Sete escrita por Cat


Capítulo 11
Papo de doutoras




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- Quer saber? Vamos lá encher o saco da Catti um pouco? – disse uma resoluta BubBa. – Estou cansada de ficar torrando nesse sol sem ter muita coisa pra fazer!

         - Acho uma boa ideia! – concordou Linne, se erguendo na beira da piscina.

         - O que será que ela está escrevendo? – perguntou Lilla, pensativa.

         - Deve estar atualizando aquele blog dela, ou coisa assim... – supôs Carol, prendendo o cabelo e colocando seus óculos escuros.

         As meninas foram até o chalé 23 e logo viram uma Catti concentrada de frente para o computador, os olhos semicerrados e o cenho franzido em preocupação:

         - Catti, o que é que você faz aí? – perguntou a Q, interessada em procurar algo para comer na geladeira.

         - Fala aí tá escrevendo naquele teu blog né? – disse a Linne, xeretando na tela de computador dela.

         - Que nada! Estou tentando resolver um problema de Física que um ex-aluno me pediu ajuda... – disse Catti, anotando algumas fórmulas num caderninho de notas ao seu lado.

         - Como assim?! Você trabalhando em suas férias? – perguntou Lilla, indignada.

         - Eu tenho um blog só pra ajudar as pessoas com a Física, e não posso deixá-las na mão nem mesmo nas férias. Senão, elas se decepcionarão com a disciplina e aí o que será da Física do futuro, hein?? – disse Catti, rapidamente e rabiscando umas anotações num post-it e colando-o na beirada do teclado do notebook.

         - Fale pra mim, quem é que não se decepciona com qualquer parte da Física? – perguntou Linne, folheando a revista que achou sobre uma das cadeiras.

         - Boa! – exclamaram as meninas, rindo.

         - Nem vou perder meu tempo discutindo com vocês sobre a Física, suas químicas desgraçadas! – disse Catti, brincando e falando sério ao mesmo tempo.

         - Olha que aqui são cinco químicas cheias de físico contra uma Física com um pouco de físico! – disse a BubBa, erguendo as sobrancelhas em um tom brincalhão.

         - Pois bem, meus argumentos destruiriam todas vocês em pico-segundos!  - disse Catti, expondo um sorriso sarcástico. – Se é que as químicas sabem o que significa o prefixo...

         - Óbvio que sim! – disse Lilla, cruzando os braços e caminhando até a rede na porta do chalé.

       - Hey BubBa, me esqueci, quantas línguas você fala? – disse Catti, fechando subitamente a tela do computador e se interessando pela figurinha que comia uma nectarina ao seu lado.

         - Falo cinco: português, inglês, italiano, francês e chinês! – disse BubBa, fazendo uma careta ao sentir o gosto azedo da fruta.

         - E você Lilla? – perguntou Catti. – Sabe, como faz muito tempo que nós não nos víamos, eu preciso me recordar...

         - Falo quatro: português, inglês, francês e italiano, e consigo entender um pouco de espanhol, mas eu simplesmente detesto essa língua! – disse Lilla, com uma cara de nojo pelo idioma.

         - Carol? – perguntou Catti, sem repetir a questão.

         - Falo cinco: português, inglês, francês, chinês e espanhol! – disse Carol, em um tom meio que profissional, meio que orgulhoso de si mesma.

         - Linne? – perguntou Catti, sorrindo para amiga. – Português, inglês britânico, espanhol...

         - Francês e um pouco de italiano... – disse Linne, engolindo uma uva tinta.

         - Q? Deixe-me lembrar aqui... São muitas né, sua mais que poliglota... – disse Catti, franzindo o cenho como se espremesse o cérebro tentando se recordar. – Português, inglês, francês... – quando disse esta última torceu um pouco o nariz. – Hebraico, hindi, africâner, chinês, japonês, holandês e o meu tão amado alemão, não? Perdi alguma?!

         - Faltou mencionar que eu compreendo bastante italiano e russo! – disse ela, meio presunçosa, mas também eram muitos idiomas.

         - Dez línguas? – perguntaram as meninas em uníssono.

         - Doze, na verdade... Dez fluentes e duas avançadas. – disse Q, descascando uma laranja.

         - Inacreditável!! – exclamou Catti, fascinada.

         - Mas vamos concordar aí gente, todas nós somos doutoras, com menos de trinta anos, né? – disse Linne, nada surpresa.

         - Verdade! – disse Carol, erguendo as sobrancelhas em concordância e surpresa. – Somos demais! Seis doutoras!

         - Cinco doutoras em Química e suas atualidades, e uma renegada que quis ser doutora em Física... – disse BubBa. – Catti, porque você tinha que ser do contra e estudar o que ninguém estuda?

         - Ela não só estuda o que ninguém estuda, como também fala o que ninguém fala: português, inglês, espanhol, alemão, francês (para desgosto dela), russo, polonês, holandês, irlandês, sueco, italiano e chinês. – disse Q, rindo de Catti. – Quem vai precisar de sueco, polonês e irlandês nessa vida, Caterinne?

         - Tedeschi, quem vai precisar de hindi e hebraico? – disse Catti, rindo. – Só pra chegar no céu e conversar com Mahatma Gandhi e Jesus em suas línguas nativas?

         - É uma boa sugestão! – disse Q, mexendo os lábios em aprovação.

         - E eu me pergunto quem um dia irá entender Quezia Tedeschi! – disse Catti, balançando a cabeça.

         - E quanto à formação de cada uma, vocês ainda lembram umas das outras? – perguntou Lilla, interessada. – Por que eu mesma nem me recordo das minhas direito, HEHE!

         - Eu começo! – disse BubBa, se prontificando – Fiz graduação em Farmácia na UNIFESP; mestrado em Farmacologia Clínica na Universidade de Roma; doutorado em  Processos Industriais na Universidade Nacional Chinesa em Shangai, e pretendo começar meu pós-doutorado em Veneza, pelas bolsas da FAPESP no mês que vem! – disse ela, orgulhosa. – Fora alguns congressos e simpósios durante as férias aqui no Brasil, que sempre gostei de frequentar.

         - Agora, minha vez! – disse Lilla, sorrindo. – Sou graduada em Engenharia Química pela USP; fiz mestrado na Universidade Federal de Londres; pós-graduada em Engenharia Ambiental pela USP e doutorada em Química Analítica pela Universidade de Lyon na França...

         - Mesma universidade da Janaína, lembram-se? – disse Linne, recordando-se dos tempos de colégio.

         - Verdade! – concordaram as outras meninas.

         - Eu! – disse Carol, sendo a próxima a falar. – Graduada em Engenharia Química pela USP, na mesma turma da Lilla; pós-graduada em Engenharia Ambiental na UNIFESP; mestranda em Química Analítica pela Universidade de Engenharia de Sevilla na Espanha; doutorada em Química Industrial Para Processos Envolvendo Elementos Radioativos na Universidade de Pequim na China.

         - Q? – perguntou Catti, interessada e orgulhosa de suas cinco amigas.

         - Fiz minha faculdade de Engenharia Química na Universidade de Engenharia de Israel; pós-graduada em Processos Industriais na mesma universidade; mestranda em Química Analítica na Universidade Federal de Paris; doutorada também em Química Analítica com Ênfase em Processos Industriais; e tentando ingressar no meu pós-doutorado na Inglaterra.

         - E você sua renegada da Química, hein Dona Catti? – perguntou Linne, rindo de sua amiga, mas também cheia de orgulho.

         - Bem, eu me graduei em Física pela Universidade Federal de Juiz de Fora, me pós-graduei em Física Cinética na USP, me pós-graduei também em Física Nuclear na Universidade Federal de Hamburg, Alemanha; fiz meu mestrado em Cinética Nuclear na Universidade Federal de Berlim na Alemanha, e fiz meu doutorado em Física Nuclear com Ênfase em Enriquecimento de Urânio na Universidade Federal de Ecaterimburgo na Rússia, e ingressando no próximo ano no meu pós-doutorado em Física Cinética com Ênfase na Melhoria Processual em Extração de Urânio na Universidade Federal de Moscou, também na Rússia.

         - Resumindo, com o perdão da palavra: Somos todas mais que fodas! – disse a Linne, com um sorriso enorme de orgulho de todas as meninas e dela mesma. – Agora minha vez! – disse Linne. – Me formei em Química na Unicamp, fiz uma pós-graduação em Química Forense na USP, fiz meu mestrado em Química Forense com Ênfase em Solventes na Universidade Federal de Londres. Fiz meu doutorado na Universidade Federal de Londres e estou finalizando meu pós-doutorado em Química Forense com Estudos sobre a Composição dos Solventes em Cambridge.

         - Enfim somos realmente demais! – disse Catti, com um sorriso profundo nos lábios.

         - Só acho que isso merece um brinde coisa que ainda não fizemos desde que chegamos aqui! – disse a BubBa, procurando o champanhe que tinham comprado no hipermercado antes de chegarem ao camping. Correu no mezanino do chalé e trouxe uma caixa que continha seis taças de vidro transparente e logo as encheu com o champanhe.

         - Isso é coisa de BubBa! – disse a Q, rindo de leve.

         - Isso é coisa de BubBêbada! – disse Carol como neologismo que fez todas as meninas rirem.

         - Pois bem, proponho um brinde à conquista de todas nós! – disse BubBa. – À tudo o que sempre lutamos, caindo e nos levantando, chorando e sorrindo!

         - Caramba, BubBa poeta aflorando! – disse Catti, surpresa.

         - Até parece que vocês não sabem né? – dizia Lilla, explicativa. – Bêbados geralmente são poetas e vice-versa, galera!

         - Nisso ela tem razão! – disse Q. –

         - Aliás, já prestaram atenção em como cada uma de nós tem uma das peculiaridades mais afloradas que as outras? – disse Linne, cheia de floreios.

         - Como assim?! – perguntou Carol, com sua carinha de oi.

         - Q é a mais maluca de nós; Carol é a mais desconfiada; Lilla, a mais calma; eu, a observadora, BubBa, a bêbada e Catti, a escritora. – disse Linne, olhando para cada uma na medida em que falava sobre elas.

         - Ela tem razão, gente! – disse Catti, se servindo de mais uma taça de champanhe.

         - Catti, acho melhor você parar, porque você, igualzinho ao gringo que vimos hoje cedo, não sabe beber! – disse BubBa, tirando a taça de perto de Catti.

         - Lembram-se da Fusion Fest que fomos no colegial? – perguntou Lilla, desatando a rir.

         - Quem é que esqueceu aquele dia? – perguntou Carol, rindo junto com a Lilla.

         - Eu, porque eu não estava lá! – disse Q, bebericando sua taça de champanhe. – Mas sei de tudo que rolou!

         - Gente, acho melhor não trazer isso a tona agora, não? – disse Catti, ficando subitamente vermelha.

         - Mas que foi engraçado foi! – disse Linne, nostálgica.

         - Primeiro porre da minha vida! – disse Catti, voltando sua atenção para o computador e seus problemas de Física.

         - Eu não consigo não me lembrar daquele dia sem rir! – disse BubBa. – Aliás, consertando, sem rir demais!

         - Bom que horas são meninas? – perguntou Lilla, olhando para Catti com o computador à sua frente.

         - Quase meio-dia! – disse Catti, um tanto surpresa.

         - Não sei vocês, mas hoje eu gostaria de pela trade, lá para uma hora da tarde, sair desse camping e conhecer Itu...- disse Carol, se sentando num puff que tinham pedido para Guilherme arranjar para elas na noite anterior.

         - Sem querer cortar o barato de vocês, mas Itu não tem quase nada além das coisas gigantes! – disse Catti, desinteressada.

         - Nem que seja um lugar bacana pra gente comer um lanche! – disse Lilla.

         - Não tô a fim de comer fora! – disse Q, meio rabugenta.

         - Que tal fazermos assim, para agradar à todas: saímos agora pela tarde e lá para umas seis voltamos para cá e fazemos um jantarzinho caseiro e delicioso? – disse BubBa, cheia de ideias.

         - Por mim, fechado! – disse Catti, sem tirar os olhos da tela. – Contanto que até lá eu consiga alguma resposta para esse exercício desse menino!

         - Você consegue, Catti! – disse Lilla, amigável. – Pelo bem do nosso passeio de hoje à tarde, você consegue!

         - Nem que a gente precise te ajudar! – cochichou Q, olhando para Catti de esguelha.

         - Eu ouvi, Dona Tedeschi! – disse Catti, fazendo aquele movimento de apontar para os olhos de alguém e depois para os seus próprios, como quem diz “estou de olho em você!”.


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