A Quarta Máscara escrita por psyluna


Capítulo 6
Rastros de luz.


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei pra aparecer outra vez, mas tem bons motivos. E agora tenho um bom notebook pra deixar de ser atrasada nos capítulos. Aqui vai, espero que gostem.



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Começar nunca é fácil.

Lyan subiu primeiro as paredes do poço. Agarrou as pedras com as mãos calejadas e usou da força que seu corpo tinha. Ele estava mais profundo do que antes, mas ela preferiu não falar nada.

–Pode vir.

Do fundo, Louise ouviu o aviso.

Fez sinal positivo com a cabeça.

A hora tinha chegado.

Segurou firmemente uma pedra que podia alcançar. Com a outra mão, fez o mesmo, mais acima. Respirou fundo, preparou-se e deu impulso com as pernas. Por um triz, seu pé conseguiu se apoiar na fenda.

Esfolara os dedos. Aquilo era mais difícil do que parecia.

“Eu decidi por isso.”

Esperou a dor maior passar e continuou.

Cada pedra da parede que vencia era um progresso.

Era a metade do caminho. Suas forças estavam chegando ao fim. Seu corpo todo parecia pesar cem vezes mais.

Em frente a seu rosto, estavam os desenhos de sangue.

Um garoto que encontrava o melhor amigo sem vida.

Viu as pinturas. Estudou-as por um longo tempo. O vício da dor era um sussurro agradável em seus ouvidos.

Venha, Louise. Volte.

Mordeu o lábio para se conter. Apertou com mais afinco a parede na qual se segurava. Resistia para não cair, ou para não soltar-se e se deixar cair.

Você sente saudades, não é? Volte.

–Louise!

Do lado de cima, veio um grito preocupado.

Mas a garota, absorta em sua ilusão, não o entendeu.

Aqui, no fundo. Solte-se. Há muito espaço para você desenhar.

–Não... - Louise disse, quase sem fôlego.

Eu sei que você está me ouvindo.

Respirava a duras penas.

Não resista. Venha, estou esperando você.

–Pare...

Não me ignore.

Esticou a mão trêmula mais para cima e agarrou outra pedra.

O braço sofreu uma pontada forte de dor. Parecia que uma agulha estava atravessando-a de dentro para fora.

Gemeu de agonia. Soltou-se.

–NÃO! - Lyan gritou.

Nada podia fazer além de torcer. Não era uma luta sua.

Era um combate de Louise consigo mesma, que só ela poderia terminar.

Por muita sorte, o outro braço ainda agüentou-a. Estava balançando, pendurada no próprio abismo.

Cravou o pé em um espaço vago. Aquela voz venenosa não era um espírito, não era uma maldição, nem de outra pessoa. Era sua. Dentro de si, em algum lugar, a paixão pelo sofrimento ardia.

Lágrimas escorreram pelo rosto suado. A pele gasta das digitais começou a brotar sangue.

Venha. Solte-se. Venha.

Não suportava mais aquilo martelando nos tímpanos, incitando-a a voltar. Não queria. Não queria. Não queria.

Isso dói? Vou lhe dar mais. Vamos.

O som fazia eco em sua cabeça. Rebatia da esquerda para a direita. Sentiu-se balançar para os lados, junto às palavras sedutoras.

Mas não agüentava mais aquilo.

Colocou a dor para fora.

Gritou. Longa e fortemente.

Fez como faria para afastar uma fera. Nada restou de ar em seus pulmões. A respiração, já sofrida, arranhava sua garganta como lixa.

A voz tinha parado. Sumira.

Louise elevou o braço até o próprio limite e segurou-se.

“Eu vou até o final.”

Mão após mão, pé após pé, metro seguido de metro.

"Não vou me abandonar...”

O braço emergiu do poço, procurando algo onde se agarrar.

“... De novo, não.”

Lyan pegou seu antebraço de uma só vez.

O vento feroz das terras vermelhas corria por todo lugar. Uma densa névoa castanha se formava, ávida para engolir qualquer coisa que caminhasse dentro de si.

Louise sentia dor. O corpo todo pedia por descanso. Seus pés descalços sofriam com a dureza do solo, as pedras que pisava tocavam-lhe as feridas.
Mas aquilo estava longe de lhe causar prazer.

A cada passo, sua agonia ia embora, carregada pela corrente de ar.

E era aquilo que desejava.

O mundo era duro com ela. O pó do chão ardia em seus olhos, fazia-os escorrer. Suava por baixo da capa e da roupa. A boca rachava de sede.

Apesar de tudo, seguia com fé.

Dentro de seu coração, pulsava um novo sentimento. Era jovem, ativo, cheio de vontade. Uma semente que nascia ansiosa para crescer e ser uma planta viçosa, cheia de vida.

Esperança.

Pouco a frente dela, caminhava a pessoa que tinha plantado aquela semente.

–Mais meia hora e saímos daqui.

A voz de Lyan surgiu por entre a ventania barulhenta, alta o suficiente para ser escutada.

Mas Louise não respondeu. Não precisava. E não conseguiria.

Se abrisse a boca, poderia desabar em lágrimas ali mesmo.

Um choro de felicidade, por ter alguém que estava se sacrificando por ela.

Afinal, a nova viajante ainda se lembrava de quem era a capa que lhe cobria o corpo e protegia daquela terra hostil.

Lyan sabia que tinha sido entendida.

Não perguntou, não falou outra vez. Ficou em silêncio.

Sabia o que estava acontecendo. Não precisava olhar para trás, nem incomodar. Podia sentir no fundo do peito, e ia respeitar aquele momento.

Com Louise, ela tinha aprendido e mudado também.

Sorriu, tirando grãos de pó do olho esquerdo.

Estava feliz pela outra e por si mesma.

Viajaram juntas durante um longo tempo.

Subiram e desceram montanhas. Correram por campos verdes, por vales floridos, cheios de vida. Adentraram florestas, com tesouros naturais escondidos onde menos se esperasse. Cruzaram desertos. Exploraram cavernas ocultas. Atravessaram rios violentos e lagoas plácidas, lares da paz.

Correram perigo. Ajudaram-se. Contrariaram-se e perdoaram-se. Sofreram. Compartilharam alegrias e vitórias, problemas e riscos.

Por todo lugar pelo qual passavam, Louise deixava sua marca, escrevendo de algum jeito a história que as duas tinham feito ali. Fazia aquilo com tanta vontade e empenho que parecia nem se lembrar das tragédias que criava antes.

E seus novos contos não eram mais de sangue, mas de algo que aquela terra oferecia, fazendo a narrativa se integrar a sua terra-mãe.

Lyan ficava de longe, observando-a, de braços cruzados. Via uma nova pessoa nascer, com uma identidade e uma motivação. Se era aquilo mesmo que ela queria, apoiaria-a até o fim de suas forças, até quando seu coração parasse de bater.

A viajante sorria para a escritora, afagava seu cabelo negro e dizia:

–Você será lembrada, minha cara.

Louise a encarava com os olhos cheios de sonhos e respondia:

–Talvez.


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Notas finais do capítulo

Olá, companheiroff e companheiraff. Vocês sentiram minha falta? Espero que não, e que estejam aproveitando as férias. Pelo amor de Saint Christ, reviews. Não custam cinco minutos da sua vida e vão me fazer dar saltinhos de alegria. Três linhas da sua mais sincera opinião. Até a próxima. :3