordem.

– Dom, você tem que pensar duas vezes antes de sair espalmando qualquer um. – Brincou Jerom – Temos membros de último grau que não sabe nem enxergar a verdadeira arte. – Ele deu um tempo e começou a falar mais baixo, quase sussurrando. – O segredo só é revelado para aqueles que se elevaram numa das quatro grandes lojas.

– A maçonaria moderna...

– Século dezoito te lembra alguma coisa?

Era simples. Os modernos maçons nasceram em 1717, quando quatro lojas maçônicas em Londres, se combinaram para formar a primeira Grande Loja, dotada de autoridade sobre todas as demais lojas no país. E as peças começaram a juntar ainda mais. Era fascinante ver tudo se unir homogeneamente na cabeça de Domenick.

A maçonaria moderna nasceu em 1.717 d.C. ... A Illuminati surgiu no final de 1.700 d.C. ... A caça da Igreja contra os illuminates, que se espalharam pela Europa... As Grandes Lojas Maçônicas de Londres... A Inglaterra era a potências da época. Um ótimo refúgio para os illuminates... Os homens iluminados... Os homens que sabiam do segredo... O segredo que hoje faz parte de mim...

Domenick teve sentiu um arrepio quando pensou no Olho que tudo vê. Um conhecido símbolo Illuminati. Seria possível?

– Apenas os Grandes Inspetores Gerais – Último grau da maçonaria. O grau 33 – de uma das quatro Grandes Lojas de Londres eram confiados ao segredo. – Ele fitou Domenick – O segredo e os nomes.

Eles sabem quem somos?! – Pensou Domenick surpreso.

– Você disse uma das quatro Grandes Lojas. Apenas uma delas protege o segredo?

– Sim. Por isso você não descobriu, Dom. – Explicou Jerom – A Loja certa nunca deve ser revelada, assim como os GIGs – Grande Inspetor Geral – desta loja. Mas você teve esse privilégio único. – Ele ficou de pé – Está olhando para um deles.

Domenick estava chocado. Um dos que levam o segredo, também o guarda!
– Irônico, não?

Jerom foi interrompido por Luke, que também ficou de pé e começava a estalar os dedos.

– Está na hora. – Anunciou Jerom.

– Hora de quê? – Perguntou Domenick.

– De acabar com isso. Eu não expliquei tudo, mas preste atenção, Dom. – Jerom explicava – O corpo de Deus é uma metáfora, quase literal, mas de qualquer forma, uma metáfora. O corpo foi dividido em: olhos, nariz, boca, ouvidos, cérebro, coração, mãos e pés. Você já entendeu que os seus são os olhos e as mãos; os de Luke são os pés e ouvidos; os meus são a boca e o cérebro; e os de Hugo, são o coração e o nariz.

Domenick refletiu durante um tempo. Isso explicava os pés descalços de Luke.

– Parece meio aleatório. – Disse Domenick.

– Menos do que imagina. – Ele começou a falar mais rápido, parecia eufórico – O que interessa agora é o nariz de Hugo. Ele é capaz de nos sentir. E é por isso que estamos juntos, para que lutemos juntos! Para que ele venha até nós! Para que isso termine aqui! Hoje! – Ele terminava de falar aos gritos.

– E Asheley?

– Luke está cuidando dela.

Domenick achou que Jerom fosse sego.

– Luke está aqui do nosso lado!

– Eu sei, não sou sego. – Respondeu Jerom – Mas neste momento ele pode ouvir até a respiração de Asheley a quilômetros daqui. – Jerom apoiou o a mão no ombro de Domenick e disse calmo – Mate Hugo e você e Asheley estarão livres.

Luke bateu um pé no chão.

– Ele chegou, Dom. Venha comigo! – Exclamou Jerom andando disparado. Os outros o seguia. – Luke escuta tudo com os pés no chão. Ele servirá de guia para você, já eu, não posso fazer nada para ajudá-los. Coloquem um fim nisso... MATEM HUGO!