– Oh!

Abri os olhos instantaneamente e dei de cara com ela na minha frente. Pisquei confusa. Pelo jeito me encontrara ali. Como ela chegara ali? Havia tanto tempo que eu ficava ali durante os intervalos e ninguém nunca me notara.

– Ah, eu estava pensando e.. bom me desculpe – disse ela.

– O que? – eu não tinha entendido.

Ela me olhou por um momento.

– Ah, eu não devia ter falado. – pausa – Sobre o cadeado, sabe? – explicou ela – Depois que eu falei sobre ele, você pareceu... perturbada.

Não era uma pergunta. Não era um “você está bem?”. Eu diria que não, mas ela não tinha dúvidas. Tudo o que eu pude fazer foi olhar para ela.

– Era isso, me desculpa, interromper... seus pensamentos – disse ela sorrindo.

Ela foi andando.

– Não me incomoda – eu disse.

Ela parou ali, de costas para mim por alguns sengundos.

Talvez com um sorriso secreto.

E então se virou e veio se sentar ao meu lado.

Talvez eu tivesse chamado ela para não ter que me entregar novamente aos pensamentos. Ou talvez eu apenas quisesse, gostasse da companhia dela, por que eu não podia simplesmente admitir para mim mesma? O fato era que ela havia entendido minha débil tentativa de dizer que eu queria ela ao meu lado. E ali estava ela.

– Ah, não acredito que ainda não perguntei seu nome. – disse ela.

– Elisabeth. – respondi.

Eu não gostava do meu nome. Parecia bonequinha demais para mim. Simplesmente não era meu nome.

– Elisabeth... – repetiu ela. – Hmm... Beth ? Não, não... Posso te chamar de Bell ?

Encarei.

Pisquei.

– Claro.

– Meu nome é Louise.

Nome bonito. Combina com ela.

– Você estuda aqui a quanto tempo?

– Eu me mudei para cá ano passado. Eu bombei.

– Então você está repetindo o primeiro ano?

– Sim.

– Ótimo, você me ajuda a estudar então! – disse ela sorrindo.

O sinal tocou. Nós nos levantamos e fomos andando. Enquanto cruzávamos os corredores, as cabeças se viravam, e no meio de todo o barulho, alguns cochichos e comentários quase se faziam ouvir.

Mas ela andava normalmente, como se não visse nada disso. Se não importava para ela, não importava para mim, fazia algum tempo que eu deixara de ligar para coisas como essas.

Chegamos na sala junto com o professor.

Foi quando me sentei que eu toquei com as pontas dos dedos me cadeado, olhando pela janela.

Ah, parecia que nada podia me distrair, nada podia me fazer esquecer aquilo.

Antes que meus pensamentos voassem, afastei a mão do cadeado, como se ele estivesse em fogo e me forcei a pensar em tudo o que não fosse aquilo.

Meus pensamentos vagaram pela conversa que eu tivera com Louise no recreio, a primeira em muito tempo, e as horas começaram a se arrastar penosamente...