Depois da primeira latinha veio a segunda, terceira, quarta e daí por diante. Eu e Jannie já estávamos animadinhos demais. Foi aí que tocou uma música dos anos oitenta ou noventa que eu conhecia porque meu pai cantava as vezes e convidei Jannie para dançar.

Era uma música bem animada até, Jannie se recusou porque não sabia dançar, mas com um puxão foi necessário e começamos a bailar pelo bar enquanto olhos curiosos e risonhos nos fitavam.

Estávamos dançando e esquecendo o mundo lá fora, só sabíamos dançar e dançar. Nós fomos o convite certo para que outras pessoas se levantassem e dançassem conosco, a noite foi super divertida, mas uma hora eu senti que tudo estava rodando e achei melhor parar. Jannie concordou comigo, pagamos a conta e saímos do bar deixando que todos ali continuassem na felicidade que deixamos por lá.

Deveria beirar as duas e meia da manhã quando deixamos o bar, a movimentação não tinha diminuido muito. Bares e lojas continuavam acesas, carros passeavam, pessoas conversavam como se amanhã não houvesse trabalho a fazer.

– Vai pra faculdade amanhã? – Perguntei a Jannie que não conseguia manter seus passos em linha reta, mas sua expressão estava séria como se ela não estivesse bêbada, ou pelo menos estava fingindo não estar.

– Não – ela balbuciou – Se estou aqui ao lado de fora da facul é porque eu aprontei alguma coisa – ela sorriu – E eu sei que não fui a única.

– Aposto que você já sabe o que eu fiz – Eu a olhei.

– Todo o colégio sabe, e te admiram por isso. Afinal você fez o que muitos meninos tinham vontade de fazer.

– Hum – eu coloquei a mão no bolso da calça e senti um frio me fazer estremecer. – E você? O que fez?

– Dormi no quarto de um menino – ela revirou os olhos – Eu não fiz nada com ele, estávamos apenas conversando. Ele gostava de mim, mas eu estava explicando a ele que eu não gostava dele tanto assim, mas uma daquelas líderes de torcida – ela falou "líderes de torcida" com um certo disgosto – Deve ter contado pra diretora e ela nos pegou abraçados no quarto e me deu suspensão.

– Você e ele?

– Não, só eu. – ela suspirou e se encostou em uma parede onde tinha um anúncio de um show qualquer – Aquela diretora não gosta de meninas, não é possível. Ela tenta expulsar quantas puder.

– Eu percebi isso. – Eu lembrei de como ela queria ferrar com Juliard.

– Em um dia que eu estiver bêbada ou não respondendo pelos meus atos, eu ainda faço aquela diretora se fuder – Ela chingou e eu fiz careta em ver como Jannie estava bêbada.

– Acho melhor voltarmos – Eu sugeri e ela sorriu.

– Estou bem ainda... – ela riu – Já fiquei em estado pior.

– Não quero te ver em um estado pior – eu a puxei pela mão – Amanhã já sei o que podemos fazer.

– O que? – ela me olhou – Beber mais um pouco? 

– Não – eu ri, Jannie estava muito engraçada bêbada – Vamos ao shopping porque eu quero comprar algo para uma pessoa especial pra mim.

– Ok – Ela bocejou e desmaiou em meu colo me fazendo rir.

Tive de levar Jannie pra casa nos meus braços, ela dormia profundamente. Entrei na República toda escura, acendi com dificuldade uma luz da sala e a levei pro quarto. Suzi dormia com uma calcinha vermelha com desenho de um morango escrito em cima "Venha provar" e sem sutiã com os seios pra baixo. Era patética aquela calcinha dela, tive de prender o riso.

Coloquei Jannie na cama vazia devagar, tirei o casaco dela para que ela não suasse no meio da noite e a cobri com um lençol. Apaguei a luz do quarto e desci, eu iria dormir na sala mesmo, não iria dormir com Suzi alí do lado daquele jeito.

O sofá da sala não era a coisa mais aconchegante do mundo, mas eu estava tão cansado que pouco me importei com a qualidade dele, dormi rápido que quase não percebi quais pensamentos me fizeram dormir, ou melhor, na verdade eu não percebi.

[...]

No dia seguinte acordei com um cheiro gostoso de pão quentinho invadindo minhas narinas, abri os olhos e senti minha cabeça latejar.

Olhei pra cozinha e vi Jannie vestida com um vestido branco de alcinhas, ela me viu levantar e sorriu: 

– Como está a cabeça? 

– Doendo – eu sorri torto – Não sou muito acostumado a beber. 

– Pode ser. Mas é que as cervejas daqui são mais fortes também – ela colocou uma fatia de presunto no pão e pôs no prato e empurrou na minha direção – Come aí. Tô fazendo um café forte pra gente e daqui a pouco vamos no shopping.

– Você se lembra quando eu te falei isso? – eu me sentei na mesa meio confuso – Você estava super... 

– Nem eu sei como me lembro. – ela riu e colocou meu café na xícara. Eu não quis comentar mas o café estava muito grosso, nem sabia como eu poderia beber aquilo. – Gostou da calcinha da Suzi? 

Aquilo me fez cair na gargalhada, ela ficou me olhando assustada e eu consegui conter o riso: 

– Totalmente patética.

– O Gui que deu de presente pra ela – Ela se sentou e mordeu o pão. 

– Quem é Gui? – Eu franzi a testa.

– É o moreno – ela bebeu o café – O mais simpático deles, pelo menos pra mim. 

– Acho que sei quem é – eu sorri de lado – Mas isso é normal ficar dando presentes para... 

– É que é assim, Justin – ela me olhou e brincou com os farelos de pão na mesa – Quando você paga o aluguel, ela dá um "brindizinho"... me entende? É gratis e eles aceitam – ela me olhou – E eles dão as vezes presentes pra ela como retribuição, mas esse do Gui foi de zoação mesmo. Assim como eu dei um sutiã pra ele no natal passado – Ela sorriu e continuou a comer.

– Então quer dizer que ela já passou na mão de todos aqui?

– Sim, e ontem... ela pensou que você fosse o próximo.

– Mas não sou obrigado a isso... sou? 

– Acho que não. – ela sorriu de lado e se levantou – Então, vamos pro shopping?

– Vamos – respondi me levantando logo em seguida.