A Quarta Máscara escrita por psyluna


Capítulo 5
Caminho cruzado.


Notas iniciais do capítulo

É noite alta aqui na minha cidadezinha... Mas tem um capítulo esperando por vocês quando o sol raiar. Leiam com atenção, espero que gostem e aproveitem meu período de férias. :3



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Mais dias tinham ido, mas, dessa vez, havia duas vidas ativas, compartilhando coisas de igual para igual. Sorrisos, conquistas, esperas, desejos, todo momento era importante, pequeno ou grande, luminoso ou sombrio.

Lyan tinha ataduras em sua bagagem frugal. Fazia o melhor possível para cuidar das feridas profundas de Louise, ou evitar que elas piorassem. O cheiro de sangue continuava ali, assombrando o fundo do poço, mas não significava mais morte.

Determinada como nunca, a viajante ia e voltava dali o tempo todo. Trazia água, alimento e histórias do lado de fora para a garota. Algo sobrenatural parecia lhe dar forças para caminhar tanto.

E, estranhamente, nunca tinha encontrado a mulher cruel, sobre a qual Louise tanto falava antes de ela partir.

Sabia o motivo. Sabia por que não tinha topado com ela, e porque nunca a veria.

Mas era algo que Louise só poderia descobrir dali a um tempo.

A pele onde antes havia crateras e rasgos estava regenerada. Entre as partes intactas, havia manchas ainda mais brancas, que demarcavam cicatrizes. Os cabelos escuros tinham começado a crescer outra vez, mas eram uma mistura de médios e curtos.

Louise, sem dúvida, não voltaria a ser a mesma.

E Lyan sabia disso, desde o primeiro dia em que começara a tratar dela.

Já fazia um mês.

Era final de tarde. O tempo fechado tinha concedido um momento de descanso. O sol poente deixava o céu laranja e rosado.

Dentro do poço, elas tinham parado de conversar um pouco, e passaram a observar o alto. Era possível ver um círculo de cores e nuvens, bem acima de suas cabeças.

Louise sentia algo diferente dentro de si. Tinha quase morrido, mas não chorava por isso. Não estava feliz por ter sobrevivido. Não sabia dar nome para aquilo. Era diferente de tudo o que já tinha lhe acontecido. Não era um vazio.

Muito pelo contrário.

Ela pensava em mudanças.

Como seria sua vida a partir dali?

Não fazia a mínima idéia. Seria deixada ali, esperando que a sorte a protegesse? Não era coisa que Lyan fosse fazer.

Seu pressentimento era de que, cedo ou tarde, ela a levaria em sua caminhada.

Isso lhe dava medo. Nunca vira o mundo de fora, ou não se lembrava dele. O desconhecido a esperava, com armadilhas para que ela caísse e fosse feita de brinquedo pelos outros. Não poderia prever seus dias, abandonaria suas histórias sangrentas e, pior de tudo, sua estrela.

Qual seria a finalidade de sua vida sem ela?

Se não havia um sonho, um brilho distante a guiá-la, não haveria como chegar até ele. Não haveria caminho para trilhar, nem motivo para se esforçar.

Pensava nisso naquela hora.

-Você teme, não é?

A voz de Lyan cortou seu raciocínio.

Olhou para ela, com espanto no rosto. Ela conseguia saber o que se passava em sua cabeça sem fazer esforço.

Não respondeu.

-Você teme o mundo lá fora.

Engoliu as palavras.

Não havia o que fazer além de aceitá-las.

-Sabe, Louise...

Lyan não a encarava. Estava meio sentada, meio deitada. As mãos seguravam seus cotovelos opostos, sem cruzar os braços, sobre a barriga.

-Eu já me senti assim. Você sabe de onde eu venho.

Sim, sabia.

Há algum tempo, tinha se lembrado e percebido. Era a garota da torre, que lhe enviava cartas. Tinha invejado-a, amado-a e desejado ser como ela, e agora ela estava bem ali ao seu lado, totalmente diferente.

Nenhuma das duas tinha ousado tocar no assunto antes, mas parecia ser o momento.

-Você sabe como eu era... Como eu agia.

Louise fez que sim com a cabeça.

-Sei.

Lyan deu um sorriso de canto de boca, amargo como boldo.

Desenterrava seu passado sem piedade.

-Eu dizia que todos eram fracos, porque sentiam e choravam. Que o mundo de fora era desprezível. Que eu podia muito bem viver lá, trancada, solitária. Desejei morta uma pessoa que se importava comigo, que gostava de mim, que me aceitava e me amou até o final, apesar de eu ter feito... O que eu fiz.

Parou, aspirou ar e coragem.

-E quase morri, por minha própria culpa.

“Eu também.” A voz pequena de Louise quase deixou escapar.

Elas eram diferentes uma da outra. Não tinham tido a mesma vida, não pensavam do mesmo modo, e o antigo esconderijo de Lyan era o completo oposto daquele.

Eram como céu e terra, água e fogo, dor e prazer. Completam-se e têm algo em comum. Opostos que se tocam em um ponto.

Duas faces de um espelho.

Mas, no fim de tudo, o processo era o mesmo

-Eu vou partir amanhã, ao nascer do Sol, Louise.

Lyan tinha adiado aquele momento até quando pôde.

Precisava do lado de fora para viver, e o mundo precisava que ela o percorresse. Se continuasse ali, hora ou outra, o karma teria uma maneira de arrancá-la do poço.

Louise não soube como reagir a aquilo.

-Não vou ser hipócrita. – A viajante falava com seriedade. – O meu desejo é que você venha. Mas a escolha é sua.

Uma decisão que iria lhe dar a direção, talvez, para a vida inteira.

-O que passamos até hoje, o que eu sinto por você, não vai mudar, não importa se você ficar ou for.

Lyan endireitou as costas e cruzou as pernas.

-Você tem até amanhã para me responder.

Mas havia um prazo.

Louise não teve sono naquela noite. A lua estava alta no céu, e ela não conseguia pregar as pálpebras. Cada segundo que ia embora podia ser um dos últimos em que via Lyan, ou apenas o começo de uma caminhada sem fim.

O que fazer?

A manhã surgiu, infalivelmente.

Com ela, os olhos de Lyan se abriram. Adorava dormir, mas, daquela vez, precisava ter a disciplina de um militar e pôr-se de pé.

Levantou o corpo do chão frio do poço. Alongou os braços e bocejou como um hipopótamo, mas esfregou o olho direito para tentar afastar o sono.

“Está na hora.”

De algum jeito, Louise percebeu o movimento e também acordou.

Do calçamento de pedras, esticou o olhar para cima. Daquele ponto de vista, a pequena Lyan Petusk parecia uma enorme estátua. Não deixou de sorrir com o gracejo, mas era hora de dar uma resposta, e não de festas.

Fez esforço para se erguer. O lado de suas costelas que ficara voltado para baixo estava dolorido. No tempo que levou para endireitar-se, Lyan já estava pronta, apenas aguardando.

Tinha pensado naquilo durante mais de oito horas. Tinha refletido, até mesmo chorado sozinha, enquanto a outra dormia.

E tinha escolhido.

Não havia tempo para esperar. Não havia como voltar atrás.

Era ali o momento onde realmente ia escolher o rumo que sua vida tomaria.

Louise estava em pé, de olhos fechados. Lyan estava logo a sua frente. A capa da viajante cobria ombros que não eram os dela. Depois de tanto tempo, ela ainda estava ali, e ia até os pés descalços e sujos da garota.

Manchados de seu próprio sangue, que formava um desagradável pó escurecido.

-E então?

A pergunta definitiva veio.

Ela estava preparada. Pronta para dizer.

Abriu os olhos, na ligeira sombra do início de um dia.

-Eu vou com você.

Lyan continuou impassível, e questionou-a:

-Só porque é o que eu quero?

Louise sorriu.

-Não por você, Lyan

Colocou a mão branca no ombro da outra.

-Por mim.

E assim, selou-se um destino.


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Notas finais do capítulo

Ooooolá! Bem, eu tenho quase certeza que tenho um ou dois leitores fixos, e uns 5 que não comentam nunca. Eu IMPLORO, pelo amor de qualquer ser sobrenatural no qual cês tenham fé, um comentário de cinco, quatro, três, DUAS linhas vai fazer bem pra mim e tirar essa angústia do peito de vocês. É preguiça? É vergonha? Não tenham. Se vocês escrevem, sabem como é chato isso. Se não escrevem e um dia quiserem tentar, vão descobrir como é irritante. Até, hm... amanhã. o/