Psicopatia Dos Sentidos escrita por Thaty Soares


Capítulo 3
Olfato.


Notas iniciais do capítulo

Cheiro de perfume ou de sangue?



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Olfato

No dia seguinte, Melissa espreguiçou-se em sua cama, passando a mão por toda a extensão da cama de casal ocupada apenas por ela. O edredom de cetim acariciava sua mão e ela respirava fundo. Sua semana havia sido agitada, mas Peter desapareceu da sua vida desde que ele disse seu nome... Desde quando ele chegou tão perto de si, que quase pode sentir seu cheiro.

Tinha que admitir: ficou tentada a se aproximar mais, com aqueles lábios tão convidativos, entreabertos, quase que estavam sendo oferecidos para si.  Seus devaneios ainda a prendiam na cama, enquanto imaginava aqueles lindos olhos novamente.

Um sorriso discreto tomou conta do seu rosto, mas logo se repreendeu. Como deixou seus sentimentos entrarem nessa relação? Se isso continuasse, poderia morrer. Ah, levou as mãos ao rosto, deixando o sono e a imaginação de lado.

Logo que colocou suas roupas, tipicamente francesas como de costume, saíra para procurar um emprego. Logicamente não voltaria mais naquela escola que saíra correndo por causa de um assassino. Pensava isso com uma naturalidade que há poucos dias, nunca pensaria.

Claro, logicamente qualquer cidadão encontra um assassino numa escola de fundamental.

Ela andava na rua, atraindo atenção de várias pessoas, ainda mais pela cor do seu cabelo, que é peculiar de certa forma. Sabia que poucas pessoas tinham o cabelo ruivo, com orgulho. O salto vírgula, não aquele que o Peter limpou, fazia um barulho que anunciava sua chegada. Ela gostava desse sentimento, de ser contemplada.

Ou talvez observada.

A rua ficara quieta com uma velocidade incrível, menos alguns carros que ainda se encontravam estacionados na rua. Continuou andando a procura de um emprego ou algo que lhe pagasse e não morresse de fome.

Ainda atravessando aquela rua, ouviu passos macios as suas costas, quase sincronizado com o seu, para passar despercebido. Ou para que ela pensasse que era despercebido.

Ela virou para traz e se deparou com os mesmos olhos negros que tanto a atormentava. Mas eles estavam diferentes, desta vez traziam alguma ameaça e seu instinto ecoou uma única palavra que naquele momento fazia algum sentido, que era plausível dentre tantos devaneios.

Corra.

Girou o corpo para a direção oposta de Peter, pegando um pouco de ar para começar a correr e fugir daquele olhar que tanto a assustava, mas não conseguia descrever aquele sentimento estampado naqueles olhos tão negros.

Ele foi rápido quando a pegou pelo braço e a prendeu para perto de si. Seu perfume invadiu suas narinas e aquele cabelo finalmente acariciava-o de certa forma. Ele não podia sentir desejo por ela! Não!

Levou o pano com álcool no rosto de melissa, enquanto ela inalava a substância que vinha queimando até seus pulmões e deixando sua visão turva. Ela tentou tirar o pano, mas os braços iam perdendo força, ela ia amolecendo cada vez mais naqueles braços que a seguravam fortemente. Ela estava presa tanto mentalmente quanto fisicamente a aquele homem. Depois de um tempo, seus olhos fecharam contra sua vontade e finalmente cedeu todo seu corpo naqueles braços.

Ele não pode deixar de sentir aquele desejo que ele mesmo classificava como proibido. Mas também não conseguia esconder sua satisfação de tê-la ali. Quase como inconsciente, passou as mãos sobre o cabelo ruivo dela, liso em cima, mas formavam-se alguns cachos nas pontas até repousarem um pouco antes dos seios.

~*~

Ela vagarosamente abriu os olhos e sentiu que estava deitada. Com poucos movimentos, percebeu a coberta em cima de si, quase que a acariciando. O travesseiro era macio e confortável o suficiente para que ela tivesse preguiça de olhar a sua volta.

Ah, a preguiça, o pior de todos os pecados, afinal ele impede de realizar os outros seis.

Agarrou um pouco da coberta de pêlos marrons, respirando fundo. Um cheiro de perfume a invadiu e sendo dominada pela luxúria, outro pecado, apertou a coberta mais forte contra o corpo, como se quisesse que aquele cheiro que tanto a atraía ficasse impregnado. Tudo tinha aquele cheiro, o travesseiro, o colchão, aquele quarto decorado como se fosse uma cabana de férias em um lugar muito frio... Tudo tinha o cheiro dele.

Após alguns minutos desfrutando do local, ela resolve olhar a sua volta. Estava num quarto, isso era óbvio, mas não parecia onde ela morava, estava frio demais. Tirou a coberta de sua volta, encostando os pés descalços na madeira gélida. Um arrepio percorreu seu corpo e suas pernas pouco dormentes. Apenas a ponta apoiava no chão, pois a cama era muito alta. Sentiu-se uma criança por breves momentos até que se levantou de vez. Encontrou um grande espelho grudado na parede a sua esquerda. Suas roupas estavam amarrotadas, seu cabelo todo bagunçado e os olhos inchados de quem dormiu demais.

Passou as mãos pelos olhos, como se estivesse acordando de uma noite gostosa de dormir, aquelas que dão muita preguiça para levantar e a cama parece mais chamativa do que o trabalho.

Arrastava seus pés pela madeira, ainda meio sonolenta até chegar à porta grandiosa. Aquele lugar era magnífico.

Assim que saiu no corredor escuro, o que mais lhe chamou a atenção foram as lâmpadas apagadas e nenhuma janela. Nem mesmo fechada. O corredor fazia uma curva para a direita, e o corredor tinha desenhos arredondados, quase perfeitos.

O degradê que vinha do cômodo iluminado deixou a certeza que havia alguém ali, esperando o tempo necessário até a visitante descobrir onde ele estava.

O cômodo estava cheirando comida caseira e um pouco de vinho. A mesa redonda e pequena estava posta para duas pessoas, e rodando o lugar com os olhos, podia ver o moreno de frente com o fogão, terminando de cozinhar.

Ele a olhou pelo canto dos olhos, enquanto ela decidia em que lugar ficar, para ser menos notada possível, com quando estamos numa festa desagradável por obrigação. Quase escolhemos um cantinho e ficamos lá até tudo acabar, mas dessa vez não ia ser bem assim. Para ele, ela era a atração do local.

Normalmente ele não brincava assim com suas vítimas, simplesmente as matava e ponto, mas aquela mulher tinha algo diferente que ele não sabia dizer ainda o que era. Ele colocou a comida na mesa e fez sinal com as mãos para ela se sentar.

Vagarosamente, como se estivesse com frio ou algo do tipo, ela se sentou na pontinha da cadeira, olhando para os cantos como se esperasse alguma coisa.

- Eu sei que você está com fome.

Ela olhou-o assustada, mas mesmo assim deixou sua fome tomar conta de si e quando percebera, já estava comendo. Ele ainda apenas olhava com a cabeça apoiada em suas mãos até ela resolver parar de comer.

Ela tinha se saciado, mas ele não havia comido nenhum grão de nada daquela mesa farta. Um pouco de desconfiança a invadiu, um pouco de pânico estava crescendo dentro de si, mas até então não sentia nenhum tipo de drogas no seu corpo.

- Preciso te mostrar uma coisa. – Ele levantou-se da mesa, andando em direção a um cômodo ao lado da cozinha, do lado contrario do corredor de onde ela viera.

Fez menção de segui-lo, mas esperou algum sinal que indicasse que era mesmo para fazê-lo. Um olhar de soslaio a fez ter certeza que era para segui-lo e, desajeitadamente, levantou-se da mesa, esbarrando na mesma, por mais que sua intenção fosse fazer o menos barulho possível.

Ele a esperou passar a sua frente, e quando ela chegou à sala, ele a ultrapassou novamente e abriu uma porta, ao lado de uma mesa que tinha uma chave prata, e entrou no cômodo.

Era a porta pro porão da casa. Um frio invadiu seu estomago ao ver aquele lugar escuro e aquele homem sendo engolido pelas sombras, enquanto descia pela escada de madeira. A superstição tomou conta de seu corpo e colocou o pé direito primeiramente na escada. Ela rangeu, assim como uma porta de madrugada.

Estava escuro nos primeiros degraus, mas assim que Peter ascendeu uma pequena lâmpada amarelada ela já tinha um parâmetro de onde entrava. Era escuro, mesmo com a luz acesa, as paredes eram de pedra e o lugar ficava frio. O cheiro que de lá emanava, era de umidade nas paredes misturado com um pouco de ar de consultório médico, como se tivesse sido limpo minuciosamente.

Realmente, estava limpo demais. Para um porão, a coisa que mais chegava a estar suja era ela mesma. Olhava a sua volta antes de descer completamente. Ele estava indo atrás da escada, onde era impossível de enxergar de onde ela estava.

Ao se virar para continuar seguindo seus passos, vira uma garota loira, amarrada numa cadeira amordaçada e com grossas vendas nos olhos. Ela, ao ouvir passos, pode-se entender em seu murmúrio “Socorro” enquanto se debatia em vão. A corda estava deixando marcas vermelhas em seu corpo, marcando, de tão fortes que estavam. Ela nunca se soltaria.

Ele chegou perto da moça, abaixando sua venda e sorrindo sadicamente. Podiam-se ver os olhos marejados da garota, que demonstravam medo. Pânico.

- Já matou alguém Melissa? – Ao ouvir essas palavras, a moça amordaçada começou a tentar gritar e começou a se debater ainda mais, até mesmo deixando a corda rasgar partes de seu corpo, deixando o fino fio de sangue colorir a corda – Nunca sentiu como é, essa sensação de poder sobre a vida de outras pessoas?

- Elas tem família, uma história, um futuro! – Disse de instinto, se repreendendo logo em seguida, dominada pelo medo. Logo após balançou a cabeça negativamente em resposta a vida do assassino.

- Gosto quando toma atitudes próprias. – Disse com frieza, voltando os olhos para a vitima – É indescritível a sensação de ver o brilho dos olhos de alguém se apagar pouco a pouco. Essa sensação de poder sobre a história delas, o futuro, como você diz.

Num golpe rápido e sem aviso prévio, pegou uma pequena faca e com precisão – talvez por alguns anos de prática – fez um corte no pescoço da vítima, que soltou seu último grito abafado – dessa vez pelo seu próprio sangue.

A primeira coisa que Melissa viu, antes de entrar em desespero, foi o vermelho intenso escorrer no pescoço da vítima que tentava respirar em vão fazendo aquele barulho de quem se afoga, em desespero. Ela não podia fazer nada, o sangue continuava escorrendo em sua traquéia, invadindo seus pulmões, retirando todo resquício de vida que existia ali. Por fim, o cheiro de sangue começou a emanar do ferimento. Era um cheiro tão forte, indescritível, anunciando a morte.

Melissa, apavorada, recuou, levando as mãos à boca e deixando com que as lágrimas escorressem pelo seu rosto, deixando que o pânico levasse todo o seu poder de suas pernas, as fazendo amolecer. Caiu no chão, mas não se preocupou com a dor.

Há apenas alguns segundos, existia vida naquele corpo, que ainda sangrava e as gotas de sangue tingiam o chão. Ele jogou a faca ao seu lado, fazendo-a escorregar pelo sangue.

- Quando era criança, experimentei de meu próprio sangue. Ele tem gosto de ferro.

Tinha sido tão frio, tão cruel, mas ela havia visto o exato momento de que a luz deixou os olhos daquela mulher loira, de olhos azuis tão intensos. Foi simplesmente fascinante. 


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Notas finais do capítulo

e ai?? continuo???