Em Chamas escrita por tsubasataty


Capítulo 2
Capítulo 1: Elo quebrado




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O primeiro dia de aula é sempre uma prova de sobrevivência. Principalmente se você for um novato.

Uma turma repleta de pessoas desconhecidas, que te julgam com o olhar antes mesmo de você se aproximar delas. Uma palavra errada e todos se viram contra você. E são os sorrisos falsos, de pessoas que só querem rir de você, que estão por todos os lados.

Enganam-se aqueles que dizem que a escola não é um lugar perigoso. A escola chega a ser como uma guerra, ou algo muito mais obscuro que isso. Pelo menos numa guerra você sabe quem são seus inimigos.

E se você for então um novato a se apresentar na frente da turma, tenha medo, sim; mas não demonstre isso em momento nenhum. Lute. Seu primeiro dia depende disso.

É comum quando um novo estudante se apresenta numa sala todos ficarem em silêncio, contudo, é justamente esse silêncio que esconde - e muito bem - o mais soturno dos perigos: como se tivessem facas nos olhos, todos os veteranos encaram o novato sem sequer piscar, só aguardando ansiosos pelo deslize daquela sua mais nova presa.

E eu era um desses alunos.

Ano após ano, eu os via gaguejar, engolir em seco e suar frio. Era o acontecimento mais inebriante da escola. Aquela prova de coragem que unia os novatos pelo medo - era algo que valia a pena ver desde o primeiro segundo.

Foi assim até o terceiro ano.

O último degrau do colegial, a última chance de você aproveitar tudo que aqueles dias têm a te oferecer antes de escolher seu futuro, seja este qual for.

Primeiro dia, primeira aula: biologia.

Eu estava confortavelmente sentado num dos cantos da sala, brincando com o abre e fecha da janela enquanto esperava o professor terminar de contar suas piadas inventadas durante o feriado. Risos, vozes, corpos e cores se misturavam naquele ambiente e brigavam pro espaço.

Eu ainda não me perdoo pela distração daquele primeiro momento, quando olhava distraído pela janela e ignorava qualquer um que passava pela porta. Somente quando todos se sentaram, à pedido do professor, foi que girei meus olhos para aquele homem ali na frente, que se apresentava como Paulo, professor de biologia.

-Muito bom dia, pessoal - ele começou, tão alegre que chegou a me incomodar - Sei que talvez não se veem a um bom tempo, mas deixem a conversa para o intervalo. Temos um horário a cumprir e eu preciso de silêncio agora.

Escutei alguns risos zombadeiros vindos do fundo da sala. Nem me atrevi a olhar. Por mais que os anos passem, algumas pessoas não descobrem como pode ser interessante mudar.

-Para começar - Paulo continuou, depois dos últimos murmúrios que rodavam a sala cessarem - vejo a turma bem cheia. Tem algum novato na turma?

Uma mão levantou-se no meio da sala. Eu olhei intrigado. A diversão ia começar.

-Ótimo - o rosto do professor se iluminou - Venha aqui na frente se apresentar.

Houve o barulho de uma carteira sendo arrastava antes do novo aluno se levantar.

Era uma garota. Seus passos ecoavam leves, porém firmes e fortes por toda a sala. Diante do silêncio, ela era a nova atração. A estudante posicionou-se ao lado de Paulo:

-Meu nome é Samanta. Tenho 17 anos - Sua voz era tão firme quanto seus passos. Mas o que me intrigou foi o que havia por trás daqueles óculos de aros escuros: olhos de quem não se interessavam por ninguém, mas que vasculhavam incessantemente por algo em cada centímetro da sala. - E uma última coisa: saibam o menos possível sobre mim. Vai ser melhor para vocês assim.

Desconforto, espanto, surpresa, ódio. Todos esses sentimentos circularam a sala enquanto a garota voltava ao seu lugar. O próprio Paulo pareceu não saber como reagir diante daquela apresentação. Só depois de alguns instantes, quando as palavras dela começaram a perder o feitiço lançado na turma, a aula voltou ao mais próximo que lhe fora permitido da normalidade.

Num misto de irritação e surpresa, eu continuei encarando a novata. Tinha sido rápido demais, repentino demais. Toda uma tradição que eu ansiava no começo de cada ano foi quebrada, pisoteada, em poucos segundos. Todo o elo invisível que ligava os novatos foi rompido em instantes, se perdendo num laço despedaçado.

Aquilo tinha mesmo acontecido, certo?

Por mais que eu cravasse involuntariamente aquelas palavras  no meu cérebro, era o olhar dela não saía da minha cabeça. Saber o menos possível sobre ela? Por que todo esse mistério?!

Um sorriso se escondeu nos meus olhos. Ia ser um ano divertido aquele.


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Notas finais do capítulo

continua / não continua
??!



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