Amu seguiu sozinha por caminhos estranhos, em um belo jardim onde tudo era podado e aparado perfeitamente, a ponto de tornar tudo ali tão igual que mais parecia um labirinto. Depois de vários minutos de caminhada, ela chegou onde parecia ser o centro do labirinto, que tinha várias e várias roseiras, todas brancas e belíssimas, era um verdadeiro mar de flores até onde a vista alcança. E no meio de todas essas rosas brancas, três pessoas vestidas como cartas de baralho tingiam as flores com tinta vermelha. Mesmo de longe, Amu os reconheceu com facilidade: O primeiro era um homem com cabelos ruivos, presos frouxamente em um  rabo-de-cavalo e um tanto desgrenhados. Os óculos tortos em seu rosto lhe davam um ar meio atrapalhado. Ele tinha o número 3 estampado bem grande em seu peito; A segunda era uma mulher de cabelos curtos e róseos, mais escuros do que o de Amu, que também usava óculos, este porém lhe dava um ar mais intelectual. Ela tinha o número 2 estampado no peito; E a terceira era uma garota loira de olhos azuis, com cachinhos nas pontas do cabelo e um ar importante demais apara alguém que estava no meio do jardim pintando flores. Ela tinha o número 1 estampado no peito.

Não havia dúvidas de que aqueles eram, respectivamente,  Nikaidou Yuu, Sanjou Yukari e Lulu de Morcerf Yamamoto. Amu jamais imaginara que encontraria até mesmo aqueles três nesse mundo de insanidades. Ela se aproximou cautelosamente deles e, quando chegou perto o bastante, pôde ouvir uma cantoria:

"Vamos pintar assim, as rosas cor de carmim.
É bom pintar, é bom passar a tinta até ao fim.
Nós pintamos assim as rosas cor de carmim.
Vamos pintar assim, as rosas cor de carmim.
É triste ver que irão morrer as rosas do jardim.
Ohhhhhhhh!!
Terão um triste fim, todas assim, sim, sim, sim, sim, sim, sim
Vamos pintar enfim, as rosas cor de carmim!"

- Desculpe a vez, mas Senhor Três, porquê cor de carmim? - perguntou Amu tentando seguir o ritmo da música
- Bem, acontece que, menina, por engano plantamos rosas brancas! - exclamou Nikaidou em resposta - E a...
- É que Vossa Majestade é assim, só quer cor de carmim
Se ela chegar, é o nosso azar, será o nosso fim - as outras duas responderam junto com Nikaidou, recomeçando a canção
- Que horror! - exclamou Amu
- E como morrer é o fim... Pintamos cor de carmim - cantaram eles
- Ora essa! Eu ajudo-vos! - disse Amu entusiasmada.

"Vamos pintar assim, as rosas cor de carmim
Silêncio, pois senão depois, será outro motim
Mas, pintemos até ao fim.
Sim, todas de cor de carmim.
Nem azul! Nem verde! Nem roxo, enfim! Mas todas cor de carmim!"

http://www.youtube.com/watch?v=7_GK4bIQoxI

"Espera aí, por que estou aqui no meio desse matagal pintando flores junto desses três?! E ainda por cima acabei cantando essa música idiota junto com eles... ah bem, não importa, ao menos meu nervosismo passou. E até que isso é divertido!" - pensou Amu consigo mesma.

Amu estava se divertindo tanto enquanto pintava rosas em companhia daqueles que outrora foram seus inimigos, que não percebeu um garoto com orelhas e rabo de coelho passar correndo bem ao lado deles enquanto soprava uma trombeta... o mesmo garoto que à levara à esse mundo de loucuras e que a atraíra para Wonderland... Sanjou Kairi, com o mesmíssimo paletó acincentado, a mesmíssima gravata-borboleta e as mesmas orelhas e cauda de coelho de antes, passara correndo por eles, soprando a trombeta desesperadamente como se sua vida dependesse disso. E em seguida várias outras cartas de baralho surgiram aparentemente do nada, se ajoelahndo em duas perfeitas filas, uma de cada lado deles. Ao perceber o que estava acontecendo, Nikaidou, Yukari e Lulu começaram a correr desesperados de um lado pro outro, até que conseguiram se encaixar em um espacinho em uma das filas. Amu fez o mesmo e colocou-se ao lado deles, com certa dificuldade por causa da falta de espaço.

Todas as pessoas, cartas de baralho, animais, ou o que quer que seja, ajoelharam-se nas duas fileiras, e em seguida ouviram a voz de Kairi soando por um megafone:

- Com vocês... o poder absoluto... a beleza em pessoa... A perfeição divina... a nem sei mais o quê... Vossa Majestade... o Rei de Copas! - exclamou Kairi, um tanto ofegante de tanto correr
- Rei de Copas?! - repetiu Amu confusa e levantando a cabeça pra ter certeza de que ouvira direito. Lulu, que estava ao seu lado, forçou sua mão contra a cabeça da garota, forçando-a a se curvar novamente.

Em seguida, uma pessoa entrara majestosamente entre as duas fileiras de cabeças curvadas. A pessoa em questão vinha sentada em um enorme, belo e confortável trono de ouro, que era carregado por quatro cartas de baralho, aparentemente exaustas por terem qeu carregar não só um monte de ouro pesado, como também a pessoa que estava em cima dele. A pessoa a quem todos aclamavam tinha cabelos dourados como o sol e olhos grandes e  avermelhados. Usava uma roupa de seda azul-escura com botões e alguns detalhes na manga dourados, provavelmente de ouro. Também trajava uma longa capa vermelha, com a  barra branca, e usava uma enorme coroa ecrustada com pedras preciosas no topo da cabeça.
O garoto a quem todos chamavam de "Vossa Majestade", "Rei de Copas", e afins, era sem a menor dúvida Hotori Tadase. Mas ele parecia extremamente diferente, e não era só pelo fato de estarem em Wonderland: O vermelho de seus olhos, que antes transmitiam inocência, agora parecia conter mais maldade do que qualquer outra coisa, e seu sorriso tornara-se quase medonho de tão maligno... até o sorriso pervertido de Ikuto seria melhor do que isso.

O Rei desceu do trono com um salto, para imenso alívio das cartas de baralho que o carregavam, e caminhou imponente entre seus súditos, encarando todos com muita atenção, como se esperasse encontrar algo do que reclamar. E não é que encontrou? Não dera nem dez passos, e Tadase percebeu a tinta vermelha que escorria de uma rosa branca particularmente mal pintada.

- Quem pintou assim... as rosas cor de carmim?! - indagou ele, sua fúria crescendo a cada palavra
- Foi o "Três"! - acusou Yukari de repente, apontando para Nikaidou
- O que?! Eu nada, foi a "Um"! - disse ele, apontando para Lulu
- Não mesmo, quem estava pintando essa roseira era a "Dois"" - rebateu ela, apontando de volta para Yukari
- Já disse que não fui eu! A culpa é do "Três", Majestade!! - exclamou Yukari em resposta
- Já chegaaa!! - ralhou Tadase, ponto um fim na discussão dos três - Vocês três, serão punidos agora mesmo!!
- Mas Majestade...
- A culpa não é minha!
- Por favor perdoe-nos!
- Já mandei calarem a boca! - gritou Tadase impaciente - Escrevam o nome desses três no Death Note¹  agora mesmo!!
- NÃÃÃÃÃÃÃÃO!!! - berraram desesperados os três ao mesmo tempo, sendo levados em seguida pelos guardas
- Escrever o nome deles no Death Note...?  - repetiu Amu confusa - Pensei que ia mandar cortar a cabeça deles
- Normalmente eu faria isso, mas a gilhotina precisa ser afiada, e as foices estão em falta, então estou usando esse método provisório por enquanto - respondeu Tadase calmamente, em seguida reparando melhor em Amu, como se fosse a primeira vez que a visse - Ei, eu não me lembro de você... é nova por aqui plebéia?
- Ahh... sim. Nossa, parece até a versão Chara Change do Tadase-kun, só que bem pior...
- Como é??
- Ahh... n-nada não, só estava pensando alto - apressou-se ela a dizer
- Sei... e como você se chama, plebéia?
- Meu nome é A... ahn... Alice, Majestade - por algum motivo, Amu achou melhor não dar seu nome verdadeiro
- Alice, é...? Alice, você disse?? - repetiu ele, por alguma razão, ficando surpreso
- S-Sim...
- E por acaso... o seu sobrenome seria Hinamori...?
- Sim, mas... como sabe dis...
- Atenção plebeus! - exclamou Tadase, interrompendo a garota - O dia que eu tanto aguardava finalmente chegou! O dia em que minha futura noiva, a mulher predestinada a tornar-se minha, viria até Wonderland.... finalmente chegou. E essa mulher é você... Hinamori Alice... case-se comigo e se torne a minha Rainha!!
- O QUEEEEEEEE?????!!! - Amu fora incapaz de conter o berro, tamanha foi sua surpresa. Ela mal conseguira acreditar no que seus ouvidos acabaram de escutar, seu cérebro custava a processar a informação. Sentiu seu rosto esquentar numa velocidade alarmante, suas pernas bambearem e o suór frio escorrendo por sua face. Ela tinha uma vaga coinsciência de que várias pessoas estavam assistindo à cena e que agora aplaudiam e davam vivas entusiasmadas, então lemboru-se de que tinha que dar uma resposta.

Era bem verdade que ficar com Hotori Tadase se tornara o maior sonho dela desde que se matriculou na Academia Seiyo, e esse era o mais perto que já chegara de realizar seu sonho, se não aproveitasse agora, provavelmente não teria outra chance, mas... aquele não era o Tadase por quem ela se apaixonara. Amu gostava do Tadase doce e gentil, com uma aura natural de Rei sim, mas não de um Rei maligno e egocêntrico como o garoto á sua frente, e sim de um líder nato que faz de tudo para ajudar as pessoas ao seu redor. Amu queria o Tadase amável, tímido, e talvez um pouco atrapalhado de volta, e não aquela imitação barata de Rei... ela queria o seu bom e velho Tadase de volta. Ela sabia o que tinha que fazer, mas ainda assim mal acreditava no que estava prestes a falar... o que Yamabuki Saaya diria se visse o que ela estava prestes a dizer? Provavelmente a esganaria e faria de tudo para tomar seu lugar, com certeza. Amu respirou fundo, juntou toda a coragem que tinha, e disse:

- Majestade... fico lisonjeada com seu pedido, mas... infelizmente eu terei que recusar - respondeu ela finalmente, mal acreditando que estava dando um fora em Hotori Tadase, o garoto mais cobiçado da escola
- O que foi... que você disse...?
- Eu disse que infelizmente terei que recusar seu pedido de casamento - repetiu Amu, ainda sem acreditar nas palavras que saíam de sua boca - Por mais que eu tenha sonhado com esse momento... você não é o Tadase-kun do qual eu tanto gosto. Você se tornou uma pessoa mesquinha e prepotente... e eu não quero me casar com alguém assim
- Mulher... como ousa...?! CORTEM-LHE A CABEÇA!!!! - berrou Tadase a plenos pulmões
- Hãn... p-perdão, Majestade, mas... i-isso não será possível, todas as gilhotinas e foices estão fora de uso, lembra? - falou Kairi um tanto amedrontado
- Não me interessa!! Quero essa mulher morta agora!!! - gritou o Rei furioso - Como ela ousa recusar a mim, o Rei?! - Cortem-lhe a cabeça, vamos!!!
- M-Mas já disse que isso não será possível... quer que escrevam o nome dela no Death Note? - sugeriu Kairi
- Não! Isso é pouco para ofensa que ela me fez! Quero ver essa mulher idiota sofrer!! - exclamou Tadase, sua raiva aumentando cada vez mais - Pra início de conversa, ela nem sequer é daqui, é apenas uma forasteira que não pertence à esse lugar! Ela não passa de uma invasora de outras terras, talvez até de outro mundo... chamem a Brigada SOS² pra que levem essa alienígena embora!!
- Peraí, alienígena não!! - exclamou Amu indignada - Primeiro, isso aqui não é Suzumiya Haruhi no Yuutsu, é Shugo Chara! Segundo, você estava querendo se casar comigo não faz nem dois minutos, e agora quer me matar?! Você é muito volúvel, cara!! Além do mais, quem foi que disse que eu era sua "noiva predestinada" ou sei lá o quê, hein?! Quem foi que disse que eu tenho que me casar com você?!
- Está nos Escritos Sagrados - respondeu Kairi prontamente - Diz a lenda que, quando uma mulher de nome Hinamori Alice surgir por vontade própria em Wonderland, ela deve se casar com o Rei de Copas e se tornar a nova Rainha
- Exatamente - confirmou Tadase - E olha que até dei um jeito de "sumir" com a antiga Rainha de Copas, tudo pra me preparar pra esse momento, aí você vai e recusa a oferta...
- "Sumir"... quer dizer que você matou a Rainha de Copas?! - indagou Amu alarmada
- O que ainda está fazendo aí parada?! Já mandei sumirem com essa mulher!! - ralhou Tadase, ignorando a pergunta da garota
- "Sumir" comigo?! Então você mandou mesmo matarem a Rainha de Copas!! - gritou ela, ainda mais assustada do que antes
- Majestade, posso fazer uma sugestão? - falou Kairi com certa cautela - Como todas as foices e gilhotinas estão fora de uso, e como o Death Note agora está ocupado por conta daqueles três que o senhor mandou executar mais cedo... será que não podíamos fazer um julgamento para essa garota enquanto esperamos?
- Um julgamento? Pra quê?! No fim ela vai acabar sendo considerada culpada mesmo! - falou o Rei impaciente
- S-Sim, é claro, mas... é só pra passar o tempo... enquanto esperamos até que ela possa ser executada, entende? - insistiu Kairi
- Hunf... bom, que seja então - concordou Tadase por fim - Todos para o tribunal, depressa! Que comecem o julgamento!

¹ Referência ao mangá/anime Death Note, onde a pessoa que tem seu nome escrito no Carderno da Morte acaba perdendo a vida.

² Citação do anime Suzumiya Haruhi no Yuutsu, no qual é formado um clube escolar, cujo objetivo principal é encontrar alienígenas, paranormais, viajantes do tempo e afins, para se divertir com eles.

*** Próximo Capítulo : O Julgamento de Alice ***