Charmed escrita por Bella P


Capítulo 3
Capítulo 2




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Capítulo 2

Ryuichi

- Não está no livro. - foi a primeira coisa que ouvi quando comecei a recobrar os sentidos.

- Você checou direito? Todos da família sabem que ler não é o seu forte.

- Muito engraçadinho. Só porque você é capaz de juntar meia dúzia de palavras em frases que fazem um correlato sentido dentro de um enredo sentimentaloide não o torna o especialista no assunto.

- Palavras grandes Tatsuha, espero que não tenha se machucado ao tentar dizê-las.

- Você quer dor? Eu vou te mostrar a dor... - e fosse lá o que Tatsuha estava prestes a fazer com quem reconheci, pela voz, ser Eiri, foi interrompido por um assovio alto e estridente.

- Chega! Por que quando vocês dois se juntam parecem regredir a infância? - e pelo o que reconheci, agora parecia ser Mika falando.

- Porque eu estava muito bem na minha casa, tentando terminar no prazo um livro que tenho que entregar, quando vocês apareceram e me arrancaram do meu sossego para salvar aquele idiota. - e acredito que o referido idiota seja eu.

- Atrasado de novo nos dead lines? Sinceramente aniki, que exemplos são esses? - Tatsuha provocou.

- Escuta! - Mika novamente interrompeu. - Eu também tenho uma vida. - o som de escárnio que ouvi vindo dos dois irmãos deu a entender que para eles tal frase parecia ser a piada do ano.

- Ah, por favor. Posar como esposa perfeita do multimilionário do mundo da música Tohma Seguchi não é bem o que chamo de carreira adorada irmã. - novamente Tatsuha. Parecia que esse garoto tinha um talento nato para ser sarcástico e irritante.

- Será que podemos voltar ao foco aqui? Se Tohma souber o que aconteceu com o Ryuichi...

- O que ele vai fazer? Colocar a culpa em você? - o tom de Eiri não pareceu nada amigável, o que estranhei, pois sempre tive a impressão de que o mesmo fosse o queridinho do Tohma.

- Não. - Mika respondeu exasperada. - Mas ele ainda está absorvendo a ideia e acho que a atual situação não irá ajudá-lo.

- Sim, porque a galinha dos ovos de ouro dele foi atacada por um demônio e não podemos ter isso, não é mesmo? - demônio? Do que diabos, sem trocadilhos, ele estava falando? E galinha dos ovos de ouro?

- Ei, não fale assim do Sakuma-sama! - obrigado Tatsuha. Só porque o meu talento ajudou a NG a crescer não quer dizer que a mesma fez sucesso unicamente por isto. Tohma era um ótimo homem de negócios e a marca era forte hoje justamente por causa dele.

Cansado de ser a fonte da discussão dos irmãos, resolvi fazer a minha presença conhecida e abri os olhos, me movimentando sobre o que eu acreditava ser um sofá e calando a conversa ao meu redor quando os três perceberam que eu estava acordado. Percorri o olhar pelo lugar, percebendo que eu estava em um sótão se a quantidade de coisas velhas e atulhadas contra as paredes fosse alguma indicação. Tatsuha estava parado atrás de um pódio que sustentava um enorme e grosso livro, Eiri estava sentado sobre uma velha poltrona e Mika parecia estar perambulando se a pose dela congelada em meio ao processo de dar meia volta fosse alguma indicação.

- Ei! Você acordou. - Tatsuha abriu um grande sorriso e deu a volta pelo pódio, vindo a passos largos na minha direção com um brilho no olhar que eu conhecia bem: o brilho de um fã que acabou de encontrar o seu ídolo.

- Ah, ah! - Mika o segurou pelo braço antes mesmo que ele chegasse muito perto. - O que eu falei sobre o fanatismo?

- Mas Mika... Talvez esta seja a minha única chance. Você sabe o que o Tohma pensa sobre eu conhecer o Sakuma-sama.

- E ele tem razão. - o garoto fez um bico que eu achei adorável e cruzou os braços sobre o peito em um gesto aborrecido enquanto Eiri rolou os olhos e depois mirou o seu relógio de pulso.

- Eu preciso voltar. - declarou de repente. - Shuichi vai chegar em casa em minutos...

- E daí? - Tatsuha o cortou com uma risada de deboche. - Desde quando você dá satisfações para o Shuichi? Desde quando você banca a esposa preocupada? - nisso eu tinha que concordar com o adolescente. Inúmeras foram as vezes que eu tive que consolar o outro cantor por causa da frieza e distância imposta por Eiri, embora tais atitudes parecessem ajudar a aflorar o talento de compositor de Shindou. Mas, emocionalmente, conviver com alguém que o tratava de maneira insignificante era desgastante. Aliás, até hoje eu não entendia por que Shuichi insistia em permanecer com Eiri. Certo, o garoto o amava, mas e o amor próprio dele, onde estava?

- Eu também preciso voltar. Tohma está me chamando. - pisquei sem entender na direção de Mika. Como assim Tohma a estava chamando? No telefone? Onde que não o ouvi tocar e mesmo que estivesse no vibra call, não a vi atender nada.

- Certo, vão! Mas e quanto ao Ryuichi? - Tatsuha apontou em minha direção e Mika e Eiri trocaram olhares incertos.

- Bem... Você fica de olho nele enquanto eu explico a situação ao Tohma. - um sorriso que fez arrepios nada confortáveis descerem pela minha espinha surgiu no rosto de Tatsuha. - Mas sem gracinhas, ou eu orbito as suas partes para dentro de um vulcão. - a ameaça pareceu surtir efeito pois o menino fez uma careta e ergueu as palmas em um gesto de rendição. - E seja útil, tente descobrir o que era aquela criatura. - e então, para a minha completa surpresa, ela foi até Eiri, pousando uma mão no ombro dele, e fazendo ambos desaparecerem em uma chuva de luzes branco azuladas acompanhada de um suave tilintar.

- O qu... O que foi aquilo? - falei bestamente, apontando com um dedo trêmulo para onde os dois estavam segundos antes.

- Ah.. Aquilo se chama orbitar. - respondeu Tatsuha sem graça e eu fiquei ainda mais pasmo.

- Quem são vocês afinal?! - foi a única coisa que consegui dizer depois de tudo o que presenciei e a resposta que obtive foi ainda mais inacreditável.

Tatsuha

Abri a boca para respondê-lo, mas não consegui dizer muita coisa. Primeiro porque ainda estava embasbacado com a situação. Ryuichi Sakuma em carne e osso, na minha frente, a um passo de distância, tão perto que eu poderia tocá-lo e ao mesmo tempo não podia, não se não quisesse que Mika cumprisse com a ameaça dela. E acredite, conhecendo a minha irmã como eu conhecia, era sempre bom levá-la a sério. Segundo porque não era fácil explicar para alguém de fora o que éramos. Mas se for levar em consideração que o nosso encontro ocorreu porque Sakuma estava prestes a ser morto por um demônio, talvez não fosse tão difícil assim. Se desconsiderar o fato que ele desmaiou por causa do choque.

- Bem... - dei de ombros, dando um passo à frente mas parando quando o vi recuar no velho sofá que pertenceu a nossa tia Yumi, com um olhar desconfiado em minha direção. - acredite ou não... Nós somos bruxos. - ele gargalhou, uma risada curta e desacreditada. É, costumávamos obter esse tipo de reação quando contávamos as pessoas a verdade. Acho que Tohma reagiu assim quando Mika lhe contou o grande segredo da família Uesugi há dois meses. Shuichi, bem, esse ainda não sabia pois Eiri ainda não tinha aberto a boca. E eu não tinha ninguém relevante em minha vida para sair contando as coisas.

- Isso é ridículo. - em um pulo ele ergueu-se do sofá, com certeza na intenção de fugir daquela loucura toda, e eu entrei em pânico pois ele não podia ir embora. Sendo Ryuichi Sakuma ou não, sendo eu fã dele ou não, o mesmo ainda estava em perigo, havia um demônio lá fora que queria matá-lo. E então, sem pensar duas vezes, sacudi as mãos na intenção de congelá-lo e meu queixo praticamente foi ao chão quando o vi continuar se mexendo. Entretanto, meu choque não durou muito quando percebi que ele estava muito perto da porta e em outro gesto de mão explodi o vaso sobre a cômoda capenga, chamando a atenção dele ao fazê-lo pular de susto e recuar alarmado.

- O que foi... - ele apontou bestamente para os cacos do que foi um vaso segundos atrás.

- Eu falei... Nós somos bruxos. - Ryuichi recuou vagarosamente, como se os cacos fossem atacá-lo, e retornou ao sofá, sentando-se no mesmo com o corpo tremendo pelo que pude perceber. Maravilha, somente esperava que ele não desmaiasse de novo.

- Eu não entendo. - murmurou com a voz rouca.

- Na verdade é bem simples. - comecei. Se o gato já fugiu da sacola, ou era da gaiola? Não interessa, se tudo já havia sido exposto, então era melhor colocar todas as cartas na mesa. - Magia existe, não é algo vindo de contos de fadas ou de livros como Senhor dos Anéis e Harry Potter. Embora a magia de Harry Potter se aproxime mais com a da realidade, e eu sempre desconfiei que J.K. Rowling na verdade fosse uma bruxa e... - quando recebi um olhar atravessado percebi que estava tagarelando e voltei rapidamente ao assunto. - De qualquer maneira, magia existe, podendo ser boa ou ruim. O que você viu meus irmãos e eu fazermos foi magia boa, o que você viu aquela cara que quis te matar fazer foi magia ruim. Há vários representantes da magia boa: bruxos, fadas, ninfas, leprechaus...

- Fadas? Ninfas? - um ruído de escárnio saiu da boca dele.

- Você me viu estourar um vaso sem tocá-lo. - me defendi e ele assentiu com a cabeça, não podendo argumentar neste ponto. - E há representantes da magia ruim: demônios, feiticeiros, princesinhas da música pop...

- Como?

- Eu sempre achei que Britney Spears estava possuída. Quero dizer, o que ela faz não é normal. - Ryuichi gargalhou e eu sorri. Ao menos agora ele parecia mais relaxado e receptivo ao que estava ouvindo.

- Então... Bruxos existem. Você disse que são mais no estilo Harry Potter. Então varinhas...

- Ehh... Não.

- Feitiços?

- Sim.

- Poderes?

- De novo, você me viu explodir um vaso. - apontei para o mencionado em cacos no chão.

- Poções?

- Minha especialidade.

- Inacreditável.

- Voltemos ao vaso como evidência A deste caso? - mais uma risada.

- E o que aquele demônio, era um demônio certo? - assenti com a cabeça e o vi ficar branco. Parecia que as minhas brincadeiras para descontrai-lo estavam perdendo o efeito e ele estava voltando a dura realidade de que um demônio quase o matou. - Queria comigo?

- Não sei ao certo. Quero dizer... - voltei ao pódio onde estava o livro, a herança mais valiosa de nossa família. O Livro das Sombras foi passado de geração para geração de bruxos da família Uesugi e nele estavam todos os demônios com os quais nossos antepassados já cruzaram ou já lutaram, assim como centenas de feitiços diversos e poções. Era o nosso guia de bruxaria, nosso apoio no mundo da magia. - Não é do feitio deles irem atrás de cantores famosos. A não ser que ele não seja um fã árduo do Nittle Grasper. - tentei mais uma brincadeira para dispersar o clima pesado, mas desta vez não funcionou.

- Ele não parecia detestar a minha música. Parecia mais me detestar.

- Rixa pessoal? Andou contrariando alguém do submundo recentemente? - eu não conseguia imaginar o porquê alguém iria querer matar Sakuma-sama. Ao meu ver, ele parecia ser tão inocente quanto na TV, embora tivesse o curioso fato de que ele era imune ao meu poder congelante. O som de tilintar e luzes azuladas interromperam os meus devaneios e a forma de Mika surgiu com uma expressão contrariada no rosto.

- Okay! Tohma está tendo um chilique.

- Novidade. - rolei os olhos. Quando Tohma não tinha um chilique quando o assunto era magia? Eu falei para Mika que casar-se com um mortal era má ideia. Mamãe deveria estar se revirando no túmulo no momento.

- Então. - a voz de Ryuichi chamou a atenção dela para ele. - O seu poder é esse?

- Você disse a ele sobre nós? - Mika me perguntou.

- Não, disse a ele sobre magia.

- Tatsuha!

- O homem foi atacado por uma criatura que conjura adagas e bolas de fogo e salvo por um garoto que explode coisas. Você queria que eu dissesse o quê? Que ele estava sonhando?

- Era uma possibilidade. - a mirei contrariado e ela suspirou exasperada. - Não. - virou-se para respondê-lo, ignorando totalmente o meu brilhante argumento de defesa. - Meu poder consta em mover coisas com a minha mente.

- Mas... - Ryuichi protestou, apontando para ela com uma expressão confusa.

- Ehh... Sabe os representantes da magia boa que eu tinha falado? - ele assentiu com a cabeça. - Pois é. Anjos da Guarda são um deles.

- Anjos da Guarda? - veio o tom incrédulo e eu tive vontade de rolar os olhos, justo quando eu penso que ele já absorveu a coisa, a negação se apoderava de novo dele.

- Não vamos discutir isto de novo, vamos? Vaso em cacos, Mika surgindo em chuva de luzes, acho que nosso caso já está encerrado.

- É que eu sempre tive a ideia de que anjos são criaturas de luz, espíritos guia, pessoas mortas que fizeram boas ações quando vivas e foram recompensadas com elevação espiritual depois de mortas.

- Nossa! Para alguém que não tinha nenhum conhecimento de magia até que ele acertou esta. - minha irmã sabia ser engraçadinha quando queria.

- E são. Neste caso, anjos da luz branca são guias para bruxos do bem e como você disse, pessoas que fizeram boas ações quando vivas e foram elevadas espiritualmente quando mortas. - expliquei. - Entre os poderes deles estão orbitar, essa chuva de luzes que você viu, curar e rastrear empaticamente pelos seus protegidos.

- Então Mika...

- Não! - a própria o cortou. - Estou bem viva, obrigada.

- Então como...

- Nosso pai. - continuei explicando. - Foi um anjo da luz que se apaixonou e casou com a nossa mãe e tiveram Mika, que aparentemente herdou alguns poderes dele.

- Então você... - ele apontou para mim.

- Não. - e pareceu ficar irritado por mais esta interrupção. - Um anjo da luz e uma bruxa não podem se relacionar romanticamente, ainda mais quando esta bruxa é a protegida do anjo. Foi um amor proibido, um amor épico, depois que Mika nasceu eles passaram por tanta coisa que meu pai decidiu abdicar-se de sua posição e voltar a ser mortal para ter a família que sempre quis, pois não queria mais se dividir entre nós e suas funções de anjo. Eiri e eu nascemos depois que nosso pai se “aposentou”, por assim dizer, logo não temos os mesmos dons.

- Isso é loucura... - abri a boca para argumentar. Depois de tudo que ele viu na última hora e ouviu ainda tinha dúvidas? Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa ele me lançou um olhar fulminante que me fez ficar quieto. - Eu aceito, agora, que as crendices de minha avó não eram tão infundadas assim. Mas ainda sim...

- Espera. - Mika ergueu a mão em um gesto para calá-lo. - A sua avó? Tohma me falou dela há alguns dias. Disse que acreditava em sobrenatural e coisas afim. Era por isso que você não era muito popular na escola, por causa das atitudes não convencionais dela. - outro olhar de desagrado foi dado por Ryuichi, desta vez em direção a Mika. Parecia que ele não tinha gostado muito do que ela falou. Se eu bem me lembro, como bom fã que era, Ryuichi foi criado pela avó a quem era extremamente apegado e a mesma faleceu há uma semana, fazendo o cantor ficar recluso por causa de seu luto e longe do foco da mídia.

- Está insinuando o quê? Que a minha avó era uma bruxa também? - ele soltou com deboche e eu fiquei surpreso. Aliás, se fosse parar para avaliar os últimos minutos, a atitude toda de Ryuichi era de surpreender. Ele estava agindo como uma pessoa normal. Kumaguro não estava por perto, o tom infantil que lhe era famoso era inexistente na voz dele, e toda a sua postura era a de um homem de trinta e três anos ainda balançado por descobrir coisas sobre o mundo ao seu redor que ele jurava ser fantasia. E eu me perguntei: quantas pessoas realmente conheciam o verdadeiro Ryuichi Sakuma?

- Por que... - mas o que Mika fosse dizer foi interrompido quando um grupo de demônios bruxuleou bem no meio do nosso sótão e eu suspirei diante da repetitividade que isto estava se tornando. Sinceramente, ninguém mais sabia pedir licença nos dias de hoje? E com este pensamento corri até Ryuichi, pondo-me na frente dele e me preparando para a batalha.


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