Mundo Sobrenatural escrita por Neko D Lully


Capítulo 9
Indo mais a fundo


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito tempo sem uma atualização dessa fic estou aqui com mais um cap. Foi dificil terminá-lo, mas ontem me bateu aquela louca vontade e acabei conseguido terminar! Primeiro quero agradecer a todos que estão acompanhando e deixaram a fic com 40 reviews ^^. Obrigada mesmo e espero que continuem acompanhando!
Agora vamos a fic!



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Mundo sobrenatural

Nunca reclamava de um café da manhã no quarto principalmente quando tinha meu irmão, Kaira e todos os fantasmas aqui comigo para aproveitar de um dia de sábado completamente relaxante. Kaira tinha dormido aqui a convite de minha mãe e agora nós duas estávamos sentadas na cama com nosso café da manha no colo enquanto Silver estava sentado no chão fazendo o dever que não tinha conseguido fazer antes, por causa dos fantasmas que tinham ficado em seu quarto, e claro que também não conseguia fazer agora também.

 - Blaze, me devolve meu caderno!! – gritou saltando agora de um lado para o outro tentando pegar Blaze que flutuava risonha por todos os lugares colocando o caderno de Silver em alturas que mesmo ele pulando não conseguiria alcançar. Silver saltava, pulava, subia encima dos moveis que tinha no quarto e mesmo assim não conseguia pegar o caderno. Enquanto eu e Kaira nos deleitávamos com o fato dele estar tão engraçado como estava agora.

 Digamos que fora os dois, o resto estava calmo, sentado cada um em um canto observando os dois. Shadow estava do meu lado, com um braço passando por meu ombro enquanto eu comia um pedaço de bolo de chocolate que minha mãe tinha preparado para mim e para Kaira e Silver. Kaira estava ao meu lado comendo e rindo ao mesmo tempo (não me perguntem como isso é possível) enquanto Mephiles se encontrava a seu lado, a abraçando da mesma maneira que Shadow fazia a mim. Era até engraçado como os dois gêmeos faziam até mesmo coisas parecidas, mas ao mesmo tempo tão diferentes.

 Cosmo, Tails e Cream estavam sentados no chão, Cosmo abraçando Cream enquanto fazia tranças em seus cabelos castanhos e Tails ajoelhado perto delas mirando a confusão de Silver e Blaze com um enorme sorriso no rosto. Rouge se encontrava perto de Sonic e Amy, encima da estante de livros que velhos que tinha em meu quarto e riam desesperadamente dos dois, pensava até que morreriam novamente de tanto que estavam rindo.

 - Vamos Silver, pule um pouco mais esta quase lá! – falava Blaze enquanto estava deitada no ar tentando ver até onde Silver pulava, tirando o caderno de perto da mão dele sempre que podia. Ri divertida e logo coloquei mais um pedaço de bolo na minha boca e virei o rosto, por algum motivo, para ver Kaira, que mirava o próprio pedaço de bolo com uma cara de duvida.

 - Algum problema Kaira? – perguntei a mirando um pouco confusa. Quando ela fica séria tão de repente é porque tem algo errado acontecendo. Não só eu percebi isso, como logo depois que fiz a pergunta, Shadow e Mephiles a miraram também confusos.

 - Não é nada, só estava pensando em besteiras. – comentou e logo retirou um pequeno pedaço de bolo e o ergueu um pouco, como se o estivesse analisando. – Me perguntava se fantasmas comem. Sei que estão mortos e coisa e tal, mas se eles conseguem segurar objetos, até movê-los com a mente, será que poderiam comer também?

 - Não tem nada disso falando nos livros de exorcista? – perguntei também interessada olhando para o bolo que tinha em minha mão. Realmente era algo que dava curiosidade de saber. Olhei para Shadow, parecia que também estava interessado no assunto. Kaira negou com a cabeça. Um sorriso surgiu em meus lábios quando uma idéia cruzou minha cabeça. De vez em quando estranhava até mesmo minha própria mente. – Que tal descobrirmos. – Kaira, Shadow e Mephiles me miraram confundidos, mas eu apenas sorri e tirei um pedaço do meu bolo e logo me virava na direção de Shadow. – Diga “ah”

 Ele logo entendeu o que eu queria dizer e abriu a boca. Coloquei uma mão em seu peito e me ergui um pouco meu corpo colocando o pedaço de bolo em sua boca o que o fez fechá-la conseqüentemente sobre meus dedos. Pude ouvir como Kaira murmurava um: “por que não tive essa idéia antes”. Eu apenas sorri e me sentei entre as pernas de Shadow enquanto o mesmo sorria e me abraçava pela cintura.

 - E então? – perguntei. Ele pareceu pensar um pouco no que responder e então falou.

 - Comer podemos, mas não tem gosto de nada para nós. – ri um pouco e me acomodei em seu peito, esquecendo por um momento que agora meu namorado, porque sim, ele tinha me pedido em namoro, era um fantasma.

 - Ei, fantasminha sinistro. – chamou Silver, fazendo eu e Shadow voltarmos a vê-lo. Ele tinha conseguido puxar Blaze para baixo e agora a segurava pelo pescoço enquanto tinha seu caderno de volta a sua mão o apontando para Shadow, tendo seu cenho franzido e os olhos faiscando de maneira ameaçadora. Ah! Por favor, que ele não fosse ter uma crise de ciúmes de irmãos. – Olha lá o que faz com minha irmã, se não juro que te faço morrer mais uma vez.

 Neguei de leve com a cabeça e levei mais um pedaço de bolo a boca e logo bebi um pouco do leite que tinha no copo que minha mãe deixara para acompanhar o bolo. Agora que tudo estava tranqüilo e podia pensar direito via como meus dias nessa cidade não estavam indo tão mal. Tinha amigos, apesar de boa parte deles estarem mortos, tinha um namorado, mesmo que ele tivesse mais de 127 anos e tivesse morrido nas mãos de um maníaco e não mais me preocupava com minha mãe, na verdade em todos esses dias eu mal a via já que o trabalho dela era bem puxado e ela mal parava em casa. Apesar de tudo ter suas desvantagens, me encontrei com esse maníaco morto que coleciona almas que agora estava atrás de mim por eu tentar ajudar meus amigos fantasmas. Sem falar que ainda tinha muitos mistérios que queria resolver.

 Levantei ligeiramente a cabeça para encarar o rosto de Shadow. Ele era o único que podia responder minhas perguntas, mas por alguma razão ele não queria dizer nada. Era estranho e eu não queria forçá-lo a me contar nada, mas sentia que o que ele escondia era essencial para ajudá-los e como poderia fazer isso se nem conhecia o passado de cada um. Claro que depois de um tempo nessa casa passei a ver a morte da cada um que variavam para todos os tipos, mas sempre tendo o mesmo assassino, mas ainda não compreendia por que estavam presos na terra!

 Suspirei, e olhei para meu braço machucado. O osso já estava se curando e logo poderia tirar o gesso, mas o que me preocupava era o que tinha no outro braço. Aquela marca que a pequena fantasma me mostrara fora Nazo quem fizera, de acordo com a pequena ele me marcara para me matar e eu ainda não entendia porque. Eu protegia os fantasmas, porque a barreira que Shadow fizera agora estava em mim e perto de mim eles estariam seguros, seria por isso que ele queria me matar? Para ter a alma de meus amigos? Mas por que ele as queria tanto assim?

 Foi então que alguém bateu na porta e todos ali puderam ouvir a delicada voz de minha mãe do outro lado. Silver então largou Blaze de um lado e foi até a mesma abri-la para que nossa mãe entrasse. Ela tinha um singelo sorriso no rosto e usava roupas simples de ficar em casa, diferente dos dias de semana em que a vi e ela estava toda arrumada para ir ao trabalho. Agora ela usava apenas uma simples calça jeans azul clara, uma blusa branca justa, tênis de corrida brancos e deixara os cabelos soltos.

 - Maria, poderia ir no supermercado comigo para me ajudar com as compras? – perguntou ela e eu me levantei, agradecendo por já ter me trocado desde cedo. Agora usava uma saia negra rodada que chegava até metade das minhas cochas, uma blusa negra justa e minhas botas negras que chegavam até metade da minha canela. Assenti de leve e caminhei até a porta, sentindo como Shadow segurava minha mão um tanto preocupado, mas minha mão apenas escorregara da dele e então sai pela porta junto com minha mãe, deixando a todos para trás.

 As palavras daquela mulher que encontramos no parque voltaram a soar em meus ouvidos, dizendo que não deveria andar sozinha nunca. O pensamento me fez parar bem em frente a porta do carro sentindo um ligeiro calafrio percorrer meu corpo, mas então me lembrei que estava com minha mãe, não estava sozinha. Dei de ombros e entrei no carro me sentando do lado de minha mãe enquanto ela ligava o carro tranqüilamente. Não seria uma ida muito longa e só estávamos indo de carro por causa das compras, mas mesmo assim tudo pareceu ser envolvido em um silencio tenso, talvez porque fazia tempos que não falava com minha mãe.

 - E como tem ido a escola? – perguntou minha mãe tentando quebrar o silencio que dominava o lugar. Sei que era uma tentativa desesperava de não se afastar emocionalmente de alguém, mas eu não tinha como contar a ela, por mais que quisesse, tudo o que passava comigo. Afinal, como poderia dizer a ela que tenho amigos fantasmas e que um assassino morto esta atrás de mim para ter a alma de meus amigos? Acho que não pegaria muito bem.

 - Bem, apesar de ter faltado a maior parte dos dias não vejo muita dificuldade na matéria. – respondi sem demonstrar muito interesse enquanto via a rua passar por nós, chegando cada vez mais perto do supermercado, talvez o único da cidade, não sei ao certo. A cidade podia ser pequena, mas ainda não tinha o interesse de percorrer tudo o que tinha aqui, e para falar a verdade nem tinha vontade de fazer isso. Principalmente porque agora tinha um maníaco atrás de mim!

 - É bom que esteja se dando bem, Kaira é uma garota bem legal. Apesar de ser um pouco maluca. – não pude evitar rir com o comentário. O jeito de Kaira era extrovertido e desinteressado, fazia as coisas sem se importar com o que os outros pensavam. Por isso que ela sempre tratava os fantasmas como se fossem pessoas normais, que todos podiam ver e isso só fazia com que sua fama de maluca aumentasse. – É bom finalmente ver você e Silver tendo amigos, mas agora me diga, tem algum garoto que esteja interessada?

 Engasguei, e feio. Como falaria para minha mãe que já estava namorando? E o pior, com uma pessoa que já estava morta há 127 anos? Digamos, ela ira rir da minha cara, achando que eu estou brincando e logo depois falar que eu tenho um ótimo jeito para inventar esse tipo de coisa. Não poderia falar sobre Shadow, e por alguma razão isso me machucava, me fazia pensar que nunca poderia realmente contar a minha mãe que já comecei a gostar de alguém, que já dei meu primeiro beijo... Teria que treinar então meu jeito de contar mentiras, assim podia permanecer com esse segredo.

 - Ainda não. Nenhum de lá da escola tem uma aparência que me chame muito a atenção. – respondi dando de ombros, tentando aparentar normalidade. O resto do caminho foi em silencio e eu agradeci por isso. Chegamos ao supermercado e enquanto pegava tudo o tinha na lista de minha mãe e colocava dentro do carrinho de compras voltava a pensar em tudo o que estava acontecendo.

 A primeira coisa era saber por que Shadow não me contava o que tinha acontecido, porque ele mantinha um segredo tão grande só para si. Não fazia sentido! Qual era o problema de todos saberem o que tinha acontecido no dia que eles foram mortos? Mas outra pergunta que me incomodava, por que os outros fantasmas não se lembravam de nada do que tinha acontecido quando morreram? Por que não conseguiam ver Nazo? Outra questão, por que Silver não conseguia vê-lo? Não sei Kaira, mas Silver o atravessara como se ele não estivesse lá! Por que apenas eu e Shadow conseguíamos vê-lo? Isso estava tão confuso!

 Chegamos a entrada do supermercado e eu e minha mãe saímos do carro. Olhei para a enorme construção percebendo que era uma construção recente. Toda a cidade era rodeada de coisas historias que se passaram na época que meus amigos fantasmas ainda estavam vivos, mas aquele supermercado, visivelmente, tinha sido construído depois da morte deles. Talvez já no século XX, não sei direito. Apesar de tudo não era novo comparado as construções que tinha em Berlim.

 Caminhamos para dentro do supermercado e lá minha mãe me deu a lista do que precisava ser comprado. Estava distraída, olhando o papel em minha mão e analisando as coisas que tinham na prateleira que nem mesmo notei quando tinha acabado. Eram tantas coisas que passavam por minha cabeça, tantos assuntos a resolver... Eu queria ter pelo menos um pouco de conhecimento de exorcismo para saber como ajudar a todos. Mas é a primeira vez que lido com tudo isso e estou mais confusa do que a Kaira na aula de matemática.

 Passamos pelo caixa e nem eu, que estava distraída, consegui não perceber os olhares temerosos e curiosos das pessoas direcionados a mim e minha mãe. Era a mesma coisa que acontecia na escola, eles achavam que estávamos loucos, completamente alucinados por estarmos morando naquela casa velha que ninguém ia. Pelo menos isso eu compreendia o porque, Nazo possuía as pessoas que iam aquela casa, as fazia ficar com medo, parecendo malucas, e então as matava. Isso me fez recordar, eu conseguia escapar dele, mas minha mãe, Silver e Kley... Tinha que prestar atenção nisso, se bobear pediria a Kaira para me ensinar um daqueles truques para proteger minha família. Pera! Eu disse que o Kley fazia parte da família? Isso estava me afetando mais do que eu esperava.

 - Que arrogantes! Ficar falando das pessoas dessa maneira, mas que falta de educação! – reclamava minha mãe enquanto colocava as coisas no carro. Eu assenti de leve, concordando sem nem mesmo prestar muita atenção no que ela falava. Enquanto olhava para qualquer ponto naquela parte na cidade algo me bateu. Não sei o que foi, mas era mais ou menos a mesma sensação de quando Nazo me atravessou, só que um pouco diferente.

 Olhei envolta e dessa vez parecia que eu tinha voltado no tempo. Os carros tinham desaparecido, as casas pareciam ligeiramente mais novas e algumas mais a frente tinham desaparecido deixando apenas uma pequena estrada que levava para a casa onde eu estava morando, que parecia não ter mudado nada. Só que entre a estrada dentro da cidade e a que levava a casa onde passei a morar tinha um enorme portão, negro de grades grossas que rodeava toda a cidade. Esse portão estava perto de onde me encontrava e parecia estar trancado a cadeados. O céu agora se encontrava escuro como se estivesse prestes a chover e pude ver como vultos saiam desengonçados de dentro da enorme casa fora dos limites da cidade.

 - Maria! – tudo voltou ao normal quando senti alguém segurar meu braço e me sacudir um pouco. Sacudi um pouco a cabeça tentando voltar totalmente ao normal e virei meu rosto para o lado me encontrando com o olhar preocupado de minha mãe. Sabia o que tinha acontecido, estava vendo novamente a morte de um de meus amigos, mas minha mãe me interrompera ainda no inicio dela. Um daqueles vultos que apareceu saindo da casa era um dos fantasmas que tinha em meu quarto agora, tinha certeza disso. – Algum problema minha filha? Ficou pálida de repente, pensei que estava passando mal.

 - Estou bem mãe, mas... – agora qual desculpa deveria dar? Não sou boa em mentir como já tinha dito antes e agora mais do que nunca precisava. Se Shadow não queria me contar o que tinha acontecido eu teria que descobrir da pior maneira e era vendo cada morte, uma por uma, até finalmente compreender o que estava acontecendo. Então falei a primeira coisa que me veio a mente. – Acabei de me lembrar que tenho umas coisas pra fazer. Pode ir para casa, eu logo vou estar lá.  

 Sem esperar uma resposta sai correndo na direção que deveria estar o portão e então segui o caminho que ele ia para o lado, onde, em minha visão, tinha o começo de uma floresta de pinheiros. Tive que virar várias ruas até conseguir chegar ao inicio dela. Com o passar dos anos a área natural tinha sido tomada pelas casas e agora ela estava um pouco mais afastada do ponto que tinha visto em minha visão.

 Eram enormes pinheiros de troncos marrons escuros e folhas verdes viscosas e escuras, pontudas como agulhas. Até aquele momento não tinha percebido que minha respiração estava agitada e a marca do meu pulso começara a arder. Dei o primeiro passo para dentro daquela enorme floresta e no mesmo instante aquela sensação estranha tomou conta de meu corpo. O céu voltou a ficar escuro, agora era como se eu estivesse no meio de toda a floresta, cheia de arbustos, em sua forma mais selvagem. Ouvi barulhos e quando me virei quase no mesmo instante Shadow passou por mim, me atravessando e continuando a correr mais para dentro da floresta.

 Meu corpo estremeceu ao pensar que agora veria a morte dele e por um instante hesitei em continuar. Quase no mesmo instante Nazo passou ao meu lado, com um imenso sorriso maníaco no rosto e um machado ensangüentado nas mãos, o mesmo que vi perfurando o ombro de Mephiles e o matando. Aquela estranha coragem voltou a inundar meu corpo e como um impulso corri na direção que Shadow tinha ido e Nazo estava seguindo.

 Foi um pouco complicado, porque eu estava vendo o que tinha no passado e no presente muitas coisas tinham mudado. Muitas vezes eu tropeçava e caia no chão, sendo que não tinha visto nada para me fazer cair, outras eu apenas tropeçava, mas sempre estava correndo para mais a fundo na floresta, acompanhando o vulto branco que era Shadow logo a minha frente. Tinha perdido Nazo em algum momento, mas sabia que logo ele apareceria.

 Foi então que saímos da área da floresta, Shadow parou perto de um forte riacho enquanto eu estava um pouco atrás com a respiração agitada e o corpo ligeiramente tremulo. A marca em meu pulso ardia como nunca e quase no mesmo instante Nazo apareceu da floresta segurando o machado. Até ai já estava chovendo forte, mas as gotas de água atravessavam meu corpo e caiam no chão normalmente, eu verdadeiramente não estava lá.

 - O que vai fazer agora garoto? – questionou Nazo fazendo meu sangue gelar. Shadow já estava em uma posição defensiva e encarava atentamente a Nazo. Eu tremi, temendo o que ele fosse fazer agora. Não tinha como escapar nadando, o riacho naquele momento estava muito agitado, a única alternativa que ele tinha agora era encarar Nazo, que estava armado. – Do que adiantou fugir? Agora será castigado por sua ousadia!

 - Não vou morrer antes de vingar meus amigos! – Shadow exclamou e ambos se direcionaram um contra o outro. Vi aterrorizada como Shadow segurava o machado de Nazo e conseguia tirá-lo de suas mãos o mandando para longe. Agora com as mãos nuas ambos tinham que lutar aos punhos e com um riacho simplesmente ameaçador logo atrás. Respirei fundo tentando me controlar, tentando me conformar com o fato que não poderia fazer nada. Mas era muito difícil! Estar ali vendo e se sentindo tão imponente!

 Minhas pernas tremeram quando vi Shadow empurrando a Nazo na direção do riacho e então soube que ele não estava pretendendo viver naquele momento. Minha garganta ficou seca e meus olhos arregalados quando finalmente se derrubaram para dentro do furioso riacho que levou os dois corpos para vai se saber onde. Depois disso a visão terminou, a chuva que antes caia agora não mais estava ali e o sol era visível, o enorme e perigoso riacho era agora um leve córrego que tinha um volume de água não maior que o de um pequeno rio. A parte mais funda dele deveria chegar a minha cintura e olha lá.

 Ainda me recuperava do choque que tinha sentido quando risadas ecoaram pelo lugar. Eu a conhecia muito bem para que meu corpo estremece tanto de medo como de raiva. Eu a conhecia melhor do que qualquer um poderia imaginar. Quase no mesmo instante Nazo apareceu sentado em uma enorme pedra que tinha a poucos metros distante de mim. Ele sorria divertido e me encarava de maneira prepotente.

 - Já temos seis, faltam apenas três. – comentou se levantando da pedra e saltando dela, como se realmente precisasse fazer isso. Ele caminhou lentamente até onde eu estava e a marca em meu pulso ardeu em chamas, parecia que o sangue que passava por ela era lava. Gemi de dor e movi minha mão de cima para baixo, tentando fazer aquilo parar. – Arde não? – eu o encarei com raiva e recuei mais alguns passos para manter distancia.  – É um dos meus pequenos truques para fazer a pessoa ficar com tanto medo e tanta dor que deseja a própria morte.

 - É assim que você mata aqueles que aparecem naquela casa. Mas para que tanto trabalho? – questionei. O único, além de Shadow, que poderia me contar o que estava acontecendo era o próprio Nazo e ele parecia mais disposto a me contar a verdade do que meu namorado fantasma. Tudo o que tinha que fazer era entrar no jogo dele. – Shadow foi o ultimo que você matou, as pessoas que ainda estavam presas na casa fugiram e você ficou como uma alma errante nesse mundo. Mas por que continuar matando?

 - A morte é uma arte! Tem tantos jeitos de matar uma pessoa que dá até gosto você ver. – ele disse, como se de um poeta se tratasse. Recuei mais alguns passos enquanto ele se aproximava. Tinha que mantê-lo longe de mim até conseguir todas as respostas que queria e um jeito de fugir de lá sem que ele me matasse. – Era tão divertido ver as pessoas agonizando, suplicando para continuarem vivas!

 - Mas você sabia que um dia a sua morte iria chegar e que você seria obrigado a parar de fazer essa sua... Arte. – completei já conseguindo encaixar uma parte de todo aquele quebra cabeças. Isso explicaria aquela parte secreta na biblioteca onde encontrei os livros de exorcistas. – E você tinha um plano para isso. Ficou sabendo de algum modo sobre os exorcistas e ficou fascinado com a idéia de uma vida após a morte.

 - Pesquisei em vários livros, livros que você pegou do meu compartimento secreto. – continuou ele, apontando o dedo para mim de maneira acusadora. Eu agora dava voltas, fazendo um circulo entre nós enquanto caminhávamos. O mais longe que ele estivesse de mim melhor seria. – Descobri então um tipo especial de fantasmas. Eles penetravam no corpo da pessoa e mexiam com sua força espiritual, a deixando a beira da morte. Essa pessoa fica louca, ela passa a ver os espíritos até o ponto que finalmente morre. Também descobre que almas pecadoras podem usar outras para se fortalecer.

 - E foi então que você passou a colecionar almas. Pega aquelas que estão no cemitério e quando terminam mata mais para que seu estoque nunca acabe e você não tenha que esperar muito. – a parte dele agora já fazia sentido, mas ainda não entendia porque ele quer tanto a alma dos fantasmas que vivem no meu quarto. Claro que ele coleciona qualquer tipo de almas, mas ele esta disposto a me matar para ter a alma deles, os vigiou durante todo esse tempo até que tivesse uma oportunidade de pegá-los, mas por que?

 - Matar como fantasma é mais divertido do que como humano. Pode não ter aquele derramamento de sangue que eu apreciava quando estava vivo, mas é engraçado ver as pessoas se borrando de medo por minha causa. – quis vomitar naquela hora, meu estomago se embrulhou todo ao ouvir aquilo. Ter apresso a matar pessoas é algo, meio, canibal em minha opinião. Ele podia não comê-las, mas estava assassinando pessoas iguais a ele ou até mesmo melhores, era ridículo! – Eu teria pego todas as almas que queria se você não estivesse me atrapalhando, demorando tanto para morrer. Então me faça o favor e termine logo com meu trabalho.

 Ele veio em minha direção e meu primeiro impulso fora afastar rapidamente para trás, mas acabei tropeçando em meus próprios pés e caindo sentada no chão. Fechei os olhos e esperei a dor, mas nada chegou. Quando voltei a abrir os olhos vi Shadow a minha frente, segurando Nazo que sorria de maneira divertida. Senti-me atordoada naquele instante. Da onde, diabos, Shadow tinha vindo? Como soube que eu estava aqui? E por que ele parecia conseguir enfrentar Nazo com tanta facilidade?

 - O que esta fazendo aqui?! – ele me gritou empurrando Nazo para longe e se colocando mais próximo de onde eu estava, bem na minha frente. Eu balancei a cabeça tentando voltar meu foco para o que estava acontecendo. Nazo sorria com desdém encarando Shadow com uma mistura de divertimento e desejo insano por vingança.

 - Continuaremos com essas nossas briguinhas Shadow? – questionou Nazo e algo me ocorreu a mente. Shadow tinha me dito que tentava resolver esse problema desde o dia que tinha morrido, e com aquela afirmação de Nazo eu soube que eles tinham se enfrentado dessa maneira diversas vezes. Ao parecer nunca tinha levado a um ponto final. – Por que não me entrega logo a garota e acabaremos logo com isso? 127 anos nessa ladainha começa a cansar não acha?

 - Cale a boca e suma daqui! – gritou Shadow sem se mover do lugar. Alguma coisa estava errada, Shadow não podia estar tendo tanta facilidade naquela disputa, Nazo estava armando alguma.  Olhei para ele e percebi que seus olhos brilhavam. Não sei quais são as habilidades de um fantasma, não sei o que uma alma pode fazer quando se encontra fora de seu corpo físico, mas naquele momento sabia que não era coisa boa. Principalmente vindo de um maníaco alucinado.

 - Quer saber garoto, desde que meu pai te trouxe para nossa casa sabia que seria um problema bem grande. – começou a dizer Nazo enquanto uma energia verde esbranquiçada o rodeava. Vi Shadow ficar tenso e pude sentir até mesmo meu corpo ficando completamente paralisado com aquela demonstração de força. – Durante todo esse tempo tem me impedido de ter o que quero, então faça um favor ao mundo e desapareça.

 O resto que vi passou como se fosse câmera lenta. Nazo lançou uma onda de energia negra esbranquiçada que pareceu tirar toda minha vida de meu corpo, me deixando fraca, com as pernas tremulas e imóveis, não deixando que me movesse. Shadow a minha frente pareceu não ser afetado até que de repente caiu em meus braços, inconsciente, e com um brilho azulado, ao igual aquela garota no cemitério. Ele piscava, desaparecendo e reaparecendo rapidamente e aquilo me assustou.

 - Agora é questão de tempo. – comentou Nazo se aproximando, com um enorme sorriso no rosto. Eu não conseguia me levantar, não poderia fazer nada para me defender, nem mesmo a Shadow que estava incapacitado de fazer qualquer tipo de coisa. Meu coração foi parar na garganta enquanto o pânico começava a tomar conta de mim, deixando minha mente em branco. – É uma pena perder uma alma tão forte, mas já estava começando a me irritar. Pelo menos terei as outras oito.

 Tudo o que fiz foi fechar os olhos e abraçar com força a Shadow, esperando que tudo terminasse, que finalmente entregasse o tesouro ao bandido. Mas nada aconteceu além de uma exclamação de dor vinda de Nazo. Quando abri meus olhos vi uma barreira esverdeada a minha frente, faiscando e lançando faíscas fantasmagóricas para todos os lados enquanto Nazo tentava atravessá-la. Ele se afastou com a mão esfumaçando enquanto eu olhava para baixo, para o colar que usava. Aquele tão peculiar pingente brilhava e sabia que novamente ele tinha salvado minha vida.

 - Esses truques não vão te ajudar para sempre. – Nazo canalizou um pouco de energia em sua mão e estava prestes a tentar atravessar novamente a barreira a minha frente quando pequenas facas de aparência estranha o atingiram, tendo papeis retangulares presas em sua ponta onde tinha um circulo estranho. Os papeis eram iguais ao que Kaira tinha usado uma vez e como se fosse mágica eles queimaram e Nazo rangeu de dor. Era como se novamente ele estivesse vivo. – Você!

 Olhei para o lado me encontrando com um garoto de longos cabelos avermelhados, os olhos azuis escuros, a pele ligeiramente morena, o corpo atlético e deveria ser mais ou menos do tamanho de Silver. Ele usava uma calça jeans azul escura, uma blusa vermelha com uma jaqueta jeans sem mangas por cima e tênis vermelhos com detalhes amarelados. Nunca o tinha visto em toda minha vida, mas de certa forma ele me lembrava alguém... Mas não conseguia saber quem...

 Ele começou a pronunciar algumas palavras estranhas, em uma língua que eu não compreendia, e a cada palavra Nazo recuava mais, parecendo ficar temeroso. Quando finalmente ele desapareceu o garoto se aproximou de onde estávamos, a barreira a minha volta desapareceu e ele me encarou com irritação.

 - Garota maluca, sabe o problema que você se meteu? – ele questionou furioso para mim e logo fez menção de me carregar, parecendo saber que eu não consegui mover minhas pernas. Olhei para Shadow, que ainda se mantinha no mesmo estado, mas ele parecia ficar cada vez mais tempo transparente do que imagem solida que estava acostumada a ver. O garoto ruivo pareceu perceber e suspirou irritado. Ele levou a mão até o peito de Shadow e voltou a pronunciar algumas palavras que não consegui entender. Logo em seguida o corpo de Shadow desapareceu e em seu lugar ficou uma pequena bola azul reluzente, mas ao mesmo tempo fraca. O garoto ruivo pegou aquela pequena bola e a entrou para mim ao mesmo tempo que me erguia do chão com facilidade. – Assim ele vai ficar melhor em poucos instantes. Agora é melhor sairmos daqui antes que ele volte.

 Não sei quem é esse garoto, mas a ajuda dele veio na hora certa.      


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Notas finais do capítulo

O proximo já se encontra a metade e daqui a pouco vai aparecer aqui. Incrivelmente acho que a fic esta um pouco distante de ter seu fim e se continuar andando da maneira que estou agora, recuperando o ritmo de antes, acho que consigo terminá-la para logo terminar Guerra das Sombras e postar outras fics de Sonic para cá, porque já tenho algumas preparadas.
Bjss!



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