Ele pediu licença para os com que conversava e cortou o salão andando elegantemente até a escada, atraindo a atenção dos outros convidados por onde passava. Quando cheguei ao fim da escada, ele me aguardava lá. Estendeu a mão para mim e eu a segurei, sorrindo de leve, eu sabia que estava corada por causa da intensidade de seu olhar. Pouco importava o dos outros. Era o dele que mais me impactava. Caspian virou-se para os convidados que fizeram silêncio.

            - Senhores, esta é a Rainha Susana, de Narnia. – anunciou ele em alto e bom som. Os homens fizeram uma reverencia e Caspian me conduziu até onde ele estava antes de eu chegar, de braço dado ao meu. – Você está linda. – ele sussurrou para mim, senti meu rosto queimar enquanto passávamos por entres aquelas pessoas que nos acompanhavam com o olhar.

            - Hm... Obrigada. – sussurrei de volta. – Confesso que fiquei surpresa quando Mia me falou sobre isso aqui.

            - Mia? – ele estranhou.

            Eu sorri culpada.

            - Não vou lembrar nunca do nome dela inteiro. – argumentei. Caspian riu.

            - Entendi. Fiquei preocupado com você, passou o dia sem aparecer, pensei que tivesse acontecido alguma coisa... – falou ele.

            - Não aconteceu nada... – falei o obvio.

            - Você não comeu nada. – acusou ele.

            - Não estava com fome. – defendi-me.

            - Sei que não foi por isso, mas tudo bem se você não quiser falar...

            Pensei em uma desculpa rápida.

            - Estou com saudades de meus irmãos, só isso... – era verdade... Em parte. Caspian suspirou.

            - Logo, logo você os verá novamente... Acho... Mas cada coisa no seu tempo.

            - É uma honra imensa conhece-la, alteza. – um dos homens com quem Caspian conversava me cumprimentou com um reverencia, seguido pelo outro.

            - Susana, estes são príncipe Edward, da Arquelândia e Andros, Tisroc calormano. – Caspian indicou os dois homens, respectivamente.

            - É um prazer conhece-la. – enfatizou o Tisroc.

            - O prazer é todo meu. – dei um leve sorriso.

            - Majestade, como andam seus irmãos? – perguntou Edward – Por que não estão aqui também?

            - Estão ótimos... – falei e a segunda pergunta Caspian respondeu antes de mim.

            - Eles não puderam comparecer por alguns motivos que não me disseram. – mentiu ele.

            Aquela reunião seguiu sem muitos acontecimentos importantes. Eu me sentia desconfortável no meio daquelas pessoas que eu nunca vira antes, permaneci quieta respondendo apenas à algumas perguntas que eram dirigidas a mim. Fiquei o tempo todo ao lado de Caspian, não por que eu devesse ficar, mas por que eu me sentia mais a vontade ali perto dele, segura. Foi quando uma música suave pairou no ar e alguns casais começaram a dançar, Andros e Edward foram dançar com suas esposas deixando Caspian e eu a sós. Mergulhamos num silêncio constrangedor que nenhum dos dois se atreveu a quebrar no inicio.

            Eu sentia saudades sim de meus irmãos, mas ao mesmo tempo sentia que eu não devia estar lá com eles, por motivos que até agora não entendi. Parecia que uma força maior me levara para o castelo telmarino, esta mesma força me mantinha ali e de alguma forma eu sabia que eu não devia me preocupar; que estava tudo bem mesmo que parecesse o contrario.

            - Uma dança? – ouvi a voz meio afastada de Caspian, ele não olhava para mim. O que eu tinha a perder?

            - Claro.

            Ele me conduziu pela mão até onde os casais dançavam, ficou de frente para mim, passou o braço por minhas costas, aproximando-nos. Senti meu coração acelerar. Levei minha mão até seu ombro e a outra segurava na sua. Começamos a dançar no ritmo lento da musica.

            - Já disse que você está linda? – brincou ele.

            - Não nas ultimas horas. – eu ri, mas aos poucos minha expressão tornou-se preocupada. Minha cabeça latejou. Aquela dor vinha me incomodando desde que acordei nas masmorras.

            - O que foi? – perguntou ele.

            - Minha cabeça está doendo um pouco... Já vai passar. – sussurrei.

            - Se você quiser pode voltar ao seu quarto... – disse ele dando a “permissão” sem querer fazer isso.

            - Não, não precisa... Ela já vai passar. Sempre passa. – sorri amarelo.

            - Você deve me detestar, não é? – desabafou ele.

            - Não, Caspian, eu não detesto você. – isso pareceu surpreendê-lo.

            - Mesmo depois de tudo o que eu fiz?

            - Você só estava pensando no melhor para o seu reino, não?

            - Eu queria pedir desculpas... Pelo modo com o que eu tratei você no estabulo dois dias atrás... Eu não devia ter deixado você daquele jeito... Você me perdoa?

            - Não há o que perdoar Caspian. Eu entendo você... Sei que essa situação toda deve estar sendo difícil para você... Assim como para mim. – eu olhava em seus olhos.

            - Está mesmo. – afirmou.

            - Imagino... – eu queria perguntar que decisão ele tomou, se cumpriria a profecia ou não, mas achei melhor não tocar no assunto. – Caspian... Quando estávamos no estábulo você disse que... Eu mexi com você... O que quis dizer exatamente? – Caspian desviou o olhar e pigarreou visivelmente sem jeito.

            - Hm... Bom... Que você mexeu comigo, oras. – ele deu de ombros. Encarei-o. Caspian suspirou. – Eu quis dizer que... Que... Que eu sinto alguma coisa por você...

            Sua resposta de certa forma me surpreendeu. Eu já esperava por isso, até por que eu sabia que também sentia alguma coisa por ele, algo que eu teimosamente tentava não nomear mesmo já sabendo do que se tratava. Depois de alguns segundos de silêncio eu finalmente esbocei uma reação.

            - Sente alguma coisa...? – eu sussurrei mais para mim mesma.

            - É... Não sei explicar o que é... Só sei que não paro de pensar em você e me dói apenas imaginar ter você longe de mim... – Seu olhar era intenso e sincero. Eu corei.

            Não falamos mais nada até o final da reunião, apenas perguntas e respostas curtas mesmo não saindo do lado um do outro. Os convidados começaram a ir embora e a se despedir de Caspian o que o levou para longe de mim. Eu fui a fonte que havia no meio do salão, observando a água, sentei na beira de mármore marfim e fitei as águas cristalinas que criavam leves ondulações até bater contra a borda de mármore onde eu estava sentada. Não falei, fiz ou pensei em nada durante aqueles minutos, até alguém se aproximar de mim.

            - Cansada? – era a voz de Caspian.

            - Um pouco. – sorri de leve.

            - Venha – estendeu a mão para mim – Eu a acompanho até seu quarto.

            Não havia mais ninguém no salão a não sermos nós e algumas empregadas que começavam a limpar a bagunça que aquela reunião. Aceitei o convite de Caspian e segui com ele escadaria acima. Ele não soltou mina mão, mas também não disse nada. Nem eu. Pelo menos até chegarmos ao corredor onde ficava meu quarto.

             - Sinto muito por tudo isso... Tudo o que fiz você passar... – falou, voltando ao assunto. O que me fez olha-lo. – Quero... Redimir-me com você e...  – suspirou - Enfim... Imagino que um bom jeito de fazer isso seria deixar você ir, não é? – isso parecia ser doloroso para ele. E de certa forma foi para mim também.

            - Seria dar-me a... Liberdade... – paramos em frente à porta de meu quarto.

            Caspian deu um leve sorriso melancólico a minha frente.

            - Lhe dar uma opção, mais exatamente... – disse. Eu assenti sem entender o que ele quis dizer. – E eu acho que já sei o que você vai escolher, mas enfim... Sei que você não vai querer ficar aqui... Então, se você quiser, amanhã pode ir embora... Acho que nos despedimos aqui, não é? – sua mão tocou a lateral de meu rosto antes que eu pudesse falar qualquer coisa e ele beijou minha outra face. Ao afastar-se de mim não falou mais nada, apenas recuou alguns passos, mas eu segurei sua mão que estava na minha desde o salão, impedindo-o de ir. Caspian olhou intrigado para nossas mãos e em seguida para mim. – O que...?

            - Eu não vou, Caspian. – falei calmamente. – Eu vou ficar aqui.

            - Mas você tem seus irmãos e... – ele não entendia.

            - Eu tenho um motivo que me faz ficar aqui. – Mia me deu um conselho hoje que eu pretendia seguir. Caspian esperou eu continuar. – Você, Caspian... – corei. – Eu quero ficar aqui... Com você.

            Ele demorou alguns segundos enquanto assimilava o que eu disse. A única reação que ele esboçou foi refazer os passos que tinha dado para trás, passar um dos braços por minhas costas e unir seus lábios aos meus. Minhas mãos subiram por seus braços até sua nuca e o outro braço de Caspian também deu a volta em minha cintura. Seus lábios eram lentos e gentios contra os meus num beijo cálido que eu retribuía de todo coração. Meu coração batia descompassadamente feliz. Mia disse que seguiu seu coração e foi feliz ficando ao lado do homem que amava mesmo sentindo saudades dos parentes que ficaram longe. Eu decidi seguir o conselho dela. Segui meu coração, ele me levou até Caspian e eu soube que devia ficar ali.