Sete escrita por Cat


Capítulo 10
Metidas a esportistas




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- Chega! – berraram Q e Davi em uníssono, exaustos

         - O fracote não quer mais jogar comigo? – desafiou Q, sem fôlego.

         - Não estou vendo fracote nenhum aqui, exceto pela donzela em perigo a minha frente! – respondeu à altura, Davi, bebendo um gole d’agua de seu cantil. – Quer?

         - Sim! – disse Q, aceitando um pouco de água para lubrificar seu esôfago.

         - Caramba, jogamos por três horas completas, sem paradas! – disse um impressionado Civinski, encarando seu relógio de pulso.

         - Que é bateu seu recorde, fracote? – disse Q, desafiadora e cansada.

         - Aceitaria uma revanche para hoje à tarde? – perguntou Civinski apertando os olhos em direção à Q.

         - Aceito amanhã de manhã, à mesma hora! – disse Q, dando as costas para um afobado Civinski.

         - Cara, essa guria consegue ser pior que eu! – sussurrou Davi, consigo mesmo.

         Linne e Gustavo chegaram cavalgando sorrateiramente ao lago da propriedade e se deixaram encarar o lugar: o sol que se enchia pelo céu, o lago refletindo os raios do sol, centenas de pássaros daqueles que a Linne tinha visto na árvore que causou todo aquele rebuliço que já contei à vocês.

         Ficaram ali durante um bom tempo, apreciando o sol subir pelo céu cada vez mais, Gustavo tirava fotos e mais fotos durante o passeio deles. Ele emprestou uma das três câmeras que tinha ali consigo, para que Linne também se divertisse com as fotos. Ensinou à ela uns truques de fotografia, ela de fato adorou:

         - Aí sempre que você for tirar fotos de paisagens como essa, incline a câmera um pouco mais para frente e, ao mesmo tempo, para direita. – dizia Gustavo, ajeitando a máquina na mão de Linne.

         - Assim? – perguntava Linne interessada.

         - Espera aí, vamos descer desse pangaré medroso, que tenho mais coisas pra te mostrar. – disse Gustavo descendo do cavalo e ajudando Linne a fazer o mesmo.

         - Tá me ajudando só porque eu sou baixinha é? – perguntou ela, rindo.

         - Não, porque é uma dama! – disse Gustavo, tranquilo. – Em certas coisas, você pode me chamar de careta, mas eu diria que sou conservador...

         - Os homens deviam conservar muitas coisas, sabe... – disse Linne um tanto pensativa.

         - Concordo plenamente, senhorita Flores! – disse Gustavo encarando Linne por alguns segundos e depois a vista do lugar. – Sabe, eu acho que eu deveria tirar uma foto da você aqui com essa vista... Que tal?

         - Só se depois você passar essa foto pra mim... – dizia Linne, mas se interrompeu para dizer – Aliás, se a foto ficar boa, não pela qualidade do fotógrafo, mas pela modelo, até porque sabe como é...

         - Eu acho que a modelo está perfeita, e com essa vista, vou adquirir uma linda foto... – disse ele com um sorriso terno nos lábios.

         - Se isso foi um elogio, eu digo muito obrigada! – disse Linne, meio constrangida.

         - Agora posicione ali mais atrás... isso, agora... lindo, perfeito, aí mesmo. – dizia Gustavo Ferraz.

         Gustavo era mediano, devia medir entre 1,70 e 180m; cabelo bem escuro, sem ser preto, bem cortado e mais baixo nas laterais;  corpo bem definido com músculos do braço bem perceptíveis sob a camiseta; estilo despojado de bermuda cáqui com cinto marrom, camiseta branca sem estampa; pele morena e olhos cor de mel intrigantemente penetrantes.

         É certo que Linne estava um tanto abobada com o físico de Ferraz, mas não deixava que isso transparecesse de maneira alguma. A observação era algo que tinha de muito forte combinação com a Catti. No colegial as duas viviam divagando sobre coisa ou outra, fruto da observação de ambas.

         Quezia apareceu pingando de suor na janela do refeitório onde as meninas haviam se sentado:

         - Q, o que foi que você andou aprontando? – perguntou Lilla, com certa preocupação.

         - Enlouqueceu de vez após dormir olhando pra minha linda camisa do Mesut Özil?? – perguntou Catti, sarcástica.

         - Está para nascer o homem que vai me fazer enlouquecer de vez, até porque louca, eu já sou! – disse Q , um tanto alto. – Estava por ai!

         - Poxa Q, você não pode sair assim sem avisar né? – disse BubBa, com cara de desaprovação.

         - Onde está a Linne? – perguntou Q, nem ligando para a preocupação das meninas.

         - Deve estar acordando agora, sei lá, tomando uma ducha! – disse Catti, se deliciando com seu copo gigante de iogurte. – Aliás, é isso que eu vou fazer depois de correr um pouco!

         - Posso ir contigo, Catti? – perguntou BubBa, com cara de pidona.

         - Opa, vamos  lá! – disse Catti, limpando a boca com um guardanapo e se levantando rapidamente. – Já está com sua roupa? Preciso perguntar uma coisa para aquele filhote de Heinecke... – disse ela investigativa.

         - Catti, você ainda fala as coisas muito rápido, sabia? – disse Carol, rindo e logo colocando uma colherada de salada de frutas na boca.

         - Pois é! – disse Catti, procurando por Guilherme. – BubBa, me encontre na frente da piscina lá de baixo OK?

         - OK, vou me vestir e te encontro lá! – disse BubBa. – Vamos todas, meninas?

         - Eu vou expulsar a Linne do chuveiro do chalé e tomar meu banho! – disse Q, resoluta.

         - Bom, acho que vou caminhar também... – disse a Carol, em baixo tom. – Vamos Lilla?

         - Vamos lá nos trocar! – disse Lilla, se levantando e ajeitando sua cadeira no lugar.

         - E uma última observação... – dizia a Catti, consultando o relógio e saindo depressa do refeitório. – Vistam shorts e nada daquelas leggings quentes! E quem sabe o biquíni por baixo também...

         - Tá! – exclamaram as meninas em uníssono.

         - Heinecke neto, quer dizer... Guilherme, preciso falar contigo. – disse Catti, chamando o adolescente.

         As meninas foram até o quarto se trocar e ao menos dessa vez, não ficaram muito tempo escolhendo roupas: vestiram os biquínis do dia anterior, camiseta frouxa por cima, shorts de lycra e tênis e desceram até o lugar onde tinham combinado. Catti já as esperava:

         - Posso saber o que é que a senhorita tinha que conversar com o Guilherme? - perguntou Carol, com um sorriso afetado no canto da boca.

         - Queria saber se o que as minhas intuições me diziam era verdade! – disse Catti, empolgada. – Eles construíram uma pista de caminhada!

         - Até que foi uma boa ideia, viu! – disse Lilla, fazendo sombras para os olhos e olhando à sua volta – Mas onde está essa tal pista?

         - Schindler neto disse que é logo ali depois das quadras de basquete e vôlei de areia. – disse Catti, gesticulando para frente. – Vamos descendo, meninas!

         - Por que é que você chama o Guilherme pelo sobrenome? – perguntou BubBa, achando aquilo idiotice da amiga.

         - Porque é coisa de alemão! – disseram juntas Linne e Q, que vinham descendo pelas escadas com suas roupas de corrida.

         Catti, Q e Linne sempre que podiam, corriam juntas de cinco a sete vezes por semana. Às vezes, acordavam cedo aos domingos, corriam dez ou quinze quilômetros e depois faziam um piquenique leve.

         - Vamos, parem de falar dos lindos dos alemães e vamos correr logo! – disse Catti, meio irritada.

         - OK, sargento! – disse Q, brincando com fogo.

         - Özil, Özil, tu tá merecendo uma camisa extra que eu trouxe, caso a senhorita não se comportasse... – disse Catti, um tanto desafiadora ao ajeitando sua camiseta nadador e a braçadeira que segurava o iPod. – Uma que tem a foto do Özil com direito a close nos buggy eyes deles.

         - Por Deus, eu vou me comportar, e nem quero saber o que quer que seja o buggy eyes! – disse Q, espalhando protetor solar por seu próprio rosto. – Querem protetor?

         - Seria protetor ou bloqueador solar, hein BubBa? – perguntou Catti, fazendo uma corrida engraçada no próprio lugar.

         - Depende se ele deixar um a fina película branca sobre a pele seria um bloqueador, se não... – BubBa começou a divagar sobre o assunto.

         Filtro solar e creme antienvelhecimento foram o tema do TCC delas no Técnico em Análises Químicas, aliás, vale ressaltar que tiraram a nota máxima com ele. Isso, para compensar o esforço tremendo que todas tiveram de empregar para que tudo ocorresse perfeitamente. O que é claro, aconteceu...

         As meninas começaram a aquecerem-se e alongar-se nos aparelhos próximos a pista e quando todas estavam prontas, começaram com uma caminhada lenta, progredindo para o trote até que corriam graciosamente.

         Q e Catti iam mais a frente, conversando em alemão; Linne se juntara a Lilla num ritmo médio, e Carol e BubBa corriam mais lentamente, mas com passos ritmados e risadas altas de uma conversa que só elas compreendiam.

         É verdade que Q e Catti tinham certos estiramentos na relação de amizade que mantinham, mas se gostavam demais que tudo nunca passava de pirraças quase que infantis, viviam se alfinetando, mas viviam comentando assuntos confidenciais em alemão ou no raio que o parta de línguas que as duas sabiam. Catti odiava quando Q começava um assunto em francês, idioma que aprendera forçada, Catti dava um jeito de fazê-la parar com aquilo e logo elas voltavam para a língua que ambas amavam demais:

         - Q, posso saber por que foi que a senhorita fugiu sabe-Deus-pra-onde essa manhã? – perguntou Catti em alemão.

         - Estava cansada de me revirar na cama, esquentar lençol e resolvi dar uma espairecida... – respondeu ela em francês, tentando fazer Catti encerrar com suas perguntas.

         - Pare de falar nessa porcaria de língua... – dizia Catti, respirando profundamente. – Anda, pode responder o que foi que a senhora andou fazendo?

         - Tá bem! – disse Q, em alemão, vencida duas vezes. – Bem, eu estava andando aqui pela propriedade até que encontrei uma quadra meio abandonada e tinha um guri, quer dizer, um homem de uns vinte e sete anos, “penando” com o tênis... e aí jogamos e só isso. – disse Q, fazendo aspas com os dedos.

         - Entendo... continue! – disse Catti, sabendo que a história com certeza tinha continuação.

         - Ele até que jogava bem... quer dizer, Catti, eu nunca joguei, nunca na minha curta carreira de tenista, com alguém tão bom no tênis... – dizia Q, em pausas para respirar durante a corrida. – E isso, porque você me conhecendo como me conhece, sabe que eu não sou de assumir quando alguém é bom, mas ele...

         - Sei, e como sei disso... – disse Catti, pensando em todas as vezes que Q jogara tênis e ela a assistira, chegava a ser cômica a atitude selvagem que Q assumia quando entrava em quadra.

         - Bem, pra você ter ideia, ficamos jogando por umas três horas seguidas, sem pausas... – dizia Q, rapidamente. – Ele aguentou numa boa, eu também, bem, na verdade estávamos esgotados como branquelos no Sahara, mas no final, pedimos trégua e terminaremos a batalha, sim a batalha, amanhã...

         - E quem é este ser tão desafiador, que conseguiu arrancar um elogio mesmo que contido, de Quezia Tedeschi? – disse Catti, com os olhos arregalados.

         - Dennis Civentski, quer dizer... Davi Civisnki... sim, Davi Civinski... –disse Q, um tanto confusa.

         - Vou fazer uma pergunta meio imbecil para Quezia Tedeschi, mas vamos lá, darei minha cara à literalmente tapa: Ele é bonito, Q? – disse Catti, com medo de levar um tapa, um soco, enfim, algo que lhe causasse muita dor.

         - Outra coisa que espantosamente irei assumir nesta manhã: sim, ele é muito bonito! – disse Q, que parecia surpresa consigo mesma, por ouvir aquilo da própria boca.

         - Mein Gott, precisamos conhecer este Davi Extraordinário Civinski, e pode deixar, faço questão de contar as proezas que ele conseguiu de Q Tedeschi! – disse Catti, zombeteira, e teve que apertar sua corrida para não levar o soco mais doído de toda sua história.

         Catti parou assim que percebeu que estava a uma boa distância de Q, e ficou por ali, expirando e aspirando tranquilamente.

         - Que tal a gente se jogar na piscina agora, neste segundo? – perguntou Lilla, exausta.

         - Acho a ideia perfeita! – disse Carol.

         - Fechou então! – Catti, chegou até uma das cadeiras vazias da piscina de baixo e arrancou rapidamente a roupa que cobria o biquíni e se jogou na água. As outras, um pouco mais senhoritas, delicadamente se despiram e se sentaram a beira da piscina. Catti que havia mergulhado de um lado a outro, emergiu da água para perguntar:

         - O que é que aconteceu com o “vamos nos jogar na piscina, meninas!” - disse Catti, imitando a voz suave da Lilla.

         - Você leva tudo ao extremo, menina! – disse Lilla, rindo.

         - Ah sua patricinha fresca! – disse Catti, animada. – Sua metida a francesa!

         - Como é que é? – perguntou Lilla, fingindo estar brava.

         - Isso mesmo, francesinha falsa! – disse Catti, se erguendo pelo beiral da piscina e ficando próxima a Lilla. - Caia nessa piscina agora, ou eu te jogo! – disse Catti, rindo.

         - Atreva-se! – desafiou Lilla, baixando o olhar, pois Catti era mais baixa que ela.

         Catti, ligeira, pegou-a desprevenida pelas pernas e a jogou na água. Nem quis saber de nada e se virou para as meninas:

         - Ou pulam ou eu as jogo! – disse como num ultimato.

         Q, Linne, Carol e BubBa rapidamente ficaram de pé, e como em um nado sincronizado elas foram pulando na piscina. Cada uma antes de submergir, disse a seguinte frase: “Sim, senhor sargento!”.  Catti pensava o quanto esse apelido carinhoso delas havia pegado...

         Catti se preparava para dar mais um mergulho até que alguém veio caindo para seu lado, tropeçando em seu pé já ajeitado para o pulo. O alguém, que na verdade, era um branquelo com um chapéu mexicano enorme e óculos escuros da Rayban, uma camiseta do Real Madrid, sandálias Havaianas e bermuda florida, um típico turista, que assim como são os turistas gringos aqui no Brasil, estava bêbado:

         - Poxa, moça me desculpe hein? – disse um rapaz que vinha andando rapidamente atrás do branquelo gringo e o ajudando a levantar. – Sabe o que é? Ele andou exagerando na caipirinha agora há pouco! E a gente achando que ele estava tomando café... mas isso deve ter sido coisa do panaca do Davi, aquele inconsequente – disse o rapaz em um tom quase inaudível.

         - Machen Sie bitte ein Caipirinha für mich, Lady? – perguntou o gringo, um alemão, cambaleando ao lado de Catti.

         - Vamos embora, Johann! Vamos, de volta pro chalé! – disse o rapaz segurando-o pelos ombros e falando em inglês com ele. – Sabe como é, primeira caipirinha da vida dele... – dizia o rapaz desconcertado.

         - Imagina, eu não ligo! – disse Catti, rindo de leve. – Eita, está me pedindo pra casar com ele! – disse ela, enquanto ria alto do gringo caído ao seu lado.

         - Senhor do Céu, Johann! Ela entende alemão, vamos embora agora! – disse o rapaz, morto de vergonha, o carregando para o chalé que pelo que Catti enxergou era o de número 13, bem próximo da piscina.

         As meninas riam até que o ar faltasse e Linne não pode deixar a piada escapar:

         - Olha aí onde estão os seus queridos e decadentes alemães! – disse ela se dirigindo jocosamente para Catti.

         - Até parece que vocês não conhecem os gringos! – disse Catti, meio emburrada, juntando suas coisas e vestindo o short. – Gringo é gringo seja aqui ou na ponte que se partiu!

         - Ui, ela ficou nervosinha! – disse Carol, imitando o tom de voz de Catti.

         - Vou tomar uma ducha e escrever um pouco, OK? – disse Catti, subindo as escadas da área da piscina sem olhar pra trás.


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