Eu não iria atendê-lo.

Ele não teria argumentos. Eu não teria paciência.

O voo foi cansativo e eu clamava por dormir. Jared ligava quatro ou cinco vezes por hora. E minha mãe me esperava no aeroporto.

Afinal, quem ele achava que era?

Eu confiei. Mesmo sabendo desde o começo que não era a melhor ideia do mundo.

Era final de setembro e eu estava realmente vivendo uma música triste do Green Day.

O avião freou com força e então me livrou dos meus pensamentos aleatórios.

Ah. Brasil.

Eu senti sua falta, sabia?

Pensei enquanto andava pelos arredores do enorme aeroporto local.

E então a porta de vidro que separava passageiros de familiares se abriu.

Abraçou-me com ternura. Mas eu podia ver que estava triste.

–Eu senti sua falta, Janne.

–Eu também, mãe. – Choraminguei, abraçando-a mais forte. Eu
finalmente teria um colo de mãe para me reconfortar.

Ela não havia perguntado, e eu também não queria falar sobre.

Foi um voo cansativo. Senti assim que me joguei em minha cama.

Fechei os olhos respirei fundo, e só assim tornei a olhar meu quarto.

“Como eu deixei.” Falei apenas para mim.

Então me virei de lado preparando-se para dormir.

Jared não havia ligado mais. Ele não conseguia.

Demoraria algum tempo para raciocinar onde eu estava.

Mas eu não queria pensar nele, eu só queria dormir.

–-

O dia 23 de setembro nasceu um pouco mais ensolarado. Era inicio de primaveira.

Maldito fuso-horário.

Levantei-me sonolenta.

Domingo.

Ah, os domingos. Tão comuns e tediosos.

Fui até a cozinha e sentei para tomar um café da manhã digno de meu gosto.

Minha mãe chegou.

–Janne, eu sei que não quer falar sobre isso mas...

Suspirei.

–Fui na escola quando me ligou de urgência dizendo que iria voltar, e consegui que continuasse seus estudos de onde parou. Só precisa entregar alguns trabalhos para compensar as notas e tudo bem.

Eu até a abraçaria.

Obrigado, mãe.

–Só estava querendo o melhor e Janne... Sabe que vamos ter que conversar mais cedo ou mais tarde certo?

–Sim, mãe. Podemos deixar pra mais tarde?

–Claro, querida. – Beijou minha testa e saiu pela casa.

A noite caiu.

Eu queria sair.

Eu sentia falta daquela cidade da poluição.

Mas nenhum assunto me ganhava, nem mesmo o da escola. Eu sabia que minha mãe como boa professora que era, não havia ao menos tido esforço para me colocar de volta no ultimo ano.

Eu iria me formar.

Não no exterior como havia planejado. Mas sim no Brasil.

Eu faria 18.

Eu me tornaria maior de idade e dona do próprio nariz perante a lei.

Então poderia beber, e dirigir.

Balancei a cabeça em reprovação.

Não era uma boa combinação.

Levantei-me de minha cama.

Andei dentro de meu quarto de novo.

Abri algumas gavetas procurando por nada preciso.

Encontrei nada além de roupas rasgadas e algumas revistas velhas.

Tudo que minha mãe não havia me deixado levar quando viajei.

E então resolvi ter minha segunda noite de sono no país.

Exausta, triste, porém, não arrependida.