SEGUNDA-FEIRA

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Teríamos aula de matemática ou algo assim, eu estava sem cabeça pra prestar atenção. Só me lembro do professor ter pedido para que eu me sentasse com Juliard. A menina que a uns dias atrás eu conheci alegre e sorridente, voltou a ser a menina fechada da escola. Então percebi que Juliard era totalmente diferente na escola do que ela era normalmente em casa, de um lado era bom porque eu não queria que ela ficasse distribuindo simpatia pelo colégio.

– Como foi sua noite, Justin? – Ela perguntou baixo quando viu que eu não estava puxando papo com ela.

– Ótima e a sua ? – Eu a olhei. 

– Boa – ela encolheu os ombros – Saí com o Damon.

– Hum – Eu olhei pra frente e só depois de um tempo percebi o quanto estava mordendo forte meus lábios. Nesse momento Damon entrou na sala, ele vestia a jaqueta vermelha que me emprestou – o que eu não sei como conseguiu de volta, já que eu não lembro de ter entregue a ele – e sua mochila nas costas, seu olhar logo correu para Juliard que as bochechas coraram e ela abaixou o olhar com vergonha.

Eu queria não entender o que aquilo queria dizer, mas não tinha como, eu poderia mentir pra mim quantas vezes quisesse mas não iria manter esta barreira por muito tempo, Juliard gostava do Damon.

– Vocês... ficaram? – Eu perguntei com um nó na garganta, eu queria ouvir ela dizendo que não.. o que era quase improvável, talvez tivesse tido até algo a mais. Eu me arrependi amargamente depois por ter feito esta pergunta, eu vi que não estava preparado pra resposta. 

– Não – ela disse – Damon me considera apenas como uma amiga, não me vê como nada a mais – sua voz falhou como se ela estivesse triste por dizer aquilo.

Agora eu entendia porque o olhar dela tinha se entristecido quando em um dia anterior ela disse triste a palavra "amigo", quando perguntei o que Damon era dela.

TERÇA-FEIRA

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Não havia motivos para eu ficar chateado com Juliard, mas eu estava chateado talvez com o mundo todo. Com o destino... porque ele teve que apagar a memória de Juliard? Agora eu estou a um ponto de perdê-la para um garoto qualquer, que com certeza não a ama o tanto quanto eu amo. E eu sei que ela não sabe, mas é comigo que ela tinha de estar, tinha de ficar. Tínhamos planos, projetos e não seria justo que eu a perdesse agora. Mas eu iria lutar até o fim.

Coloquei a roupa de Ed. Física e fui pra quadra onde toda a turma se aquecia, Rachel estava no meio de todos brincando de soquinho com um menino, e lá na arquibancada como uma semana atrás, estava Juliard rabiscando em um caderno com seu casaco preto. Eu fui até ela e sentei ao seu lado: 

– Porque você não faz Ed. Física? – Eu a olhei.

– Porque eu tenho problemas respiratórios – ela disse rabiscando a folha do caderno para desenhar um perfeito e notável urso panda. – Tenho licença dos médicos para não fazer esforços físicos.

– E você gosta de não fazê-los? 

– Eu não tenho que gostar. – ela me olhou – Apenas tenho que não fazer.

Fiquei em silêncio por um instante e logo em seguida ouvi passos a mais na arquibancada, Damon subia a arquibancada contente e com pressa de chegar logo: 

– Bieber – ele chamou com a respiração ofegante – A loira do Thomas esta lá embaixo te esperando – ele riu – Pode deixar que eu cuido da gatinha aí.

– Olha o respeito com ela seu idiota – Eu levantei, mas vi um sorriso no rosto de Juliard, ela tinha gostado do elogio.

Eu bufei comigo mesmo e deixei os dois a sós na arquibancada, parei ao lado de Rachel, ela se aquecia em silêncio mas logo disse: 

– Ela gosta dele não é? 

– Ela é a Sophia – eu falei – Ela é quem eu amo, e agora eu tenho certeza disso.

– Você já descobriu se é realmente ela? 

– Eu conversei com os pais dela – Eu comecei a correr em volta de Rachel para me aquecer enquanto ela fazia alguns polichinelos.

– Que barra você deve estar suportando... – ela disse entre suspiros. 

– Sim, e ainda suportaria muito mais! 

– Sabia que essa sua melação as vezes enjôa? – Ela parou e me olhou, vi seus olhos mais escuros, um pouco acinzentados e dei um sorriso.

– Eu não consigo parar de ser meloso com ela. 

– Querido amigo – ela colocou a mão em meu ombro – Você poderia recomeçar sua vida, você passou momentos lindos com a Sophia, mas agora que ela perdeu a memória... você poderia conhecer outras meninas, quem sabe seu novo amor? 

– Eu não vivi nem metade do que eu planejava com Sophia – eu focalizei os olhos cinzas de Rachel – Eu quero mais que isso.

– Desculpe Justin – ela olhou pra arquibancada e eu direcionei o olhar pro mesmo lugar. Juliard ria feliz com Damon ao seu lado, parecia que o mundo a sua volta não existia. – Acho que pra ela, o amor da vida dela esta ali ó... bem ao seu lado.

Eu encarei Rachel de forma que qualquer outra menina teria medo de mim, mas ela suportou aquele olhar e revidou ele com tamanha força. 

– Bora jogar, garotão – Ela pegou minha mão e me puxou pra quadra para um jogo de basquete.

Desta vez Rachel ficou no time oposto de mim, eu não sei mas estávamos jogando como dois abutres, dois rinocerontes disputando território. Ela me enfrentava, as vezes devia se esquecer que era uma menina, porque partia pra cima de mim com tudo, roubava a bola e fazia cesta. No início... Porque depois eu comecei a jogar, jogar de verdade.

No momento parecia que a quadra tinha se fechado pra nós dois, apenas nós dois. A bola apenas corria na minha mão e na de Rachel, as cestas eram feitas só pela gente... não estava reconhecendo o nosso espírito de equipe, estava apenas vendo uma disputa quente entre um ogro e uma formiga de cabelo vermelho.

O jogo terminou empatado, Rachel saiu pelo lado direito da quadra e eu pelo esquerdo. Saímos nos encarando, eu não sabia ao certo meus pensamentos mas desviei meu olhar quando um menino me ofereceu uma garrafa de água gelada e só aí eu vi o quanto eu estava suado. Olhei pra arquibancada e Damon descia deixando Juliard desenhar sozinha lá em cima, ele começou a se aquecer, acho que iria jogar nesta partida. Me sentei na arquibancada um pouco isolado do resto das pessoas e isso fez com que a loira de Thomas se aproximasse.

A Líder de torcida não era da turma de arquitetura e eu não sabia o que ela estava fazendo ali, ela se sentou ao meu lado e deu um sorriso de lado: 

– Você foi bastante corajoso de bater no Thomas.

– Eu não precisava bater nele se você não tivesse falado merda a ele, eu não te beijei, eu não tenho interesse nenhum em você.

– Ei, Justin! – ela se levantou e colocou as mãos na cintura, sua saia era tão curta que as pessoas atrás dela poderiam ver a sua bunda – Você é um gostoso, todas te desejam, e cá entre nós eu sou linda, gostosa... não sei porque não me quer.

– Porque simplesmente acho que tem meninas mais interessantes por aí para eu conhecer – Eu voltei a beber minha água em paz e tentei não ouvir o que a loira ficou dizendo dali por diante.

Fui pro vestiário, tomei um banho gelado para esquecer os problemas e quando sai secando meu cabelo na toalha Rachel estava me esperando. Ela já estava com a roupa do colégio e seu cabelo preso, seus olhos estavam mais claros agora, um pouco para o mel. 

– Vai para a festinha de hoje a noite dos Power's? 

– Você sabe que eu não vou – Eu a olhei e joguei a toalha dentro do vestiário.

– Vamos... você vai ficar fazendo o que? Deitado na sua cama, enquanto o colégio todo se diverte, inclusive Juliard?

– Ela vai? – Eu perguntei assustado.

– Sim, ela vai.. eu perguntei a ela.

– Eu... 

– Eu sei que agora você vai Justin, então as cinco por favor lá atrás do colégio na quadra de baisebol.