Depois da partida de Sophia meus dias estão sendo quase todos iguais. Eu me tornei um menino mais responsável, eu confesso. Ajudo a empregada da casa a cuidar do jardim, limpo a piscina, levo os cachorros pra passearem e arrumo pelo menos o meu quarto – o que já é um avanço.

Já se foram três meses da partida de Sophia e consigo cumprir minha promessa de ser fiel a ela sem problema nenhum. A noite quando estou sozinho, eu pego meu violão e canto olhando pra lua talvez pensando se ela possa estar olhando pra ela e de certa forma ouvindo minha canção. A saudade dela é muito forte, tudo que vivemos parece mais uma história louca do que uma realidade, mas foi assim que nos aproximamos e é assim que eu não consigo mais viver sem ela.

Pra saber como ela anda na Universidade ela me manda cartas todo fim de semana pra dizer como foram os seus dias. Eu me divirto com as cartas dela quando ela reclama dos professores e dos milhares de deveres de casa, amo quando ela fala de amor pra mim e o quanto sente a minha falta, e mesmo que machuque ouvir ela falando de amor por palavras e não pessoalmente, eu prefiro assim do que não tê-la pra mim. 

Neste momento eu estou no quarto lendo uma das cartas da Sophia, enquanto o Ryan ''se pega'' com Taluca um pouco mais a frente, perto da minha televisão.

" Amor, Esta semana foi a pior de todas, tive milhares de trabalhos pra fazer, trabalhos sem fim. Não tive descanso, e como não fiz a aula de Ed. Física - que é uma aula extra da universidade - que eu tive de fazer final de semana – o dia todo – isso me embolou ainda mais nos trabalhos. Eu tô com medo da prova que vem por aí, se eu começar a tirar notas vermelhas eu estou ferrada.Mas e você? Como estão as coisas por aí? Seus cachorros andam fazendo boa companhia pra você, ou você ainda prefere ver Taluca beijando o Ryan? Aposto que isso só aumenta sua saudade por mim não é? Aqui no colégio também tem muitos casais e eu estou muito carente, mas consigo me segurar, fica tranqüilo. Prefiro esperar por você do que te trocar por qualquer menininho daqui (risos), que aliás nem chegam aos seus pés..." 

Parei de ler a carta e olhei os dois se pegando e dei um longo suspiro: 

– Ela não manda mais carta a dois meses. 

– Talvez tenha desistido de você... – disse Ryan com a boca borrada de batom.

– Eu vou atrás dela! – eu disse levantando da cama – Vou me matricular lá, meus pais tem dinheiro suficiente pra isso.

– Mas Justin, é muito caro... não é mil, nem dois mil dólares não.

– Eu sei – eu peguei minhas roupas do cabide e as joguei na cama – Meus pais não tem com que gastar dinheiro então já resolvi o problema deles.                                           

                                             ***

Claro que minha mãe falou bastante quando eu disse que ia pra São Franciso, mas não teve outra alternativa porque meu pai conversou com ela e acharam que era o melhor pra mim.

Imediatamente comprei minhas passagens e no dia seguinte eu já estava embarcando, minha mãe fez questão de ir e de derramar algumas lágrimas: 

– Por favor mãe, isso é patético... – eu dei uma risada sem graça e lhe beijei a testa, cumprimentei meu pai com um abraço e corri pro avião que já me esperava pra embarcar.

O vôo todo eu passei dormindo e ouvindo música, eu estava me sentindo bem mais tranqüilo sabendo que agora eu estaria estudando junto com Sophia naquela faculdade, poderia protejê-la dos marmanjos abusados, tirar a carência dela, e o principal: tiraria minha preocupação.

As horas de voô se passaram rápido até, eu peguei o primeiro táxi que me apareceu e pedi que me levasse a Universidade de São Francisco, era a mais conhecida então não foi difícil encontrar e não era a toa que era famosa. Ela era linda, até demais para uma Universidade. Era um prédio bem grande em uma rua que não parecia muito movimentada, onde parecia apenas ter o colégio e algumas plantações de terrenos vizinhos – que por sinal eram bem tratadas. O colégio era bem pintado e tinha escrito com letras grandes e pratiadas "UNIVERSIDADE DE SÃO FRANCISCO".

Fechei a porta do táxi e caminhei segurando minhas malas até a secretaria do colégio que estava vazia, a não ser por algumas alunas que tinham ali. Era uma secretaria bem espaçosa, com três belas moças para atender. Uma delas digitava no computador com uma postura impecável, outra atendia uma menina loira que usava uma saia curta vermelha, uma sapatilha branca e um colete branco desenhado de amarelo a letra " P " e um tigre com uma pata levantada por baixo da letra desenhada e seu rabo entrelaçando o cabo da letra '' P ''.

A outra secretária era que estava disponível, ela tamborilava os dedos na mesa com cara de tédio.Eu andei em direção a ela e ela se endireitou na cadeira pigarreando e me olhando por cima dos seus óculos de armadura fina: 

– Bom dia jovem, posso ajudá-lo? 

– Sim – eu disse colocando minhas malas pesadas em cima da cadeira – Sou Justin, eu gostaria de me matricular.

A mulher trocou olhares com a secretária ao lado – que atendia a menina loira – e depois mexeu no seu casaco azul marinho: 

– Bom... – ela cruzou os dedos em cima da mesa como se procurasse as palavras certas – Nossa instituição é um pouco.. hãn.. cara para alunos que não fizeram prova e...

– Eu vou pagar – eu disse sem deixar que ela terminasse.

– Querido, você não está entendendo – ela sorriu de lado – Seu emprego em uma pizzaria ou como atendendente de uma lanchonete não vai pagar a mensalidade do colégio.

– A senhora que não está me entendendo, com todo respeito –  eu coloquei uma de minhas mãos na mesa e olhei dentro dos olhos dela, eu já estava perdendo a paciência, eu precisava entrar naquele colégio logo, precisava ver a Sophia.

A este ponto todos na secretaria já olhava pra mim, eles deveriam estar pensando que eu era um louco ou algo assim e que provavelmente seria expulso por seguranças como muitos alunos que deveriam tentar se inscrever alí, eles não perderiam esse barraco, mas desta vez ia ser diferente.

– Eu sou Justin Bieber – eu disse por fim – Filho do Dr. Jeremy, da família Bieber. Eu tenho de onde pagar essa mensalidade.

– Oh, querido Justin Bieber – disse uma mulher alta que usava um vestido branco e esvoaçante – Estávamos esperando por você. – ela se aproximou – Deixe Josilda, que eu faço questão de atender pessoalmente este rapaz.

– Oh – ela saiu da cadeira – Me desculpe senhor Bieber, eu não sabia que... 

– Sem problemas – eu disse chegando mais perto do balcão – E a senhora... – eu me referi a mulher alta de vestido esvoaçante – Quem é?

– Sou a diretora da universidade – ela disse – Seus pais me comunicaram que chegaria, estou lisongeada de recebê-lo.

– Obrigado – eu disse sem me importar com a puxação de saco – Eu quero fazer Arquitetura.

– Vamos preencher sua fixa, querido – ela sorriu graciosamente – Esta aqui é Luci – ela chamou a menina loira que me olhava de boca aberta desde quando eu tinha dito que era da família Bieber – Ela vai levá-lo para conhecer a escola, e seu quarto também.

– Claro – ela se aproximou – Com maior prazer.

– Ótimo... – eu disse pegando minhas malas – E quando começo? 

– Amanhã mesmo – disse a diretora.